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Mês: Março 2010

14 de Março, 2010 Ludwig Krippahl

Mais equívocos

Ou mais do mesmo. O Alfredo Dinis continua a insistir que «O maior drama do ateísmo [é] estar estruturalmente impedido de […] erradicar a religião» e que as críticas do ateísmo «não beliscam a religião»(1). Se o maior drama é isso estou bem, que o meu ateísmo serve-me para eu viver sem religião. Se há quem acredite em astrologia, Allah ou aparições em Fátima tenho pena. Gostaria que conseguissem livrar-se desses disparates. Mas antes eles que eu. Quando leio esta afirmação do Alfredo sinto como se me dissesse que o maior drama de não fumar é não conseguir que todos os outros deixem de fumar. O objectivo não é bem esse…

E não beliscar “a religião” não tira valor ao ateísmo. Nenhuma religião se belisca com as críticas das outras. São muito resistentes ao diálogo. Além disso a religião, no singular, não existe. Existem religiões. Muitas. Milhentas crendices, rituais, dogmas, hierarquias e superstições da mais variada espécie, cada uma das quais defendida como “A Religião®” pelos seus praticantes. Quando dou exemplos dessa diversidade, o Alfredo diz que critico caricaturas. Como o padre Gabrielle Amorth, exorcista-mor do Vaticano, segundo o qual o filme “O Exorcista” é «substancialmente exacto»(2), os exorcisados cospem pregos e vidros, e Hitler e Estaline estavam possuídos pelo diabo*. Julga este padre que a maior tragédia do século XX podia ter sido evitada com um par de exorcismos. Talvez o Alfredo não chegue a chamar caricatura a isto. Mas se fosse outra religião suspeito que não hesitaria.

E é por isto que o ateísmo não belisca nenhuma religião. Porque cada religioso acha, à partida e sem discussão, que a sua religião é que é a verdadeira e tudo o resto são imitações inferiores. Chamam-lhe fé. Dizem que a fé é a confiança que têm em deuses mas, em rigor, estão enganados. É apenas a confiança exagerada que têm nas suas próprias crenças. O que me traz ao “quarto equívoco” que o Alfredo aponta. Alegadamente, o ateu pensa que «Só os ateus têm a possibilidade de pensar livremente sem constrangimentos de espécie alguma».

Eu não. Pelo contrário. Julgo que os meus interlocutores nestas conversas são capazes de um pensamento tão livre quanto quiserem. Senão nem discutia isto, que não me interessa tentar o impossível. Também não ensino solfejo a caracóis nem dou aulas de biologia ao Jónatas Machado. E concordo com o Alfredo que o nosso pensamento está sempre sob pressões culturais. É precisamente por isso que devemos avaliá-lo tentando sair dessa perspectiva.

Eu confio no meu ateísmo porque assenta em premissas que eu consideraria igualmente válidas se tivesse nascido numa família muçulmana em Kabul, entre hindus em Varanasi ou budistas em Lhasa. Sou ateu porque não me quero submeter a deuses e porque não encontro evidência objectiva de haver algum. E isto vale aqui e vale do outro lado do mundo. Em contraste, o Alfredo várias vezes justificou a sua fé pela tradição cristã, prendendo-se precisamente àquelas restrições culturais que nos limitam o pensamento se não tentarmos ver mais além. Não por ser incapaz de o fazer. Ao contrário do que o Alfredo sugere, eu tenho confiança que, se ele quisesse, poderia pensar no problema do ateísmo e das religiões de uma forma menos constrangida pela sua cultura e formação. Mas talvez seja por isso que tem relutância em fazê-lo, reconhecendo que se tivéssemos nascido noutra parte do mundo o meu ateísmo seria o mesmo mas a religião dele seria muito diferente.

Tentando contrariar a ideia da fé como uma prisão intelectual, o Alfredo faz notar que a sua religião tem mudado ao longo do tempo. «A compreensão da doutrina e dos dogmas do cristianismo tem sido reformulada de acordo com a evolução da língua e da cultura, bem como dos conhecimentos que se vão adquirindo através da ciência.» Mas isto apenas demonstra o problema que o Alfredo apontou, que a maneira de pensar é pressionada pela cultura e educação. Como diz Dennett, as religiões adaptam-se porque precisam convencer as congregações (3). É por isso que se modificam «de acordo com a evolução da língua e da cultura» e de acordo com a percepção popular da ciência. Não mudam quando descobrem coisas novas. Mudam quando os bancos começam a ficar vazios. Mudam, ou desaparecem.

A ciência faz previsões concretas que, quando falham, a obrigam a mudar. Por isso a teorias da relatividade, da evolução e da mecânica quântica, a astronomia, a bioquímica e a cosmologia, não foram mudando ao sabor de “língua e cultura”. Pelo contrário. Mudaram perante os factos e isso fez mudar muito a nossa cultura, a nossa visão do mundo e até a nossa língua. É este o processo que o ateísmo segue. Olhar para os dados em vez de seguir crenças e tradições.

E como os dados exigem modelos para os interpretar, há que considerar vários. Quanto mais melhor. Considerar a possibilidade do universo ter sido criado por Shiva, por Cronos, pelo Homem-Aranha, por Jeová ou por processos físicos. Depois comparar o desempenho desses modelos e escolher o que melhor explica o que se observa. Esse processo, com os dados que temos, dá em ateísmo. Para se chegar a qualquer alternativa religiosa é preciso escolher essa logo à partida e ignorar o processo por completo. E, nesse caso, a escolha é provavelmente determinada pela cultura na qual se nasceu.

*É curioso que não tenha mencionado Mussolini…
1- Alfredo Dinis, Grandes equívocos do ateísmo contemporâneo
2- Times online, 11-3-2010 Chief exorcist Father Gabriele Amorth says Devil is in the Vatican
3- Neste debate, por exemplo: Debate – Hitchens, Harris, Dennett vs Boteach, D’Souza, Wright, Cuidad de las ideas

14 de Março, 2010 Carlos Esperança

Sobre as religiões

As páginas do Corão apelam constantemente à destruição dos infiéis, da sua cultura e civilização, bem como dos judeus e cristãos (por esta ordem) em nome do mesmo Deus misericordioso que alimenta a imensa legião de clérigos e hordas de terroristas.

O assassínio do cineasta Theo van Gogh, as tentativas de homicídio de Salman Rushdie ou do dinamarquês Kurt Westergaard, autor de caricaturas de Maomé, são os casos mais mediáticos da demência islâmica que aterroriza a Europa e provocou os mais sangrentos actos de horror em Nova Iorque, Londres e Madrid, numa fúria selvagem contra tudo e todos os que consideram infiéis. O Islão não é, neste momento histórico, uma simples crença, é uma máquina de guerra totalitária de que é preciso proteger os povos.

Como entender que haja quem creia, e, pior, quem aceite impor a tolice criacionista nas escolas e que a Terra, apenas a Terra, nasceu no Sábado, 22 de Outubro de 4004 A.C., às seis horas da tarde – como infantilmente calculou o famoso arcebispo James Ussher de Armagh –, num universo que terá começado há cerca de 12 mil milhões de anos?

Com que cara fitaria hoje, cada um de nós, homens civilizados, a nossa mãe, a mulher, as nossas filhas ou as irmãs, se cumpríssemos a recomendação do Talmude – manual de maus costumes, como diria Saramago –, o livro sagrado mais antigo, em uso contínuo, que ordena ao crente que agradeça todos os dias ao criador por não o ter feito mulher?

É essa misoginia que observamos em Paulo de Tarso, judeu de cuja dissidência nasceu o cristianismo, quando expressava medo e desprezo pelas mulheres, que o A.T. afirmava terem sido criadas para uso e consolo do homem. Que demência pode justificar o medo primitivo de que metade da raça humana fosse simultaneamente suja e impura como atestam os textos religiosos?

13 de Março, 2010 Carlos Esperança

B16 é hipócrita

O Papa acolheu um padre pedófilo quando era arcebispo de Munique, para que fosse tratado, anunciou esta sexta-feira o arcebispado de Munique, na Alemanha.

“A pedido da diocese de Essen, o abade H. foi acolhido no arcebispado de Munique e Freising em janeiro de 1980”, segundo um comunicado do arcebispado, liderado entre 1977 e 1982 por Josef Ratzinger, o actual Papa Bento XVI.

13 de Março, 2010 Carlos Esperança

A loucura da fé

O que terá levado o Vaticano, o arcebispo de Cantuária e o rabino supremo de Israel a tomarem uma posição favorável ao aiatola Khomeini quando, na sua pia demência, condenou à morte Salman Rushdie pelo abominável crime de…ter escrito um livro?

Para as horrendas criaturas estava em causa um crime hediondo – a blasfémia –, um crime de sabor medieval que é um direito cívico de liberdade de expressão e o dever de abandonar uma religião – apostasia –, religião que no seu implacável proselitismo ameaça vergar o mundo, pela guerra, à vontade de Maomé. Os dignitários admitiram os assassinatos cometidos para cumprir a fatwa, e a vida dos tradutores, editores, livreiros e do próprio autor foram irrelevantes perante a fúria demente de quem julga ter rios de mel e dezenas de virgens, a título perpétuo, pela prática de um crime.

Não podemos deixar-nos iludir pelo aparente carácter benigno do cristianismo actual, confiantes de que a luta contra a tirania eclesiástica e os seus interditos foi ganha pelo Iluminismo, pela Revolução Francesa e pela secularização em curso na Europa. Não há vitórias definitivas. O Deuteronómio, que inspirou os inquisidores e não foi revogado, ordena explicitamente aos fiéis que matem qualquer pessoa que professe simpatia por deuses estrangeiros e exige ainda que as pessoas demasiado susceptíveis para tomar parte nas chacinas religiosas devem, também elas, ser mortas. (Ob. Citada 17:12-13).

A raiva e frustração árabe contra o Ocidente, que está na origem do terrorismo suicida e assassino, bem como do seu atraso económico, social e político, é consequência dos versículos do Corão que intoxicam e enlouquecem os crentes. Ler esse plágio grosseiro dos versículos bíblicos, imune à influência da cultura grega e do direito romano, mostra  a escassez da compaixão em detrimento da violência, a submissão humana à vontade do deus – o clemente – que um profeta analfabeto imaginou.

13 de Março, 2010 Carlos Esperança

Vaticano insiste na teologia do látex

Mais uma vez, a Itália está dividida, mas neste caso o Berlusconi não é o pivô. O Vaticano já expressou sua grande preocupação, enquanto jovens, pais e professores de tendência laica falam de um sinal de coragem: a escola pública Kepler de Roma foi a primeira na Itália que instalou máquinas de camisinha no banheiro dos estudantes.

O cardeal Agostino Vallini – que é vigário do Papa na diocese de Roma – criticou a decisão, que definiu como um modo para “banalizar a sexualidade”.

12 de Março, 2010 Carlos Esperança

O “diabo” mora no Vaticano?…

Por

E – Pá

No Jornal i, de hoje:

”Aos 85 anos, o padre Gabriele Amorth já lidou com 70 mil pessoas possuídas pelo demónio. Ele é o principal exorcista da Santa Sé e acaba de lançar um livro que faz jus a uma carreira: “Memórias de um Exorcista”. E, para Amorth, não há dúvidas de que os recentes escândalos de abuso sexual de menores em instiuições da Igreja são obra de Belzebu. “O Diabo está a trabalhar dentro do Vaticano”, diz o padre Amorth em entrevista ao La Repubblica.

Para o padre, as influências satânicas estão espalhadas por todo o Vaticano e são bastante óbvias nos episódios de luta pelo poder interno na igreja, entre “cardeais que não acreditam em Jesus e bispos que estão ligados ao demónio.”A “cobertura” da morte de Alois Estermann, o comandante da Guarda Suíça, em 1998, e do guarda Cedric Tornay, encontrado morto de forma misteriosa, é, na opinião de Amorth mais um exemplo de como o diabo vive e trabalha no Vaticano.” link

A “diabolização” do centro nevrálgico da ICAR, i.e., o Vaticano, a funcionar como uma mezinha “branqueadora” dos infames e intoleráveis crimes de pedofilia praticados por clérigos, sob o olhar cúmplice – ou a ocultação – da hierarquia católica.

Apetece comentar: “Com Clarim toca a lavar!”…