Loading

Mês: Março 2010

23 de Março, 2010 Carlos Esperança

O Papa e os negócios da fé

Quando este Papa visitar Portugal vem promover o negócio de Fátima ou pedir perdão pelo padre Frederico e pelo bispo resignatário do Funchal, D. Teodoro, que o protegeu?

Ou, num acto de coragem, vem dizer quem o ajudou a fugir para o Brasil sem cumprir a pena?

22 de Março, 2010 Ricardo Alves

«Que dirá Deus da sua Igreja?»

Artigo de opinião de Manuel António Pina no Jornal de Notícias.

  • «Trata-se de uma organização que habitualmente enche os ouvidos dos fiéis de moralismo sexual (basta ouvi-la falar de divórcio, casamento homossexual, aborto) e que, enquanto isso, encobria milhares de abusos sexuais de crianças praticados no seu seio. Agora, quando já não é possível continuar a encobri-los, o Papa vem de novo pedir “desculpa”, mas omitindo qualquer sanção quanto a abusadores e encobridores (ele próprio terá participado nesse encobrimento quando arcebispo de Munique e Freising). A hipocrisia foi ao ponto de, um dia depois, o Papa ter exortado os católicos a não se assumirem como juízes “dos que cometem pecados”. É em alturas assim que um ateu como eu lamenta que não haja um Deus que julgue gente desta.»
22 de Março, 2010 Ludwig Krippahl

Da lama e afins.

Os meus posts acerca dos abusos sexuais de crianças na Igreja Católica suscitaram algumas respostas mais emotivas (1). O António Parente disse que era nojento apresentar aquelas estatísticas, o Nuno Gaspar chamou-me charlatão pelas contas e acusaram-me de lançar lama e manchar a reputação do sacerdócio católico. Não concordo que as estatísticas devam ser escondidas. Muito menos disfarçadas como acontece nos jornais. Dizer que 10 padres indiciados é “uma minoria” esconde o facto importante de que 10 em 4000, para um crime destes, não é de desprezar.

E as estatísticas são atributos de amostras de onde se infere médias da população. Não atiram lama a nenhum individuo. Se fosse só por 4% dos padres católicos nos EUA terem abusado de crianças não ficaria manchada a reputação dos restantes. O problema é outro. É por esse outro que os cavalheiros protestam demais.

Em 2001 o cardeal Joseph Ratzinger, prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé (CDF), enviou uma carta confidencial a todos os bispos da Igreja Católica estipulando os delitos reservados à CDF e que deviam ser mantidos em segredo dentro da Igreja (2). Quase todos são pertinentes apenas para os católicos, como deitar fora a hóstia ou celebrar a missa com sacerdotes de outras religiões. Mas há uma excepção importante: «Um delito contra a moral, nomeadamente: o delito cometido por um sacerdote contra o Sexto Mandamento do Decálogo com um menor de 18 anos»*.

É isto que lança lama na reputação da Igreja Católica. É isto que é nojento. Não só a carta de Ratzinger, que seguia a prática comum na Igreja. Mas também a reacção de todos os bispos a quem foi dirigida e de todos os sacerdotes que dela tomaram conhecimento.

Se isto fosse numa empresa ou universidade tinha morrido à nascença. Imaginem vir da direcção uma carta ordenando que qualquer caso de abuso sexual de menores fosse mantido secreto e remetido à direcção para ser resolvido internamente. A maioria das pessoas certamente se oporia a tal ordem e a denunciaria às autoridades. Mas os cardeais mandaram, os bispos acataram e os padres calaram. Na Igreja Católica ninguém se opôs e todos compactuaram para esconder estes crimes.

É isto que me incomoda mais nas religiões. Não me incomodo por não gostar de rituais, avés e salvés. Tolero bem que os gostos dos outros sejam diferentes dos meus. E nem é tanto por achar que as religiões se baseiam em mentiras. Se as pessoas estiverem informadas e mesmo assim quiserem acreditar, paciência. O pior, e mais preocupante, é o mal que faz às pessoas pertencer a estas organizações religiosas, que são fechadas, doutrinárias e hierarquizadas

Ao contrário do que apregoam, uma religião não torna uma pessoa melhor. As estatísticas neste caso refutam cabalmente a hipótese. E uma religião tem o poder insidioso de obrigar uma pessoa decente a agir de forma condenável. É muito improvável que todos os cardeais, todos os bispos católicos e todos os padres que participaram nestes processos sejam pessoas más. O mais certo é serem pessoas normais, decentes como quaisquer outras. Pessoas que se trabalhassem numa organização diferente e lhes dessem uma ordem destas a teriam denunciado sem hesitação. Uma pessoa normal não aceita que se esconda abusos sexuais de crianças.

Os pedófilos nas igrejas são um problema grave mas não são pessoas normais. Encontrando uma oportunidade, abusariam de crianças tendo ou não tendo batina. Se bem que tenha sido a sua religião que lhes deu a oportunidade, não se pode concluir que foi por causa da religião que se tornaram pedófilos. Mas o mesmo não se pode dizer dos outros todos. Dos outros que esconderam, disfarçaram, mandaram guardar segredo e obedeceram a essas ordens. Esses não o fizeram por serem monstros ou doentes. Esses ajudaram os violadores, sabendo bem o que faziam, unicamente por causa da sua religião.

Se querem saber porque é que os ateus perdem tanto tempo a falar de religião têm aqui um bom exemplo daquilo que nos preocupa.

* Este é o do adultério, não o do homicídio… a numeração varia um pouco conforme as fontes.

1- Fazendo as contas e Adenda ao post anterior.
2- Bishop Accountability, Ad exsequendam ecclesiasticam legem. Via As responsabilidades e a fuga, do Ricardo Alves.

Também no Que Treta!

22 de Março, 2010 Carlos Esperança

Vaticano – Rebentou o esgoto

Intolerante face aos desvios ao seu padrão moral, encobriu, até agora, abusos sexuais de padres

Finalmente, Bento XVI falou sobre os abusos sexuais de menores cometidos por padres. Numa carta pastoral dirigida aos católicos irlandeses, expressou perdão e vergonha e prometeu uma investigação rigorosa de todos casos.

O Papa dirigiu-se à Irlanda, mas ignorou os milhares de queixas idênticas na Áustria, Holanda, Suíça, Espanha, Brasil e Alemanha, onde, só desde Janeiro, surgiram mais de 300 denúncias de abusos em escolas católicas.

21 de Março, 2010 Ricardo Alves

As responsabilidades e a fuga

O mito central do cristianismo pode ser lido como uma alegoria sobre a transferência de responsabilidades. Segundo a interpretação mais difundida, Jesus Cristo teria morrido pelos «pecados» da humanidade inteira, «pecados» que não cometera e pelos quais não era responsável. Obviamente, os «pecados» incluem desde comportamentos inócuos e até banalizados na nossa civilização (como relações sexuais consentidas entre adultos), até actos que serão sempre crime em todas as sociedades (como o homicídio). Há duas formas diferentes de encarar o sacrifício crístico: ou se o entende como um heróico exemplo a seguir, e portanto deve-se assumir a responsabilidade pelos próprios actos e até pelos de outrém (e estar disponível para sofrer as consequências), ou pelo contrário transferem-se as responsabilidades para uma entidade transcendente («Cristo morreu por nós, e só a Deus prestamos contas»).

Ratzinger publicou ontem o seu documento sobre os abusos sexuais cometidos por padres irlandeses. A «imprensa amiga» tenta convencer-nos de que «assumiu a responsabilidade». Nada mais falso: Ratzinger nada disse, por exemplo, sobre a carta que ele próprio escreveu em 2001, enquanto prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, a exigir o «segredo clerical» para as denúncias de abuso sexual de menores dentro da ICAR. Nessa época, não recomendava a colaboração com tribunais civis. Também não assumiu, que eu saiba, a responsabilidade por um caso em que teve responsabilidade directa: o acolhimento de um padre pedófilo em Munique quando aí era arcebispo. (mais…)

21 de Março, 2010 Carlos Esperança

ICAR desmorona-se

Bento XVI expressa “vergonha” da Igreja e quer que padres irlandeses sejam julgados na justiça.

O Papa Bento XVI expressou ontem “vergonha” e “remorso” pelo “desconcertante problema” do abuso sexual de crianças e jovens vulneráveis por parte de membros da Igreja Católica irlandesa. Mas o “profundo desgosto” do Papa não cala a revolta das vítimas.

Pergunta: A carta do Papa, sobre pedofilia pia, a ler nas missas, torna esta cerimónia exclusiva para maiores de 18 anos?

21 de Março, 2010 Carlos Esperança

A “carta pastoral” de Bento -16 ou “aquele engano de alma ledo e cego…”

Por

E – Pá

A publicitação da “carta pastoral” de Bento 16 dirigida aos católicos irlandeses link, um extenso e repetitivo documento com 14 itens e rematado – em jeito de post-scriptum – com uma “oração especial” dedicada à Igreja irlandesa, decepcionou  as vitimas de abusos sexuais (continuados) por parte de clérigos pertencente a essa mesma Igreja. link

De facto, as vítimas que, no mês passado, dirigiram uma “carta aberta ao papa” link, constatam que questões importantes ficaram sem resposta… como era de esperar.

A saber:
“Esse texto (da carta aberta), além de desculpas, pedia que o Vaticano reconhecesse sua culpa nos casos e que o papa aceitasse a renúncia de vários integrantes do alto clero irlandês, inclusive a do cardeal Brady.”
Por outro lado, consideram que, a “carta pastoral”, para além de ser mais uma oportunidade perdida, é um tipo de resposta do Vaticano totalmente deslocado e inapropriado :
“Uma carta pastoral não é a maneira de dar uma resposta aos relatórios de Ferns, Ryan e Murphy, que tratavam de violações, maus-tratos e abusos sexuais contra crianças cometidos por padres e religiosos neste país e que foram ocultados pelas autoridades da Igreja”, asseverou Andrew Madden, uma das vítimas dos abusos sexuais praticados por clérigos. link

De facto, carta pastoral pastoral de Bento 16 aos irlandeses “ladeou” as questões colocadas pela carta aberta (subscrita por Sean O’Conaill, coordenador da “Voz dos Fiéis”, Irlanda.), fugindo para lateralidades, marginalidades e retóricas canónicas que, ao fim e ao cabo, mostram uma maior preocupação na reconquista da confiança dos fiéis do que a determinação para enfrentar as consequências e a gravidade dos crimes de pedofilia, cometidos no seio das instituições religiosas e educativas, promovendo (ou facilitando) uma rápida e desabrida condenação dos clérigos prevaricadores, bem como, a necessária depuração na alta hierarquia católica irlandesa (…os seus “irmãos bispos”, como se lê na pastoral), indubitavelmente cúmplice e moralmente responsável pelos abusos sexuais em crianças …em múltiplas dioceses gaélicas.

Quando a oração que finaliza a carta pastoral “reza”: ” … possa a Igreja na Irlanda renovar o seu milenário compromisso na formação dos nossos jovens no caminho da verdade, da bondade, da santidade e do serviço generoso à sociedade…” estamos perante um intolerável cinismo, uma enorme desfaçatez e uma atitude deliberadamente enganosa.
Um procedimento típico da I. C. A. R. … envolver os problemas numa cortina de fumo!

20 de Março, 2010 Carlos Esperança

ICAR sob fogo. Papa comprometido

New York Times’

Psiquiatra de padre pedófilo afirma que alertou Igreja sobre trabalho do religioso com crianças.

A arquidiocese alemã dirigida pelo então cardeal Joseph Ratzinger nos anos 1980 ignorou repetidos alertas de um psiquiatra responsável por tratar de um padre acusado de abusar sexualmente de meninos, informa reportagem desta sexta-feira do jornal “New York Times”.

Segundo o doutor Werner Huth, ele avisou a Igreja que o reverendo Peter Hullermann não deveria ser mantido em trabalhos com crianças. Sob autorização do futuro Papa Bento XVI, o padre havia sido transferido para Munique para passar por tratamento psicológico.

– Eu disse ‘pelo amor de Deus, ele precisa desesperadamente ser mantido longe de trabalhos com crianças’ – disse o psiquiatra ao jornal. – Eu fiquei muito triste com toda essa história.

20 de Março, 2010 Carlos Esperança

As aparições de Međugorje- a ICAR cutuca onça com vara curta

fonte: www.wikipedia.org

Por

Rui Cascão

A história de Međugorje é quase exactamente a de Fátima, Lourdes e outros embustes desse calibre. Há umas criancinhas católicas e manipuláveis do mundo rural, há umas oliveiras e uma senhora vestida de branco. Depois os clérigos tentam aproveitar-se da “aparição” para objectivos políticos- em Fátima para dinamitar a 1a República, em Međugorje para lutar politicamente contra o SKJ (Liga dos Comunistas da Jugoslávia) que estava no poder na Jugoslávia. Aliás, a coincidência entre as aparições de Međugorje (em 1981) e a morte do Marechal Tito (em 1980) e o início da desagregação da República Federativa Socialista da Jugoslávia, dificilmente se tratará de mera coincidência.

Međugorje localiza-se na Herzegovina, região de população mista croata (predominantemente católica), bosníaca (predominantemente muçulmana), e sérvia/montenegrina (predominantemente ortodoxa), a 20 km de Mostar. Foi uma das regiões em que a limpeza étnica da guerra civil bósnia foi mais acentuada e mais sangrenta (lembremo-nos da destruição da ponte de Mostar, património da humanidade).

A Bósnia e Herzegovina, apesar da paz que foi alcançada, esta paz ainda está longe de estar consolidada. Se a ICAR avançar com a homologação deste embuste naquela região tão sensível, isso terá um impacte significativo na degradação das relações entre as diversas populações da região. Gostaria de saber se este renovado interesse da ICAR por Međugorje se deve a irresponsabilidade ou se é doloso.

A Bósnia e Herzegovina não precisa deste tipo de iniciativa, nem de turismo religioso. Necessita sim de iniciativas e projectos que criem pontes e laços entre os vários grupos étnico-culturais, que contribuam para a redescoberta pelos bósnios dos aspectos culturais que os unem, em vez de valorizar aqueles que os dividem.

19 de Março, 2010 Carlos Esperança

Bento – 16: pastorais ou empaleanço?…

Por

É – Pá

Hoje, ou amanhã (…os timings do Vaticano são misteriosos), Bento 16 publicitará uma mensagem dirigida aos católicos irlandeses, com a finalidade de reparar danos “irreparáveis” (passe a redundância) causados pela sucessão de vergonhosos e inadmissíveis escândalos de pedofilia que atingem – impiedosamente – a ICAR.

Não conhecemos (ainda) o teor dessa anunciada mensagem.

Todavia, sabemos que a sua premência, logo, a sua oportunidade, terá nascido na sequência de um encontro realizado, em Fevereiro último, entre o papa e os bispos irlandeses.

O confinamento desta mensagem aos fiéis irlandeses é extremamente redutor para a ICAR. A Igreja católica tem pretensões de universalidade e os escândalos de pedofilia, no seu seio, alastram por todo o Mundo como uma monstruosa mancha que, todos os dias, se expande .
O próprio Bento 16 teve consciência desse facto e na última audiência pública realizada no Vaticano, no passado dia 17 de Março, tentou emendar a mão reconhecendo que essa mensagem contemplava “todos os fiéis”.
Seria melhor que essa mensagem tivesse ainda um âmbito mais vasto e tivesse a pretensão de uma divulgação universal. Isto porque a ICAR está atolada em crimes que não atingem selectivamente “fiéis” mas, num consenso global, a Humanidade.

Finalmente, as expectativas de Bento 16, relativamente ao impacto dessa “carta pastoral” – são irrealistas, para não lhe chamar utópicas.
No actual momento que a ICAR atravessa não há documentos que consigam, como deseja o papado, “ajudar no processo de arrependimento, cura e recomeço”
A situação publicamente revelada é muito mais grave. Não se tratam de meras escoriações…
As feridas causadas pelo mar de escândalos de pedofilia no seio da ICAR minam, de modo irreversível, a pretensa autoridade moral do Vaticano. O prognóstico relativamente aos danos causados não pode encaminhar-se para alucinantes expectativas de “miraculosas” curas, como deseja Bento 16. Como o povo diz – santos de casa não fazem milagres…

A evolução natural das feridas abertas no seio da ICAR e a “conta-gotas” reveladas ao Mundo (crente e não-crente), não se compadece com esperanças de hipotéticas “curas” mas, pelo contrário, a gravidade dos danos aponta para um fim cataclísmico. As “feridas” ameaçam gangrenar. Resta-lhe, portanto, em vez de cartas pastorais, proceder a cruentas amputações ou, em alternativa, surgirá a falência sistémica.
A resistência do cardeal irlandês Sean Brady em aceitar a vontade popular no sentido de demitir-se das suas funções, mostra que a hierarquia religiosa, ao mais alto nível, optou por cuidados paliativos.

Será este o conciso âmbito da anunciada carta-pastoral!