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15 de Outubro, 2005 Palmira Silva

As tácticas intimidatórias da Igreja da Cientologia

A Igreja da Cientologia ameaçou iniciar uma acção legal para ficar com a posse de um domínio de Internet que expõe o comportamento bizarro em prol da sua religião de um dos cientologistas mais famosos do mundo, Tom Cruise.

O dono do site ScienTOMogy ou a Paixão de Cruise recebeu de representantes da Cientologia dezenas de faxes e emails que ameaçam acções legais pedindo 100 000 dólares de indemnização se o nome do domínio em causa não for transferido. Este tipo de ameaças, conhecido em meios legais como cartas cease&desist (acaba e desiste) e quasi a imagem de marca de Cientologia, é muito criticado por grupos de defesa das liberdades cívicas e da liberdade de expressão, já que é usada por indíviduos ou corporações milionárias para intimidar ao silêncio oponentes menos prósperos financeiramente. De facto, a maioria dos receptores destas cartas obedece às exigências, mesmo injustificadas, nelas expressas para evitarem dispendiosos processos que não podem suportar financeiramente, mesmo quando estas exigências são tão disparatadas que a decisão judicial será necessariamente a favor dos ameaçados.

Esta táctica, muito habitual na Cientologia, de intimidação legal aos seus críticos, usada por exemplo para tentar silenciar o site Xenu.net que denuncia o modus operandi extorsionário e as imbecilidades extra-terrestres da Igreja, é no caso em apreço complementado com outras formas mais físicas de intimidação.

De facto, o dono do ScienTOMogy.info, um site baseado na Nova Zelândia que tem conhecido um invulgar afluxo de visitantes desde que a pretensão da Cientologia foi conhecida, tem sido perseguido pelos (muito poucos, cerca de 200 em toda a Nova Zelândia), cientologistas locais com visitas e (muitos) telefonemas indesejados.

É interessante notar como todas as religiões abominam os críticos e se devotam a tentar silenciar as vozes que denunciam as suas charlatanices. A característica comum a todas as religiões, independentemente do «produto» que vendem, é assim uma feroz oposição à liberdade de expressão. As diferenças entre elas residem apenas no poder de que dispõem para efectivar o seu ódio a um dos mais fundamentais direitos do Homem: enquanto as religiões maioritárias se refugiam em Sharia’s, leis da blasfémia e afins que o seu poder político faz aprovar, a Cientologia usa o poder financeiro conseguido pelo seu esquema mirabolante de sacar dinheiro aos mais incautos!

14 de Outubro, 2005 Ricardo Alves

Em defesa da República

As calúnias e falsidades sobre a 1ª República, originalmente inventadas pela propaganda católica e muito inculcadas durante as duas gerações de salazarismo, são hoje tomadas como verdades e repetidas dogmaticamente por muitos, inclusivamente por alguns não católicos.

A falsidade mais comum é a atribuição a Afonso Costa da frase «Em duas gerações Portugal terá eliminado completamente o catolicismo», que no entanto não terá sido por ele pronunciada, conforme provei num artigo anterior. Essa frase é geralmente citada em abono da tese de que a República «perseguiu» a ICAR. Convém notar, a este respeito, que a ICAR se diz perseguida sempre que se legisla num sentido divergente daquele que deseja. Por exemplo, aqui ao lado em Espanha e nos dias de hoje, a ICAR considera-se «perseguida» porque pessoas não católicas podem casar-se através de uma cerimónia não católica e eventualmente serem felizes de uma forma não católica porque homossexual. Em 1911, a ICAR sentiu-se igualmente «perseguida» por legislação que não a afectava directamente, como a lei do divórcio ou a lei da família.

Raramente aqueles que defendem a tese da «perseguição» à ICAR em 1910-26 são concretos quanto à substância dessa «perseguição». Uma das raras tentativas recentes que se encontra na blogo-esfera está num artigo do blogue Semíramis intitulado «5 de Outubro-As Origens». Aí, aponta-se o ter-se medido o crâneo aos jesuítas detidos como exemplo dos «extremos inverosímeis» da famosíssima «perseguição à Igreja Católica». Esconde-se que era esse o procedimento de rotina para todos os detidos, fossem quem fossem, e que nos dias de pólvora da revolução republicana se disparava e largavam bombas a partir dos conventos e contra a população republicana. Extremamente chocante é o total relativismo ético que a autora desse artigo evidencia quando afirma que o acto de medir o crâneo aos detidos jesuítas «não é diferente do que os “cientistas” nazis fizeram com os judeus», o que sugere que para conspurcar a República vale tudo, até comparar o assassinato de milhões de pessoas nas câmaras de gás e à bala com medições ao crâneo a algumas dezenas de jesuítas…

Deixando as congregações religiosas, afirma-se ainda no artigo referido e quanto à substância da «perseguição» à ICAR, que «O Estado passou, de facto, a administrar a Igreja, destruindo-lhe a hierarquia e privando-a de meios de subsistência». Há aqui uma falsidade óbvia, pois a Lei de Separação libertou o Estado da obrigação de «administrar» a dita Igreja, embora o Estado mantivesse a seu encargo a manutenção de muitos edifícios adstritos ao culto católico (o que ainda hoje acontece) e tivessem sido atribuídas pensões aos padres. No entanto, há uma parte de verdade: antes do 5 de Outubro, o clero católico português era um ramo do funcionalismo público e a ICAR era financiada pelo erário público, situação à qual a Lei de Separação veio pôr cobro (em parte!). Porém, não sei como se pode considerar que o Estado tem a obrigação de onerar os cidadãos com impostos a favor de estruturas eclesiásticas. As igrejas, na minha laica opinião, devem sustentar-se a si próprias. E em abono da verdade, diga-se que houve padres católicos que não apenas não consideraram a Lei de Separação como uma «perseguição» como a aceitaram na sua integridade.
Finalmente, seria útil deixar de contemplar a Lei de Separação exclusivamente a partir do ponto de vista dos interesses católicos: a outra religião activa em Portugal em 1910 não apenas saudou efusivamente a República que a vinha tirar da semi-clandestinidade, como considerou que a Lei de Separação ainda deixava a ICAR com muitos privilégios
14 de Outubro, 2005 Carlos Esperança

O Sínodo da ICAR

No Vaticano continua aquela orgia mística, em que participam 256 bispos e cardeais de 118 países, chamada sínodo.

Em três semanas de reclusão, sob o olhar indiferente de um Cristo com ar de passador de droga, rodeados de santos com aspecto demente e da Virgem parida e insatisfeita, 256 celibatários debitam trivialidades e convencimento. Têm a clientela a preservar, um livro estúpido a defender e rituais obsoletos a manter.

B16, guardião da fé e almocreve da tradição, pede a quadratura do círculo para que a atracção do circo se mantenha e o recrutamento de vendedores da fé se dinamize. Vão maus os tempos para quem não se adapta ao mercado.

Aparecem outros charlatães, mais ousados e divertidos, com músicas novas a tomar o lugar do cantochão, a coreografia e o bailado a substituir o ritual romano, milagres em directo e ao domicílio e a expulsão de demónios às mãos cheias.

Após três semanas de albergue e castidade, relatórios e orações, a massajar a próstata em cadeirões, persignando-se para esconjurar o demo, as 256 criaturas certificam que «nas sagradas espécies Jesus Cristo está real e substancialmente presente».

É a transubstanciação, um fenómeno alquímico que com farinha e água recria o corpo e o sangue de Jesus. E os beatos, convictos da endrómina, engolem a hóstia receosos de trincar um tendão, mastigar uma cartilagem, romper uma artéria, ferrar um canino no escroto ou triturarem uma víscera do divino JC com os molares.

Por tão pouco, foi desperdício a viagem ao Vaticano.

Claro que é sempre possível às excelências reverendíssimas levar numerário, trazer relíquias, e transformar pós da Colômbia em substâncias aromáticas para abastecer o turíbulo e disfarçar a alergia ao banho.

13 de Outubro, 2005 Palmira Silva

Prémio Nobel da Literatura

O prémio Nobel da literatura foi atribuído este ano a um professo e confesso ateu, Harold Pinter.

O Diário Ateísta aproveita o ensejo para recomendar a leitura da obra de Pinter, reconhecido internacionalmente como o dramaturgo mais complexo do pós-II Guerra Mundial, e, em conjunto com Samuel Beckett, um dos expoentes do teatro do absurdo.

Não obstante o anúncio por Pinter, um acérrimo crítico da guerra do Iraque, da sua decisão de abandonar a prosa em favor de um maior empenho em actividades políticas, aparentemente o «bichinho» da escrita não se alimenta apenas de poesia e Printer, para grande alegria dos fãs, nos quais se inclui esta vossa escriba, produziu um peça radiofónica transmitida pela BBC no seu 75º aniversário, na passada segunda-feira.

13 de Outubro, 2005 Ricardo Alves

Prisão por crime de blasfémia no Afeganistão

Mohaqiq Nasar, o chefe de redacção da revista afegã Hoqooq-i-Zan («Direitos das Mulheres») foi detido no dia 29 de Setembro sob a acusação de blasfémia. A detenção terá sido ordenada pelo conselheiro religioso do Presidente afegão (Hamid Karzai) e viola, aparentemente, as condições da lei de imprensa do Afeganistão.

O «crime» de Nasar consistiu em publicar, antes das eleições de 18 de Setembro, um artigo em que defendia alterações à lei penal do seu país, que pune a blasfémia com a morte, o adultério com o apedrejamento e o roubo com a mutilação das mãos (deve notar-se que a Constituição de 2004, redigida após a queda do regime talibã, exige a conformidade de todas as leis com a chária).

O caso está agora nas mãos do Tribunal Supremo do Afeganistão. Deve notar-se que este Tribunal é presidido por um clérigo fundamentalista que, em Agosto de 2003, condenou dois jornalistas à morte pelo crime de blasfémia.

(Fonte: boletim noticioso por correio electrónico da Rationalist International; a notícia do caso de 2003 pode ser lida aqui.)
12 de Outubro, 2005 Carlos Esperança

Todos os dias 13

Hoje, milhares de peregrinos regaram a fé e os ossos a caminho da Cova da Iria. O Deus pusilânime e mesquinho mandou a água que faltou nos incêndios, arruinou as culturas e secou as nascentes.

Muitos rosários e dores de pés acompanharam os devotos até ao lugar onde monsenhor Luciano Guerra aguarda o óbolo em géneros e numerário e um bispo ou cardeal prepara a missa e a bênção e aguarda a comissão.

Há 88 anos, em Maio, o Sol fez ali piruetas enquanto a Virgem, com cio, roída de saudades do Espírito Santo, saltitava de azinheira em azinheira à procura de um pastor faminto. Saíram-lhe três fedelhos embrutecidos pelo padre e pelos pais, cheios de fome e missas, a recordar-lhe as fraldas e o olhar reprovador do carpinteiro.

Apanhada naquele ermo com o manto de luz, e nada por baixo, mandou-lhes fazer o que sabiam, rezar o terço, pedir a conversão da Rússia e, para disfarçar, disse tonteiras: «é preciso consagrar o mundo ao meu imaculado coração», «a guerra vai acabar» e «Deus anda muito zangado», como se o mau humor fosse culpa das crianças.

Pobres peregrinos, levam preces e fé e apanham gripes e desenganos. Chegam cansados e regressam benzidos e mal pagos às fábricas falidas do vale do Ave e às pobres courelas de Entre Douro e Minho.

É assim todos os dias 13, mercados mensais da fé cuja feira anual tem lugar em Maio e é preparada com milhares de velas e rosas, centenas de padres e freiras, bispos, cardeais e outros parasitas da fé em retiro espiritual ou viagem de negócios, a prometer o Paraíso e a ameaçar com o Inferno.

Às vezes, de Roma, chega o Papa a abanar a tiara e a adejar os paramentos. É o delírio.

12 de Outubro, 2005 Palmira Silva

Pastor expulso de escola por praguejar

O reverendo Graham Taylor, ou G.P. Taylor, um autor de literatura infantil de algum sucesso, foi convidado a abandonar uma escola no sul de Inglaterra depois de ter usado linguagem menos própria numa palestra que, supostamente, deveria convencer a audiência dos benefícios da leitura.

Por uma qualquer razão que certamente não será despeito pelo facto de os livros de J.K. Rowling terem um sucesso que a série «Shadowmancer» de G.P. Taylor nunca conhecerá (só li o primeiro e não recomendo, bem pelo contrário) o piedoso pastor resolveu partilhar com as crianças a opinião que Harry Potter é homossexual, e que não seria o único na história de J.K. Rowling.

Os professores acharam não só que os termos em que o clérigo se tinha dirigido às crianças eram homofóbicos mas também que o vernáculo profusamente utilizado pelo pastor não era a linguagem mais aconselhada para alocuções a uma plateia de crianças de 12-13 anos. Este foi amavelmente convidado a interromper a palestra e deixar as instalações da escola, deixando os escandalizados professores a acalmar mais de uma centena de (muito) excitados pré-adolescentes!

11 de Outubro, 2005 Carlos Esperança

O latim está de volta

Quando refiro a morte de Deus os leitores facilmente descobrem que uso uma figura de estilo. Não morre o que nunca viveu, não desaparece o que não existe. Dizer que Zeus morreu ou que Vénus foi seduzida são metáforas.

De Deus nunca foi encontrado o cadáver, sentido o cheiro da decomposição, ou visto o mais leve despojo. Quantas relíquias a ICAR venderia a almas piedosas se a mais leve prova da sua existência fosse encontrada?!

Os crentes afligem-se com apelos lancinantes à paz e orações inúteis contra cataclismos que dilaceram a humanidade, reduzem cidades a escombros e matam milhões de pessoas que acreditam na bondade e protecção divinas.

E as dúvidas aumentam quando Bush revela que fala Com Deus e que as asneiras que faz não são da sua autoria mas da responsabilidade de quem considera Comandante do comandante-chefe das Forças Armadas do EUA.

De facto, por pior que seja, Bush não podia cometer tantos erros, provocar o caos, sem a ajuda de Deus que sempre teve propensão para escolher as piores companhias.

O sínodo que está reunido no Vaticano não deixará de avaliar o estado calamitoso em que se encontra o seu único produto – Deus -, a única fonte de rendimento e pretexto para o assalto ao poder em numerosos países.

As reverendíssimas criaturas chegaram à conclusão de que perderam a ligação a Deus.

Um cardeal que dormitava, após lauto almoço, admoestado por B16, terá dito que não dormia, pensava que Deus só sabia latim e, por isso, tinha deixado de ouvir os crentes.

Os cardeais, cansados das missas e de sínodo, deram-lhe razão. B16, retrógrado e hábil, aproveitou para enterrar o concílio Vaticano 2.º e pensa trazer de volta o latim às missas e a, pelo menos, uma oração.

Não interessa que os crentes não saibam o que dizem. O que é preciso é que Deus perceba.

11 de Outubro, 2005 Carlos Esperança

As relíquias da santa

Os restos mortais são na nossa cultura objecto de respeito mas não de idolatria. Ninguém guarda um pêlo púbico da defunta consorte, o parafuso do colo do fémur da inefável sogra, o osso de um progenitor ou a cartilagem de um irmão. Nem, de um parente chegado, a unha com que procedia à higiene auricular.

Só a ICAR, na mórbida contemplação da morte, é capaz de forrar uma capela com ossos humanos, como acontece em Évora, sem sabermos se todos eram de cadáveres. Só a macabra paranóia eclesiástica é capaz de passear um dedo de Francisco Xavier pelas paróquias da Beira Alta, como eu vi na adolescência, sem certificado de garantia nem autorização do Delegado de Saúde.

Em Itália vários santos prepúcios, atribuídos a Cristo, disputaram a autenticidade até que os padres decidiram que JC não podia ter abandonado o sepulcro e emigrado para o Céu sem uma parte do corpo, passando a excomunhão a ser aplicada a quem tivesse o arrojo de falar desse pedaço de pele que os judeus amputam ritualmente.

Não sei que partes do cadáver ou peças do vestuário recôndito da Teresinha de Ávila, uma santa a quem os delírios hormonais exacerbaram os místicos, vai o clero expor à concupiscência e veneração dos fiéis portugueses nos próximos dias 7 a 9 de Dezembro na Guarda, Covilhã e Seia.

Há neste delírio esquizofrénico da Igreja católica, nesta obsessão mórbida por relíquias, uma estranha forma de proselitismo do clero a roçar a necrofilia.

9 de Outubro, 2005 Palmira Silva

Parabéns!


Malalai Joya, a jovem delegada afegã da província Farah, perto da fronteira com o Irão, que fez furor há dois anos quando criticou duramente os líderes jihadi afegãos durante uma sessão do Loya Jirga (o Parlamento local) constitucional, foi eleita pela sua província natal nas eleições do passado dia 18 de Setembro. Os resultados oficiais das eleições só são esperados no final deste mês mas a eleição de Malalai está garantida.

Malalai, que inquiriu o Loya Jirga em Dezembro de 2003 porque razão tinham escolhido como líderes da comissão constitucional «aqueles criminosos que trouxeram tragédia ao povo afegão» e foi vaiada pelos delegados taliban que exigiram a sua expulsão, foi obrigada a fazer campanha eleitoral sob apertadas medidas de segurança já que foi alvo de ameaças de morte por parte dos fundamentalistas islâmicos.

A sua eleição, com uma votação expressiva tendo alcançado o segundo melhor resultado da sua província, é uma nota de esperança nestes tempos tão conturbados por fundamentalismos religiosos sortidos.