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Categoria: Ateísmo

20 de Julho, 2023 Onofre Varela

O Missódromo do Trancão

Texto de Onofre Varela previamente publicado na imprensa escrita.

Os jornais e noticiários de rádio e televisão não têm sido avaros em espaços informativos sobre a última polémica protagonizada pelo Governo, pela Igreja e pelas autarquias de Lisboa, Loures e Oeiras, relacionada com a Jornada Mundial da Juventude (JMJ) que acontecerá em Lisboa de 1 a 6 de Agosto.

É a “Festa do Avante da Igreja Católica” que, segundo a imprensa, deverá custar ao Estado cerca de 80 milhões de euros… mas com as derrapagens habituais naquilo que são as empreitadas para Governo e autarquias, não nos admiremos se o resultado final ultrapassar os 100 milhões… acrescentados, ainda, de outros 80 milhões suportados pela Igreja Católica.

Dizem os entendidos em constitucionalidade, que tal saída de dinheiros públicos dos cofres de uma República Laica para acudir a uma fé religiosa, não fere a Constituição… eu não tenho a mesma certeza… mas sei que fere o meu sentimento laico e a minha moral, e também sei que tal verba nunca seria oferecida às Testemunhas de Jeová para fazerem festa igual!

A construção foi adjudicada à construtora Mota-Engil por mais de quatro milhões de euros, o contrato está assinado, o tempo disponível para a construção é curto para emendas… e mesmo sendo possível fazê-las, ninguém acredita que a construtora vá querer facturar menos do que a verba contratualizada e já aprovada.

O Partido Comunista faz muito melhor e muito mais barato! Perguntem-lhe como se constrói a Festa do Avante que dura o mesmo tempo da JMJ e não se gasta nem uma pálida sombra dos euros que vão ser comidos no Missódromo do Trancão!

A obra consta de um palco com cinco níveis, considerando quatro sacristias e espaços específicos para bispos e cardeais, mais zona de orquestra e aposentos para o Papa e sua comitiva. No palco caberão duas mil pessoas… e para servir toda esta gente, não sei quantas dezenas de retretes vão ser construídas… com esgoto para o Trancão ou Tejo!

Para além deste espaço ainda se vão montar equipamentos nos parques Eduardo VII e da Boavista, Terreiro do Paço e Alameda D. Afonso Henriques.

Em Madrid, a JMJ de 2011 custou 50 milhões e nem um cêntimo saiu dos cofres do Estado, aproveitando-se o terreno de um aeródromo para o efeito. A nossa mania das grandezas, própria de um povo menor que passa fome mas quer mostrar que tem vida folgada, escolhe gastar à grande e à Vaticana!

Carlos Moedas, presidente da Câmara Municipal de Lisboa, exibindo o seu colar de autoridade medieval “deu o corpo às balas” garantindo que “nas nossas vidas não vamos ter evento com a mesma dimensão”… isto de o Papa chegar ao Trancão é mais importante do que a chegada de Pedro Álvares Cabral ao Brasil, de Vasco da Gama à Índia ou do Homem à Lua!

O Papa Francisco, com a sua reconhecida pobreza franciscana, estará envergonhadíssimo e só não mandará à fava tal evento por respeito à juventude entusiasmada com a viagem a Lisboa que os libertará do jugo dos papás durante uma semana.

O Papa Francisco não merecia tal vergonha… e se Jesus Cristo cá estivesse hoje, corria ao tabefe e a pontapé estes “vendilhões do Missódromo do Trancão”, cujos promotores (entenderia ele) não mereceriam mais do que umas valentes trancadas!

(O autor não obedece ao último Acordo Ortográfico)

OV

19 de Julho, 2023 João Monteiro

Futebol e Fé

Texto de Onofre Varela, previamente publicado na imprensa escrita.

Os meus amigos sabem da minha falta de interesse pelo Futebol, o qual, não me seduzindo como desporto, me preocupa enquanto fenómeno social de massas… tal como me preocupa a fé religiosa em demasia. Fé que também pode ser encontrada no Futebol, porque isto anda tudo ligado. 

Num dos últimos Campeonatos Europeus de Futebol, correu na imprensa uma foto de uma jovem, no meio da bancada de um estádio, com uma expressão de sofrimento e cara pintada de verde e rubro, agarrada a uma imagem da Senhora de Fátima envolta num cachecol da equipa de Portugal. Aquela jovem adepta de Futebol e de Fátima, não sabia o papel ridículo em que resultava aquela sua postura. 

Na verdade a jovem tentava interferir no resultado do jogo a seu contento, esperando que a imagem da santinha da sua perdição conseguisse, de Deus, o golo da vitória para o seu clube… prejudicando o outro com quem a equipa de Portugal disputava aquele campeonato!… 

É a velha história do “eu quero o melhor resultado para mim… o outro que se dane” … mas com ajuda divina! 

Este egoísmo é a característica forte de qualquer religião quando o interesse do crente é conseguir a entrada no céu depois de se finar. Para isso tem que comprar o ingresso celestial em vida e a prestações, ouvindo missas, tomando hóstias e depositando moedas nas ranhuras das caixas de esmola dos santinhos nos altares das igrejas, ou nas mãos dos gurus das seitas (mas estes não querem moedas… preferem notas, em forma de dízimo). 

Quanto ao respeito devido ao outro… isso é ficção!… A realidade do crente é a existência de Deus que pede o seu sacrifício personalizado na assistência de missas e no número de hóstias tomadas… o outro não existe!… Haverá excepções como em todas as regras… mas o que o crente típico quer é ter os seus interesses em recato! 

O católico (refiro o Catolicismo por ser a religião maioritária em Portugal e fazer parte da minha cultura. Não tenho nada contra a Religião Católica, até porque sendo ela a pedra basilar da sociedade que me formatou… ela sou eu… e eu sou ela… embora não alinhe na fé em Deus porque em criança me recusei a beber da taça religiosa até ao fim, e tive um pai republicano e anti-clerical que, secundado pela minha mãe, me soube transmitir valores reais em substituição de fantasias religiosas). 

Dizia eu que o católico tem, em Jesus Cristo, o expoente máximo dos ícones religiosos igualando-o a Maria. E esta pode, a todo o momento, tomar importância superior a Jesus, porque no contexto católico é importante adorar uma mulher sofredora e consensual. Maria não se meteu em lutas políticas, ao contrário do seu filho, o “Homem-Deus”, que militava num agrupamento de Esquerda… e se vivesse hoje até podia ser comunista!… 

Aliás, por aquilo que pode ser percebido nos registos cristãos, acredito que, se em vez de Palestino, Jesus Cristo fosse Sul-Americano e vivesse na década de 1960, tinha sido camarada de Fidel Castro e de Che Guevara, e seria assassinado a tiro numa selva da Bolívia em emboscada organizada pelos EUA… que o adora!

(O autor não obedece ao último Acordo Ortográfico) 

OV

14 de Julho, 2023 João Monteiro

AMOR DE DEUS ?!…

Texto de Onofre Varela, previamente publicado na imprensa escrita.

Os furacões e as secas são cada vez mais frequentes e com resultados mais trágicos.
As últimas notícias dando conta de tais calamidades, remeteram-me a memória para o ano de 1998, quando a América Central foi palco de uma desgraça que mobilizou o mundo numa onda solidária perante a destruição que o furacão “Mitch” operou na Nicarágua provocando 20.000 mortos, 11.000 feridos e três milhões de desalojados.

A hipotética solidariedade de um sacerdote católico de nome Santiago Martin, manifestou-se num texto que publicou no semanário madrileno ABC.

Sob o título “Deus é amor”, escreveu: “Aqui, nestas três palavras, nesta breve frase, se encerra e condensa o essencial da nossa fé. Deus existe e é amor. Deus existe e quere-te, a ti, pequeno ser humano, vítima de tantas precariedades e de tanta dor. Deus não te abandona nunca, ainda que os teus mais próximos o façam. E a prova principal dessa felicidade e desse amor divino é a encarnação do filho de Deus, sua morte na cruz e a ressurreição gloriosa”.

Que dizer deste naco de prosa?
Este discurso, proferido por um louco na paisagem desoladora da Nicarágua após a passagem do furacão, não passaria disso mesmo: o discurso de um louco!… Onde estava Deus com o seu carregamento de amor e de bondade, no momento em que o furacão varreu a Nicarágua?

Aos crentes foi ensinado que Deus comanda as forças da Natureza (e também por cá, no Alentejo, um dia se fez uma procissão com padre e tudo, e se rezou, para que chovesse!), e a própria Igreja o reafirmou pela boca do arcebispo de Caracas, Ignacio Velasco, quando trágicas inundações enlutaram a Venezuela em Dezembro de 1999, causando 15.000 mortos.

O arcebispo afirmou que “a tragédia que assola e enluta a Venezuela e os seus habitantes, é devida à ira de Deus que quer castigar a soberba do presidente Chávez”. (El País, 20/12/1999).

Religião, loucura e ódio misturam-se nestes discursos que, ao que me parece, são habituais na América Latina, onde a esmagadora maioria do povo é fanaticamente religiosa e a Igreja Católica colhe grande número de crentes.

Quando a Igreja diz que Deus é amor, talvez conviesse especificar que raio de amor ela refere. Deus surge a distribuir o seu amor do mesmo modo como os bombeiros o fazem, sempre depois de ocorrida a desgraça? Deus é um enfermeiro que coloca pensos nos espíritos feridos? Convenhamos que é pouco para esse deus que as religiões pintam com cores tão psicadélicas e anestesiantes.

Deus dá-me amor e quere-me?!… Quere-me como? Quere-me bem, segundo o humano conceito do que é estar-se bem, fruindo de uma vida consideravelmente feliz… ou quere-me morto, segundo o conceito católico da “bem-aventurança-além-túmulo”?

Como é que se pode explicar às vítimas do furacão Mitch (e às de qualquer outro cataclismo, como os recentes entre nós) que tudo aquilo aconteceu por um acto de amor de Deus que tanto nos quer, e que naquele dia, ao que parece, acordou com vontade de ser um mãos-largas!…

As religiões são comandadas por loucos visionários?!…

(O autor não obedece ao último Acordo Ortográfico)
OV

Imagem de 0fjd125gk87 por Pixabay
29 de Junho, 2023 João Monteiro

O Sudário e o corpo nele embrulhado

Texto de Onofre Varela, previamente publicado na imprensa escrita.

Provavelmente Lisboa irá receber uma exposição itinerante sobre o “Santo Sudário” e o corpo de Jesus Cristo que, hipoteticamente, o lençol mistificado teria embrulhado. 

Presumo que a mostra estará incluída nas atracções que farão parte do “programa de festas” de Lisboa em 2023, quando o papa Francisco I cá estiver fazendo parte do número de peregrinos que darão corpo à Jornada Mundial da Juventude, que será a “Festa do Avante” da Igreja Católica. 

A notícia deste evento, que foi divulgada pelo Jornal de Notícias (JN) na sua edição do dia 23/10/2022, começa muito mal ao usar o título “Ciência ajuda a recriar homem do Santo Sudário morto há dois mil anos”. 

E começa mal porque a jornalista redactora do texto não teve em linha de conta uma outra notícia que o JN publicou em 30/09/1988, segundo a qual o exame pelo método Carbono-14 a que o Sudário foi sujeito em 1986, garante que aquele lençol foi feito entre os séculos XIII e XIV… portanto não poderia ter embrulhado o corpo de Jesus Cristo falecido cerca de 1300 anos antes de o lençol ser tecido! 

O responsável da mostra pretende oferecer uma imagem tridimensional de um corpo que, segundo as suas palavras, “toda a comunidade científica e médica concorda que, neste pano, esteve envolto um homem torturado, com 250 marcas de flagelação em todo o corpo, hematomas e um corte de uma lança que lhe perfurou o pulmão”. 

Este discurso configura uma mentira de todo o tamanho! Nas manchas do sudário não é possível observar-se tanta coisa ao mesmo tempo nem nos é permitido garantir as 250 feridas e hematomas, nem a profundidade do golpe de uma lança no peito, e muito menos afirmar a perfuração de um pulmão… e ainda que aquele homem estava circuncidado, como na notícia se diz!…

Para além do mais a Ciência já provou que nas manchas do Sudário de Turim pode haver tudo… talvez óxido de ferro… mas não há sangue!… É o que afirmam os resultados de uma investigação de hematologia realizada ao sudário em 1978, divulgada pelo mesmo JN no dia 11/04/1978. 

A exposição tem um nome inglês, como é moda: The Mystery Man. O misterioso homem é uma escultura em latex que Álvaro Blanco, o comissário da exposição, é peremptório em afirmar na sua fé: “Eu não tenho dúvida de que estamos perante o corpo de Jesus Cristo”. 

Esta sua certeza contraria todos os estudos sérios já realizados ao Sudário e que eu divulgo no livro “O Homem Criou Deus” (Edium Editores, Dezembro de 2011 [esgotado]). E afirma mais… “que os pés e as mãos possuem vestígios de terra, tal como foi possível perceber pelos exames ao sudário”… o que também é mentira. 

Embora Blanco diga que aquele boneco não pretende ser realista, desde logo porque quem o fez não é artista, o bispo de Salamanca, José Luís Retana, terá dito: “cada detalhe, o tom de pele, os pelos dos braços… é impressionante, e convido todos para que possam vir contemplar”. 

Obviamente que a entrada para a exposição será paga… e os promotores esperam arrecadar boa receita. 

Milagres da fé! 

(O autor não obedece ao último Acordo Ortográfico) 

OV

6 de Junho, 2023 João Monteiro

Arte e Religião – 1ª parte

Texto de Onofre Varela, previamente publicado na imprensa.

Há cerca de 33.000 anos, numa região a Sudoeste do que hoje se conhece por Alemanha, alguém esculpiu num pedaço de marfim de um dente de mamute, uma imagem minúscula com 2,5 cm de altura, representando um homem com cabeça de leão. 

Nada se sabe das motivações que levaram à tarefa morosa de esculpir aquela figura, o que pediu grande dose de paciência e veia artística. Mas podemos imaginar que os nossos antepassados caçadores-recolectores, quando não conseguiam caçar, morriam à fome. 

A Religião tomou conta dos nossos cérebros nesses tão recuados tempos, porque o “Homo sapiens” é um ser religioso por excelência. Só um cérebro inteligente consegue criar ideias abstractas, estimular pensamentos e chegar à ideia da Arte, do Belo e de Deus (dos deuses). 

A criação de desenhos e esculturas podiam ter servido aos nossos avós cavernícolas para representarem deuses animistas para, com eles e com “o rudimento de fé” que já possuíamos, tentarem apaziguar as tempestades, os trovões, os raios e a queda da neve… mas também para conseguirem caça suficiente para alimentar a tribo. 

A invenção dos deuses acalmou as mentes inquietas e tornou o mundo menos hostil pela consciência que adquirimos de “estarmos protegidos” pelas divindades da nossa imaginação.

No mesmo padrão de pensamento, a Arte servia para darmos corpo aos nossos sentimentos religiosos. Arte e Religião sempre caminharam juntos no nosso longo percurso, desde os primeiros “sapiens” até aos nossos dias, com especial importância na Época Clássica.

Essa comunhão de sentimentos permitiu-nos uma produção tão importante e profícua no campo da arquitectura, da escultura, da pintura, da música, da dança e da literatura heróica. 

Devemos ter em conta que quando falamos do “Homo sapiens”, é de nós próprios que estamos a falar, e não daquele ser bruto que encontramos nos manuais escolares e nas enciclopédias. Esses “seres brutos” somos nós… apenas evoluímos na técnica!

Desde que criamos a escrita evoluímos na forma de a registar. Das placas de argila passamos para o papiro, deste para o pergaminho e depois para o papel. Hoje usamos o computador. Evoluímos na técnica e no conhecimento que acumulamos e transmitimos de geração em geração… mas quanto ao estatuto de Seres Humanos, somos os mesmos “seres brutos”, animais predadores, mas também sensíveis, como éramos outrora.

Possuímos o mesmo sistema nervoso dos nossos antepassados longínquos e, tal como eles, temos sentimentos. O que hoje nos separa dos homens das cavernas, é a mais valia da fruição dos conhecimentos acumulados pelas várias gerações, que fazem a nossa cultura e o nosso saber. 

Mas não tenhamos ilusões: a evolução é muito lenta. Hoje somos os mesmos “seres brutos” como testemunham os actos daqueles que, diariamente, tiram a vida a outros semelhantes por motivos fúteis, por ganância e pelo doentio sentimento pátrio que faz a incultura dos candidatos a imperador fora do tempo dos impérios, e sem a razão dos nossos ancestrais que matavam por sobrevivência na disputa de uma peça de caça.

Mas também temos a mais valia da Arte que nos aproximou da Religião, e vice-versa… como veremos na próxima semana.

(Continua)

(O autor não obedece ao último Acordo Ortográfico)
OV

26 de Dezembro, 2022 João Monteiro

Crimes sexuais na Igreja e o celibato

Texto de Onofre Varela, previamente publicado na imprensa.

Leio na imprensa (11 de Outubro de 2022) que a “Comissão Independente para o Estudo dos Abusos a Menores na Igreja” validou 424 testemunhos de abusos sexuais. O pedopsiquiatra Pedro Strecht, coordenador da Comissão, sublinhou que “o número de vítimas será muito maior”. Lembro-me de, há cerca de dois ou três anos, ouvir da boca de um representante da Igreja Católica a “justificação” de que os crimes de abuso sexual perpetrados por sacerdotes são muito inferiores aos mesmos crimes praticados em família (!?)… como que se tal afirmação fosse verdadeira e (mesmo sendo) configurasse uma desculpa para os crimes dos padres!… É uma tentativa desculpabilizadora que não fica nada bem a quem a faz, pois numa Igreja que se afirma representar um deus imensamente bondoso, todo amoroso e respeitador… um só caso de pedofilia seria estrondosamente trágico… quanto mais quatro centenas deles! Também Marcelo Rebelo de Sousa, um empedernido católico que um dia acordou presidente de uma República Laica, tem debitado demasiados discursos em favor da Igreja… o que, no rigor do seu papel (e no meu entender), deveria evitar… não o evitando, obrigou-se a um pedido de desculpas… do que não tinha necessidade.

No meu livro “O Peter Pan Não Existe – Reflexões de um Ateu” (Caminho, 2007) abordo a questão dos crimes sexuais na Igreja, considerando que o mal está “na castidade imposta aos sacerdotes”, o que se me afigura contra-natura e motivadora de atitudes sexuais criminosas. Um sacerdote (ou qualquer outra pessoa) pode ser casto e sentir-se bem recusando a prática de sexo, não se tornando num abusador sexual, quando tal recusa parte de si mesmo, da sua consciência e da sua vontade… o que não é o mesmo do que se obrigar à castidade para cumprir regras com origem fora de si, as quais lhe são impostas para poder seguir o sacerdócio, contrariando a sua realização sexual.

O celibato e o sexo eram assuntos a que a Igreja não dava importância até à Alta Idade Média. Era normal padres, bispos e papas terem filhos e várias concubinas, misturando prazer da carne com negócios e fé. Ambrósio, bispo de Milão entre os anos 373 e 397, pegando numa norma que exclui o casamento, saída do Concílio de Elvira do ano 306, lançou a discussão do celibato no seio da Igreja com a sua teoria: “O casamento é honroso, mas o celibato é-o ainda mais. Não é necessário evitar o que é bom, mas deve-se escolher o que é melhor”.

Setecentos anos depois de Ambrósio, o papa Gregório VII publicou a lei do celibato eclesial, causando bastante ira no seio da Igreja. Em consequência, milhares de sacerdotes abandonaram o sacerdócio optando pela vida conjugal que já praticavam. Foi preciso esperar mais 400 anos para que a imposição do celibato fosse aceite sem contestação visível e passasse a ser considerado uma condição normal no seio da instituição religiosa. Tratou-se de um “aceitar convencional”, apenas para contornar dificuldades… já que os sacerdotes praticavam a sua sexualidade de forma clandestina! Quando, no Concílio de Trento (realizado entre os anos 1545 e 1563) se confirmou o celibato sacerdotal, este já era encarado pacificamente… o que não quer dizer que fosse aceite.

Comparo esta atitude da Igreja com a “Lei Seca” dos EUA nas décadas de 1920 e 1930, que proibiu a fabricação e a venda de bebidas alcoólicas, promovendo um negócio clandestino por parte de vários criminosos, de entre os quais se destacou Al Capone. Esta espécie de “lei seca dos testículos sacerdotais” também conduziu ao crime, por contrariar a lei natural do uso do sexo, não só para procriar (o que é função puramente animal) mas também (e principalmente) pelo prazer que dá praticá-lo, pelo equilíbrio emocional e pela saúde mental que proporciona a quem usa o sexo de modo saudável e no respeito pela vontade da sua parceira ou do seu parceiro sexual. Quando a Igreja perceber que com as suas “fantasias fornicais” funciona contra todas as leis da Natureza e cria potenciais criminosos… a partir desse dia, o casamento será prática comum no sacerdócio católico tornando a Igreja numa instituição muito mais coerente, humana e saudável.

(O autor não obedece ao último Acordo Ortográfico)

OV

23 de Dezembro, 2022 João Monteiro

A confissão

Texto de Onofre Varela, previamente publicado na imprensa dividido em duas partes. Em baixo podem encontrar o texto completo.

Parte I:

Da minha meninice de escola primária, lembro que um dia fui levado em grupo para a igreja. Não sabia ao que ia. Dentro do templo formamos duas filas em frente de duas cadeiras de grande espaldar, onde se sentavam dois padres, um em cada lado da nave. Era a primeira vez que entrava numa igreja. Vi os meus colegas da frente das filas ajoelharem quando chegavam junto do padre. Entre eles havia uma troca de palavras, para mim imperceptíveis, e comecei a sentir-me inquieto. Não fazia ideia do que iria acontecer quando chegasse a minha vez. Sentia uma brasa no peito a queimar-me por dentro. Chegado o momento de ficar em frente do padre, fiz o que vira fazer. Ajoelhei e esperei o que viesse… sem fazer qualquer ideia do que poderia vir!

O padre, de queixo enfiado no peito, disse algo em tom de voz tão baixo, que não percebi. Ele usava barba e bigode que lhe tapava a boca impedindo-me de ler o movimento dos lábios. Mantive-me em silêncio a olhá-lo, siderado, sentindo o cheiro a naftalina que o seu hábito branco exalava.

Ele levantou a cabeça com lentidão e olhou-me. O coitado deve ter visto a expressão mais aparvalhada de toda a sua vida, e imagino que repetiu o que acabara de dizer e que dessa vez percebi:

– Diz a confissão. – Pedido estranho!… Não fazia ideia nenhuma do que ele queria que eu dissesse…

– Não sei. – Respondi, com a boca seca pelo nervosismo já transformado em pânico.

Nunca tinha experimentado aquilo, nem sabia o que haveria eu de confessar! Haveria algum acto praticado, do qual eu deveria desculpar-me àquele padre?!…

Senti que o dia, até aí solarengo, se transformou em tormenta. Invadia-me um negrume; não sabia o que era a confissão… e encontrava-me sozinho no mundo sem ter alguém que me pudesse socorrer na aflição que ali se abatia sobre mim.

Salvou-me o que o sacerdote disse logo a seguir:

– Então vai para casa aprender, e quando souberes volta cá.

Fez-se Sol na minha alma! Levantei-me rapidamente sentindo-me leve… e saí dali.

Nunca quis aprender a confissão, nem tive vontade de voltar a entrar numa igreja!…

Esta experiência de infância obriga-me a acrescentar algo mais ao discurso. Ela levou-me a pensar, já em idade adulta, na estratégia usada pela Igreja para prender a consciência das crianças mais tenrinhas ao credo católico, com a finalidade de acorrentar aquelas almas à fé. No meu caso particular essa estratégia funcionou ao contrário. Repeliu-me… soltou-me, em vez de me prender.

O que a minha consciência me disse desta experiência, relatarei na próxima edição, porque para esta já esgotei o espaço… 

(Continua)

Parte II:

Aquela estranha atitude do professor primário conduzir os alunos para a igreja com o intuito de as crianças se confessarem (“estranha atitude” digo eu, hoje. Na época era uma obrigação decretada pelo Estado Novo de Oliveira Salazar. Lembremos que estávamos em 1952) levou-me, muito mais tarde, já em idade de ter pensamento próprio, a este raciocínio:

Tenho dúvidas de que uma criança de oito anos entenda o que é a “confissão católica”. Provavelmente, nem uma boa parte dos adultos beatos que desferem punhadas no peito a entenderá.

Para existir uma confissão, no sentido de se obter um perdão, tem de, antecipadamente, existir um delito que justifique aquele acto de confidência (e pura fé) a um sacerdote. E depois, esta confissão do delito não o elimina… pois é necessário compensar a vítima que prejudicamos com a nossa acção delituosa. Essa função de julgamento, condenação, absolvição ou perdão, pertence aos tribunais… não à Igreja!

A função da Igreja no acto da confissão está a outro nível. Enquanto que a minha culpa é redimida após uma conversa com quem desrespeitei ou prejudiquei, sanando o conflito (ou é condenada por um tribunal que me leva a expiar com prisão ou multa, a falta que tive) a confissão católica remete o perdão da minha falta com alguém, para a responsabilidade de Deus!… Sinto-me perdoado pela divindade da minha crença… mas aquele a quem prejudiquei continua prejudicado sem ser ressarcido dos danos que lhe causei… porém, eu fico na maior leveza de consciência porque Deus me perdoou!…

Isto é, simplesmente, indecente!… É de um egoísmo extremo, premiando o prevaricador e esquecendo o prevaricado. Há na confissão católica uma atitude psicológica que será positiva para o faltoso, podendo este, eventualmente, emendar o erro e jamais voltar a cometê-lo (do que duvido)… mas o outro, aquele a quem o faltoso prejudicou, continua prejudicado.

Era este tipo de “confissão a Deus” que queriam de mim aos oito anos de idade, envolvendo-me, contra a minha vontade, num acto que eu desconhecia!… Acto puramente religioso, de fé, primitivo e sem nexo para quem tenha dois dedos de testa!… Era assim (e se calhar ainda é) que a Igreja pescava crentes para fornecer a sua lota. No meu caso partiu-se a linha e perdeu-se o anzol com o isco, pois não voltei à igreja!…

O sentimento de culpa que resulta de uma transgressão, só poderá ser anulado mediante uma reconciliação com o outro num processo de pacificação. Esta é a naturalidade da resolução de um conflito. Porém, se o transgressor for um crente na divindade, nessa tentativa de reconciliação entra um outro elemento estranho ao problema, já que a reconciliação envolve a relação com Deus!…

(Se você, leitor, é crente e se sente bem depois de ter confessado os seus maus actos a um sacerdote, pensando estar perdoado pelo deus da sua crença… óptimo. Isso é muito bom para si!… Mas não se esqueça de falar com quem prejudicou, apresentar-lhe as suas desculpas… e indemenizá-lo, se for caso disso. Está combinado?… Tome lá um abraço)

(O autor escreve sem obedecer ao último Acordo Ortográfico) 

OV

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21 de Dezembro, 2022 João Monteiro

Cirilo I e a Guerra de Putin

Texto de Onofre Varela, previamente publicado na imprensa.

No suplemento cultural “La Lectura” do jornal espanhol “El Mundo” (edição do último dia 23 de Setembro), leio uma entrevista que a escritora russa exilada em Berlim, Liudmila Ulítskaya, de 77 anos, deu à jornalista Marta Rebón. Acabada de ser premiada, Liudmila considera que o prémio “foi um raio de luz no estado de depressão que compartilho com muitos compatriotas”. A escritora diz que hoje muitos agentes culturais se perguntam “como pôde acontecer que a Rússia, que no período posterior à Segunda Guerra Mundial foi líder do movimento pela Paz no Mundo, se convertesse de repente no emblema da agressão, declarando guerra a um Estado vizinho sempre considerado como amigo e habitado por um povo irmão?!”. 

Confessa que as relações humanas lhe interessam muito mais do que as relações estatais e que é fiel a  “uma ideia que me acompanha desde os meus estudos de genética: toda a actividade cultural humana, desde os seus inícios, é de carácter global. E sob esse ponto de vista carece de entendimento relevante o modo como se construíram as relações entre a Rússia e a Europa”. Nesse sentido, a escritora considera que a guerra iniciada pelos seus compatriotas é um caso muito sério que “minou a nossa esperança de que a Rússia alcance, algum dia, um lugar digno entre o grupo dos estados respeitáveis”. 

Sobre as relações da Igreja Ortodoxa com o Kremlin, Liudmila considera que na Rússia a Igreja está ligada ao poder político, concluindo que “o Cristianismo oficial depende do Estado para obter dinheiro e todos os privilégios. Entristece-me ver que alguns hierarcas ortodoxos apoiam a guerra… mas é lógico”. 

Esta entrevista remeteu-me a memória para a tentativa de o Papa Francisco I chegar à fala com Putin, cerca de dois meses após a invasão da Ucrânia, mas sem sucesso. Porém, conseguiu falar com o Patriarca do Cristianismo Ortodoxo, Cirilo I, cuja conversa o Papa reportou a um jornalista italiano: “Falei com ele durante 40 minutos por tele-chamada. Nos primeiros 20 minutos, com uma lista na mão, ele leu todas as justificações para a guerra que Putin move contra a Ucrânia. Ouvi tudo e respondi que não entendia nada disso… que não somos clérigos de Estado e não podemos usar o discurso político, mas sim o de Jesus”. 

Cirilo está do lado do invasor e não só culpa o invadido… também afirma que o “Estado Russo é o legítimo líder do Ocidente”. O patriarca do Cristianismo Ortodoxo e chefe da Igreja Russa é amigo íntimo de Putin desde que este era agente da KGB. Tem um estilo de vida extravagante, colecciona relógios suíços de valor elevado (algumas peças atingem os 30.000 euros), possui uma frota de carros alemães topo de gama e mantém um magnífico palácio junto ao Mar Negro. 

Rematando este pequeno esboço da personalidade do dono da Igreja Russa, falta dizer que ele se afirma como “o grande imperador e herdeiro legítimo do Cristianismo do Império Romano e de toda a Cristandade”. Um pensamento caracteristicamente medieval, embora situado no século XXI, aliado a outro candidato a imperador arrancado da mesma medievalidade e sentado no trono do Kremlin!

(O autor não obedece ao último Acordo Ortográfico) 

OV

Imagem de Joachim Schnürle por Pixabay
19 de Dezembro, 2022 João Monteiro

Evolutivamente estamos na fase do tosco…

Texto de Onofre Varela, previamente publicado no jornal Alto Minho.

A “ideia de Deus” está em processo de depuração desde que foi criada pelo povo Sumério há cerca de 5000 anos, sendo depois exportada para o Egipto faraónico e para terras judaicas de Canaã. O processo desta depuração é longo e está longe de ser concluído… mas já evoluímos… estamos no processo do “deus único”! Um deus “single” inventado pelos homens do deserto (Hebreus) em substituição de uma colecção deles, porque o povo nómada que o criou não tinha sacola para transportar tantos deuses, nem pachorra, nem terreno, para erigir tantos templos, como tinham os seus vizinhos egípcios.

No final deste nosso caminho (que faz a História do Pensamento e nos conduziu ao abandono de um panteão, apurando um único deus) dispensaremos, também, o deus Jeová (Alá) criado pelos Hebreus, reciclado por Jesus Cristo e adoptado por Maomé, que sobrou da purga que o passar do tempo, pelo evoluir do Pensamento, fez ao panteão que gregos, romanos e egípcios herdaram da civilização mesopotâmica.

O sentimento da crença é um acto intelectual que está na linha da criação da Arte e do entendimento do belo. Só um ser inteligente reconhece o belo, produz Arte e cria deuses. Deus é uma criação intelectual… e nós só cremos porque sentimos necessidade de crer!…

Foi a nossa capacidade de raciocínio, a inteligência, a sensibilidade, o intelecto e o sentido estético, que nos levou à criação da Arte, ao entendimento do belo e à invenção de deuses.

E se esta faceta criativa que caracteriza o Ser Humano, faz de nós uns seres especiais, a verdade é que, quando em discordância com os nossos semelhantes, também somos capazes de adoptar comportamentos iguais aos de um qualquer animal predador, porque a nossa origem natural, enquanto animais, é a mesma!… Embora raciocinemos e adoremos o deus que criamos à nossa imagem e semelhança, deixamos, imensas vezes, a nossa sensibilidade tormentosa comandar-nos tomando conta da razão.

E por esse caminho, se bem virmos, até ficamos em patamares inferiores relativamente aos irracionais nossos companheiros de reino, porque enquanto que eles só guerreiam por alimento, por fêmea e pelo domínio do grupo, nós fazêmo-lo pelas mesmas três razões dos irracionais que consideramos inferiores, e ainda acrescentamos a lista, deixando-nos tomar por uma irracionalidade e uma cupidez com que cozinhamos más vizinhanças e inimizades… o que demonstra o pior da nossa condição animal. 

Esta nossa faceta que nos leva a fazer guerras, parece incongruente com a capacidade que temos de raciocinar e de sermos inteligentes… mas a verdade é que somos assim… somos muito mal acabados!…

(O autor não obedece ao último Acordo Ortográfico) 

OV

16 de Dezembro, 2022 João Monteiro

Agir em nome de deus

Texto de Onofre Varela, previamente publicado no jornal Alto Minho. A crónica inicial estava dividida em duas partes, que agora aqui replicamos em conjunto.

Parte I:

Peguei no livro “La fé explicada”, de Leo J. Trese (Patmos, Libros de Espiritualidad. Ediciones Rialp, Madrid, 2001. 20ª Edição) e fiquei preocupado com uma passagem do texto onde o autor dá conta do seu pensamento religioso, o qual, no mínimo, dá para preocupar qualquer alma, mesmo que essa alminha seja ateia… ou principalmente se o for. Resulta evidente que tal preocupação só é possível desde o momento em que o leitor se interroga sobre o que leu… se não se interrogar a preocupação não existe.

Depois de o autor nos afirmar que fomos criados por Deus, sem nos explicar nada sobre o processo criativo nem referir os materiais usados para conceber a obra que terminou nesta perfeita máquina pensante que somos todos nós, confronta-nos com esta inquietante pergunta: “Para que nos fez Deus?”.

A resposta dá-a ele mesmo logo a seguir, antes que nos afoguemos na dúvida: Deus fez-nos “para mostrar a sua bondade. Dado que Deus é um ser infinitamente perfeito, a principal causa pela qual faz algo deve ser uma razão infinitamente perfeita”.

Depreendemos, portanto, que Deus nos criou para poder demonstrar que é bondoso. Se nós não fossemos criados, Deus não teria a oportunidade de demonstrar a sua imensa bondade, porque a restante criação é composta por bestas… isto é, não são seres dotados de capacidades intelectuais que lhes permitam reconhecer e apreciar a excelsa bondade do Criador. Então devemos concluir que Deus nos criou para sua auto-satisfação?!… Para alimentar a sua vaidade de poder ser reconhecido como bondoso?!

Ora… sendo a vaidade um pecado, na óptica do mesmo Deus, ele começa por pecar na sua intenção de nos criar!… Mas, sendo Deus um ser “infinitamente perfeito”, então devemos concluir que a vaidade, afinal, é uma virtude divina!

O seu discurso continua com a demonstração da pequenez dos homens perante Deus, e afirma que fazer algo bem feito “é fazê-lo por Deus”.

Segundo este raciocínio de Leo J. Trese, quando alguém ajuda o próximo com a única intenção de ser útil, alheando-se de que aquilo que faz, só o faz por superior desígnio de Deus, o acto de ajudar não é perfeito, mesmo que tenha alimentado um faminto, salvo um náufrago e vestido um nu!

Se no mesmo momento de agir, o autor da acção não pensou que a sua atitude era exclusivamente tomada por excelsa vontade divina e em nome de Deus, não sei se o faminto se saciava, se o náufrago se salvava e se o nu se agasalhava!…

Esta é a conclusão que me foi possível atingir (talvez entre muitas outras conclusões possíveis) do discurso deste padre católico norte-americano que escreveu um “best-seller” que em 2001 já ia na vigésima edição… por isso, muitíssimo cotado na tribo católica… mas que lido por quem não alinha em certezas de fé, dá matéria para conclusões inquietantes, como veremos na próxima edição.

Parte II:

Pelo exposto no último artigo, podemos concluir que, sob o ponto de vista de Deus (a crer no padre católico norte-americano Leo J. Trese, autor do livro La fé explicada), ajudar o próximo sem a intenção reconhecidamente divina, fazê-lo apenas pelo mais elementar sentido de fraternidade para ajudar o outro quando ele precisa, não tem ponta de interesse nem réstia de valor. Deus alhear-se-à destas práticas solidárias, se elas não forem executadas, expressamente, em nome de Deus. Aquele que tem um comportamento cívico exemplar, bem pode ir às urtigas e deitar-se a afogar, porque não passa de uma autêntica nódoa se não tiver bem gravado na sua mente que só é exemplarmente cívico se as suas cívicas atitudes forem conscientemente tomadas em nome de Deus!

“Atitudes cívicas” é o meu modo de entender “algo bem feito”; o autor não se refere à qualidade da atitude… ele apenas diz: “Fazer algo bem feito, é fazê-lo em nome de Deus”. Esse algo por si referido não tem que coincidir com o meu conceito de “coisa bem feita”.

Então, sendo assim, podemos concluir que os activistas religiosos islâmicos, autores do desvio de dois aviões cheios de passageiros, que fizeram explodir contra as Torres Gémeas de Nova Iorque cheias de gente, porque o fizeram em nome de Deus, fizeram-no por uma razão infinitamente perfeita… (?!). Fica esclarecido que quem mata em nome de Deus, convencido de que é isso que Deus quer (mesmo sabendo-se que, por ser inexistente, Deus não quer, nem pode, coisíssima nenhuma… os homens é que querem e podem, e tanto são bons como maus em nome da inexistente divindade) porque assim interpretou as suas vontades bíblicas ou corânicas, não é louco nem terrorista assassino; apenas cumpre, e bem, pelos vistos, os superiores desígnios de Deus!

Bem sei que o discurso da prática do bem em nome de Deus não passa de um modo de prender as mentes dos crentes à divindade, impedindo os desvios nos actos de fé que alimentam as Igrejas e as seitas religiosas, fidelizando o crente.

Mas este “meu saber” é baseado no meu raciocínio humanista de ateu. Os crentes não raciocinam assim e bebem o discurso religioso como se fosse água da mais pura e cristalina, mesmo que esteja envenenada!…

Não fui além da página 16 na leitura da prosa do padre Trese (o livro tem 632 páginas) e vi, não só, justificados e abençoados todos os actos terroristas cometidos em nome de uma religião e de um deus, como ficava esboçada a ideia de que os semeadores do terror perpetrado em nome de Deus estão no caminho da beatificação!

Só um louco produz um discurso deste teor, e é demasiado comum ouvi-lo da boca de agentes religiosos que dominam o pensamento de um imenso número de crentes… e que, por isso mesmo, constitui um facto assustador!…

(O autor escreve sem obedecer ao último Acordo Ortográfico) 

OV