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Etiqueta: Fátima

29 de Agosto, 2023 Onofre Varela

FÁTIMA (5 e Fim)

Texto de Onofre Varela previamente publicado na imprensa escrita.

Cumprindo o prometido guardei para último artigo desta série de textos sobre Fátima a abordagem ao pensamento do Republicano e defensor acérrimo da Lei da Separação do Estado da Igreja, perseguido por dois sistemas governamentais, ex- seminarista, pensador e escritor beirão, Tomás da Fonseca (1877-1968). Escreveu o livro Na Cova dos Leões (editado no Brasil em 1958 e em Lisboa em 2009 pela Antígona. Tomás da Fonseca foi o último autor Português a escrever em defesa do Ateísmo, antes do meu livro “O Peter Pan Não Existe” [Caminho, 2007] 49 anos depois).

Quando li o seu livro fiquei convicto de que o autor é honesto no modo como aborda e narra os acontecimentos de 1917 na Cova da Iria. Teve o cuidado de entrevistar personalidades próximas das pessoas envolvidas neles. Em conversa com o Dr. Luís Cebola, especializado em doenças mentais e director da Casa de Saúde do Telhal, sabendo este que Tomás da Fonseca “andava coligindo elementos para a história do embuste de Fátima” lhe garantiu o seguinte (transcrevo na íntegra as palavras do autor): “O seu amigo, padre Fernando Eduardo da Silva, capelão militar já falecido, procurara-o, um dia, para dizer-lhe que não desejava ir desta vida sem lhe confidenciar um facto que supunha da maior gravidade para a Igreja Católica, de que era ministro. E narrou o diálogo havido em Torres Novas, entre três sacerdotes: o pároco de Fátima [Manuel Marques Ferreira], o fanático Benevenuto de Sousa e outro cujo nome lhe esquecera [mas que o autor identifica em nota de rodapé como tendo sido o padre Abel Ventura do Céu Faria, prior de Seiça]. Perguntado o primeiro sobre como lhe corria a vida na paróquia, respondera: «Aquilo não dá nada. Região pouco produtiva, gente miserável, sem iniciativa…». Então, o que perguntara lembrou-lhe: «Tens uma maneira de enriquecer depressa: provoca uma aparição como a de La Salette ou a de Lourdes e cai-te lá o poder do mundo»! O de Fátima ouviu, pensou um bocado e replicou: «Pensas bem. E o meio presta-se para coisas dessas!». E logo ali combinaram promover, sem perda de tempo, a aparição, entrando os três no negócio. Como, porém, rebentou a Grande Guerra em 1914, os trabalhos da empresa foram suspensos até 1917. Redigida esta nota, mostrei-a ao ilustre psiquiatra que a considerou exacta”. Algumas linhas depois, o autor diz mais isto: “Continuando na pesquisa de elementos, tempo depois encontrei-me com o velho democrata Manuel Duarte, que me informou de outro caso não menos valioso: a conversa que o bispo de Leiria mantivera com o Dr. Egas Moniz, meses após a farsa das aparições de Fátima”. Tomás da Fonseca fora colega do cientista (que, em 1949, recebeu o primeiro prémio Nobel concedido a um Português), e convivera com ele nas Constituintes da República em 1911. Procurou-o no seu escritório, ouviu o seu relato e escreveu-o no livro que cito. O Dr. Egas Moniz, certo dia, encontra casualmente o bispo de Leiria D. José Alves Correia da Silva, numa viagem de comboio. Tinham sido condiscípulos e eram amigos desde há muitos anos. Esta aproximação levou o bispo a confessar ao cientista que “uma coisa o andava confrangendo: era o caso de Fátima, em que estavam envolvidos alguns párocos, um dos quais excessivamente falador.” E continuou o bispo: “compreendes a minha preocupação e receio de que tudo redunde num fracasso, ou, melhor, num desaire para a Igreja de que sou representante […]. O professor procurou sossegar o espírito inquieto do bispo. «Diz-me: isso está limitado à acção do clero local? O povo não colabora?». O bispo esclareceu que a acorrência ao santuário era já muito grande e que aumentava dia a dia. E o cientista, que é também hábil psicólogo: «Uma vez que o povo já tomou conta do caso, sossega, porque só ele poderá desfazer o que está feito. E sabes bem que o não fará na tua diocese, uma das mais devotas da nação. Pelo que me dizes o povo já proclamou a aparição, já lhe ergueu santuário e corre em chusma para ele” […]. A seguir, Egas Moniz sossegou ainda mais o espírito amedrontado do bispo, dizendo quase que uma profecia: “Dentro de pouco tempo terás de sancionar a voz do povo, e tu próprio acabarás por presidir e orientar os negócios de Fátima”.

Estes testemunhos levam-me a aceitar a razão das críticas de Tomás da Fonseca aos acontecimentos de Fátima em 1917 que sublinham a invenção das “aparições”. São depoimentos com valor jornalístico e escrevem História. Por isso terão de, forçosamente, ser considerados num estudo que se pretenda honesto, sobre as “visões dos pastorinhos” ou “embuste de Fátima”.

(Fim)

(O autor não obedece ao último Acordo Ortográfico)

OV

24 de Agosto, 2023 Onofre Varela

FÁTIMA (4) 

Texto de Onofre Varela previamente publicado na imprensa escrita.

A ideia de, em 1917, ter ocorrido em Fátima um fenómeno OVNI, alimento-a há imenso tempo, e está escrita num projecto de livro (que o será logo que encontre editor interessado). É uma ideia que pode provocar riso. Riam à vontade. Rir é sinónimo de saúde quando a sua motivação não é o escárnio nem a ignorância. Eu não rio da crença. Respeito-a pela consideração que me merece a religiosidade dos meus semelhantes, mas procuro saber sobre ela lendo textos de Religião, Psicologia e Filosofia. E interrogo-me. Tenho opinião própria e procuro saber mais do que aquilo que é aparente e que a Religião apregoa como verdade. As pretensas “explicações” quando têm o duvidoso rótulo de “oficiais”, não me servem. 

A possível “explicação” do OVNI para os efeitos feéricos que deslumbraram todos quantos a ele assistiram na Cova de Iria em 1917, não só não explica tudo… como, na verdade, não explica nada!… O fenómeno de Fátima teve mais do que a observação do OVNI e da imagem luminosa de uma senhora ou menina. Também teve anúncio de jornal, no “Diário de Notícias” a 10 de Março de 1917, com o enigmático título “135917” (onde é possível ler-se a data 13 de Maio de 1917) com um pequeno texto que anunciava “o fim do nosso martírio”. Ao mesmo tempo, no Porto, grupos espíritas anunciavam, com publicação nos jornais “O Primeiro de Janeiro” e “Jornal de Notícias”, no dia 11 de Maio de 1917, que algo iria ocorrer a 13 de Maio!… Para estes anúncios eu não tenho explicação… e estragam a minha hipótese extraterrestre… pois não estou a ver os visitantes galácticos a passarem pelas redacções dos jornais nas vésperas do evento, encomendando anúncios!… Mas também não entendo o porquê de os “inventores da aparição” anunciarem que tal iria ocorrer!… É um enigma que não decifro. (Há por aí alguém que o saiba explicar?).

O que se sabe é que Fátima seguiu o modelo de Lourdes, com várias “aparições” periódicas, desde 11 de Fevereiro de 1858, à pequena pastora Bernadette, de 14 anos. Anteriormente, em 1846, duas crianças, também pastoras (Mélanie e Maximin), contactaram com uma bela senhora no cume do monte de La Salette, também em França. Em 1876 e 1877, três jovens alemães viram “a Virgem” em Marpingen, no Sarre, levando o Catolicismo a uma vitória sobre o Protestantismo maioritário na região. 

Os acontecimentos de Fátima também foram o lançar da semente que fez nascer a imagem do “Sagrado Coração de Maria”, consolidada com a beata Alexandrina, em Vila do Conde, 40 anos depois (1957). E foi o renascer de uma indústria de santinhas de cartilha, vendidas na Cova da Iria no próprio dia 13 de Outubro de 1917, representando a imagem de Maria, no céu, rodeada por um halo de nuvens. As memórias de Lúcia, escritas entre 1935 e 1941, foram direccionadas pelo culto no asilo de Vilar, no Porto, (mais tarde seminário) orientado pelas irmãs Doroteias, e depois em Pontevedra e Tuy (Galiza), onde Lúcia se tornou freira. 

Contradições e distorções são os principais elementos da história oficial católica das aparições de Fátima, o que é de excelente utilidade para o culto… mas não serve a mais ninguém! Por outro lado, entre os milhares de testemunhos do “bailado do Sol”, há registos contraditórios de quem esteve a olhar para o mesmo “Sol” e não tenha observado nada de estranho ou anormal: nem cores faíscantes, nem movimentos rodopiantes ou zigue-zagueantes!

Resta perguntar: a Igreja Católica apropriou-se de um fenómeno ocorrido em Fátima, ou criou-o?!… 

Entre 1917 e 1919, o vigário de Ourém, Faustino José Jacinto Ferreira, tornou-se conselheiro e confessor das crianças pastoras-videntes, e o bispo de Leiria José Alves Correia da Silva, em 1921, afastou totalmente Lúcia da família e da aldeia, administrou o espaço da Cova da Iria comprado sigilosamente pela Igreja, e lançou o jornal “A Voz da Fátima”, principal órgão difusor dos interesses da Igreja naquele acontecimento. Na verdade, o Sol não se move, a personagem neotestamentária Maria não pode ter aparecido, e a intervenção extra-terrestre é uma hipótese fantástica impossível de ser provada. 

Continuo ignorante como era no início das minhas buscas… mas os crentes são mais ignorantes do que eu, porque não se interrogam nem buscam! 

Tomás da Fonseca, que se formou num seminário e foi ateu (sendo o primeiro ateu português a escrever um livro sobre o assunto) tinha outra visão do caso, a qual comentarei no próximo artigo, para finalizar esta “Novela Fatimida”… mas a questão não fica encerrada.

(Continua)

(O autor não obedece ao último Acordo Ortográfico)

OV

22 de Agosto, 2023 Onofre Varela

FÁTIMA (3)

Texto de Onofre Varela, previamente publicado na imprensa escrita.

Tal como disse no último texto, a hipótese de explicação que tenho para as aparições de Fátima é tão fantástica quanto a hipótese religiosa, porém mais credível por haver nela o uso de técnicas que, mercê dos nossos avanços tecnológicos e científicos, hoje podemos imaginá-las (o que não acontecia em 1917), embora não possamos concretizá-las. 

Para a minha proposta temos de encarar a existência de seres extraterrestres. O que não é difícil de imaginar… difícil será afirmar que num universo composto por milhares de galáxias – por sua vez compostas por milhões de planetas – seja o planeta Terra (um minúsculo grão de poeira no Universo) o único ponto do Cosmos a albergar vida inteligente (a possibilidade de vencer tão longas distâncias… já é um outro problema). 

Há uma corrente de pensamento que diz ter sido a Terra visitada por alienígenas em tempos imemoriais, e os OVNI (que através dos séculos já foram observados em todas as partes do mundo, desde a Suméria de há 5000 anos, passando pelo Médio Oriente no tempo de Moisés [designadas por “sarças ardentes”], e depois com Paulo de Tarso, até aos nossos dias) seriam prova disso. 

O leitor pode considerar ser uma hipótese demasiado fantástica e hilariante… mas a aparição de Maria sobre o cocuruto de uma azinheira, 1900 anos depois de ter morrido, debitando discurso em português para três crianças analfabetas que não souberam dizer o que viram, resulta igualmente fantástica (se não hilariante) por não ter um suporte técnico que a sustente, para além da crença que nada explica. 

Para a minha hipótese é de primordial importância a hora das aparições: o meio-dia. 

Ao meio-dia o Sol está no zénite. Isto é: está no topo de uma linha vertical traçada a partir da cabeça do observador. Só nesta hora solar poderia ocorrer o chamado “fenómeno do Sol”. 

Imagine o leitor (imaginação com suporte na ficção científica) que por sobre a Cova da Iria e das nuvens espessas que cobriam o céu naquele dia chuvoso, se posiciona uma nave tripulada por quem domina uma técnica que desconhecemos. Com recurso a essa prodigiosa técnica, é lançado algo a que chamarei “tela”, de cor azul-céu, entre a posição do Sol do meio-dia e a gente aglomerada na Cova da Iria. Depois, esse “alguém” dissipou as nuvens, criando uma espécie de túnel, deixando-nos ver a tela azul que foi tomada pelo céu. Sob ela colocaram um globo luminoso que foi identificado como sendo o Sol. Lúcia afirmou que o Sol do milagre era mais fosco do que o Sol de todos os dias, porque podia ser olhado sem protecção ocular. Logo, não era o Sol! 

A seguir, esse globo movimentou-se no espaço, rodopiando, zigue-zagueando e chispando cores verde, amarelo e vermelho (coisas que o Sol não faz). Desse globo é projectada uma imagem holográfica sobre uma azinheira, representando uma forma humana muito luminosa. Nas primeiras interrogações do cónego Ferrão às três crianças pastoras, nunca elas disseram ter visto Maria, mãe de Jesus. Esse reconhecimento foi construído pouco a pouco pelo interrogador que incutiu tal ideia nas crianças. 

A imagem que agora é passeada em andor no recinto de Fátima, é uma construção de acordo com o culto, mas não com a realidade das aparições. As roupas daquela figura seriam justas ao corpo e com aspecto de serem acolchoadas. Não tapavam os pés, ficando pelo meio da perna, e a capa, que não cobria a cabeça, não ultrapassava os joelhos. A figura era estática, com um rosto de beleza ímpar, mas sem expressão. Não movimentava os olhos nem os lábios, e aquilo que poderia ser a sua voz aparentava-se a um “zumbido de abelha” (palavras de Lúcia, nos primeiros interrogatórios). 

Esta figura feminina não foi vista por mais ninguém, mas o OVNI de luz faiscante, movimentando-se em zigue-zague, foi visto por cerca de 50 mil pessoas, não só na Cova da Iria, mas por quem estava a 40 quilómetros de distância. Aquela encenação durou dez minutos. Depois a figura da senhora subiu e desapareceu no espaço, o Sol tomou o seu lugar e as nuvens tornaram a cobrir o céu. 

As pessoas ali reunidas disseram sentir um calor intenso durante aqueles 10 minutos, de tal modo que as roupas encharcadas pela chuva, secaram. Do céu caiu algo que foi tomado por pétalas de rosa, mas que se desfaziam ao tocar no solo, e a atmosfera tinha um odor estranho mas agradável (resíduos do “combustível/energia” usado pelo OVNI?). 

É claro que esta hipótese não explica nada! Se podemos aceitar a possibilidade técnica da concretização do fenómeno, fica uma série de perguntas à espera de respostas: Quem o produziu? Com que intenção? Alienígenas que estudavam (estudam) a nossa reacção, para aquilatar o nosso desenvolvimento racional?!… Não sei. 

Mas sei que a explicação religiosa foi construída, e sei que os religiosos que defendem a aparição de Maria, também não sabem. Só crêem!… E crer não é saber. 

Porém, há algo que destrói esta minha hipótese extraterrestre… como veremos na próxima semana.

(O autor não obedece ao último Acordo Ortográfico) 

OV

Imagem de Bernardo Ferreria por Pixabay
17 de Agosto, 2023 Onofre Varela

FÁTIMA (2)

Texto de Onofre Varela previamente publicado na imprensa escrita.

As tentativas de explicação para a “visão” dos pastorinhos em Fátima no ano de 1917, são várias. Desde as puramente religiosas, alicerçadas na fé pura, sem qualquer tentativa de explicação que ultrapasse a fé, até às mais rebuscadas e espantosas, passando pela realidade do momento histórico que então se vivia em Portugal. 

A República recém instalada (1910) destronou uma monarquia decrépita, e o poder que a Igreja mantinha até aí, ruiu por força das leis republicanas que separaram a Igreja do Estado. O sentimento anti-clerical da época compreende-se pelo facto de haver um clericalismo feroz a pedir o seu contrário. 

O povo, extremamente religioso, provavelmente sentia-se perdido entre a sua fé enraizada no mais profundo dos seus pensamentos, e a lei da República que lhe dizia, ao estilo de Camões, “Cesse tudo o que a Musa antiga canta, que outro valor mais alto se alevanta”!… 

A par disso havia o espectro da guerra. A Primeira Guerra Mundial iniciou-se em 1914 e o Exército Português participava nela. As famílias portuguesas perdiam os seus jovens nas trincheiras da Flandres, onde os soldados alemães causaram (um ano depois, a 9 de Abril de 1918) a maior derrota que os portugueses tiveram em confrontos bélicos, desde Alcácer-Quibir em 1578 (onde perdemos o rei D. Sebastião e, por arrasto, também perdemos a independência, passando Portugal a ser governado pela coroa espanhola durante 60 anos). 

Era provável que, em 1917, os portugueses se sentissem mal. E a Igreja, em particular, que era perseguida pela nova política, precisava de “um milagre” que recuperasse o seu crédito… e inventou-o, criando as “aparições marianas” já experimentadas em Lourdes (França) com êxito! 

Estas considerações históricas poderão conter alguma explicação para a origem do que aconteceu em Fátima em 1917… mas não explicam tudo. Para mim há algo que não pode ter ocorrido: a aparição da mãe de Jesus. Por várias razões. A primeira razão pertence à História Natural. Quem morre não “aparece” vivo. O meu gato jamais experimentará a “visão” do seu avô persa falecido, porque não tem imaginação para isso. A inteligência do Ser Humano dá-lhe essa imaginação, e a partir daí tudo é possível ao nosso poder criativo. 

Poderá haver alguém que diga ter visto um ente querido depois de este ter morrido, mas na realidade não viu! Foi o seu cérebro que construiu essa visão. Porém, no caso de Fátima há uma particularidade intrigante: aquilo que foi tomado pelo Sol a mover-se, crendo no que foi escrito na época, foi testemunhado não só pelo povo crente aglomerado no local da “aparição”, que poderia constituir um fenómeno de alucinação colectiva, mas também por quem se encontrava a 40 quilómetros de distância, sem o ambiente propício a tal alucinação! 

O que foi que aconteceu, então?!… 

Na verdade, não sei… e este meu desconhecimento não me permite aceitar “as aparições de fé” do modo como a Igreja as quer fazer passar. 

Mas sei que há uma tentativa de explicação que, sendo tão fantástica quanto a aparição de Maria… me parece muito mais coerente.

(Continua)

(O autor não obedece ao último Acordo Ortográfico) 

Imagem de CrisG por Pixabay
15 de Agosto, 2023 Onofre Varela

FÁTIMA (1)

Texto de Onofre Varela, previamente publicado na imprensa escrita.

Em Maio de 1917, no lugar da Cova de Iria (Ourém), três crianças que apascentavam gado teriam observado algo que identificaram com a imagem de uma mulher luminosa sobre uma azinheira. 

Até Outubro (no espaço de seis meses), a observação repetiu-se mensalmente nos dias 13, fazendo crescer o interesse pelo fenómeno, mês após mês, levando ao lugar centenas de pessoas animadas pelo fervor religioso daquelas “aparições” testemunhadas pelos três pequenos pastores. 

Inicialmente a Igreja manteve-se afastada da crendice popular, negando as crianças. Mas os acontecimentos operados no lugar da azinheira, palco das aparições, foram de tal monta, que levaram os crentes a construírem toscos altares em forma de monumento. A deslocação de milhares de crentes e de curiosos, àquele lugar todos os dias 13, tomou conta da opinião pública e a Igreja não teve outro remédio se não aceitar as versões dos pequenos pastores (explicação na sua “versão oficial”)… porém… com retoques. 

As três crianças garantiam que aquela senhora falante do cimo da azinheira, estava envolvida em luz, tinha cabelo curto e saia por baixo do joelho. A Igreja construiu outra imagem mais coerente com a tradicional ocultação de simbologia sexual. Os cabelos e as pernas, por serem “elementos de pecado”, foram tapados com um manto ao estilo das burcas islâmicas, e a imagem passou a ser adorada como sendo Maria, a mãe de Jesus Cristo. 

Na última aparição, a 13 de Outubro, o lugar da Cova de Iria estava apinhado de gente vinda de todo o país. Foram ali com o propósito de assistirem ao fenómeno que os pequenos pastores garantiam acontecer mensalmente. Se, até aí, as visões eram testemunhadas, apenas, pelas crianças, não tendo ninguém mais visto a tal senhora sobre a árvore, nem ouvido coisa alguma, naquele derradeiro dia aconteceu aquilo que, religiosamente, se acredita ter sido “o bailado do Sol”. O astro-rei moveu-se, zigue-zagueante!… Desceu, subiu e chispou luzes feéricas em todas as direcções. 

Os jornais dos dias seguintes noticiaram que aquele bailado solar também foi testemunhado por quem se encontrava a cerca de 40 quilómetros do lugar onde a gente se apinhava para assistir à aparição da senhora. Naquele dia, chovia. Ao meio-dia, a chuva parou. As nuvens dissiparam-se mostrando o Sol a mover-se. O calor era tanto que as roupas dos assistentes, ensopadas pela chuva ininterrupta, secaram. 

Este fenómeno movente do Sol causa sérias interrogações. Como se sabe, o Sol é o astro central do sistema planetário a que pertencemos, e não se move do seu lugar. As distâncias dos planetas ao astro que nos dá luz, calor e vida, são sempre as mesmas, ditadas pela movimentação elíptica de cada um deles nas suas órbitas, o que, no caso da Terra, nos permite termos Primavera, Verão, Outono, Inverno… e Vida! 

Se aquele globo faiscante não era o Sol (era impossível sê-lo)… então o que seria?… o que foi que viram as testemunhas do fenómeno? 

(Continua)

(O autor não obedece ao último Acordo Ortográfico)

OV

Imagem de CrisG por Pixabay
13 de Outubro, 2020 João Monteiro

E o sol (não) dançou

As conhecidas aparições de Fátima, segundo os crentes, tiveram lugar nessa cidade no ano de 1917, começando a 13 de Maio e culminando a 13 de Outubro, data que hoje se assinala.

Uma história longa, e que merece ser analisada em momento oportuno, só pode ser compreendida à luz do contexto da época: um período de escassez de recursos, fome, miséria, analfabetismo, guerra e de tumulto político que opunha a Igreja Católica ao Regime Republicano. Este é o cenário em que o suposto milagre alegadamente teve lugar.

Mas não é do passado que hoje quero falar, mas do presente. Num dia em que os peregrinos se encontram em Fátima (este ano de modo mais contido do que em anos anteriores devido à situação pandémica que vivemos), o que os move é o fenómeno que acreditam ter acontecido naquele local, em particular o movimento do sol, que alguns contemporâneos descreveram como uma dança ou um bailado. A crença neste fenómeno é algo que sempre me fez muita confusão. Primeiro, pelo argumento utilizado de que todas as pessoas que estiveram no local presenciaram o fenómeno, algo que é desmentido consultando a imprensa e documentos da época. Em segundo lugar porque revela ou iliteracia científica ou que nunca pensaram a sério no acontecimento. O sol não gira em torno da Terra (é apenas um movimento aparente), mas é o nosso planeta que se movimenta em torno do sol, logo este não se poderia ter movimentado, dançado ou bailado. Se isso fosse verdade, como nos recorda Richard Dawkins no seu livro “A desilusão de Deus”, então o fenómeno seria observado noutros locais do país ou mesmo noutros países. Se tal fenómeno não foi registado em mais nenhum local, o mesmo não terá acontecido, por motivos óbvios.

Normalmente atribui-se como explicação uma alucinação coletiva, eu prefiro sugerir que se trata do fenómeno que sucede quando ficamos ofuscados. Lúcia pedira às pessoas para olharem para o céu após a chuva e enquanto as nuvens se dissipavam e o sol despontava no céu. É crível que após um momento de pouca luz e ao olhar diretamente para o sol se fique encadeado e, quando se muda o olhar noutra direção, o sol parece perseguir o nosso campo de visão e daí o “bailar” do sol.

Imagem de Gerd Altmann por Pixabay
15 de Abril, 2016 Administrador

Reacção de Carlos Esperança na rádio Paivense FM

Carlos Esperança, Presidente da Direcção da AAP – Associação Ateísta Portuguesa, reage, na “Paivense FM”, ao atropelo à laicidade cometido numa escola pública de Castelo de Paiva. A AAP já questionou o Ministro da Educação sobre mais um episódio que põe em causa valores fundamentais da Constituição da República Portuguesa.

Clique para ouvir:

15 de Abril, 2016 Administrador

Carta ao Ministro da Educação.

Assunto: Atropelo à laicidade em escola de Castelo de Paiva.
 
Tiago Brandão Rodrigues
Ministro da Educação
Senhor Ministro,
A Associação Ateísta Portuguesa (AAP) tomou conhecimento da passagem, por Castelo de Paiva, da «Imagem Peregrina de Nossa Senhora de Fátima» [sic] e da iniciativa da diretora do Agrupamento de Escolas de Castelo de Paiva (AECP), Maria Beatriz Moreira Rodrigues e Silva, que, a “convite do Reverendo Padre F. Sérgio”, solicitou aos encarregados de educação autorização para que os alunos se pudessem deslocar, ao largo do conde, entre as 10 e as 11 horas do dia 13 de abril, acompanhados de professores e funcionários, para participarem na receção à referida imagem, se possível, trazendo uma “camisola/t-shirt / casaco branco.” (Ver anexo)
 A AAP, considerando o atropelo grosseiro à laicidade e um desafio à separação Estado / Igrejas, constitucionalmente consagrado, na defesa da laicidade da escola pública, pede a V. Ex.ª se digne mandar esclarecer o seguinte:
a)      Se há alguma legitimidade ou utilidade na suspensão das aulas para participação de alunos do segundo e terceiro ciclos na cerimónia religiosa;
b)      Se aos alunos que eventualmente se recusaram a participar na referida cerimónia (difícil perante a militância pia da diretora) foram asseguradas aulas;
c)      Se as aulas sacrificadas pela devoção do órgão diretivo tiveram compensação;
d)      Se os alunos, professores e funcionários foram abrangidos por qualquer seguro e lhes foi facilitado transporte do Agrupamento até à Igreja Matriz e regresso, ou foram obrigados a deslocar-se a pé.
e)      Finalmente, se a laicidade da República Portuguesa, no caso da Escola Pública, é acautelada pelo Ministério da Educação e que providências serão tomadas para que outras escolas públicas não reincidam em semelhante prevaricação.
Aguardando a resposta que V. Ex.ª tiver por conveniente,
Apresentamos-lhe os nossos melhores cumprimentos,
Carlos Esperança,
Presidente da Direção.
26 de Junho, 2014 Raul Pereira

Não é o “Inimigo Público”, mas parece…

De acordo com esta notícia do Observador, os responsáveis pela abolição do feriado de 5 de Outubro acham agora muito importante discutir a instituição do “Dia Nacional do Peregrino”, a 13 do mesmo mês, pois claro!

Prepara-se, assim, o assalto final de 2017; altura em que será oficialmente instituído o “Feriado Nacional do Milagre do Sol” e onde o Presidente da República substituirá definitivamente a figura da Primeira Dama pela da Senhora de Fátima, qual D. João IV em Vila Viçosa. Também serão queimados (novamente) os livros de Tomás da Fonseca. Eu, pelo sim pelo não, já escondi os meus.

A notícia adianta ainda que também se irá discutir a criação do “Dia Nacional da Paralisia Cerebral”…

Tomás da Fonseca

13 de Setembro, 2011 Raul Pereira

Ensinar a magia da realidade

O novo livro para crianças de Richard Dawkins, The Magic of Reality: How We Know What’s Really True, fala sobre os Pastorinhos de Fátima.
Faço um apelo à Casa das Letras para que o disponibilize rapidamente na nossa língua, pois vou querer oferecê-lo a todos os infantes que me são próximos.

(se tiver problemas em ver o vídeo, carregue aqui.)