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Carlos Esperança

21 de Maio, 2005 Carlos Esperança

Não há Esperança para o Carlos

Ontem, sob o título em epígrafe, o «Afixe», para além do panegírico a um dos mais fundamentalistas católicos da blogosfera, zurziu um escrevinhador do Diário Ateísta, «com idade suficiente para saber e poder medir as palavras e aparentemente imputável» – eu próprio.

Em vez do bem-aventurado Bernardo Motta, quiçá ausente em retiro espiritual ou a ensinar o catecismo na paróquia, apareceu o vigoroso plumitivo Monty para me zurzir com a sanha cristã digna dos tempos em que o JC empunhava o azorrague para expulsar do templo os vendilhões.

O desvelo posto na lavagem da honra ferida do prosélito católico faz-me pensar que são amigos do peito ou da missa, e que a raiva é fruto da síndroma de privação da hóstia e não de um acesso de mau humor.

A táctica para a desforra foi a vitimização, depois de eu ter apresentado desculpas, por julgar erradamente que no «Afixe» vagueava um bando de beatos da laia do Bernardo, o que sei agora não ser verdade, embora o consumo de hóstias seja no «Afixe» infinitamente maior do que no Diário Ateísta.

Quanto ao inefável Bernardo que frequentemente me refere, com a benevolência que os católicos dispensam aos ateus, e cuja tolerância conheço de sobra, mantenho a impressão, quiçá benévola, de que é um talibã da ICAR. Quanto aos outros autores não os conheço, de facto, e seria estultícia pronunciar-me sobre eles.
Apenas o Monty se me afigurou ungido para dilatar a fé e crente na palavra do mestre.

Eis alguns pensamentos do Bernardo da Motta:

– Qualquer pessoa deveria poder abandonar o Islão se o quisesse fazer. Contudo, nesse caso, eu concordo que tal pessoa deveria também abandonar fisicamente o local e a cultura onde o Islão fosse tradição.

– A mulher não é discriminada no Corão.

– A poligamia é uma característica intrínseca ao Islão, e vem referida e legislada no Corão. É uma característica da cultura islâmica, e é óbvio que nos é estranha, a nós, ocidentais, que temos outra cultura. Chamar de «anacronismo» algo que não se conhece não me parece correcto.
Repito, a genuína tradição islâmica, por muito que esteja em vias de extinção como as restantes tradições espalhadas por esse mundo fora, nada tem de anacrónico, visto que é uma via de Verdade, uma Verdade revelada.

Quanto à minha idade, 62 anos, lembro aos devotos de S.S. Bento XVI que sou mais novo 16 anos do que o ex-inquisidor que o Opus Dei, o Espírito Santo e um bando de cardeais fizeram Papa.

21 de Maio, 2005 Carlos Esperança

Resposta a um fundamentalista

O «Diário as Beiras» não pode assumir a responsabilidade pelos despautérios dos seus colaboradores. Não acusarei, pois, o simpático diário de cúmplice na campanha de terrorismo que grassa em certos meios. É até um sinal de pluralismo que pode provocar justa repulsa pelas posições defendidas.

Em 19 de Maio, o pio colaborador Joaquim Cardozo Duarte (JCD) faz a apologia dos dislates do padre Domingos de Oliveira que na paróquia de Lordelo do Ouro, no Porto, vocifera contra o preservativo e o aborto.

No seu artigo «Aborto e infanticídio» afirma: «O que o padre Domingos disse está certo e mais não é do que aplicar a uma situação concreta o que o Evangelho da Vida, a Encíclica de 1995 de João Paulo II, propõe, sobre a inviolabilidade da vida humana, desde o momento da concepção até à morte natural» [sic].

Acontece que o padre que mereceu a total concordância de JCD afirmou textualmente: «matar uma criança no seio materno ainda é mais grave do que matar uma menina de 5 anos». Para cúmulo, tão iníqua afirmação foi proferida na homilia da missa do 7.º dia, mandada celebrar pela mãe de Vanessa, uma menina de 5 anos assassinada com rara crueldade pelo pai e pela avó e lançada ao rio Douro.

O padre disse com toda a clareza que é menos grave matar cruelmente a menina de 5 anos do que interromper uma gravidez de um embrião de 5 semanas. Isto é terrorismo a que a benevolência do Diário as Beiras deu guarida. JCD solidarizou-se com uma campanha que prima pela baixeza e grosseria.

O padre Domingos Oliveira trouxe-me à memória Frei Gaspar da Encarnação a quem Camilo designava por «santa besta». Claro que eu não me atrevo a usar tal epíteto para o pároco de Lordelo do Ouro, por três razões: porque não o conheço, não quero ser deselegante e ele pode não ser santo.

Obs.: Este texto foi ontem enviado ao jornal onde JCD, sacerdote católico, é colaborador habitual.

21 de Maio, 2005 Carlos Esperança

Notas piedosas

Irão – A conversão de Hamid Pourmand ao cristianismo, tornando-se pastor protestante, é um acto que a bondade religiosa do Islão não digere. O réprobo arrisca a morte por enforcamento. O Islão é uma religião de paz, como diz o xeque Munir da comunidade islâmica de Lisboa.

Bento XVI – O Papa Ratzinger assegura que «Deus está próximo da humanidade, sobretudo dos pequenos e indigentes para levantar o pobre e levar conforto aos necessitados e aos que sofrem». Sabendo nós o sofrimento por que o Mundo está a passar, podemos imaginar os horrores se, em vez de estar próximo, Deus morasse no planeta Terra.

Católicos e anglicanos – As duas sucursais do cristianismo estão em vias de realizar um acordo sobre a Virgem Maria.(1)

– O dogma católico da Imaculada Conceição, segundo o qual Maria foi preservada , depois da sua concepção, do pecado original, vai ter uma nova redacção que contente as duas filiais.
– A Assunção, um mito católico que garante «a subida de Maria ao Céu, em corpo e alma», após a morte, leva uns retoques para que seja digerido pelos anglicanos.

– O culto da Virgem, um dos mais lucrativos negócios da ICAR, contestado por anglicanos e, sobretudo, protestantes, vai ser objecto de um arranjo entre teólogos para que a aproximação se torne possível.

Os avanços da ICAR para a absorção da Igreja Anglicana vêm de há muito e o Papa conta com a adesão dos anglicanos mais reaccionários à Cúria romana.

Fonte (1): A Agência Ecclesia só manteve a notícia durante algumas horas. O «Público» de ontem deu a notícia, pg. 32.

19 de Maio, 2005 Carlos Esperança

Fascismo e catolicismo

A entusiástica aliança entre o clero católico e uma das mais ferozes ditaduras do século XX é uma evidência que envergonha e causa repulsa. Todavia, o episcopado espanhol ainda hoje sente uma enorme nostalgia.

Essa criminosa e recíproca promiscuidade produziu centenas de milhares de assassinatos e numerosos santos. O mais conhecido destes é Escrivá de Balaguer.

Serão os dignitários católicos da fotografia uma montagem para embaraçar o Bernardo Motta do «Afixe»?

Post scriptum – Além da ICAR, Franco contou com a ajuda de Hitler para derrubar o Governo republicano eleito.

19 de Maio, 2005 Carlos Esperança

A fé é incompatível com a verdade

O «Afixe» cujo rigor intelectual se pauta pela intransigente defesa das malfeitorias da ICAR e cujos colaboradores estão mais interessados na salvação da alma do que na defesa da verdade histórica, usam várias tácticas:

1 – negar as evidências;

2 – branquear os crimes da ICAR;

3 – dar por adquirido que os dogmas são para ser levados a sério;

4 – ignorar «milagres» da ICAR por fazerem corar de vergonha qualquer ser pensante;

5 – Não dar publicidade ao milagre que JP2 fez, a dar a eucaristia – curar um tumor cerebral. (Não se sabe se a hóstia foi usada como bisturi ou como quimioterapia).

Em face da foto que se encontra no Diário Ateísta, no artigo «Vicissitudes da fé», o Afixe tece uns comentários sob o título «A mentira vende» assinado pelo inefável prosélito Bernardo Motta. Esqueceu-se apenas de dizer se os dois bispos que aparecem a fazer a saudação nazi são dois coronéis das SS, disfarçados de clérigos, para sujarem a imaculada reputação da ICAR.

Adenda – Após a publicação deste texto tive conhecimento de que o trogloditismo primário do Bernardo Motta não é apanágio de todos os colaboradores do «Afixe». Do facto peço desculpa aos que a religião não tolheu o entendimento. 19-05-2005 22:51:40

18 de Maio, 2005 Carlos Esperança

Os padres e o IRS

O dinheiro das missas fica isento de IRS, de acordo com o estipulado numa circular do director-geral dos Impostos, Paulo Moita Macedo ? anuncia hoje o «Público».

Não se vê por que razão as conferências pagas a eminentes professores não tenham um tratamento igual.Talvez porque a ciência deva ser tributada e a fé mereça ficar isenta.

Por esta lógica, enquanto as consultas médicas são tributadas – e bem – as consultas das quiromantes e as receitas das bruxas devem merecer igual isenção.

No IRS, como no resto, todos os cidadãos são iguais, mas uns são mais iguais do que os outros.

17 de Maio, 2005 Carlos Esperança

Vicissitudes da fé.


No séc. X o Islão esteve à beira de conseguir o que o culto de Mithra ia conseguindo no séc. II – a derrota do cristianismo.

No séc. XVI a Reforma protestante podia ter aniquilado a influência papal e, neste caso, sem prejuízo para o mundo nem saudades de Roma.

No séc. XX o ateísmo marxista podia ter destroçado a ICAR se não tivesse as mesmas taras e derivado para experiências totalitárias de raiz estalinista que o tornaram tanto ou mais odioso.

Mas não se diga que a violência e o crime são uma vacina contra os autores e ideologias que os motivam. A prova é a longevidade da ICAR, que à violência do passado adiciona a prepotência do presente e o espírito reaccionários de todos os tempos.

Para além da vocação totalitária que devora as religiões, bastaria a ausência de virtude dos seu clero para desconfiar da bondade do seu deus. As várias seitas cristãs, incluindo ortodoxos, protestantes e católicos, têm um passado pouco respeitável, com membros do clero claramente execráveis. Mas, nem a fragilidade da doutrina que professam nem as loucuras de que os seus responsáveis são capazes, abalaram a máquina de propaganda que dominam.

Os homens passam bem sem Deus, mas há imensos parasitas da fé que não prescindem de impô-la. É assim que as religiões se mantêm até que outras as substituam, pela força, como é hábito.

O Diário Ateísta continua e continuará a defender a liberdade religiosa sem deixar de considerar as religiões como metadona que substitui a droga da superstição. Não vemos a mesma determinação nos crentes a defender o direito ao ateísmo ou os direitos da concorrência (outras religiões).

Por muito que custe aos piedosos créus que nos visitam, a ICAR esteve quase sempre ao lado das ditaduras. Em Portugal apoiou o miguelismo contra o liberalismo, a monarquia contra a república, o salazarismo contra a democracia. Nem é preciso recordar Timor.

A foto que exorna este artigo é uma das muitas que podemos exibir aos fiéis que nos insultam por denunciarmos as ligações vergonhosas da ICAR com o nazi/fascismo.

Post scriptum – Já agora vejam se descobrem quem é aquele jovem do centro.

17 de Maio, 2005 Carlos Esperança

José Staline


A reabilitação tentada pelo órgão oficial do PCP – o «Avante» – é um insulto a milhões de vítimas, um atropelo à verdade histórica e uma ofensa ao próprio comunismo.

O revisionismo histórico é um crime que impede que os erros se transformem em vacina e que permite que os facínoras se transformem em heróis.

Foi assim que JP2 reabilitou algumas das figuras mais tenebrosas do nazismo e beatificou Pio IX. É assim que ele próprio está a caminho da santidade com duas características inéditas:

– Não precisar de cinco anos de cadáver para se iniciar o processo de beatificação.

– Ter feito milagres em vida (curar um tumor cerebral a ministrar a eucaristia), circunstância e terapêutica inéditas na história dos milagres.

16 de Maio, 2005 Carlos Esperança

Momento Zen da Segunda

João César das Neves (JCN) andava a descurar a propagação da fé e a desprezar os santos e rectos caminhos que hão-de conduzi-lo aos altares. Mas é tal o medo do Inferno e do azeite fervente onde mergulham as almas dos réprobos que regressou em força.

Ontem, em entrevista ao DN, comentada pela Palmira em «Momento Zen de Domingo», o bem-aventurado voltou a um dos temas que excitam a ICAR – a homossexualidade.

Hoje, veio ressarcir-se de duas ou três semanas em que perdeu o tempo e o espaço do DN, com assuntos de economia, para mergulhar no recorrente tema da interrupção voluntária da gravidez (IVG).

JCN partilha os pontos de vista da defunta Santidade JP2 e da actual. Tem o mesmo tino que revelaram os piedosos sacerdotes Nuno Serras Pereira (o do anúncio sobre a eucaristia), Domingos Oliveira o medidor da gravidade dos pecados e aquele pároco de Lisboa que exortou os fiéis a votar CDS por ser o único contra o aborto.

Quando afirma que o Governo ameaça impor a descriminalização do aborto na AR, se o povo não concordar, JCN sabe que mente por uma boa causa, capaz de lhe render abundantes indulgências.

No seu maniqueísmo, bebido em Santo Agostinho, JCN atribui um novo referendo sobre a IVG «à honra ferida da esquerda e à infantil fome de desforra», ocultando que há na esquerda partidários do «Não» e quem, na direita, seja adepto do «Sim». Será o deputado Pires de Lima um perigoso esquerdista que se infiltrou no CDS para defender a descriminalização da IVG, à semelhança de outros que se introduziram no Governo para ordenarem a IVS (interrupção voluntária dos sobreiros)?

A legislação sobre a IVG só foi referendada, com os resultados catastróficos que se conhecem (refiro-me à baixíssima participação popular, não ao veredicto) porque dois amigos do peito e da hóstia, do PS e do PSD, Guterres e Marcelo, assim o decidiram. Não é matéria obrigatória de referendo.

JCN esquece que a ICAR, que o há-de elevar aos altares logo que se fine com um terço numa das mãos e na outra a bíblia, é contra o divórcio e, tal como o seu homólogo Islão, pretende que a violência da lei se abata sobre o adultério. No fundo é contra a liberdade que as religiões se erguem.

Num aspecto tem razão JCN em relação à legalização do aborto: «essa campanha está a ser conduzida de forma tão infame, tão vergonhosa, tão canalha…». Mas não se refere aos padres que eu citei. Refere-se aos que não pensam como eles.

Adenda – Foi finalmente descodificada a frase «matar uma criança no seio materno ainda é mais violento do que matar uma menina de 5 anos». O embrião podia dar origem a um indivíduo do sexo masculino, ao contrário da menina assassinada.

14 de Maio, 2005 Carlos Esperança

Aborto nunca

Imaginem, leitores, que se constituía um movimento para a descriminalização do infanticídio. Suponham que os infanticidas, apoiados por violadores, marginais, traficantes e proxenetas, enviavam uma petição à Assembleia da República a exigir a alteração da moldura penal do infanticídio cuja pena consideram exorbitante e desajustada à gravidade do acto. Dir-me-ão que era uma enormidade. E era.

Mas, enganados pelas palavras do piedoso padre Domingos Oliveira, da paróquia de Lordelo do Ouro, no Porto, indivíduos débeis e cruéis podem considerar que matar o próprio filho é um delito menor e que, quando muito, deve ser considerado um crime semi-público, não havendo direito a sanção na ausência de queixa do ofendido.

Sabendo-se que o morto raramente se queixa e a mãe, que poderia representá-lo, não quer arriscar o mesmo destino, as alterações pretendidas corresponderiam, na prática, à despenalização do infanticídio.

Esse hipotético movimento teria o apoio de criminosos violentos e a compreensão do Sr. Padre Oliveira que, além de católico, tem o dom do Espírito Santo a iluminá-lo, graças ao sacramento da Ordem, o que lhe confere licença vitalícia para fazer homilias.

O referido sacerdote continua a afirmar que «matar uma criança no seio materno ainda é mais violento do que matar uma menina de 5 anos». Ora, sendo a lei permissiva para casos em que haja malformação do feto (a que o senhor prior chama criança), em situações de violação ou risco de vida para a mãe, não se compreende que a um acto menos violento corresponda uma pena maior.

Os signatários da suposta petição à AR jurariam que nunca usam preservativo nem apoiam o uso da pílula do dia seguinte. Mesmo às mulheres que violam advertem-nas de que se usam quaisquer meios abortivos lhes dão cabo do canastro.

Os peticionários fictícios às vezes assassinam um filho, mas têm imenso cuidado com a salvação da alma e os ensinamentos da santa Igreja Católica, Apostólica, Romana (ICAR), pelo que considerariam justa a redução da pena. O senhor padre Oliveira deu-lhes o argumento que faltava.

O Sr. Padre Oliveira e a sua Igreja é que têm de justificar a conduta terrorista.