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Mês: Março 2018

31 de Março, 2018 Carlos Esperança

A superstição continua a ser alimentada

Vaticano vai fazer curso de exorcismo no próximo mês

«Tem havido um aumento de queixas de possessões a nível mundial, algo que a Associação Internacional de Exorcistas já considerou uma emergência pastoral

De acordo com um padre da Sicília, o número de pessoas na Itália alegando estar possuído triplicou para 500 mil por ano
AFP/Getty Images

Começa a 16 de abril e prolonga-se até dia 21. Durante o próximo mês, o Vaticano vai dar início a um curso de exorcismo que servirá para treinar sacerdotes de todo o mundo a lidarem com possessões. O motivo? Há cada vez mais pessoas a queixarem-se de estar possuídas, situação que já levou a Associação Internacional de Exorcistas — que é reconhecida pelo Vaticano e representa mais de 200 padres católicos, anglicanos e ortodoxos — a fazer um alerta: estamos perante uma “emergência pastoral”.»

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28 de Março, 2018 Carlos Esperança

Espanha – Se o ridículo matasse…

Bandeira a meia haste no Ministério da Defesa e nos quartéis pela morte de Jesus Cristo

«O Ministério da Defesa espanhol e os quartéis vão colocar a bandeira do país a meia haste pela morte de Jesus Cristo.

O Ministério da Defesa espanhol anunciou que vai colocar a bandeira do país a meia haste durante três dias da Semana Santa para assinalar a morte de Jesus Cristo. Além da entidade governamental, também as unidades e bases militares, assim como os quartéis, estão incluídos na decisão. É uma tradição com algumas décadas que só teve como exceção os anos de 2010 e 2011 (e apenas no Ministério).»

27 de Março, 2018 Carlos Esperança

O Hospital de Cascais e os costumes cristãos

O salazarismo dos costumes, e talvez também o outro, estão de volta. O “Regulamento Interno de utilização e conservação do fardamento e cacifo” do referido hospital impede aos funcionários [leia-se funcionárias] certo tipo de maquilhagem, saias acima do joelho piercings e tatuagens visíveis.

Não se pense que são regras de controlo de infeções, são decisões a exigir o regresso da pudicícia e dos bons costumes, onde se “proíbem minissaias, botas e desodorizante com cheiro”, ameaçando de ‘procedimento disciplinar’ quem não use collants em tom natural ou azul escuro e o cabelo de acordo com as normas que o regulamento define.

Quem diria que a carta da senhora Lúcia de Jesus, irmã Lúcia para os amigos, dirigida a Marcelo Caetano, encontraria na direção do Hospital de Cascais o eco que não teve no último ditador fascista!

A freira das Carmelitas Descalças, em Coimbra, escreveu, em 24 de fevereiro de 1971, ao Presidente do Conselho, suplicando medidas legislativas sobre as vestes femininas: «…não seja permitido vestir igual aos homens, nem vestidos transparentes, nem curtos acima do joelho, nem decotes a baixo mais de três centímetros da clavícula. A transgressão dessas leis deve ser punida com multas, tanto para as nacionais como para as estrangeiras». *

A parceria público-privada exige maquilhagem “discreta”, especificando que “o baton e sombras” têm de ser “em cores nude” e a “base, lápis e rímel adequados à fisionomia de cada pessoa”, o que se presume destinado a ambos os sexos.

São proibidos “piercings, joias, tatuagens de qualquer tipo em locais visíveis do corpo”, temendo, na omissão, a perversidade do autor, a pensar em sítios recônditos, e o que se adivinha é o regresso manso do fascismo a policiar as vestes femininas e a transformar o hospital numa extensão da sacristia, onde medra a prepotência e germina a insanidade.

É a sharia romana nos hospitais.

*(In Arquivos Marcelo Caetano, citados em Os Espanhóis e Portugal de J.F. Antunes Ed. Oficina do Livro)

26 de Março, 2018 Carlos Esperança

A escola e o presépio da minha infância – Crónica

Bem crucificado e suavemente chagado, numa cruz de madeira dependurada na parede, penava um Cristo de bronze em resignada agonia, ladeado à direita por uma fotografia de um homem de bigode, fardado, conhecido por marechal Carmona, e à esquerda por um eterno seminarista, com ar de gato-pingado, que infundia terror – o Professor Salazar. Na mesma parede, em frente dos alunos, a razoável distância e muitos fungos depois, quedava-se a Senhora de Fátima, poisada numa mísula, alheada da conversão da Rússia e da salvação do mundo. Mais abaixo, à esquerda, ficava o quadro preto e o mapa do corpo humano e, à direita, rasgados, um mapa de Portugal Continental, outro das Ilhas Adjacentes e das Colónias e o mapa-múndi.

O soalho resistia aos buracos, numerosos e amplos, que a humidade e o uso se encarregavam de alargar. As carteiras alinhavam-se em rigorosa geometria com lugares destinados a cerca de quarenta garotos de ambos os sexos distribuídos pela primeira, segunda e quarta classes. Entre quinze a vinte estavam na sala oposta a frequentar a terceira, confiados à senhora Noémia, regente escolar.

Nos dias de chuva subvertia-se a ordem, na complexa gincana de carteiras, para evitar que os pingos de água que escorriam do teto acertassem nos tinteiros e salpicassem de azul a roupa das crianças e os tampos de madeira.

No intervalo, meninos e meninas, em amplas correrias e direções opostas, procuravam os quintais próximos para se aliviarem dos fluidos que os apoquentavam.

À entrada da escola o presépio anunciava todos os anos o Natal. Na armação de tábuas e pedras cobertas de musgos, um menino de barro, seminu e de perna alçada, jazia em decúbito dorsal sobre uma caminha de palha centeeira. Era o Menino Jesus. De um lado uma virgem colorida, moderadamente recatada e com pouco uso, substituía a que se partira, interessada na companhia do filho que herdara. Do outro, um S. José, a quem a corrosão deixara em pior estado do que o dogma da Imaculada Conceição, parecia um erro de casting, indiferente ao especto, perdidas as cores, diluídas as formas, conformado com os olhares e as súplicas, incapaz de operar milagres, resignado com o frio de Dezembro.

O burro e a vaca comportavam-se a preceito, facilmente se adivinhando o gosto por erva se eles e esta fossem verdadeiros.

Os reis magos, eternos almocreves com ar de ladrões de camelos, virados para uma estrela recortada em papel colorido, permaneciam imóveis na lendária caminhada, quais amoladores de tesouras, à espera de fregueses para ganharem o sustento e um presente para o Menino.

As ovelhas que placidamente decoravam a montanha eram figurantes experientes, desinteressadas da importância que acrescentavam ao quadro e do exemplo de submissão que transmitiam. Nem um só carneiro as acompanhava, talvez para lembrar que é na renúncia ao prazer que se encontra a redenção da alma. Apenas um cão e o pastor.

Reflito hoje sobre a predileção por musgos, muitos musgos, para cobrir o chão do presépio. Na religião tudo se deve cobrir ou, no mínimo, disfarçar. Talvez esteja na ocultação dos órgãos de reprodução, característica das plantas criptogâmicas, a razão da preferência, a funcionar como metáfora.

25 de Março, 2018 Carlos Esperança

Crimes em nome de Deus

As religiões, ao longo da História, destruíram impérios, devastaram povos e desenharam fronteiras. A fé arruinou nações, impediu a liberdade e esmagou a felicidade dos povos. Deus foi sempre o pretexto para destruir inimigos e cometer os mais hediondos crimes, com o álibi de satisfazer a sua vontade.

Deus está, de facto, para azar dos homens, em toda a parte. O deus mais verdadeiro é o que tem mais devotos, armas e o fanatismo a seu favor. Sempre que deus está em alta, a liberdade estiola; quando os homens adoram o seu deus, odeiam os alheios. Os crentes rogam os seus favores com o mesmo fervor com que acalentam o ódio ao deus alheio.

É por isso que a democracia fenece onde a religião floresce, a liberdade mingua onde a fé prolifera e o progresso estiola onde a piedade medra.

Não há democracia onde a religião domina o aparelho de Estado. Os direitos do homem não são respeitados onde o poder temporal e o religioso se confundem. Foi na base da separação de poderes e, sobretudo, na separação da Igreja e do Estado, que os modernos Estados de direito se construíram. Foi a laicidade que permitiu o pluralismo ideológico, opondo uma barreira de proteção à vocação totalitária das religiões.

Quando parecia que o Estado laico se tornara paradigma das nações civilizadas, quando a sociedade multicultural se convertia em modelo de convivência cívica, quando os preconceitos étnicos e culturais pareciam derrotados pela instrução, inteligência e sensibilidade dos povos civilizados, os demónios totalitários despertaram ao som das orações e fortaleceram-se com jejuns, pregações e liturgias.

A Holanda, a doce Holanda, era o exemplo de convivência cívica entre etnias diversas e diferentes culturas, um oásis de tolerância entre distintas opções políticas e religiões divergentes. Em 2003 ficou em choque, quando Pim Fortuyn, um político da direita populista foi assassinado. Depois, com o assassínio do cineasta Theo Van Gogh, após a denúncia que fez da forma como o Islão trata as mulheres, e dos requintes de crueldade com que o fanático religioso o tratou, tornou-se periclitante a manutenção da sociedade multicultural holandesa. Até hoje.

Incendeiam-se os templos e a opinião pública, e o racismo e a xenofobia crescem. A extrema-direita, que vive da intolerância, explora frustrações, instila o medo, manipula paixões e acicata ódios. A hostilidade aos estrangeiros desenvolveu-se. A fé das pessoas cultas e civilizadas nas sociedades multiculturais vacila. O fascismo islâmico rejubila com a intolerância de que é alvo. As religiões precisam de mártires. Os deuses querem sacrifícios. Os templos convertem-se em quartéis onde se faz a recruta para a guerra santa. Os homens entram em desvario ao serviço da esquizofrenia divina. A religião tem de ser contida. Os Direitos do Homem têm de ser defendidos. A igualdade entre os sexos tem de ser salvaguardada. A democracia precisa de ser salva. Há que erguer um dique à fé que corrompe, intimida e mata.

Os três últimos lustros acordaram o mundo árabe, no ocaso da sua civilização falhada, para uma vingança cega que a demente invasão do Iraque, em 2003, estimulou.

Desde então, não param de surgir devotos inebriados pelo martírio, em busca de virgens e rios de mel, na vertigem sangrenta de quem procura extinguir infiéis do seu deus para garantirem a paz eterna e as delícias de uma vida para além da que prematuramente prescindem.

E não há um antídoto compatível com a civilização que herdámos e nos cabe defender! 

24 de Março, 2018 Carlos Esperança

Guerras religiosas – novos genocídios em suaves prestações

Quando a Polónia desafia os direitos humanos e regressa ao catolicismo do concílio de Trento, não admira que, apesar dos crimes antissemitas que fazem parte da sua História e matriz cultural, desenvolva uma campanha nacionalista para ocultar o passado e para ameaçar quem o queira recordar e prevenir reincidências.

A França também esqueceu a rusga do Vel’d’Hiv (1942), quando a sua policia procedeu à detenção de mais de oito mil judeus e os entregou à Gestapo para que os enviasse para Auschwitz. A Áustria, que conseguiu fazer crer ao mundo que Hitler era alemão, avança de novo para a extrema direita, tal como a Hungria, a Itália, a Holanda e quase todos os países da Europa, sucessivamente, ora elegendo os primeiros deputados extremistas, ora reforçando os seus grupos parlamentares.

Vai-se esquecendo a Croástica, como era designada a Croácia, fusão do nome do País com a suástica, ou a República Eslovaca do sinistro presidente, monsenhor Jozef Tiso, que amava mais o nazismo do que o catolicismo de que era sacerdote e dignitário.

A violência antissemita, com mortes que se atribuem a distúrbios provocados pela droga e pela religiosidade, pela droga, em qualquer caso, cresce de forma permanente e com a agravante de haver cada vez mais complacência para crimes de ódio antissemita.

E se o antissemitismo regressa com o esquecimento da História da Europa e das guerras religiosas a que a Paz de Vestefália colocou um módico de moderação e de aceitação do pluralismo, assistimos agora à apoteose da demência islâmica que de forma metódica e recorrente assassina infiéis e converte ao mais implacável dos monoteísmos jovens que a violência e o primarismo de uma crença obsoleta seduzem.

A Bélgica acabou por controlar a Grande Mesquita para impor um Islão moderado, após ter verificado que vários jovens que a frequentavam foram lutar no Daesh, na Síria. Em França, ontem, ouviu-se mais uma vez o sinistro grito selvagem, Deus é grande, e lá se finaram mais vítimas do ódio de quem não respeita o ethos da nossa civilização.

Em Portugal, sabe-se que se recrutam combatentes para o Daesh, agora uma rede difusa de lobos solitários ou células escondidas, mais difíceis de combater por não disporem de espaço territorial definido.

E, em vez de uma União Europeia unida e federada em torno de uma civilização, temos países que gravitam em torno da mesma moeda, concorrendo entre eles, com o regresso dos nacionalismos e a cumplicidade de governantes com o comunitarismo.

Na ânsia de atrair votos e no desprezo pela matriz laica e democrática que devia unir os países da UE na defesa da herança do Renascimento, Iluminismo e Revolução Francesa, vai-se sacrificando a civilização à benevolência para com as exigências beatas das religiões e a chantagem dos seus dignitários.

A Declaração Universal dos Direitos Humanos é cada vez mais uma mera referência da Europa que permitimos ficar refém da demência sectária de radicais religiosos, dos que abominam os direitos humanos e o livre-pensamento.

Não há democracias vitalícias nem ditaduras definitivamente erradicadas.

23 de Março, 2018 Luís Grave Rodrigues

Bíblia 2