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Mês: Agosto 2007

31 de Agosto, 2007 Carlos Esperança

Fátima na diradura salazarista

««Portugal Século XX, Crónica em Imagens, 1960-1970», Joaquim Vieira, Círculo de Leitores.

Amável envio de MPM.

31 de Agosto, 2007 Carlos Esperança

Informação de um amigo e leitor

Eu já sei o que isto é . Estive 10 dias na Tunísia e, por exemplo, não tinha acesso ao Diário Ateísta! e também a todos os sites franceses de laicidade que normalmente vejo. E fiz outras experiências interessantes – por exemplo, impossível aceder a qualquer site de DH!

A liberdade e a religião têm relações difíceis.

30 de Agosto, 2007 Carlos Esperança

Timor – Poluição beata

D. Ximenes Belo esteve esta manhã no Porto para ver uma estátua que vai ser enviada para Timor-Leste.

João Paulo II foi um papa supersticioso e beato. Foi dos poucos a acreditar na existência de Deus embora, depois, tenha exagerado no negócio dos milagres.

JP2 era, além do exibicionista, ansioso por mostrar os vestidinhos pios em toda a cristandade, um político conservador e obsoleto.

No que diz respeito a Timor, era um cúmplice da Indonésia que nunca permitiu que Dili tivesse um bispo titular porque Ximenes Belo era independentista. Nas suas deambulações pelo mundo tinha a hábito de afocinhar e oscular a terra, mas recusou-se a fazê-lo em Timor porque considerava o território indonésio.

Pois é esse papa pró-indonésio, o sucessor de um papa cuja morte não deixou averiguar (JP1), o protector do bispo Marcinkus, autor de graves fraudes no Banco Ambrosiano, o encobridor do crime (três mortos) da sua Guarda Suiça, o criador de santos e inventor de milagres, que agora vai viajar em bronze a caminho de Timor.

Seis metros e meio de altura e quatro de largura é uma dimensão só comparável com a sua devoção à Virgem mas inversamente proporcional à sua grandeza moral.

O papa do preservativo vai ter uma estátua em Timor. Num país tribal, com fome, doenças e analfabetismo, o bronze é o alimento que faltava para manter o povo de joelhos.

30 de Agosto, 2007 Carlos Esperança

Igreja Católica sob investigação

A Comissão Europeia (CE) pediu informações ao Governo italiano sobre as vantagens fiscais em matéria imobiliária da Igreja Católica no país, face à suspeita de que poderiam violar as regras sobre ajudas de Estado, anunciou o porta-voz sobre Concorrência, Jonathan Todd.

A Comissão, recordou o porta-voz, também fez as mesmas questões às autoridades espanholas, onde a Igreja Católica está isenta de pagar uma taxa municipal sobre construções, instalações e obras em propriedades imobiliárias.

Fonte: JN

E em Portugal?

30 de Agosto, 2007 Carlos Esperança

Loucuras da fé

No bazar da fé o Paraíso fica em cima e o Inferno em baixo. O Purgatório e o Limbo foram afastados para a periferia, enquanto o papa não os demoliu.

Foi com esta concepção arquitectónica que as duas maiores e menos recomendáveis multinacionais da fé despacharam os patronos, após a morte – para cima. Maomé, um rude pastor de camelos, subiu ao Paraíso num cavalo alado enquanto o Cristo, após três dias de férias de morto, foi para o Céu, pelos próprios meios, curar as cicatrizes e aparar a barba, convencido de salvar a humanidade sem que alguém lhe pedisse o sacrifício.

Os judeus criaram o mundo 4004 anos antes de Cristo ter nascido, fruto do cruzamento adúltero de uma judia com uma pomba. Bem, não foram os judeus, foi um tal Jeová que inventaram como Deus e que serviu de modelo para os plagiadores que viriam. Os cristãos eram judeus antes de serem adoptados por um imperador odioso e que se serviu da dissidência para cimentar o Império e ser absolvido dos crimes, um tal Constantino.

A partir daí os cristãos passaram a considerar os judeus piores do que os hereges, uns e outros merecedores da morte, com a amabilidade que os crentes reservam aos ímpios. Até acusaram os judeus de assassinarem bebés cristãos e de beberem o sangue, como se o paladar do sangue melhorasse com o baptismo que seria, assim, uma especiaria.

O mundo está cheio de doidos e de crentes. Que pesaríamos nós de alguém que nos exigisse, como prova de amizade, o sacrifício de um filho? – Diríamos que era uma besta. Mas foi isso que fez o Deus abraâmico e depois disse que estava a brincar, era só para ter a certeza de que o pai delinquente era um crente a sério e não um cretino com provas dadas.

Enfim, uma religião que assassinou em 300 anos entre 40 a 50 mil bruxas, algumas que copularam com o diabo, como confessaram as próprias graças à persuasão cristã dos inquisidores, não é para ser levada a sério, mas mantém inúmeros clientes e diversos estudiosos dedicados a uma ciência exotérica – a teologia. E eu, quando oiço falar de estudantes de teologia, temo o pior.

Não há bestas perfeitas porque ninguém é perfeito mas os prosélitos da fé, convencidos de que só há uma religião verdadeira, a sua, aproximam-se da perfeição porque julgam que uma é verdadeira.

Se não fosse o mal que causa, Deus era uma invenção curiosa e uma divertida lenda mas o raio dos apaniguados só pensam em substituir a razão pela fé e a felicidade pelo medo.

Temos de ter muito cuidado com os crentes que detêm o poder. São perigosos. Vamos estar atentos à Turquia.

Nota: Não sei se as asneiras a que me refiro são contadas de forma ortodoxa mas são muito próximas da versão canónica.

29 de Agosto, 2007 jvasco

O contexto

Charles Darwin afirmou:

«Supor que o olho com todos os seus dispositivos para ajustar o foco a distâncias diferentes, para admitir quantidades de luz diferentes, e para a correção de aberração esférica e cromática, podia ter sido formado pela seleção natural parece, confesso livremente, absurdo no mais alto grau.»

Muitos criacionistas utilizam esta citação para alegar que nem o próprio Darwin acreditava na sua teoria da selecção natural.
Para lhes responder, os seus interlocutores não se limitam a afirmar que a citação está fora do contexto. Eles mostram-no:

«Supor que o olho com todos os seus dispositivos para ajustar o foco a distâncias diferentes, para admitir quantidades de luz diferentes, e para a correção de aberração esférica e cromática, podia ter sido formado pela seleção natural parece, confesso livremente, absurdo no mais alto grau. Quando foi dito pela primeira vez que o sol estava parado e o mundo girava à sua volta, o senso comum da humanidade declarou que essa doutrina era falsa; mas conforme todos os filósofos sabem, em ciência não se pode confiar no velho lema Vox populi, vox Dei. A razão diz-me que se for possível mostrar que existem numerosas gradações desde um olho simples e imperfeito até um olho complexo e perfeito, cada gradação sendo útil para o seu possuidor, como certamente é o caso; se, além disso, o olho alguma vez variar e as variações forem herdadas, como certamente também é o caso; e se tais variações forem úteis para qualquer animal sob condições de vida em mudança, então a dificuldade em acreditar que um olho perfeito e complexo podia ser formado por seleção natural, embora insuperável pela nossa imaginação, não devia ser considerada como subversiva da teoria.»

Quando se cita um texto, por forma a dar a entender que o seu autor afirma algo, quando na verdade ele pretende afirmar o oposto, ou algo muito diverso, isso é grave. Quem considera que a citação trai a mensagem do autor deveria tentar esclarecer os leitores, referindo em que medida é que o contexto desmente a ideia que se tentou passar através da citação.

Há casos em que isto não se sucede. Quando nada no contexto em que uma afirmação foi feita desmente o seu sentido, torna-se muito complicado sustentar a acusação de retirar a citação do contexto com informação, provas, ou razões sérias que sustentem essa acusação.
Em vez disso fazem-se acusações vagas, apela-se a informação que se deseja desconhecida da audiência, sem nunca a concretizar, para que a audiência acredite na acusação, mesmo sem nenhuma razão para o fazer.

Isto obviamente acontece em vários domínios do debate público. Políticos que desejariam não ter dito uma asneira qualquer, apelam ao contexto, mesmo quando nada no contexto os desculpa. Desde afirmações racistas, até afirmações sexistas, homofóbicas, intolerantes, existe sempre a justificação do contexto.
Mas essa justificação é vazia quando nenhum esclarecimento é dado sobre em que medida é que o contexto demonstra quanto a citação pode ser enganadora.

Mas se escrevo este artigo neste blogue, não é por acaso. É porque não há nenhum domínio do debate público – nenhum! – no qual tantas vezes surja a acusação injustificada das citações retiradas do contexto, como o tema da religião.

Suponho que isso aconteça porque a mensagem do livro sagrado dos cristãos é flagrantemente incompatível com os valores humanistas que as nossas sociedades dizem abraçar. A Bíblia exorta os crentes a matar quem trabalha ao Sábado, quem comete adultério, quem tem outra religião, etc… Não há nada no contexto literário, histórico-cultural, nenhuma alegação de erro na tradução, nada que desminta tais exortações.

Assim sendo, muitos cristãos foram sendo habituados a defender a mensagem do seu livro sagrado fazendo alegações vazias a respeito do contexto e da interpretação. E de tanto fazerem tais acusações, já as fazem levianamente a respeito de tudo. Um Papa disse que a democracia é incompatível com o catolicismo, não há problema, isso tem um contexto. A menorização da mulher, a luta contra o divórcio, os ataques à laicidade, o que quer que seja, nunca preocupa tais crentes: há sempre um contexto.

Até o Mein Kampf tem um contexto, mas isso não justifica que eu deixe de considerar que Hitler era um racista intolerante, mesmo sem ter lido essa obra. Se um racista qualquer me vier acusar de «estar a ver as coisas fora do contexto», exijo-lhe que sustente tal afirmação.

O mesmo posso dizer a respeito das obras daqueles que directa ou indirectamente lançaram as fundações da inquisição. Conheço muitas passagens que revelam intolerância, obscurantismo, confusão intelectual. Serei eu que estou a entender mal? Estarei a ler essas passagens fora do contexto? Mostrem-mo.
Até lá são acusações vazias.

29 de Agosto, 2007 jvasco

Religião e obscurantismo VI

«O bom cristão deveria estar atento aos matemáticos e a todos aqueles que fazem profecias vazias. Existe o perigo de que os matemáticos tenham feito um pacto com o diabo para obscurecer o espírito e confinar o homem no inferno.»

Santo Agostinho, De Genesi ad Litteram, livro II, xviii, 37

(Outros artigos desta série: I, II, III, IV, e V)

28 de Agosto, 2007 Carlos Esperança

Turquia – Religião e democracia

Pio IX dizia que o catolicismo era incompatível com a democracia mas, por mérito da segunda, foi desmentido. Não foram os papas que outorgaram a liberdade, mas esta impôs-se nos países moldados pelo iluminismo, a Reforma e o secularismo.

Já no Islão nunca foi feita a prova de que a liberdade e a fé podiam coexistir. Não são os fundamentalistas que são perigosos, são os fundamentos do Islão.O Corão apela à guerra santa e ao extermínio dos infiéis como sucede com todas as doutrinas totalitárias, com todos as religiões que se julgam as únicas empresas de transportes autorizadas a circular nas estradas que conduzem ao Paraíso.

A eleição de Abdullah Gul para Presidente da República é uma afronta aos sectores laicos e progressistas da Turquia moderna, especialmente aos militares e juízes, que defendem a laicidade imposta pela figura tutelar da Turquia moderna — Mustafa Kemal Atatürk.

Como não há democracias militares nem de juízes cabe aos turcos respeitar a decisão das urnas e ao novo presidente as determinações constitucionais, apesar da religião que professa.

Esta é a última oportunidade para o Islão mostrar pela primeira vez que se conforma com o pluralismo e que um presidente islamita é capaz de respeitar igualmente os que crêem e os que não crêem no Profeta, bem como os que não crêem em profetas.

Se a democracia soçobrar na Turquia, prova-se que o Islão não renuncia à obediência ao anacronismo do livro sagrado e que entre a civilização e a barbárie, entre a liberdade e a fé, só resta a espada para defender uma ou impor a outra.

28 de Agosto, 2007 jvasco

Ateísmo na Blogosfera

  1. «O primeiro sinal de patranha e hipocrisia intelectual e emocional é o erguer de muros que visam proteger algo da crítica — não se pode usar a crítica aqui porque é “redutor”, porque a realidade ultrapassa o pensamento, porque o sentir é uma “dimensão outra” do ser humano, porque é blasfemo pôr em causa a tradição religiosa secular, porque o método científico é muito limitado, porque a racionalidade está ultrapassada, etc. Trocando por miúdos, o que isto quer dizer é: «não me venham com perguntas difíceis, que me lixam o meu sistema de crenças, confortável e seguro, pois eu quero que isto seja verdade — afinal, não era tão bom que fosse mesmo verdade?»»(«Verdade e crença: uma confusão filosófica comum», no De Rerum Natura)
  2. «Um descrente não põe em causa que um crente sente o que diz sentir por um deus ou outro. O descrente põe é em causa que tais sentimentos sejam adequados, por pôr em causa a existência do objecto de tais sentimentos. O que está em causa não é a existência de tais sentimentos, mas a sua razoabilidade e adequação. Um louco também tem sentimentos, igualmente reais enquanto sentimentos, relativamente ao fantasma do Napoleão, que o acompanha sempre e lhe sussurra segredos ao ouvido.

    […] o sistema de funcionamento das religiões não obedece a procedimentos de virtude epistémica: não há sistemas de controlo de erros, procura activa de contra-provas, de objecções, de testes cegos, liberdade de argumentação, acolhimento do debate frontal. Pelo contrário, as religiões caracterizam-se por partir dos conceitos de blasfémia e opinião herética, aceitam que determinadas ideias não devem sequer ser debatidas, e que quem as defende tem de ser excomungado. E por isso nenhuma crença pode racionalmente basear-se nas instituições religiosas.

    […] Mas não me parece aceitável, e é a isso que eu chamo hipocrisia e desonestidade intelectual, fingir que temos argumentos sólidos a favor das nossas crenças religiosas quando na realidade não os temos e nem estaríamos dispostos a abandonar tais crenças caso encontrássemos argumentos irrespondíveis contra elas. Isto seria como um fumador recusar-se a reconhecer que o tabaco não é saudável, só para poder manter a ideia falsa, mas reconfortante, de que é uma pessoa razoável, reflectida e racional. »Será razoável acreditar em deuses sem provas?», no De Rerum Natura)

  3. «O cientista considera que vivemos uma nova era de obscurantismo, que dura há aproximadamente 30 anos. Uma era em que “a verdade deixou de ser importante, e os dogmas e a irracionalidade passaram outra vez a ser respeitáveis”. Uma era em que as pessoas são “iludidas a pensar que serão recompensadas com o paraíso por se suicidarem matando outros”, em que bispos atribuem as recentes cheias em Inglaterra à vingança de uma divindade e em que “professores de ciências começam a acreditar que a Terra foi criada há 6000 anos”»O Sono da Razão: haja velas para tanta escuridão», no De Rerum Natura)