Loading

Autor: Helder Sanches

10 de Maio, 2007 Helder Sanches

O Extremismo Ateu

Às vezes perguntam-me porque é que me envolvo nestas coisas da religião e do ateísmo, se estar sempre a falar do mesmo não é também uma forma de extremismo e como é possível que eu tenha algumas ideias típicas de extremismo ateu…

Essas perguntas, acima de tudo, têm a arte de me desiludir. Desiludem-me porque deixam bem claro que quem coloca essas perguntas não vê diferença nenhuma entre escrever um blog e fazer-se explodir dentro de um autocarro em hora de ponta, entre defender o ensino da ciência e apedrejar uma mulher pela suspeita de adultério, entre expor o ridículo das mitologias modernas e o rastejar até um altar para pagar favores divinos, entre defender a separação do estado e da igreja e levar a cabo guerras internacionais em nome de uma personagem de ficção ou entre defender o humanismo e, em nome da vida, colocar bombas em clínicas de interrupção da gravidez…

Enquanto houver pessoas que não vêem estas diferenças faz todo o sentido ser um ateu; extremista, se quiserem.

3 de Maio, 2007 Helder Sanches

Os Gideões

Não sei quem são, mas tiveram o descaramento de andar a distribuir propaganda religiosa à porta da escola da minha filha. Já enviei um email para a escola a pedir esclarecimentos. Fica aqui a transcrição:

“Exmos. Senhores,

Sou pai e encarregado de educação de uma aluna da E.S. Dona Luísa de Gusmão.
Hoje, 2 de Maio de 2007, a minha filha e educanda chegou a casa com uma publicação com o título “Novo Testamento, Salmos, Provérbios” que lhe terá sido distribuída à porta da escola quando terminou as aulas. Esta publicação religiosa é publicada e, aparentemente, distribuída por uma organização denominada “Os Gideões Internacionais”.
Gostaria que me esclarecessem os seguintes pontos:
1 – Este actividade de descarado proselitismo foi autorizada pela escola?
2 – A escola teve conhecimento desta acção?
3 – Não tendo sido autorizada pela escola e tendo a escola tido conhecimento tomou alguma atitude para suspender esta acção?
4 – Não tendo dado autorização nem tido conhecimento em tempo útil o que poderá a escola fazer no futuro para evitar semelhantes situações no futuro? É intenção da escola protestar junto da supra-citada organização?

Certos de que compreenderão a minha preocupação fico a aguardar uma resposta.

Com os melhores cumprimentos,

Helder Sanches”

(Diário Ateísta / Penso, logo, sou ateu)

2 de Maio, 2007 Helder Sanches

Números do Ateísmo


Neste estudo internacional sobre a percentagem de crentes e não crentes em cada país, Portugal encontra-se num assustador 43º lugar, com números muito semelhantes aos Estados Unidos e atrás de todos os seus parceiros europeus.

Mais importante do que entender as causas para tais resultados – embora também seja importante – é ganharmos consciência de que vivemos num dos países mais conservadores da Europa no que respeita à importância do papel que a religião desempenha na nossa sociedade. É por isso urgente provocar e espicaçar a sociedade de modo a contribuir para a alteração desta realidade.

Embora eu não seja um defensor da “evangelização ateísta”, a desmistificação da fé através da promoção da ciência e da divulgação do ideal secular deverá ganhar novos impulsos e perder a vergonha de ir à luta contra a ignorância e o ridículo.

A oposição clara a qualquer infracção à laicidade do Estado não é suficiente. Muitos aspectos da nossa vida não estão dependentes do Estado. Em cada um de nós, na nossa família, no nosso grupo de amigos, nos nossos colegas de trabalho, há sempre algo mais que pode ser feito. Fazer nada é contribuir para que também nesta matéria nos mantenhamos na tão familiar cauda da Europa.

(Diário Ateísta / Penso, logo, sou ateu)

28 de Abril, 2007 Helder Sanches

O Meu Amigo Victor (ou como evitar Testemunhas de Jeová)

O Victor era um amigo meu, mais velho que eu nove ou dez anos, com o qual partilhei algumas noitadas e outras loucuras. Possuidor de uma cultura geral invulgar, era um excelente protótipo daquela geração que estava a chegar ao final da adolescência quando aconteceu o 25 de Abril de 1974; culto, de esquerda, rebelde e assumia publicamente que detestava trabalhar! Foi ele que me ensinou os primeiros acordes dissonantes e a importância de os conhecer e dominar. Com ele aprendi a gostar de jazz e bossa nova.

O Victor, ateu convicto que não suportava beatices, tinha o hábito de dormir sempre nu. Um certo domingo, depois de uma noitada até perto das seis da manhã, o Victor foi acordado às 8.30 pelo continuo tocar da campainha de sua casa. Contrariado, levantou-se e, sem vestir qualquer roupa, dirigiu-se à porta e espreitou para ver quem seria que tocava tão insistentemente. Viu duas senhoras, ambas dos seus 50 anos, vestidas com roupas de domingo e com umas revistas apoiadas nos braços cruzados. Abriu a porta, escancarando-a, e ficou, todo nu, em frente às beatas senhoras. Na sua voz rouca de ressaca disse: “Ora, muito bom dia! Faz favor?”!

As senhoras desceram as escadas a correr, sem olhar para trás. O Victor nunca mais foi incomodado durante as manhãs de ressaca!

26 de Abril, 2007 Helder Sanches

Sobre a Moral

Um dos argumentos mais utilizados pelos crentes na defesa da utilidade religiosa é o argumento da necessidade do moralismo religioso como sustento de uma sociedade moral. Segundo este princípio, o moralismo religioso é indispensável ao funcionamento da sociedade, através da divulgação de valores de justiça e de regras de boa conduta.

Contudo, este princípio não tem qualquer fundamento. Os sistemas religiosos são sistemas fechados, relutantes à influência externa e só assimilam novos valores exteriores quando lhes é conveniente, através de um simples processo de sobrevivência ou, como quase sempre acontece, tardiamente, quando já toda a sociedade assimilou as alterações em causa.
Por serem sistemas fechados e, consequentemente, as normas morais demorarem muito tempo a sofrerem adaptações, as religiões permanecem praticamente imutáveis aos olhos de qualquer geração e as alterações só se conseguem vislumbrar, muitas vezes, numa perspectiva histórica.

Assim, como se explicaria, baseando-nos no princípio exposto no primeiro parágrafo, que os valores morais de uma religião sofram dessa imutabilidade enquanto as sociedades, com o seu dinamismo independente da religião, alterem consideravelmente os seus valores em processos que muitas vezes duram escassos anos?

Se o princípio da moral religiosa fosse válido viveríamos ainda sob a moralidade medieval, uma vez que os princípios morais religiosos dessa era ainda vigoram na sua maior parte; nos casos em que isso não acontece, a religião foi sempre a reboque das alterações impostas pela dinâmica da sociedade.

Não existem razões de facto para sustentar a superioridade de qualquer moral religiosa. A moral é fruto desse enorme empreendimento que é – e continuará a ser – a adaptação do ser humano ao mundo que o rodeia, procurando equilíbrios de justiça na busca da felicidade individual e colectiva.

(Diário Ateísta / Penso, logo, sou ateu)

23 de Abril, 2007 Helder Sanches

Era uma vez o limbo…

Mas já não é! De acordo com centenas de anos de doutrina e dogma católicos, o limbo era o local medonho onde ficavam todas as criancinhas que morressem sem ser baptizadas. E digo era porque o Vaticano decretou o seu fim! E, pronto.

Assim, por decreto, o mundo onde vivemos passou a ser completamente diferente, a realidade foi alterada e as crianças passaram a viver num mundo muito melhor e mais justo.

Eu desconfio que o Al Gore está metido nisto; o limbo não ia desaparecer assim, sem mais nem menos! Ninguém me convence que não se trata já de uma consequência da subida das águas do mar devido ao aquecimento global. Se for, impõe-se a pergunta: o que virá a seguir? O Purgatório?

Este caso demonstra bem a leviandade das decisões religiosas. No Vaticano, a realidade decide-se, não se prova. Mais grave do que isso é que quem decide, fá-lo apenas com a autoridade do poder e nunca com a autoridade da prova ou do conhecimento. Que isto não seja óbvio para todos é um mistério, quiçá, maior que alguns milagres!

Lá se foi o limbo… Puf! Coitado…

(Diário Ateísta / Penso, logo, sou ateu)

21 de Abril, 2007 Helder Sanches

A Circuncisão de Misha

O caso de Misha relembrou-me um assunto que há muito tempo queria abordar aqui no blog.

Misha é um adolescente de doze anos em plena puberdade. O seu pai decidiu converter-se ao Judaísmo e arrastar a sua família com ele. Os líderes religiosos da comunidade judaica onde a família se inserirá recomendaram ao pai de Misha que o adolescente fosse circuncidado para facilitar o processo de inserção da família na comunidade. O pai de Misha aquiesceu ao pedido e agora pretende proceder à circuncisão do filho contra a vontade deste e da própria mãe!

Com a chegada do caso aos tribunais os veredictos nas diversas instâncias têm sido surpreendentes: os juízes têm afirmado que a capacidade de decidir sobre uma circuncisão, mesmo por outras razões que não as clínicas, estão ‘dentro dos direitos de custódia parental’! O caso vai agora seguir para o Supremo Tribunal do estado do Oregon.

A circuncisão é um ritual bárbaro, com origens tenebrosas, de mutilação do pénis por razões meramente religiosas. O acto da circuncisão, quando imposta a menores, não passa de abuso infantil. Quisesse o pai cortar a ponta de um dedo ou uma orelha a Misha e os tribunais já questionavam a sua capacidade de exercer a custódia parental. Mas, ao abrigo das mais macabras tradições religiosas, o tribunal dá cobertura à decisão do pai e permite que Misha venha a ser mutilado contra a sua própria vontade.

Sobre circuncisão:

(Diário Ateísta / Penso, logo, sou ateu)

17 de Abril, 2007 Helder Sanches

Ratzinger: 80 anos de (senil)idade


Ratzinger fez ontem 80 anos. Felizmente, poderemos dizê-lo, porque não se deseja o mal a ninguém.

Fruto do percurso normal da vida, é natural que os próximos anos de Ratzinger venham a ser duros: doenças, enfraquecimento, perca de lucidez, por aí fora… Pergunto-me: a quem recorrerá Ratzinger quando tiver que diminuir a dor, baixar a tensão arterial, controlar a taquicardia ou a incontinência? Ao seu deus todo-poderoso, através de umas rezas e orações? Ou recorrerá aos químicos e aos métodos estudados pela ciência à qual passa um atestado de incompetência noutras matérias?

Desculpem-me a curiosidade…

(Diário Ateísta / Penso, logo, sou ateu)

12 de Abril, 2007 Helder Sanches

Classe FM – Montijo, 106.2

Devo ser uma daquelas poucas estranhas pessoas que gosta de ouvir música clássica ao conduzir no tráfego da cidade. Na zona de Lisboa apenas existem duas opções: Antena 2 e Classe FM (ex-Luna FM), esta última a emitir a partir do Montijo, em 106.2 MHz.

Esta frequência foi recentemente adquirida pela Media Capital fazendo, portanto, parte da rede de rádios que também inclui a Rádio Cidade, Rádio Comercial, RCP, entre muitas outras; tudo normal até aqui.

Aberrante mesmo é o facto de durante algumas horas de emissão, a Classe FM emitir divulgação religiosa e publicidade a um tal Professor Bambú ou Mambú! Então, uma rádio que se dedica à transmissão de música clássica, ópera e jazz – de excelente bom gosto, diga-se – encharca depois a sua frequência com missas em português e espanhol em simultâneo e consultas astrológicas em francês magrebino!?! Que falta de classe…

(Diário Ateísta / Penso, logo, sou ateu)

1 de Abril, 2007 Helder Sanches

Dia de Todas as Religiões

Hoje celebra-se o dia de todas as religiões. Divididas nas diversas doutrinas, todas as religiões têm em comum a farsa, a paranóia e a mentira. Nenhum outro dia do ano seria mais apropriado para celebrar o dia de todas as religiões que o primeiro de Abril, o Dia das Mentiras.

É neste dia que, com brincadeiras mais ou menos inocentes, se tentam enganar familiares, amigos, colegas e vizinhos, num espírito de brincadeira em que o fair-play de todos é condição essencial. É urgente perceber que tudo em que se baseiam as diversas religiões são farsas para as quais a sociedade civil tem tido um fair-play imensurável porque, convenhamos, a religião faz constantemente anti-jogo ao querer impor as suas regras a todos os outros.

Assim, desejo-vos a todos um feliz Dia de Todas as Religiões.

(Nota: Em dia de Benfica-Porto impunha-se esta linguagem futebolística. Pela minha parte, à hora do jogo estarei a ver os Robinsons em 3D, o que será muito mais divertido)

(Diário Ateísta/Penso, logo, sou ateu)