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Aborto nunca

Imaginem, leitores, que se constituía um movimento para a descriminalização do infanticídio. Suponham que os infanticidas, apoiados por violadores, marginais, traficantes e proxenetas, enviavam uma petição à Assembleia da República a exigir a alteração da moldura penal do infanticídio cuja pena consideram exorbitante e desajustada à gravidade do acto. Dir-me-ão que era uma enormidade. E era.

Mas, enganados pelas palavras do piedoso padre Domingos Oliveira, da paróquia de Lordelo do Ouro, no Porto, indivíduos débeis e cruéis podem considerar que matar o próprio filho é um delito menor e que, quando muito, deve ser considerado um crime semi-público, não havendo direito a sanção na ausência de queixa do ofendido.

Sabendo-se que o morto raramente se queixa e a mãe, que poderia representá-lo, não quer arriscar o mesmo destino, as alterações pretendidas corresponderiam, na prática, à despenalização do infanticídio.

Esse hipotético movimento teria o apoio de criminosos violentos e a compreensão do Sr. Padre Oliveira que, além de católico, tem o dom do Espírito Santo a iluminá-lo, graças ao sacramento da Ordem, o que lhe confere licença vitalícia para fazer homilias.

O referido sacerdote continua a afirmar que «matar uma criança no seio materno ainda é mais violento do que matar uma menina de 5 anos». Ora, sendo a lei permissiva para casos em que haja malformação do feto (a que o senhor prior chama criança), em situações de violação ou risco de vida para a mãe, não se compreende que a um acto menos violento corresponda uma pena maior.

Os signatários da suposta petição à AR jurariam que nunca usam preservativo nem apoiam o uso da pílula do dia seguinte. Mesmo às mulheres que violam advertem-nas de que se usam quaisquer meios abortivos lhes dão cabo do canastro.

Os peticionários fictícios às vezes assassinam um filho, mas têm imenso cuidado com a salvação da alma e os ensinamentos da santa Igreja Católica, Apostólica, Romana (ICAR), pelo que considerariam justa a redução da pena. O senhor padre Oliveira deu-lhes o argumento que faltava.

O Sr. Padre Oliveira e a sua Igreja é que têm de justificar a conduta terrorista.