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Mês: Setembro 2013

11 de Setembro, 2013 Luís Grave Rodrigues

Imagine…

11 de Setembro, 2013 Carlos Esperança

No 12.º aniversário do ataque às Torres Gémeas de Nova York

A galáxia terrorista que dá pelo nome de Al-Qaeda não é a mera associação criminosa com gosto mórbido pela morte, é uma nebulosa de fanáticos que creem no Paraíso e nas virgens que julgam aguardá-los no estado miserável em que chegam.

Não têm uma ideologia, uma lógica ou um objetivo claro, pretendem apenas agradar a um Deus de virtude duvidosa e ao profeta em defunção, desde o ano 632 da era vulgar.

A demência ganhou ímpeto em 11 de Setembro de 2001, nos ataques às Torres Gémeas de Nova Iorque e ao Pentágono, em 11 de Março de 2004, na estação ferroviária de Atocha, em Madrid, nas explosões em estâncias de veraneio, nas embaixadas dos EUA e no Metro de Londres, em 7 de Julho de 2005.

Por toda a Europa, seja a pretexto das caricaturas de Maomé ou de um livro considerado blasfemo, surge a violência enquanto a rua islâmica ulula e ameaça.

Não vale a pena iludirmo-nos com a bondade do Islão quando os clérigos pregam o ódio e apelam ao martírio. Os países democráticos não se libertam do complexo da culpa das cruzadas e da evangelização e tratam o terrorismo religioso com excessiva brandura.

Um templo onde se prega o ódio é um campo de treino terrorista. Um clérigo que apela à violência é um criminoso que deve ser julgado.

Os japoneses que viam Deus no Imperador, imolavam-se em seu nome mas, perdidas as fontes de financiamento e desarticuladas as redes de propaganda, abdicaram do suicídio e da imolação com aviões e torpedos que dirigiam contra alvos inimigos.

É tempo de conter a ameaça que paira sobre a civilização e a democracia, sem sacrificar o Estado de direito, sem abdicar das liberdades e garantias que definem a nossa cultura.

Mas não podemos hesitar na luta contra o financiamento e proselitismo ideológico que grassa entre fanáticos de várias religiões. Não são famintos em desespero, são médicos, pilotos e académicos que buscam o Paraíso através de crimes contra os infiéis.

É preciso contê-los.

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11 de Setembro, 2013 Carlos Esperança

Augusto Pinochet e o crime cometido há 40 anos

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Faz hoje 40 anos que um sombrio general, Augusto Pinochet, derrubou o Presidente do Chile, Salvador Allende, eleito democraticamente, e iniciou a longa e sinistra ditadura que permanece como paradigma da crueldade, do arbítrio e da barbárie.

Em homenagem a muitos milhares de desaparecidos, torturados, presos e assassinados, não podemos esquecer a data e o algoz que perdeu na última semana de 2005 o recurso no Supremo Tribunal e enfrentou várias acusações na sequência do desaparecimento de 119 membros de um grupo da oposição durante o seu regime.

De 1973 a 1990, entre o golpe que derrubou o Governo legal e o seu afastamento do poder, Pinochet foi responsável pela morte e desaparecimento de mais de 3.000 pessoas.

Depois da descoberta de contas secretas nos EUA, com vultuosas quantias obtidas de forma fraudulenta, num valor superior a 24 milhões de euros, o velho déspota conheceu o opróbrio e a prisão. Nem o apoio empenhado de João Paulo II e Margaret Thatcher lhe valeu.

Longe iam os tempos em que afirmava que no Chile nem uma folha se mexia sem o seu conhecimento.

Quando João Paulo II, amigo do peito e da hóstia, visitou o Chile, considerou o pio general e a Esposa como um casal católico modelo. Apenas lhe notou a devoção, não lhe perscrutou a crueldade.

A polícia secreta do general Augusto Pinochet liderou uma rede de espionagem, dentro e fora do Chile, que cruzava informação com o Vaticano, o FBI, e com outras ditaduras da América Latina. Foi essa polícia e as Forças Armadas que permitiram ao ditador, sob uma repressão feroz, impor ao Chile as receitas económicas de Milton Friedemann.

11 de Setembro, 2013 Carlos Esperança

Capelães e capelanias

A Constituição da República Portuguesa não determina que o Estado seja obrigado a prestar assistência religiosa aos portugueses nem diz que a mesma é tendencialmente gratuita, com ou sem taxa moderadora.

A sustentação do culto é um dever dos crentes, através do dízimo, da côngrua ou de qualquer outra forma de pagamento, por prestação de serviços, e nunca comparticipada a 100% por serviços do Estado, seja nas Forças Armadas, nos hospitais ou nas prisões.

Ao Estado incumbe o dever de assegurar a liberdade de culto a todos os crentes, em igualdade de circunstâncias e, ao mesmo tempo, defender o direito dos cidadãos a terem a religião que quiserem, enquanto entenderem, sem risco de mudança, de apostasia ou, mesmo, de serem hostis.

A promíscua ligação da ditadura salazarista à Igreja católica, através da Concordata, dava ao Governo o direito de recusar os bispos que a Igreja propusesse para as dioceses, mas legou ao país uma série de capelães pagos pelo erário. A democracia prescindiu do veto à nomeação de bispos mas a Igreja não prescindiu das capelanias e alargou-as às forças policiais.

O contra-almirante Pe. Manuel da Costa Amorim, indicado pela Conferência Episcopal Portuguesa, é o comandante-chefe dos católicos fardados e o único general que é subordinado do Estado do Vaticano e não do Estado português, uma perda de soberania absolutamente inaceitável.

O número de capelães aproxima-se de 200. Num estado laico estão todos a mais.

10 de Setembro, 2013 David Ferreira

Um cínico placebo

Permitam-me o cinismo. Permitam-me, por breves instantes, a dureza do discurso. Perante a exploração da ignorância dos que a sorte não bafejou com a vontade e os meios para dela se libertarem, o cinismo é o placebo que me resta, a anestesiar a impotência que sinto. Mas apenas um placebo.

Há um exercício que costumo praticar nos raros momentos que me permitem a introspeção. Ligo a televisão, retirando-lhe o som, e, em silêncio, observo os comportamentos dos seres humanos, as suas interações, os seus movimentos, que se tornam automaticamente desprovidos de sentido, como se não fosse um deles, como se fosse um ser consciente vindo de outro planeta a observar uma espécie estranha com pura curiosidade científica. Alheado do que me torna humano, é fácil concluir que os comportamentos que manifestamos não são em nada diferentes dos de outras espécies com comportamentos sociais semelhantes. Como exemplo, um grupo ou um ajuntamento de pessoas a dançar numa discoteca, observado sem som, torna-se apenas uma amálgama de corpos em movimentações estranhas, desprovidas de sentido, tal como se observássemos abelhas dentro de uma colmeia. Não percebemos os movimentos aparentemente aleatórios das abelhas, mas sabemos empiricamente que eles são a manifestação de um conjunto de ações, aparentemente também desprovidas de sentido, organizadas por processos evolutivos de modo a permitir-lhes a manutenção, a afirmação e a sobrevivência como espécie distinta das demais. Nesse pequeno espaço fechado e escuro, onde a tecnologia das luzes intermitentes substitui o brilho das estrelas e da natureza, assistimos a uma evidente manifestação de um ritual animal de acasalamento que se perde na memória do tempo, numa complexa exibição de plumas coloridas, embora sintéticas, que cobrem (ou descobrem) os corpos que exigem e desejam irracionalmente o prazer como único meio disponível para a manutenção, aperfeiçoamento e continuidade da espécie.

Em certa medida, apesar de nos julgarmos animais racionais, somos apenas uma espécie animal cuja ilusão de racionalidade não é mais que uma manifestação complexa da mesma irracionalidade que atribuímos a outras espécies que não compreendemos (e tardamos em compreender) e cujos comportamentos que apresentamos são de igual modo incompreensíveis para elas, apesar das semelhanças. A racionalidade torna-se, assim, apenas um conceito produzido pelo nosso cérebro, extraordinário órgão desenvolvido em paralelo com o nosso desenvolvimento biológico, mecânico e tecnológico. Nada mais que isso. E tanto mais que isso!

Toda a realidade que apreendemos só existe para nós, que nos desenvolvemos moldados e moldando-nos por e para ela. Para nós, humanos, nada existe a não ser a ilusão que temos da existência, da realidade, da natureza. E essa ilusão é tão complexa e adaptada que nos permite, inclusive, a conceção de uma existência ou de uma realidade extrínseca à sentida e observável. Sonhos, ilusões, conceções que nos permitem uma existência abstrata que não é mais que um método matemático elaborado que tem como finalidade antecipar tudo o que coloque em risco o fim da espécie. É esse o poder excecional desse elemento composto estranho, incompreensível, talvez único no Universo, que é o nosso desenvolvido cérebro humano. E é precisamente esse órgão, que se sabe mas não se compreende, que outros órgãos semelhantes exploram, a negar-lhes a evolução porque geneticamente treinados e informados para a manutenção.

Por tudo isto, permitam-me que não possa senão sentir-me absolutamente indignado e ultrajado como ser humano, regressado à humanidade, com o que aconteceu hoje na montanha da Pena, em Guimarães, onde uma aglomeração de pessoas se concentrou, como se enviadas ao passado numa máquina do tempo, para obter a indulgência plenária do Papa Francisco através do cardeal D. Manuel Monteiro de Castro. Um Papa que tem tanto de frescura como de obscuridade, tanto de novidade institucional como de regressão doutrinal. Vestidas com roupas medievais, mais rudes, aquelas simples pessoas não seriam em nada diferentes das que num passado não muito longínquo, mas obliterado pela evolução, se vendiam e entregavam compulsivamente aos biltres exploradores de consciências, enrolados em sotainas, comprando a cura da doença por eles mesmos inventada. A um povo ignorante e temente qualquer promessa de salvação e cura é vendida com o mesmo despudor e aceitação que a mercadoria contrafeita de um vendedor de banha da cobra num qualquer mercado de província. Sobretudo se for anunciada como sendo grátis.

Diz o Jornal de Notícias do século XXI que se fez história, apesar de as hóstias consagradas terem esgotado. O problema seria resolvido por wi-fi, por rádio ou televisão. O passado a repetir-se no presente por meios que o futuro antecipou. O obscurantismo a alardear-se, a procurar sobreviver. A mentira e a mediocridade exploratória de uma instituição ancestral a impor-se a um povo que se mantém ignorante porque quem tem a capacidade para o educar sobrevive parasitando essa mesma ignorância. Uma ignorância que cultiva o sofrimento e a submissão, porque incapaz do prazer e da serenidade da compreensão.

Sabemos que nem todos os crentes são ignorantes das realidades e vicissitudes existenciais. Muitos dos que eu tenho visto a derreterem-se em elogios a este novo Papa (tal como se derretiam aos outros que o antecederam), são pessoas de bem, cultas, informadas, perspicazes. Apenas uma coisa nos distingue: a cobardia moral e intelectual. A cobardia que os impede de reconhecer a exploração da ignorância mais primitiva com que tanto se ofendem sempre que equiparados no mesmo patamar de irracionalidade por qualquer descrente mais visceral.

A religião organizada, com as suas crenças, dogmas e doutrinas, não foi criada para proteger os mais fracos. Foi e continua a ser um método eficaz de os multiplicar, porque lhes transmite a ilusão de os fortalecer, enfraquecendo-os.

Um placebo, portanto. Tal como o meu cinismo.

 

10 de Setembro, 2013 Carlos Esperança

A superstição, a remissão dos pecados e os negócios pios

Eu, ateu, me confesso.

Estou solidário com o papa na preocupação e condenação da aventura belicista contra a Síria. Reconheço-lhe a corajosa atitude no saneamento do banco do Vaticano (IOR) e na limpeza da Cúria, seja nas ligações à máfia ou no desmantelamento do lóbi gay, de que se queixou, não por ser gay, mas pelos interesses obscuros que representa.

Admiro o risco de vida que corre e a coragem de que precisa, mas não o levo a sério nos jejuns e orações, como armas da paz, do mesmo modo que não me atemorizo com maus olhados ou com as pragas que as ciganas rogam a quem não lhes deixa ler a sina.

Confesso que, tendo simpatia pelo atual papa, o exercício do múnus fortalece em mim a descrença, como se ainda precisasse de qualquer suplemento de ânimo para ouvir a voz da razão. Quem pode aceitar que a indústria dos milagres continue próspera sem a mais ténue explicação para a superstição que embrutece os crédulos? Que canonize um bem-aventurado de reputação dúbia, como João Paulo II, é uma opção de quem tem alvará para conceder a santidade. Não precisava de adjudicar milagres que ridicularizam a fé e não são benzina que limpe nódoas.

Como é possível que, após a abolição do Purgatório, retirado do catálogo das veniagas da fé, pelo antecessor, volte ao cardápio dos produtos pios, com desconto na estadia das almas penadas, se os vivos seguirem o papa no twitter?

Finalmente, só faltava o perdão dos pecados, outrora fonte de receitas da Igreja católica, passar por uma maratona pia, rumo ao santuário de Nossa Senhora do Carmo da Penha, em Guimarães. As peregrinações voltaram com direito ao perdão dos pecados.

Não há indulgência que perdoe tão atrevida promoção da crendice e do ensandecimento.

9 de Setembro, 2013 Carlos Esperança

INDULGÊNCIA NA PENHA

Por

João Pedro Moura

É… é das cenas mais grotescas que até hoje vi em Portugal. Ontem, no Monte da Penha, em Guimarães, uma multidão de religionários amalucados, na 120ª peregrinação anual, deslocaram-se em massa ao santuário local, em busca de indulgência plenária, prometida pelo chico-desperto do Bergoglio, o papa Francisco.
Para esse efeito, o povoléu tinha que fazer 3 coisas: confessar-se, rezar em sintonia espiritual com o papa e comungar, quero dizer, engolir a hóstia, a dar na cerimónia.

Só que as hóstias não chegaram para todos, parece que nem para metade, mas o celebrante, o cardeal Manuel Castro, prometeu que a indulgência se prolonga e “os fieis, na próxima semana, se comungarem, podem obter precisamente essa indulgência. Por isso, não se preocupem, o importante é poderem receber Jesus na Eucaristia, num dia desta semana que vem.”, noticia, hoje, o Jornal de Notícias. E os que ouviram a missa pela rádio também ficaram perdoados…

Esta benesse vaticanista permite extinguir a pena temporal do purgatório após a morte, que existiria mesmo que a pessoa tivesse os pecados confessados…

Além de esgotarem as hóstias, estou mesmo a imaginar aquela multidão dumas 50 mil pessoas a confessarem-se previamente…
Estou mesmo a imaginar a grande maioria a comer a rodela enfarinhada sem se ter confessado… nem rezado, “segundo as intenções do papa”…
Isso da confissão é tão ridículo que já quase não se deve usar, neste tipo de povo pragmático, mas crédulo, pouco dado às elocubrações teológicas e sacramentais, mas mais ao espetáculo e à imagem. Mas, enfim, como não há certificado de confissão, o que interessa é estarem todos juntos em comunhão fraterna…

E quem é que mora naquele santuário da Penha?! Uma tal Senhora do Carmo, que ninguém sabe quem é, quando nasceu, quando morreu e o que fez de importante na vida para merecer tal celebração. Ignorância essa que, de resto, é extensível a inúmeras santas e santos, por este país dentro, que ninguém sabe quem são: senhora do Bom Despacho, senhor dos Aflitos, senhora do Ó (não vos rides, que existe… quero dizer, existe estátua e culto…) dos Navegantes, senhora do Desterro, das Dores, da Guia, enfim, um estendal de inépcias, que eu, qualquer dia, tenho de recensear…
… Essas senhoras e esses senhores são, geralmente, outros tantos heterónimos da Virgem Maria e do JC, espécies espirituais do jardim da celeste corte, mas o povo não sabe nem a Igreja lhe diz, para suscitarem inúmeras festas e pingues proveitos…

Por mais educação e instrução que o povo português tenha, ainda havemos de continuar a ouvir falar e ver estas celebrações rituais, completamente estúpidas, próprias dum povo néscio e crédulo, ávido de cerimonial e de imagética colorida, sumptuosa, grandiosa, o culto da imagem pela imagem, bem próprio de povos novilatinos, que edificaram catedrais imanes e outras igrejas extraordinárias, porque precisam da imagem e da grandiosidade, para saciarem o seu défice de sabedoria e de inteligência, ao contrário das igrejas protestantes, que são simples, sem luxos e contra luxos, que concitam ao pensamento e à oração, dispensando, portanto, o espavento rebuscado e avantajado do pesado e tutelar totalitarismo católico.

Pensar que o “perdão dos pecados” se obtém com indulgências papais, quer o “pecador” tenha provocado incêndios, homicídios, burlas, agressões, etc. releva de pensamento infantil e atolambado…
Pensar que é engolindo hóstias dominicais, ou noutro qualquer dia, que se auferem benesses divinas, acrescendo que em tal hóstia se encontra o “corpo de deus” ou da sua variante antroponímica Jesus, é praticar a teofagia, versão “soft-core” do canibalismo mais retorcido e mentecapto…

Duma coisa podemos ter a certeza, ao vermos as cenas corruptas e desatinadas da Penha vimaranense: o catolicismo cerimonioso e espaventoso, das festas e procissões, bem assessoradas pelas tendas de feira popular e pela imagética do “come-e-bebe-e-sê-feliz” está para lavar e durar em Portugal…

 

9 de Setembro, 2013 Carlos Esperança

Cunhas a Jesus Cristo. Recordar JP2

A ICAR marcou indelevelmente a sociedade portuguesa cujo atraso é, em boa parte, obra sua. Já Antero de Quental definiu de forma notável as «Causas de decadência dos povos peninsulares», decadência que parece acentuar-se na faixa mais ocidental.

JP2 ao pedir a Cristo «que não abandone o Homem» estava convencido de que a cunha subserviente era útil ou comportava-se com hipocrisia para disfarçar uma influência que não tinha, para impressionar os fregueses espalhados pelo mundo? No pedido, JP2 aproveitava para informar JC de que a humanidade precisa dele. No seu peculiar jargão dizia «Recordai-vos de nós, Filho eterno de Deus. A humanidade inteira, marcada por tantas provas e dificuldades, necessita de Ti». Ou Cristo não sabia disso, e precisa que o Papa o lembrasse, ou sabia, e não o levava a sério. Para os ateus é ponto assente que um cadáver não vê, não ouve, não sente e, sobretudo, não aceita cunhas.

Mas o mais surpreendente foi o pedido à entidade patronal para as igrejas do Oriente e Ocidente e os seus líderes, «para que a luz que receberam, a comuniquem com liberdade e com valor a todas as criaturas». Esse ato, de quem disputa o mercado das almas à concorrência, só podia ser encarado como atitude de profundo cinismo e de fingimento de uma bondade que dois mil anos de proselitismo desmentem.

Os apelos à paz e os pedidos pelos doentes, crianças da rua e outros desgraçados bem sabia JP2 e o seu séquito que eram inúteis e que não se resolviam com orações e apelos públicos a JC, durante a missa, apesar dos meios técnicos usados, incluindo telefones de última geração que, pela primeira vez, no seu pontificado transmitiram a Missa do Galo.

JP2 devia lembrar-se de que, segundo a sua superstição, Deus faria bem melhor em evitar as desgraças do que esperar que o Papa lhe pedisse para as tornar menos obscenas. Evitava o espetáculo deprimente de enganar os simples com promessas que não podia cumprir, pedidos a quem não ouve e a criação de expectativas vãs a quem já tem do sofrimento um razoável quinhão.

O resto eram as habituais lamúrias pela proteção da vida, desde a conceção, obsessão doentia de quem se desinteressa da explosão demográfica que ameaça o Planeta e sabe que quanto maior for a miséria mais a devoção se acentua.