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Carta aberta aos créus

Alguns créus acusam o Diário de uns Ateus de intolerância. Se chamam intolerância ao combate à hipocrisia, à defesa dos direitos humanos, ao ataque ao pensamento único, à defesa da liberdade, têm razão.

Se, pelo contrário, acham que somos capazes de defender o racismo, a xenofobia, o fascismo, uma qualquer ditadura ou restrições ao direito de associação, onde cabem as religiões, não nos conhecem.

Se um regime despótico privar os crentes de qualquer religião do acesso aos templos, da manifestação dos seus cultos, do direito de reunião e da livre expressão escrita e oral, contará com a oposição determinada e a luta sem tréguas dos ateus.

A ICAR combate o que julga serem os nossos erros, nós combatemos o que pensamos serem as suas mentiras. Onde está, da nossa parte, a intolerância? Porventura propomos a punição de quem vive da exploração da fé? Queremos queimar os quatro evangelhos que Constantino coligiu dos oitenta que foram considerados para o Novo Testamento? Alvitramos coimas para quem se empanturra de hóstias, faz jejuns, reza novenas ou se péla por uma procissão?

Podemos considerar burla o negócio dos milagres, a venda por atacado de indulgências, a purificação obtida com borrifos do hissope e condenar a atmosfera terrorista que as Igrejas criam com o temor do Inferno. Desmascaramos os negócios que fazem com os transportes do Purgatório, com veículos movidos a missas e oferendas, ou com os óbolos que fazem esportular aos crentes para comprar um espaço no Paraíso. Mas não aceitamos a mais leve perseguição, nem pedimos que nos deixem fazer homilias ateias nos seus locais de culto.

O cristianismo plagiou crenças antigas. Cristo não foi o primeiro a nascer de uma virgem, a ressuscitar ao terceiro dia ou a dedicar-se ao lucrativo ramo dos milagres. Não vem mal ao mundo que haja quem acredite no poder dos santos, nos dons do Espírito Santo ou na omnipotência divina. O perigo reside nas perseguições a quem desmascare a tramóia, duvide que o corpo e o sangue do JC se encontrem na rodela de pão ázimo depois de consagrada, negue a eficácia terapêutica da água benta ou a eficácia da oração no aumento da pluviosidade.

Não somos nós, ateus, que somos intolerantes. Somos solidários com os direitos dos crentes, mas não nos peçam que renunciemos a desmascarar quem os engana, explora e fanatiza.