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  • 10 de Setembro, 2013
  • Por Carlos Esperança
  • Catolicismo

A superstição, a remissão dos pecados e os negócios pios

Eu, ateu, me confesso.

Estou solidário com o papa na preocupação e condenação da aventura belicista contra a Síria. Reconheço-lhe a corajosa atitude no saneamento do banco do Vaticano (IOR) e na limpeza da Cúria, seja nas ligações à máfia ou no desmantelamento do lóbi gay, de que se queixou, não por ser gay, mas pelos interesses obscuros que representa.

Admiro o risco de vida que corre e a coragem de que precisa, mas não o levo a sério nos jejuns e orações, como armas da paz, do mesmo modo que não me atemorizo com maus olhados ou com as pragas que as ciganas rogam a quem não lhes deixa ler a sina.

Confesso que, tendo simpatia pelo atual papa, o exercício do múnus fortalece em mim a descrença, como se ainda precisasse de qualquer suplemento de ânimo para ouvir a voz da razão. Quem pode aceitar que a indústria dos milagres continue próspera sem a mais ténue explicação para a superstição que embrutece os crédulos? Que canonize um bem-aventurado de reputação dúbia, como João Paulo II, é uma opção de quem tem alvará para conceder a santidade. Não precisava de adjudicar milagres que ridicularizam a fé e não são benzina que limpe nódoas.

Como é possível que, após a abolição do Purgatório, retirado do catálogo das veniagas da fé, pelo antecessor, volte ao cardápio dos produtos pios, com desconto na estadia das almas penadas, se os vivos seguirem o papa no twitter?

Finalmente, só faltava o perdão dos pecados, outrora fonte de receitas da Igreja católica, passar por uma maratona pia, rumo ao santuário de Nossa Senhora do Carmo da Penha, em Guimarães. As peregrinações voltaram com direito ao perdão dos pecados.

Não há indulgência que perdoe tão atrevida promoção da crendice e do ensandecimento.