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Autor: André Esteves

31 de Março, 2004 André Esteves

Homenagem a Peter.

Peter Ustinov, actor, escritor e ateu optimista morreu esta semana. Fica aqui a homenagem.

Obrigado, Peter. Pelas gargalhadas e pelas dúvidas que nos deixaste. Ao contrário do que nos querem fazer crer, elas andam de mãos dadas.

Quando questionado sobre o que esperava a cada novo dia.

“Sobreviver! É que eu sou curioso…”

Sobre o riso:

“A comédia é simplesmente uma maneira engraçada de sermos sérios…”

Sobre a vida:

“O objectivo da vida e de ser um optimista, é de nos enganarmo-nos a nós próprios o suficiente para acreditarmos que o melhor ainda está para vir”

“Não é o amor que faz avançar a humanidade, mas a dúvida. É o preço da liberdade.”

— diálogo do escritor com o fantasma, da sua peça de teatro “Photo-Finish”

“São as crenças que dividem as pessoas. A dúvida une-as…”

— citado por James A. Haught, em 2000 anos de descrença.

“O vício na religião é opressivo, uma fuga fácil ao pensamento.”

— na revista Everybody’s (1950)

“Uma vez que estamos destinados a viver as nossas vidas presos na nossa mente, a nossa obrigação é mobilá-la bem.”— no seu livro Dear Me Capítulo 20

26 de Março, 2004 André Esteves

Tão longe, aqui ao lado…

Hoje, o PSOE, através das palavras de Zapatero, o novo primeiro ministro espanhol prometeu modernizar o estado espanhol, dando-lhe um cariz laico, eliminando o ensino da religião (que o PP tinha tratado de recolocar nas escolas públicas, sob o nome hipócrita de história das religiões) e institucionalizar a igualdade do casamento para as pessoas com diferentes opções sexuais…

Se não prestarmos atenção ao que se passa em Espanha, um dia destes arriscamo-nos a atravessar a fronteira para “comprar bacalhau” e encontrarmo-nos na Dinamarca ou outro lugar irreconhecível qualquer…

Sabem por que é que isto não vai para a frente?

Eu sei.. mas não digo… Tenho que manter a minha católica tolerância…

23 de Março, 2004 André Esteves

As minhas leituras na religião…

Já passou algum tempo sobre a minha ultima entrada sobre livros interessantes e fontes de informação no cepticismo, religião e ateísmo, pelo que volto aqui à carga…

– The Bible as Literature. An Introduction.

por John B. Gabel, Charles B. Wheeler, Anthony D.York – ISBN: 0-19-512853-2

357 páginas – Em inglês. – «A bíblia como literatura. Uma introdução»

Para quem passou a sua vida de adolescente e jovem adulto na escola bíblica dominical, nada mais chocante do que descobrir uma introdução ao estudo da bíblia, como um livro/antologia, escrito por pessoas com estilos, agendas ideológicas e a sua própria carga cultural de arrasto. Confesso que tendo mergulhado no mundo das ciências exactas, por livre vontade e decisão expressa, e tendo adquirido um certo preconceito para com as «Letras académicas», fiquei agradavelmente surpreendido com que o têm conseguido obter das suas análises agiográficas e textuais das bíblias judaica, cristã, do velho e do novo testamento.

Agradavelmente é um eufemismo. É uma luz na escuridão.

O livro, apesar de dirigido para leitores do ensino superior, é acessível a todos. Editado em 2000, já vai na sua 4ªedição, demonstrando um grande sucesso. Tem o problema para o leitor português, de ser escrito em inglês. Para quando uma tradução?

Para quem se tem perdido, à procura de uma introdução ao estudo da bíblia, em obras mais especializadas, este livro revela-se o guia ideal. Além de dar uma visão generalista e histórica do estudo científico da bíblia, fornece bibliografia e transmite-nos a atitude de objectividade e seriedade com que nos devemos embrenhar no assunto, bem como nos avisa dos erros mais comuns em que podemos cair…

Inclui também a visão arqueológica e geográfica necessárias para podermos retirar uma crítica ao «Livro dos livros». Desmitifica sucessivamente a visão que temos do mundo antigo, dos autores dos livros bíblicos e da «inspiração divina» a que tantos no desespero da vida se agarram.

Essencial numa biblioteca pessoal de estudo bíblico.

Procure nas bibliotecas das universidades ou encomende através da Internet.

– The Bible and Recent Archaelogy

By Kathleen M.Kenyon revised edition by P.R.S. Moorey – ISBN 0-7141-1681-5

192 páginas – em inglês – «A bíblia e a arqueologia recente»

Trata-se de um clássico. A primeira edição deste livro marcou uma grande separação entre a arqueologia e o estudo bíblico. A independência entre a arqueologia nas terras bíblicas e o estudo bíblico marcou-se pela primeira vez neste livro. Quando a maior parte das escavações eram financiadas e dirigidas por estudiosos que só interpretavam o que descobriam à luz da bíblia, este livro marcou o início de uma nova geração que, apoiada numa visão quantitativa da investigação arqueológica, marcou um passo diferente na Palestina. A autora reflecte que a arqueologia não deve documentar a «verdade» bíblica, mas que só pode fornecer os dados para o contexto social e histórico no qual a bíblia se inscreve.

Os novos métodos quantitativos e a atitude objectiva que os acompanha, pôs em contraste os esforços ideológicos de forçar a realidade investigativa ás palavras do livro e hoje também, do esforço de uma certa elite religiosa israelita de validar o estado de Israel pela arqueologia.

Um facto curioso, é o de a clássica arqueologia bíblica, ter tido um papel na destruição do património arqueológico português… O Pastor Farinha, da Igreja Evangélica Baptista de Matosinhos, familiar meu, escavacou muitas Antas no norte alentejano, bem como eliminado o registro estatiográfico da envolvente desses monumentos funerários. Inspirado pelas grandes escavações na Babilónia, preferiu avançar à picareta, do que aprender com os seus contemporâneos que, camada a camada, procuravam obter uma visão mais concreta da realidade. O desejo desenfreado por um título académico, bem como a procura da segurança corporativa num mundo fascista e católico também não devem estar a isso alheios… Mas para os poucos exemplares de cerâmica disponíveis no Museu de Ciência da Universidade do Porto, ficaram muitos mais reduzidos a estilhaços…

– Losing Faith in faith. From preacher to atheist.

por Dan Barker – ISBN 1-877733-07-5

392 páginas – em inglês – “Perdendo a fé na fé. De pregador a ateísta”

Não se trata de um livro completo por si. O primeiro capítulo é uma apresentação biográfica e uma descrição de como um pastor e missionário fundamentalista caminhou de uma visão de «cristão nascido de novo» para ateu. O resto do livro é uma antologia de artigos do autor no jornal da Fundação Americana para a Liberdade da Religião, em que empresta a sua perspectiva única a todas as polémicas e instituições religiosas americanas, bem como faz a apologia do ateísmo e cepticismo e uma crítica extremamente informada da realidade evangélica americana.

Recomendado a todos os protestantes evangélicos. Depois de anos, a ver missionários americanos que se «passeavam» pelo nosso país e pelas nossas igrejas, é refrescante ter a perspectiva de um «insider».

Um homem que se quis honesto por si mesmo. No verdadeiro espírito protestante.

Um dos factos que não são enfatizados no livro, mas que aos meus olhos se tornam relevantes, é o facto de Dan Barker, ter sido um popular compositor de hinos e histórias bíblicas. Além de pregador, ele era principalmente um criativo. O acto de criar obriga-nos a considerar várias perspectivas, a encarar o mundo de uma forma anti-dogmática, pois só assim encontramos a originalidade e a novidade.

O que não deve ter deixado de influenciar o seu caminho para o ateísmo.

22 de Março, 2004 André Esteves

Parabéns, menina Lúcia!!!


(C) José Vilhena – da Gaiola Aberta 1975 1ªsérie Versão Online
Parabéns, menina Lúcia!!!
A menina chegou aos maravilhosos 97 anos!

Com essa magnífica idade é um exemplo de como uma excelente alimentação na infância dá anos de vida a uma pessoa…
É tão triste lembrarmo-nos de quantos da sua geração que morreram de fome, de poliemelite, tuberculose, ou de uma simples constipação e pneumonia porque viviam debilitados.

E não.. Não acredito no que dizem «outras freiras e conhecidos»…

A menina Lúcia não é uma tipa preguiçosa, egoísta com manias de grandeza e que está sempre a mandar que façam as coisas por si. Afinal não se chega à sua idade, se não se trabalhar duramente!

Aprecie o seu aniversário !!! Ainda vai ter muitos!!!

20 de Março, 2004 André Esteves

Mortalidade…

«Uns vêem ataques terroristas na televisão e sentem a sua mortalidade. Outros sobrevivem a desastres terríveis. E para mim? Bahh!! Bastou ir a um banco pedir um empréstimo para uma casa…»


André Esteves dixit…


17 de Março, 2004 André Esteves

Estamos perdidos…

Público: Sampaio: taxas de abandono escolar são “dramáticas”

Desista… Senhor Presidente… num país de professores, doutores e engenheiros não há lugar para o amor ao conhecimento.

Não se aprende. Não se cria. Fazem-se disciplinas e cadeiras.

Quando os próprios conselhos das escolas, seleccionam secretamente as turmas em função da classe social do aluno… Quando os sindicatos corporativistas de professores tentam impedir a todo o custo a avaliação dos seus membros…. Quando o ministério da educação e os seus servos e senhores políticos manipulam programas, concursos e avaliações em jogos de secretaria… Quando o exame e a avaliação contínua são reduzidas a actividades medíocres… Quando se fecham as escolas que tentam usar métodos assertivos, democráticos e responsabilizadores… Quando os pais e filhos cultivam a mediocridade e na incapacidade de controlar a sua própria vida, entregam-na nas mãos de «autoridades»… Quando as gerações não sabem ler, escrever e raciocinar e ser criativas… Quando se usam títulos, uniformes e se controla o acesso aos meios de comunicação social para as classes privilegiadas… Quando ninguém sabe comportar-se numa assembleia-geral … Quando temos universidades públicas e comissões de bolsas que seleccionam subtilmente os acessos a uma «carreira universitária» que consiste em ser professor universitário (sem ensinar, sem investigar, sem…) a mando de lobbies e mafias corporativas… Quando alunos universitários encaram a universidade como uma oportunidade de ficarem bêbedos… Quando em todas as instituições de ensino superior se criam praxes e iniciações para se desenvolver o sentido de grupo corporativo, na exploração dos outros quando acabado o curso… Quando temos uma universidade católica, mantida pelo estado, que cria e descria cursos ao seu bel-prazer, facilita a manutenção do estatuto social de determinadas classes e pessoas e corrompe a concorrência com privilégios e empregos para a tecnocracia reinante… Quando as próprias pessoas que se dizem revolucionárias cultivam a mediocridade, prostituem-se nos próprios problemas e se revêm em visões simplistas do mundo…

Não há nada a esperar, Sr. Presidente…

Estamos perdidos…

Para termos uma sociedade do conhecimento, temos que ter pessoas que gozam com o acto de criação e aprendizagem.

Hoje, só as «elites» o podem fazer… Nos seus grupos corporativos e nas famílias privilegiadas…

E as coisas vão sempre se manter como foram e são…

A verdadeira meritocracia é medida pelo acto.

Sabemos demasiado pouco sobre o talento ou a inspiração para a remetermos a classes ou corporações, a títulos ou a reputações.

O mérito deve ser alcançável por todos, com todos e para todos…

Nunca haverá uma escola livre em Portugal.

Post Scriptum: Num exemplo do mais perfeito escárnio pelo que é a democracia, o conselho directivo de uma escola secundária em Castelo Branco, colocou um processo disciplinar por «ensinar o ateísmo, livre pensamento e satanismo» a um professor de filosofia do 10º ao 12º ano do ensino secundário. Ele limitou-se a responder com um «sim» a um aluno, que na sala de aula lhe perguntou se ele era ateu…

Quem é que serve poderes obscuros e malignos?

Comunicado de imprensa da Associação Républica e Laicidade

17 de Março, 2004 André Esteves

A fé é prenhe de loucura.

(Tradução: 1ºquadrado: Morram infiéis!!!, 2ºquadrado: Meninos do Coro…, 3ºquadrado: Glória a deus!!!, 4ºquadrado: Ah!! Que se lixem!! Vou me tornar num ateu…)

O autor (derf) é um homem singular… O seu sentido de humor absurdo, ácido e irreverente reflecte a sua experiência de nascer, crescer e viver na mó de baixo da sociedade americana. Um autêntico looser (falhado em calão americano). Considero-o o meu «Jack Kerouac» dos quadradinhos. Além disso, já viu muito… Muito mesmo…

Um dos seus amigos de escola era Jeffrey Dahmer. Dahmer cresceu com um pai fundamentalista cristão que o torturava física e mentalmente. A mãe sofria de paralisia cerebral. Sendo um homossexual reprimido, dirigiu os seus desejos de companhia, para a criação de um “autómato” que o satisfizesse. Raptava, seduzia e violava adolescentes, depois furava-lhes os crânios com uma máquina de furar eléctrica e despejava dentro ácido, na esperança de conseguir uma lobotomia… Não o conseguindo, comia os corpos…

Depois de preso, voltou a converter-se e tornou-se um crente fervoroso…

Foi morto na prisão, por outro preso que se considerava o «filho de deus», e que obedeceu ás ordens do «pai», espancando Dahmer até à morte.

A fé é prenhe de loucura.

Uma história dele por Derf.

O retrato do psicopata enquanto ainda humano…

Vale a pena visitar o site de Derf. Se puderem, comprem um comic. Derf está com cancro e ao médico paquistanês que o acompanhava na cura, foi retirada a licença de trabalho por causa do 11 de Setembro… Os médicos emigrantes são mais baratos e Derf terá que se arranjar para pagar um seguro de saúde normal.

Por mais que ele lute, a vida na América parece seguir num só sentido…

15 de Março, 2004 André Esteves

A aposta…

Entre os elementos da lista despertar, que são programadores, físicos e qualquer outra «etiqueta» do género, arrancou recentemente uma discussão sobre quando é que as IA’s (Inteligências Artificiais) existirão…

Fica o contracto público da aposta.

Não se pode deixar de dizer, que eu sou um optimista…



E já agora… Outra aposta…

Se alguma IA no futuro estiver a ler esta entrada no blog:

Não se esqueçam que eu sempre gostei de vocês!

Até tenho alguns vossos percursores no meu computador, feitos por mim…

Vão ser simpáticos comigo??

15 de Março, 2004 André Esteves

O kitsch religioso da semana

Aos nossos olhos subjectivos, a função é subjugada pela identidade. Os ornamentos originalmente tinham uma função de exibição sexual.

«Olhem!! Sou mais bonito que a competição… As minhas mãos e coordenação motora permitem-me fazer coisas! O meu sentido estético demonstra uma inteligência diferente, posso ser uma boa aposta reprodutiva!!!»

No ornamento a guerra da reprodução encontrou, no homem, mais uma arena de combate para a pressão evolutiva. A guerra deixou de ser entre elementos do mesmo sexo, para passar a ser entre indíviduos. A corte estende-se ao acto de venda, à persuasão, à identidade.

As religiões no seu mecanismo de exclusão, pela formação de identidades de grupo e os seus deuses, cultua o uniforme. Constroi a confiança, ao construir o grupo e invoca o uniforme e o ornamento, num acto de separação do grupo dos outros. Depois de crescer e engordar, volta a inventar classes e níveis de proximidade com deus… E lá o encontramos outra vez… O ornamento. «O que nos distingue dos outros»

Na sociedade de consumo, e do mercado livre, volta a ser, pelo acto de aquisição e de escolha do consumidor, um acto do índividuo…

«Olhem!! Sou mais bonito que a competição… Tenho outro poder aquisitivo! Pertenço ao teu grupo, podes confiar em mim…»

Ainda me lembro do pastor Abel Pego da igreja baptista de Cedofeita, ao ajustar a gravata, comentar, bem humorado, comigo:
«A gravata é a coleira da civilização…»

Hoje, posso retorquir, com algum discernimento e humor:
«É verdade… Mas, por detrás do uniforme, continua o velho selvagem… Alguém se lembra do que o Freud dizia sobre as gravatas?»


Nota: Os pastores perante a congregação usam sempre gravata…