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Crise económica não poupa peregrinos

Em sete anos, caiu para menos de um terço o número de portugueses que visitaram os lugares santos de Israel e da Palestina, mas o fluxo tem alternado entre anos de queda acentuada com outros em que o interesse turístico português dá mostras de alguma recuperação.

Dados do gabinete de Turismo Israelita para a Península Ibérica, revelam que em 2000 viajaram para Israel 18.731 portugueses, o dobro dos visitantes de 1999, um número que no ano seguinte caiu para 2044 e atingiu o nível mais baixo de sempre em 2002, quando o país recebeu apenas 1284 turistas de Portugal.

A partir de 2003, registou-se uma tendência crescente no fluxo, que chegou quase a 8.000 visitantes em 2005, sofrendo nova quebra em 2006, com 3.410 visitantes de Portugal a chegarem a Israel. No ano passado, foram 5.178 os portugueses que visitaram o país, que em termos globais recebeu 2,2 milhões de turistas.

Dolores Pérez, do gabinete de Turismo Israelita, estima que 85 a 90 por cento dos portugueses que visitam Israel, quer sejam cristãos ou judeus, o fazem por motivos religiosos.

No entanto, em contraste, a religião atrai apenas 17 por cento dos turistas de todas as nacionalidades que procuram Israel. Para Dolores Pérez, as imagens e os relatos de violência que diariamente chegam do Médio Oriente afectam «obviamente» a imagem de Israel como destino turístico seguro.

«É verdade que temos medidas de segurança. Tivemo-las no passado e continuaremos a tê-las até que haja paz na região», disse. Contudo, no caso português, o padre António Pereira da Silva, responsável pelo Comissariado da Terra Santa em Portugal, junta às razões de segurança a crise financeira em que vivem os portugueses para explicar a diminuição dos peregrinos.

«Até à segunda Intifada, organizávamos 10 a 15 peregrinações por ano. Desde então fazem-se cinco a seis. Este ano temos programadas três», disse. Adiantou, no entanto, que em 2008, quando se comemoram os 60 anos do Estado de Israel, os hotéis estão lotados.

«As pessoas não têm meios económicos. São pessoas de meia-idade, com reformas pequenas que por vezes não têm dinheiro para comer, quanto mais para viajar à Terra Santa», sustentou o responsável pelo Comissariado, para quem estas viagens «são uma experiência de fé e evangelização».

Considerou que os relatos de complicações criam uma «mentalidade de medo» nas pessoas que, contudo, afirma não se sentem no território.

«Quando chegam as pessoas são surpreendidas pela ordem e pela segurança. Há 30 anos que viajo para a Terra Santa e nunca tive qualquer complicação com os grupos que liderei», disse.

Acrescentou que apesar de não haver perigo para peregrinos e turistas, acidentes acontecem e aconselha algumas cautelas, como por exemplo, evitar grandes aglomerações de pessoas.

Os mesmos conselhos são dados pela Geotur, um dos primeiros operadores de viagens portugueses com departamento de turismo religioso, que recomenda aos peregrinos que evitem locais públicos, como centros comerciais ou teatros, à noite. Francisco Moura, director do Departamento de Turismo Religioso da Geotur, sublinhou o facto de não terem ocorrido até ao momento incidentes em locais de peregrinação.

Destacou também o facto de nos últimos anos se terem registado “melhorias qualitativas” na oferta de Israel, que passam por mais segurança e melhores serviços hoteleiros.

O responsável da Geotur disse à Lusa que depois da quebra de visitantes verificada entre o Ano Santo (2000) e 2004, devido aos conflitos no Médio Oriente e à insegurança, os peregrinos «voltaram a ganhar confiança e começaram a regressar à Terra Santa».

Ainda assim, referiu, o sector do turismo em geral e o religioso em particular «não é alheio à crise económico-financeira que atravessa o país».

A Geotur estima levar este ano entre 2.000 e 2.500 peregrinos à Terra Santa, havendo já dificuldade em reservar quer aviões, quer serviços hoteleiros para a temporada que se aproxima. Quase 400 turistas portugueses visitaram Israel no primeiro mês deste ano, valor que representa um crescimento de 165 por cento em relação ao ano passado.

Os peregrinos são maioritariamente mulheres viúvas e casais, acima dos 50 anos, inseridos em comunidades paroquiais, que viajam principalmente nos meses de Julho e Agosto, pagando entre 1.200 e 1.900 euros por uma visita de 15 dias.

Para Dolores Pérez, do Turismo de Israel, a colaboração de párocos, pastores, visitantes e peregrinos «é inestimável» na promoção do país como destino seguro.

«Conhecem a realidade de Israel e também da Terra Santa porque estiveram lá. Certamente que durante a estada receberam telefonemas de familiares ou amigos preocupados porque viram alguma notícia na televisão, mas a sua experiência é de tranquilidade e segurança», disse.

Fonte: Sol, 13 de Abril de 2008.