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Mês: Março 2010

26 de Março, 2010 Carlos Esperança

As vítimas de Deus

Perante a bancarrota moral da ICAR, com a cumplicidade do que é hoje Papa, e o silêncio a que condenaram as vítimas, vale a pena ler o El País, de hoje.

26 de Março, 2010 Carlos Esperança

Dois pesos e duas medidas

Carl Sagan, no seu livro «Um mundo infestado de demónios», lembra-nos que o abade Richalmus escreveu um tratado sobre os demónios, por volta de 1270. Os sedutores demoníacos de mulheres chamavam-se íncubos e os de homens, súcubos. Santo Agostinho acreditava que as bruxas eram o produto dessas uniões proibidas tal como a maioria das pessoas da antiguidade clássica ou da Idade Média.

Compreendem-se hoje as freiras que, num estado de confusão, viam semelhanças entre o íncubo e o padre confessor ou o bispo e que ao acordarem se sentissem conspurcadas como se se tivessem misturado com um homem, como escreveu um cronista do século XV (pág.126, ob. citada).

A fé e a superstição confundem-se. Ainda hoje vemos crentes que rumam a Fátima e à santa da Ladeira e quem promete a bilha de azeite ao santo e não dispensa conselhos da bruxa quando a adversidade lhes bate à porta.

Esta é a parte inofensiva da fé, pelo menos para os não crentes. Os únicos prejudicados são os crédulos que esportulam o óbolo sem qualquer benefício. O mesmo não se pode dizer do proselitismo e das perseguições aos que recusam partilhar a mesma fé.

Dir-se-á que hoje ninguém é molestado por comer carne de porco, por trabalhar nos dias santos ou por desprezar os sacramentos, mas isso só acontece onde foi contido o clero. É uma conquista contra o poder eclesiástico e não um direito outorgado pelas religiões. A lei seca dos EUA teve origem no radicalismo religioso  [fruto do esforço conjunto da União Feminina da Temperança Cristã e das pressões de certas associações missionárias protestantes]. O porco continua o animal imundo para judeus ortodoxos e muçulmanos, escravos de um deus que está com o olho neles a cheirar o bafo e a vigiar os hábitos alimentares, a forma de vestir e a frequência das rezas para decidir o que lhes reserva:  as penas perpétuas ou o Paraíso.

Não se aceitam crenças diferentes sobre higiene básica, epidemiologia e alfabetização e, no entanto, apesar da ligação directa entre as crenças e a acção, aturam-se crenças que apelam à violência, ao racismo e ao genocídio em nome da tolerância religiosa e/ou do multiculturalismo.

Enfim, dois pesos e duas medidas para as crenças religiosas e para as políticas, ambas com efeitos directos sobre os direitos, liberdades e garantias dos cidadãos. Proíbe-se o incitamento ao ódio, a xenofobia, a discriminação de género, a mutilação e muitas outras barbaridades excepto quando praticadas sob os auspícios da fé.

25 de Março, 2010 Ricardo Alves

Ratzinger sabia… e protegeu o criminoso

Segundo um artigo publicado hoje no New York Times, Ratzinger recebeu em 1996 duas cartas do arcebispo do Wisconsin alertando para um sacerdote que já abusara sexualmente de cerca de duzentas crianças surdas. O que aconteceu? Aconteceu que Tarcisio Bertone, então vice de Ratzinger na Congregação para a Doutrina da Fé, tentou abrir uma investigação canónica (e portanto meramente interna), mas bastou uma singela carta a Ratzinger do padre (internamente) acusado  para o processo ser engavetado por Bertone. O padre morreu em 1998, aparentemente sem remorsos de qualquer espécie.

Este caso, provavelmente apenas um entre as dezenas ou centenas de que Ratzinger terá tido conhecimento durante o quarto de século que passou à frente da Congregação para a Doutrina da Fé, permite concluir que Ratzinger soube de crimes de abuso sexual de menores, e que nada fez para denunciá-los às autoridades civis. Antes pelo contrário, protegeu o criminoso. Agora, na recente carta irlandesa, pede «perdão» (o que não serve rigorosamente para nada) e fala em «cooperar com as autoridades civis». Mas a verdade é que ele próprio ainda não começou a cooperar, e é pouco crível que não tenha conhecimento de casos que ainda possam ir a tribunal. Afinal, há apenas cinco anos, em 2005, ainda era ele o Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé. Se realmente quer ser um homenzinho e assumir responsabilidades, Ratzinger tem muito que contar.

Outra conclusão que se impõe é que a obrigação de manter segredo, dentro da ICAR e perante os tribunais civis, sobre crimes de abuso sexual de menores cometidos por padres, ainda se mantinha em vigor nos anos 90. Ninguém pode garantir que já não esteja em vigor hoje (Ratzinger reafirmou-a em 2001). E os bravos jornalistas portugueses poderiam ter a coragem de perguntar aos bispos e padres portugueses o que fariam perante casos destes. Ou investigar casos semelhantes, por exemplo na Madeira.

25 de Março, 2010 Carlos Esperança

O começo do fim…!

Por

E – Pá

O bispo John Magee, prelado da diocese de County Cork, que, no passado, foi secretário privado de João Paulo II, renunciou ao cargo, por cumplicidade nos encobrimentos dos casos de pedofilia ocorridos no seio da igreja católica irlandesa.
Não foi o primeiro, nem deverá ser o último.

Em Dezembro, o bispo de Limerick – Brendan Murray – já tinha resignado sobre a pressão dos mesmos escandalos.

Todavia vai ser difícil à ICAR contornar a exigência dos “violentados” e das associações defensoras das vítimas de abusos sexuais, relativamente ao primaz da Irlanda – cardeal Sean Brady – um “príncipe da Igreja” que será o segundo alto responsável pela cascata de encobrimentos registada.

O primeiro responsável é, naturalmente, Bento XVI, chefe da ICAR, cuja explícita responsabilidade não teve a coragem de assumir na tão mediatizada “carta-pastoral” aos católicos irlandeses.

Mas dificilmente a ICAR conseguirá evitar o “efeito dominó”.

24 de Março, 2010 Ricardo Alves

Um bispo fora do tabuleiro

Na Irlanda, o bispo John Magee deixou de o ser: o Papa católico aceitou o seu pedido de renúncia.

Ignora-se se o bispo, do qual se sabe que atrasou as investigações sobre abuso sexual de menores, já terá cooperado com as autoridades civis sobre os crimes do clero.

Adenda: não há nenhum jornalista português que queira investigar o estranho silêncio sobre o caso do padre Frederico? Afinal, como fugiu da prisão?

24 de Março, 2010 Carlos Esperança

Sobre a laicidade

Os monoteísmos odeiam o hedonismo. São misóginos e  homofóbicos, suspeitam da inteligência e da razão e combatem os prazeres do corpo, os desejos e as pulsões. Criaram interditos, alimentares e sexuais. Exaltam os jejuns e a castidade. São pela renúncia ao prazer e a favor do sofrimento como veículo para uma vida de felicidade que prometem depois da morte.

O que está em causa é uma questão de poder. É mais fácil dominar pessoas escravas do medo do que cidadãos livres da superstição. Por isso é tão importante que o pecado seja considerado crime e, agora que as fogueiras se apagaram, incluir no Código Penal os pecados que progressivamente vão sendo suprimidos como crimes (adultério, aborto, eutanásia) e outros que passam a ser direitos inalienáveis (apostasia, heresia , divórcio).

A afirmação de que “os Estados podem ser laicos, mas as sociedades não o são” é um subterfúgio com laivos de totalitarismo, é a defesa do poder das maioria em imporem a sua vontade ás minorias e, em última análise, impedirem a geometria variável das ideologias.
Não é por acaso que todas as religiões reclamam a laicidade quando são minoritárias e exigem ser tratadas de forma diferenciada o que é diferente quando se julgam em maioria, afirmando que não se deve tratar de forma igual o que é diferente.

Se os países muçulmanos, apesar dos constrangimentos sociais, respeitassem a laicidade, manteriam a unanimidade no horror ao toucinho, na aversão ao álcool e nos costumes? É altura de tratar as crenças que repudiam o pluralismo, que não admitem concorrência e que pretendem impor-se pela força das armas da mesma forma que as ideologias que apelem ao ódio, ao racismo, à xenofobia e à violência.

23 de Março, 2010 Raul Pereira

TED – Sam Harris

Poderá a ciência responder às questões morais? São 23 minutos passados na companhia de Sam Harris que valem bem a pena.

23 de Março, 2010 Luís Grave Rodrigues

O que é ser católico?

 

Pegavam numa pessoa e atavam-lhe os braços e os pulsos atrás das costas.

Depois, com os braços assim para trás, suspendiam-na por uma corda presa ao tecto.

De seguida, com a vítima já com os braços desarticulados e a gritar de dor, acendiam-lhe uma fogueira por baixo. Mas com um lume não muito forte: somente algumas brasas, o suficiente para a ir fazendo grelhar assim muito lentamente.

Algumas pessoas demoravam quatro ou cinco dias a morrer, no meio da maior agonia.

E foi assim que a Igreja Católica Apostólica Romana se tornou especialista em seres humanos.

Desde o Concílio de Niceia que a Igreja Católica se tornou sinónimo de ódio, de intolerância, de morte, de horror. A História da Igreja Católica não é mais do que um gigantesco banho de sangue.

Foram os que se opuseram à divindade de Cristo, foram os que puseram em causa a virgindade de Maria, foram os merovíngios, foram os cátaros, foram os templários, foram cientistas, foram as bruxas, foram artistas, foram os que ousaram pôr em causa um dogma, foram os homossexuais, foram os judeus, foram muçulmanos, foram pagãos em terras distantes, foram apóstatas, foram os ateus…

Todos, ao longo de quase dois mil anos, torturados e chacinados, mortos de preferência no meio do maior sofrimento e de torturas que só a mente mais doentia poderia engendrar.

Com esta medonha História, que a define e caracteriza e que nem mil anos de pedidos de desculpa poderiam fazer esquecer e muito menos amnistiar, a Igreja Católica continua a ser uma organização absolutamente tenebrosa.

É típico da Igreja Católica a caracterização do sexo como algo de sujo e pecaminoso. Ainda hoje prefere a proibição do uso do preservativo a prescindir de um dogma bíblico da Idade do Bronze, mesmo que isso signifique a disseminação da SIDA e um incontável número de mortos.

A Igreja Católica é contra o aborto, mesmo em caso de perigo de vida para a mãe e, como se não bastasse já desaconselhou a vacina do cancro do colo do útero.

E é por isso que não é mais do que simplesmente típico desta autêntica associação de malfeitores que vive da exploração do medo da morte, o escândalo da ocultação – e por isso a vergonhosa cumplicidade – de milhares de casos de pedofilia, a que o próprio Papa pelos vistos não é estranho.

O que é afinal ser católico?

Ser católico é partilhar uma História e comungar de uma ideologia e de uma filosofia com esta gente?

Se assim é, como pode alguém dotado de um mínimo de decência e lucidez intitular-se católico?