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Carlos Esperança

23 de Agosto, 2004 Carlos Esperança

Carta aberta aos créus

Alguns créus acusam o Diário de uns Ateus de intolerância. Se chamam intolerância ao combate à hipocrisia, à defesa dos direitos humanos, ao ataque ao pensamento único, à defesa da liberdade, têm razão.

Se, pelo contrário, acham que somos capazes de defender o racismo, a xenofobia, o fascismo, uma qualquer ditadura ou restrições ao direito de associação, onde cabem as religiões, não nos conhecem.

Se um regime despótico privar os crentes de qualquer religião do acesso aos templos, da manifestação dos seus cultos, do direito de reunião e da livre expressão escrita e oral, contará com a oposição determinada e a luta sem tréguas dos ateus.

A ICAR combate o que julga serem os nossos erros, nós combatemos o que pensamos serem as suas mentiras. Onde está, da nossa parte, a intolerância? Porventura propomos a punição de quem vive da exploração da fé? Queremos queimar os quatro evangelhos que Constantino coligiu dos oitenta que foram considerados para o Novo Testamento? Alvitramos coimas para quem se empanturra de hóstias, faz jejuns, reza novenas ou se péla por uma procissão?

Podemos considerar burla o negócio dos milagres, a venda por atacado de indulgências, a purificação obtida com borrifos do hissope e condenar a atmosfera terrorista que as Igrejas criam com o temor do Inferno. Desmascaramos os negócios que fazem com os transportes do Purgatório, com veículos movidos a missas e oferendas, ou com os óbolos que fazem esportular aos crentes para comprar um espaço no Paraíso. Mas não aceitamos a mais leve perseguição, nem pedimos que nos deixem fazer homilias ateias nos seus locais de culto.

O cristianismo plagiou crenças antigas. Cristo não foi o primeiro a nascer de uma virgem, a ressuscitar ao terceiro dia ou a dedicar-se ao lucrativo ramo dos milagres. Não vem mal ao mundo que haja quem acredite no poder dos santos, nos dons do Espírito Santo ou na omnipotência divina. O perigo reside nas perseguições a quem desmascare a tramóia, duvide que o corpo e o sangue do JC se encontrem na rodela de pão ázimo depois de consagrada, negue a eficácia terapêutica da água benta ou a eficácia da oração no aumento da pluviosidade.

Não somos nós, ateus, que somos intolerantes. Somos solidários com os direitos dos crentes, mas não nos peçam que renunciemos a desmascarar quem os engana, explora e fanatiza.

22 de Agosto, 2004 Carlos Esperança

A ICAR ensandeceu

Quando o islão na sua demente obsessão pelo livro sagrado proíbe as escovas de dentes que possam ter pêlos de porco, dizemos que a esquizofrenia muçulmana não tem limites.

Quando o mesmo Islão conduz há décadas sucessivos massacres no Sudão numa tentativa absurda de converter a sua população à única religião verdadeira – a sua -, e aproveita para decepar membros e exercer sevícias para agradar a Alá, acusamos a crueldade árabe sem nos lembrarmos de que é a religião a responsável pelos crimes.

Quando no mundo que julgamos civilizado, o papa garante que a rodela de pão ázimo, feita de farinha de trigo, contém o corpo e o sangue do fundador da seita, achamos ridículo. E quando o mesmo papa, infalível e santo, nega idênticas propriedades quando a hóstia é feita de farinha de arroz, julgamos que está demente.

Aliás, o homem é o único animal ( e nem todos) que tem um paladar suficientemente apurado para saber se a hóstia está ou não consagrada.

Pois, como o André já tinha referido aqui no Diário, a ICAR – vem hoje no Diário de Notícias – nega a comunhão a uma criança doente, por ter uma doença rara que não tolera o glúten. Hóstias só com matéria prima certificada pelo fabricante das bênçãos.

Quem sabe se, com farinha de arroz, em vez do corpo de Cristo a hóstia passaria a conter os fluidos do divino Espírito Santo?

21 de Agosto, 2004 Carlos Esperança

Touros de morte em Reguengos de Monsaraz

O combate contra os touros de morte não é propriamente uma causa ateísta, mas a luta pela defesa dos animais e contra as tradições trogloditas é uma obrigação de cidadania.

A SIC-Notícias, à meia-noite, exibiu o presidente da Câmara de Reguengos de Monsaraz a reivindicar o direito aos touros de morte, desejo partilhado pela Santa Casa da Misericórdia e pela população do seu concelho, por ser a morte do touro «um acto cultural e tradicional».

Claro que alguém devia explicar ao inefável autarca que a queima de hereges, bruxas, judeus e a aplicação de outras sevícias piedosas foram um «acto cultural e tradicional» que a civilização erradicou.

Esses argumentos são, aliás, usados pela ICAR para a reivindicação de privilégios enquanto não consegue o regresso ao totalitarismo, tanto do seu agrado.

20 de Agosto, 2004 Carlos Esperança

2.º Encontro Nacional de Ateus – ENA2

CONVITE

Vai realizar-se em Lisboa no próximo dia 4 de Setembro (Sábado), um encontro de ateus para o qual se convidam todos os ateus e ateias que queiram estar presentes.

O encontro começará com um almoço de confraternização, com preço acessível, cerca das 13H00, num local da Baixa de Lisboa, a indicar após a inscrição.

Podem inscrever-se todos os que duvidam da existência de Deus e queiram participar nos trabalhos preparatórios para a criação de uma associação ateísta e na discussão de temas relativos ao ateísmo. Os trabalhos prolongar-se-ão durante a tarde.

Quem pretenda fazer a inscrição (indicando igualmente o número de incréus acompanhantes) pode registar-se em www.ateismo.net/forum ou dirigir-se a [email protected].

As inscrições estão abertas até ao próximo dia 28 (Sábado).

OBS.: O ENA2 não tem o patrocínio da ICAR nem será conspurcado pela bênção de qualquer alto funcionário de Deus.

19 de Agosto, 2004 Carlos Esperança

Nossa Senhora é presidente de Câmara em Espanha

Pio IX, papa da ICAR, com muito jeito para excomunhões e dogmas, depois de ter perdido os Estados pontifícios e excomungado liberais, socialistas, comunistas e democratas, resolveu criar dois dogmas: um, em benefício próprio – o da infalibilidade papal -, e o outro a favor da mãe de Cristo, a quem passou um atestado de virgindade com a obrigatoriedade de ser reconhecido por todos os católicos.

Claro que, para além dos 150 anos de virgindade que já leva, Maria tem sido distinguida com numerosas e pias homenagens e insólitos pedidos. De rainha dos Céus a padroeira, de confidente da Irmã Lúcia até protectora de diversos países contra o comunismo, tem sido solicitada para as mais diversas tarefas, sem uma única recusa ou um acesso de mau humor.

Mas, verdadeiramente insólita foi a nomeação para presidente da Câmara de uma cidade espanhola. O facto de não lhe terem distribuído pelouros ficará a dever-se à ausência do acto de posse, pelo que lhe foram acrescentados dois títulos: honorária e perpétua.

A acordo, que recolheu a unanimidade dos partidos políticos, foi assinado em Maio. E o título de presidente da Câmara honorária perpétua foi-lhe outorgado durante uma solene eucaristia pelo seu homólogo precário.

A nova edil não foi obrigada a assinar o auto de posse por lhe faltarem as condições habitualmente exigidas aos presidentes da Câmara: saberem escrever e estarem vivos.

Desejo à nova autarca as maiores felicidades no desempenho do novo cargo.

18 de Agosto, 2004 Carlos Esperança

Peregrina de Fátima acabou por morrer

Uma das três peregrinas atingidas por caixas metálicas que se soltaram de um veículo pesado, no IC2, em Condeixa-a-Nova, acabou por falecer segunda-feira, ao final da tarde, no Hospital dos Covões, em Coimbra.

Não há a mais leve suspeita de qualquer milagre ocorrido em Fátima, mas multiplicam-se os factos que evidenciam as desgraças que atingem os peregrinos. Alguns ficam doentes, muitos estropiados e outros pagam com a vida a fé que os move até ao local do mais grosseiro embuste montado pela ICAR em Portugal.

Fátima não é apenas um lugar de fé, é um destino fatídico onde perecem numerosos vivos e nem um só morto ressuscitou.

Nem a senhora de Fátima, nem o seu divino filho, nem o seu amado sogro (Jesus é suspeito de ser filho de Deus) apresentam, até hoje, a menor prova de serem úteis a alguém.

16 de Agosto, 2004 Carlos Esperança

Fim de semana em Lourdes

1 – O Papa JP2, antes de visitar a mais concorrida Agência de milagres – Lourdes -, ainda no Vaticano, mandou uma bênção para os gregos, anfitriões dos jogos olímpicos.

Embora inútil, sabe-se que a bênção é desejada pelos católicos, mas é um abuso quando se dirige a quem não a pede e despreza o benzedeiro. É o caso dos cristãos ortodoxos.

Imagine-se que, durante o Euro 2004, o Arcebispo de Cantuária, da Igreja anglicana, o Patriarca Bartholomeo, primaz dos ortodoxos em todo o mundo, o Imã da mesquita de Meca, o rabi de Jerusalém, um importante Ayatollah e outros parasitas de Deus distribuídos pelo planeta, tinham enviado a sua bênção aos portugueses! Até os ateus poderiam ter sido agredidos com um acto de prepotência e autoritarismo idêntico ao que JP2 se atreveu a protagonizar. Ridículo.

2 – JP2 esteve 31 horas em Lourdes e presidiu a uma missa em que colaboraram quinze cardeais, cem bispos e centenas de padres. Segundo a Conferência Episcopal Francesa – associação dos bispos da sucursal francesa da ICAR – assistiram à missa 300 mil peregrinos. Mesmo sem descontar o exagero habitual dos publicitários trata-se de um número modesto de clientes, longe do entusiasmo que os primeiros comícios do seu pontificado provocavam. Bom sinal.

3 – Nesta viagem – a 104.ª que realiza vestido de Papa – JP2 considerou-se um «homem doente entre os doentes», igual a todos os outros que se deslocam ao santuário, à espera de uma cura miraculosa. Sabe-se que Deus não o atendeu pois a doença mantém-se estacionária. Eis um mau sinal para os crentes que vêem o representante do único Deus verdadeiro abandonado pela entidade patronal.

11 de Agosto, 2004 Carlos Esperança

Uns dias de ausência

É a vantagem de um Diário colectivo. Nos quatro ou cinco dias que estarei ausente não faltarão textos de combate ao obscurantismo e à superstição.

Quanto aos créus que nos visitam continuarão convencidos de que têm o reino dos céus à espera, à semelhança dos muçulmanos que contam com 70 virgens para se banquetearem após o martírio. (Para as mulheres, as religiões só lhes reservam um papel secundário e muito sofrimento).

Deixo também uma palavra para os judeus ortodoxos, com trancinhas à dama das Camélias, para que não acreditem na Tora. É tão falsa quanto a Bíblia ou o Corão.

Os crentes são sempre uma delícia. A purga está na beberagem com que os padres os envenenam. E, para vergonha, estão impedidos de dizer mal dos milagres que lhes impingem.

P.S. Volto na próxima segunda-feira.

11 de Agosto, 2004 Carlos Esperança

O novo milagre dos pastorinhos está bem encaminhado

O cardeal D. José Saraiva Martins, Prefeito da Congregação para a Causa dos Santos, ameaçou que, se a saúde do Papa o permitir, JP2 voltará a Portugal para canonizar os Beatos Francisco e Jacinta Marto, um excelente golpe publicitário.

O cardeal português, denodado promotor de milagres, arranjou uma criança de quatro anos, filha de emigrantes portugueses, residentes na Suíça, para os «pastorinhos» curarem de uma doença que não consta habitualmente do cardápio dos milagres – diabetes.

O facto de estar conluiado com o padre Luís Kondor, «vice-postulador para a causa da canonização dos pastorinhos» e com o próprio Papa, não coloca nenhum deles sob a alçada dos tribunais portugueses, pois o Vaticano é um bairro com o estatuto de Estado.

Até hoje, por mais grosseiro que tenha sido o milagre, por mais obsceno que seja o embuste, ninguém processou os autores pelo crime de burla. Não há, aliás, na União Europeia, legislação que preveja este tipo de crime, o que inviabiliza o recurso aos tribunais. Resta um apelo às associações para a defesa do consumidor.

E, atendendo aos benefícios financeiros para o turismo religioso, seria difícil provar a intenção fraudulenta e, mais difícil ainda, a associação criminosa.

Assim, resta aos crédulos esportular o óbolo e aos incréus corar de vergonha.