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Mês: Junho 2004

7 de Junho, 2004 Carlos Esperança

Tentativa de suborno no Euro – 2004

A selecção espanhola foi a Santiago de Compostela implorar a bênção divina para influenciar os resultados desportivos a seu favor. A tentativa de corrupção teve lugar na própria catedral, junto do apóstolo Santiago, por intermédio do Deão. O crime foi detectado por uma operação denominada «Apito Abençoado», mas os dois investigadores principais foram transferidos para outras localidades por ordem do Anjo da Guarda, sensível às preces dos créus:

«Santa Celeste, S. Valentim, S. Gilberto, todos os santos, rogai por nós…»

Já se sabe que as análises não acusam dopping e que, no caso de serem encontradas doses excessivas de superstição, o médico da selecção garantirá que faz parte de um tratamento prescrito para a asma.

Apesar da gravidade das notícias há quem argumente que, embora seja nítida a tentativa de suborno, não afectará os resultados. E dão como prova um pedido recente feito no mesmo local, ao mesmo apóstolo e santo, pelo cardeal de Santiago, a favor dos militares que foram para o Iraque e que teve efeitos contraproducentes.

De qualquer modo, a tentativa de fraude saltou para a comunicação social, com o nome dos cúmplices, como se pode ver no Diário de Notícias: « Tu iluminas e dás forças a quem de ti se acerca. Por isso estamos aqui. Somos a selecção espanhola de futebol, quer dizer, representamos de alguma maneira todos os povos da Espanha unida por uma paixão comum: o futebol», dizia o Deão da Catedral de Compostela, Manuel Calvo, na visita da equipa de Iñaki Saéz ao apóstolo Santiago.

6 de Junho, 2004 André Esteves

O kitsch religioso da semana

Aparentemente alguém tem a ideia que este conjunto que vêem à vossa esquerda é uma boa companhia para uma reunião de amigos á volta de uns cocktails… Não imagino quem será suficientemente fanático para apanhar uma carraspana das antigas, tendo por companhia este João Paulo II sorridente.

Isto de copos e polacos, fez-me lembrar umas histórias… Alguém já ouviu falar dos prémios Darwin?

Bem… Há uns anos atrás, o agricultor polaco Krystof Azninski resolveu tomar uns copos com os amigos… o nível de álcool aumentou de tal modo no grupo, que a partir de certa altura, alguém sugeriu que se despissem, fossem para o meio da neve e jogassem “jogos de homens de barba rija”. E assim aconteceu… Primeiro, começaram por bater com nabos congelados nas cabeças uns dos outros, e nas próprias cabeças, para demonstrar o quanto conseguiam aguentar de dor, ao mesmo tempo que gritavam:

– Estão a ver!! Estão a ver!! Não há ninguém mais macho do que eu!!!

Sendo um “jogo de homens de barba rija” a coisa entrou logo em escalada… Um dos membros do grupo, no meio desta orgia de álcool e testosterona, ligou uma moto-serra e cortou os dedos de um pé, exclamando:

– Não há ninguém mais macho do que eu!!

Krystof Azninski não esteve com meias medidas, pegou na moto-serra, olhou nos olhos do seu amigo e disse:

– Então olha isto!!! Não há ninguém mais macho do que eu!! – E cortou, num só golpe o próprio pescoço.

Posteriormente, os amigos, já no meio da ressaca, afirmaram que, sim.. Krystof tinha morrido como um homem de barba rija, apesar de quando era pequeno gostar de vestir as roupas da irmã (?).

Imagino que se na Polónia os bares domésticos, tivessem uma instalação como a que vemos na imagem, não ouviríamos falar de cenas deste género… Claro que haverá sempre a eterna discussão que «a culpa era do materialismo comunista» que esteve na tão católica terra da Polónia, ou se o machismo será um valor espiritual (as famílias crentes do latino sul da Europa, assim parecem pensar…).

De resto… Qual é a semiótica da coisa? Muito simples. Para o público feminino, dá-lhe mais descanso. Afinal com todo o uso que das imagens, o catolicismo faz, imagino que as esposas fiquem a pensar que os seus maridos ficarão em boa companhia.

Quanto aos homens? A partir da segunda garrafa, pouco importa…

Quanto a mim.. Na presença de uma tal instalação, só me apetecia fazer uma coisa: apanhar uma valente bebedeira. Desopilava o fígado quando começasse a falar com o mural…

6 de Junho, 2004 André Esteves

Mil veses a morte



Esta imagem é um cartaz do início do século XX, de uma empresa portuguesa de revenda de tripas secas e salgadas. A classe burguesa era constítuida por muitos livre-pensadores e anti-clericais, que vieram a empenhar-se na revolução republicana. Embora os valores expostos, com humor, neste cartaz, sejam o estoicismo com um certo grau de niilismo, não deveriam deixar de chamar a atenção e chocar os pobres consumidores de tripas.

Como alguém já disse: «Não há boa ou má publicidade – só há publicidade.»

Se não podemos gozar com a morte, com o que poderemos?

6 de Junho, 2004 Carlos Esperança

Peregrinos atropelados a caminho de Fátima

«Dois peregrinos morreram e quatro ficaram feridos, dois em estado grave, atropelados por um automóvel às 03:30, perto de Pombal, quando se dirigiam para Fátima» – informa o Portugal Diário.

Os resultados preliminares desta peregrinação apontam para 2 mortos, 4 feridos e 0 ressuscitados. Há muito que o número de mortos bate claramente o dos miraculados. E de ressuscitados não há qualquer registo.

Não se sabe a graça que imploravam ou as promessas que cumpriam. Sabe-se apenas como Deus os atendeu. Tudo o que Deus faz é bem feito – dizem os padres.

Quanto a estes mortos e feridos, o Santuário ainda não reconheceu o milagre.

5 de Junho, 2004 André Esteves

Pecar com as probabilidades

Viemos a saber (Obrigado, Boss!) que o cardeal colombiano Alfonso López Trujillo (na imagem à vossa direita, a elucidar os fiéis), responsável pelo Conselho Pontifical da Família do Vaticano afirmou a um grupo de jornalistas em Madrid, que:

«Ter uma vida promíscua com o preservativo, aumenta em 30% as probabilidades de se apanhar SIDA»…

Alguém imagina as probabilidades de se apanhar SIDA, com uma vida promíscua, E SEM PRESERVATIVO?. Chama-se a isto mentir por omissão e mentir com estatísticas. Só nos revela o quão estúpidos e ignorantes, os cardeais católicos devem achar que os seus crentes são… Já podemos imaginar as exclamações nas suas conversas privadas: «Matemática?? Pensar em termos probabilísticos! Querem é novenas e o corpo de cristo!»

Tecnicamente Trujillo não mentiu.

Mas o diabo também não mente.

E consegue enganar as almas que não aprenderam matemática e não raciocinam utilizando probabilidades.

5 de Junho, 2004 Carlos Esperança

7 Notas piedosas

João de Deus Pinheiro – «Não acredito na Virgem. Perdão!!! Acredito! Não acredito é que ela nos resolva os problemas.» – disse Deus na campanha eleitoral para o parlamento europeu. Depois das eleições deixa definitivamente de acreditar na virgem e, sobretudo, na virgindade de que a acusam. Mas, se Deus não acredita, só restam os beatos.

Inferno – Os padres não se contentam em vender ilusões, empenham-se a espalhar pesadelos e transformar a coragem e generosidade em fanatismo e violência. As pessoas amam a vida mas os padres envenenam com a morte. Ameaçam com o temor do inferno para fazerem subir as acções do purgatório.

João XII – Foi Papa aos 20 anos, por morte do pai. Reconstruiu o sacro-império, coroando Otão I. Seria hoje santo se no ano de 964 não tivesse sido apanhado na cama com uma mulher cujo marido lhe desferiu uma marretada na cabeça. Em vez de se conformar com as santas protuberâncias que Sua Santidade lhe esculpia, esse marido cometeu o sacrílego acto de o matar. E, assim, foi Deus servido de chamar à sua divina presença esse sucessor de Pedro, com apenas 29 anos de idade.

João Paulo II – Tem em vista mais uma deslocação a França. Este homem adora o avião para perscrutar o céu à procura de Deus mas, com tanto insucesso, a dúvida já o assaltou e, por isso, virou-se para o fabrico de santos.

G. W. Bush – Na visita que fez ao Vaticano (04/06) atribuiu ao Papa a Medalha da Liberdade, a mais alta condecoração civil norte-americana, julgando que era um magnate saudita do petróleo e que estava a entregar uma mensagem de Dick Chenney; o papa julgou que estava com o bispo de Leiria e que acabara de receber a medalha da senhora de Fátima. Enquanto Bush e Vojtyla falavam de paz, o mullah Omar e Bin Laden imploravam as bênçãos de Alá para toda a humanidade – duas formas diferentes de procurar a felicidade. G. W. Bush fez-se acompanhar pela mulher. João Paulo II, não.

E.U.A – Um destes dias G.W. Bush declarava na televisão – «Mando-lhe a minha bênção» (referia-se ao Director da C.I.A.). Eu julguei que o presidente dos EUA tinha resignado ao cargo para se tornar pastor evangélico. Afinal foi para presidente sem abandonar a vocação de pastor.

Ministro da Saúde – Pretende impor quotas para formar médicos. Creio que é influência da ICAR. Espero que ao menos não pretenda 100% de homens como exige o Vaticano para os padres.

4 de Junho, 2004 jvasco

Profissão: astrólogo

No jornal da Câmara dos Deputados no Brasil vem lá o seguinte texto a introduzir um Projecto-Lei:

O deputado Luiz Sérgio (PT-RJ) apresentou à Câmara o Projeto-Lei 6748/02, que regulamenta a profissão de astrólogo. A proposta estabelece regras e condições para o exercício da profissão, como exigência de habilitação em cursos reconhecidos; jornada de trabalho de 30 horas semanais; possibilidade de prestar serviços a órgãos públicos; e restrição do mercado aos profissionais reconhecidos, inclusive para actuar em meios de comunicação que divulguem o conhecimento correlativo à Astrologia.

O texto define como astrólogo o profissional que estabelece juízos a partir do estudo das configurações do céu, calculando e elaborando cartas astrológicas, actividades que também poderão ser exercidas por pessoa jurídica.

Segundo Luiz Sérgio, a Astrologia vem retomando sua importância nos últimos 50 anos. Por isso, “a prática de uma astrologia ingénua, em nível jornalístico e popular, embora inofensiva em si mesma, não significa aquilo que sempre se entendeu como astrologia”. O deputado defende que seja incutido na cultura brasileira “um pensamento astrológico correcto” e afirma que, para isso, “o meio mais efectivo é a regulamentação do exercício profissional dos astrólogos, que permitirá uma fiscalização mais rigorosa dessa actividade”.

No Brasil, em breve, será possível ser Astrólogo como profissão.

Não sou capaz de ficar muito indigando com isso. Afinal, já há vários séculos que é possível ser Padre como profissão…

4 de Junho, 2004 Ricardo Alves

A ICAR divulgou as suas directrizes para a família (e para a escola…)

A Conferência Episcopal Portuguesa divulgou hoje uma nova Carta Pastoral, intitulada “A Família, esperança da Igreja e do mundo“. Trata-se de um documento longo e fastidioso, como só os bispos da ICAR, com os seus empregos perpétuos e isentos de impostos, têm tempo para produzir. Sendo a CEP um dos mais influentes produtores de ideologia dos sectores conservadores portugueses, o documento é de interesse tanto para ateus como para outros (inclusivamente os católicos individuais, que evidentemente não foram ouvidos na produção deste texto que define a sua orientação em matéria de família).

Os parágrafos 66 e 67 são uma verdadeira pérola. É aí defendido que os pais “devem (…) ter o direito de recusar que a escola dê aos seus filhos uma educação sexual que vá contra os seus valores”. Ou seja, os pais devem ter o direito de poder alterar os currículos das escolas públicas em nome das suas crenças privadas e pessoais, que são legítimas mas que se deveriam restringir ao espaço privado e associativo. Não é claro como o Estado poderia gerir os conflitos entre pais católicos (contra toda e qualquer educação sexual substancial, na prática) e pais laicos (que deveriam exigir, estridentemente, o direito dos seus filhos a receberem uma educação sexual completa). Defende-se aí igualmente o financiamento das escolas privadas (católicas) em igualdade com as escolas pública, mas já sem o exagero de cartas pastorais anteriores em que se defendia quase explicitamente o cheque-educação (um dogma neoliberal). Particularmente deliciosa é a menção (no parágrafo 59) das “minorias [que] se apoderam dos instrumentos de participação existentes e os utilizam para fins que não servem os direitos e interesses da maioria das famílias”. O conceito de protecção ao aluno como indivíduo, independentemente da família e das maiorias sociológicas, continua ausente do pensamento católico. Por aí se defende também um maior empenhamento dos “pais cristãos” na gestão das escolas e na definição do projecto educativo. Teríamos assim programas escolares adaptados conforme a relação de forças em cada escola… A CEP exige igualmente que a EMRC seja uma disciplina curricular (recordar as polémicas recentes), para poder continuar a fazer propaganda contra a IVG na escola pública e a propagar crenças de uma era pré-científica…

Muito mais haveria a dizer sobre outros aspectos.