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Mês: Março 2010

4 de Março, 2010 Carlos Esperança

Palco para missa pago por todos?

Por
José Moreira

Eu ainda não percebi por que carga de água, benta ou da outra, vou ter de contribuir, sem que nada me tenha sido perguntado, para a construção de um altar. Já me bastou ter contribuído para a construção de estádios de futebol agora às moscas.

Quando é que os nossos autarcas, e outras espécies de governantes, conseguem chegar à conclusão de que o dinheiro do povo não é para gastar em folclores religiosos, que só servem para apunhalar a Constituição?

Quando é que o Estado se separa, definitivamente, das confissões religiosas? E não venham, por favor, com o chavão de que se trata de um chefe de estado; os chefes de estado vão a recepções, fazem discursos, promovem acordos bilaterais, mas não celebram missas. Se eu quiser uma missa (lagarto, lagarto…) pago-a; não meto a conta ao Estado.

3 de Março, 2010 Ricardo Alves

A ICAR é pobre!

O altar para a missa de Ratzinger em Lisboa (portanto, para usar uma vez) vai custar 200 mil euros.

3 de Março, 2010 Raul Pereira

As provocações do Sr. Henrique Raposo

O Sr. Henrique Raposo diz que não é possível dialogar com ateus. Nós provamos que isso é uma inverdade.

I – O Sr. Henrique Raposo comete vários erros: primeiro, não há qualquer «pulsão religiosa» nos homens, há apenas desconhecimento e questões que se querem respondidas atribuídas a uma ideia de divino. Este conceito funciona como um escape que logo justifica o inexplicável e evita demais explicações. Isto não é «pulsão», é falta de paciência na capacidade que nós temos de resolver os grandes problemas que o universo nos coloca e que devemos encarar sempre como desafios. Depois, na ânsia de perseguir os «esquerdistas», esquece que há ateus de direita, de esquerda, do centro, de cima e de baixo. Bem, de cima talvez não, porque raramente algo de bom vem do céu. E nem sequer estamos a falar em deus, que é assunto que não deveria interessar a ninguém, de inócuo que é, mas de fezes de pombas, meteoritos, chuva torrencial, canícula e aviões com terroristas (fanáticos) aos comandos.

Insiste que Hitchens não deveria travestir a religião de fascismo. De facto, poucos são os pontos comuns das religiões com o fascismo e é um erro grosseiro se nos atrevermos a enumerá-los. Vejamos, são mesmo mínimos e não custa nada: quase todas apresentam normalmente um líder que cultiva uma imagem ridícula, preceitos e regras a serem cumpridos sem recurso, alianças forjadas (com outros regimes fascistas) quando convém, incentivos para lutar até à morte defendendo a causa, policiamento regular de quem não cumpre e, se alguém quiser abandonar o fascio na valeta, é o cabo dos trabalhos! A única diferença é que hoje, nos países ocidentais, temos a felicidade de optar pertencer ou não ao grupo. No entanto, se não nos chatearmos em demasia com isso, o nosso nome continuará lavrado nos livros empoeirados dos arquivos e fará sempre parte das estatísticas que são usadas, amiúde, com grande habilidade.

II – Novamente no mesmo argumento do fascismo. O Sr. Henrique Raposo esquece-se é do seguinte: que para ler os «originais» mais vale ler os clássicos e começar com «As Nuvens» de Aristófanes, por exemplo, que já no séc. V antes de um tal de Cristo, apesar de criticar duramente os filósofos ateus, demonstra com esse ataque a expressão e importância que estes tinham na sociedade helénica. Sempre houve, portanto, gente a viver da escrita de uma «novidade» que não o é; chama-se apenas «racionalidade» e, como parece comprovar um estudo científico publicado a semana passada, talvez inteligência. Esta, Sr. Henrique Raposo, existe desde que há homens e mulheres.
Ah, claro, fez-nos rir com a luta da religião contra os regimes totalitários, mas essa história está tão batida que já nem cola. Apenas dizer que são certamente de louvar (não sei se esta será a palavra indicada) os esforços que muitos religiosos empreenderam contra Hitler e Franco, mas todos nós sabemos que esses, falando em hierarquias, normalmente não eram os que assentavam o barrete cardinalício nas nucas, mas antes os que arrastavam penosamente as pobres sotainas. Onde contava ter o apoio dos religiosos, eles fecharam-se em copas e preferiram negociar, ficar em silêncio ou saudar o ditador com o bracinho no ar, em toda a sua graça. O Sr. Henrique Raposo esquece-se também de que, se houve padres, também houve milhares de ateus que lutaram pelos ideais da liberdade e que foram presos ou tiveram de se refugiar. [Apontamento: ler isto isto ao som de Béla Bartók]

III – Hitchens não deve nada a deus – ninguém deve. Nem sequer ao conceito, que é ao que se estava a referir. Deve ao código genético que herdou, à sua educação e à sua vivência pessoal. Se não existissem religiões, Hitchens estaria (e está, certamente) contra os que negam a eficácia das vacinas, por exemplo. Aliás, basta ver que a sua ascensão pública nada teve a ver com ateísmo. Disto se infere que Cristopher Hitchens nunca precisou de deus para ser quem é. Ele é simplesmente assim, um homem de causas e convicções fortes.
O contrário parece ser o caso do Sr. Henrique Raposo, que nos deixou ligeiramente preocupados quando afirma que não se admite ateu simplesmente por causa de homens «cool» como Hitchens e prefere afirmar-se agnóstico. É a mesma coisa que dizer: «Eu sou benfiquista, mas agora sou sportinguista porque está lá o Jesus. Se Jesus não fosse tão «cool», continuava benfiquista. Se não, ai Jesus!, ainda posso ficar como ele e começar a jogar muito pela esquerda!».
Os ateus, como em todos os grupos humanos, há-os intolerantes, activos, não dialogantes, tolerantes, dialogantes, escondidos na sombra ou a sofrerem muitas vezes pelo simples facto de o serem e não o poderem revelar. O que incomoda pessoas como o Sr. Henrique Raposo é que, se durante milénios andamos calados e perseguidos, agora, estamos finalmente protegidos sob a capa da Liberdade e, com a Internet e os novos media como ferramentas, conseguimos elevar mais um pouco a nossa voz neste mar irracional. É como ter numa sala aquele relógio muito antigo ao qual um dia damos corda e que começa a incomodar-nos com o barulho do pêndulo. Mas a verdade, Sr. Henrique Raposo, é que esse relógio é uma obra de arte e poderá muito bem indicar no futuro as horas a uma humanidade perdida.
A intolerância, diremos nós, é de quem não nos deixa falar, nos critica por qualquer coisinha que dizemos ou nos olha com desconfiança quando o tentamos fazer de igual para igual. Como num diálogo, sabe?

3 de Março, 2010 Carlos Esperança

A vinda do Papa a Portugal

Segundo a Agência Lusa, a Igreja Católica consideraria “muito bem-vinda” alguma “medida que facilitasse” a participação das populações na visita que Bento XVI fará a Portugal em Maio, nomeadamente a concessão de tolerância de ponto à função pública.
É fácil ver na pia intenção da CEP (Conferência Episcopal Portuguesa) a pressão sobre o Governo, objectivo revelado pelo porta-voz, padre Manuel Morujão, ao anunciar que o tema tem sido abordado nos contactos preparatórios.

Gozando o Vaticano do estatuto de Estado, o chefe vitalício da única teocracia europeia deve ser recebido com consideração e as honras devidas, mas não podem os dignitários do Estado português, em nome da laicidade e do escrúpulo republicano, ir além disso.

Se o Estado der ao Papa, que se desloca a Portugal em viagem prosélita, um tratamento que nenhum outro líder religioso usufruiu, quebra o princípio da laicidade e obriga-se, de futuro, a dar igual tratamento aos líderes das religiões concorrentes.

Se o Papa, receber tratamento especial, como chefe de Estado, não se vê como Portugal poderá negar, no futuro, um dia de tolerância de ponto quando os príncipes do Mónaco ou do Liechtenstein visitarem Portugal e, pelo menos quinze dias quando for visitado pelos presidentes dos EUA ou da China.

Esperemos que o ridículo não acabe por nos matar.

2 de Março, 2010 Ricardo Alves

Visita do Papa é ofensiva clerical

No seu documento de enquadramento da visita de B-16, os bispos da ICAR «apelam» a que este evento não «se esgote num mero acontecimento passageiro», mas que sirva para «fortalecer a nossa unidade [dos católicos] (…) com o intuito de poder responder às alterações civilizacionais em que vivemos». É cada vez mais óbvio que esta visita está concebida para fazer, não a mera propaganda católica (o que seria aceitável), mas sim, inevitavelmente, para fazer também o combate aos casamentos entre pessoas do mesmo sexo e para condicionar as celebrações do centenário da República. Enquanto monarca da última ditadura europeia, Ratzinger será recebido pelo Presidente e pelo Primeiro Ministro. Enquanto líder religioso, fará o que não seria tolerado a chefe de Estado algum: interferir na política interna portuguesa.

Subindo a parada, os bispos exigem ao governo que seja declarado feriado ou tolerância de ponto durante a visita, com o óbvio objectivo de aumentarem o número de pessoas presentes em manifestações que irão para além do ritual religioso para assumirem um cariz político. Já conseguiram que a Câmara Municipal de Lisboa aceitasse que a inauguração da «nova» Praça do Comércio, supostamente integrada nas celebrações do Centenário da República, seja feita pelo monarca do Vaticano. Mais exigências «pastorais» com água política no bico surgirão nas próximas semanas.

Após o fracasso da manifestação anti-homossexual de 20 de Fevereiro, o clericalismo português necessita de um reforço chamado B-16. E um governo em queda de popularidade não lhe recusará «pedidos» pastorais. Estupidamente.

[Diário Ateísta/Esquerda Republicana]

1 de Março, 2010 Carlos Esperança

Laicidade – uma exigência ética

Desistir do carácter intransigentemente laico do Estado é comprar a paz a curto prazo e fomentar a guerra no futuro. Confiar aos clérigos a defesa da tranquilidade pública é dar aos transgressores os meios para subverter a lei e comprometer a liberdade. Mudar de paradigma é estimular o desafio às instituições republicanas e enfraquecer a democracia.

A religião não se impõe por tratados nem a propagação da fé se confia aos Estados. A Concordata, não pode ser um tratado de Tordesilhas que submeta à órbita do Vaticano um país a que a Cúria trace o meridiano.

O proselitismo é comum ao cristianismo e ao islamismo. Ambos querem impor o único deus verdadeiro – o seu –, e a vontade divina aclarada pelo clero. Ambos aspiram à globalização, exigindo o exclusivo. Odeiam-se mutuamente e não toleram a indiferença agnóstica ou a animosidade ateia. Há, nos dois, e nas seitas que nascem uma vocação totalitária.

É na herança humanista da Revolução Francesa que assentam o laicismo e a democracia. Por isso tantos se afadigam tanto a denegrir o laicismo como se este não fosse a vacina que permite conter os vários «ismos» religiosos que se digladiam e a via para responder à onda de provocações que os crucifixos e os véus se esforçam por atiçar.

Só a laicidade e a secularização podem conter o proselitismo e garantir a diversidade religiosa. O Estado democrático tem de ser firme na sua defesa.

A Constituição de 1933, do «país tradicionalmente católico», deu lugar à actual, omissa em referências religiosas. A experiência demonstra que há hoje liberdade religiosa, que não havia, incluindo a ICAR que se emancipou da tutela do Governo. No Estado Novo a nomeação dos bispos estava dependente da aprovação do Governo.