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O kitsch religioso da semana

Aos nossos olhos subjectivos, a função é subjugada pela identidade. Os ornamentos originalmente tinham uma função de exibição sexual.

«Olhem!! Sou mais bonito que a competição… As minhas mãos e coordenação motora permitem-me fazer coisas! O meu sentido estético demonstra uma inteligência diferente, posso ser uma boa aposta reprodutiva!!!»

No ornamento a guerra da reprodução encontrou, no homem, mais uma arena de combate para a pressão evolutiva. A guerra deixou de ser entre elementos do mesmo sexo, para passar a ser entre indíviduos. A corte estende-se ao acto de venda, à persuasão, à identidade.

As religiões no seu mecanismo de exclusão, pela formação de identidades de grupo e os seus deuses, cultua o uniforme. Constroi a confiança, ao construir o grupo e invoca o uniforme e o ornamento, num acto de separação do grupo dos outros. Depois de crescer e engordar, volta a inventar classes e níveis de proximidade com deus… E lá o encontramos outra vez… O ornamento. «O que nos distingue dos outros»

Na sociedade de consumo, e do mercado livre, volta a ser, pelo acto de aquisição e de escolha do consumidor, um acto do índividuo…

«Olhem!! Sou mais bonito que a competição… Tenho outro poder aquisitivo! Pertenço ao teu grupo, podes confiar em mim…»

Ainda me lembro do pastor Abel Pego da igreja baptista de Cedofeita, ao ajustar a gravata, comentar, bem humorado, comigo:
«A gravata é a coleira da civilização…»

Hoje, posso retorquir, com algum discernimento e humor:
«É verdade… Mas, por detrás do uniforme, continua o velho selvagem… Alguém se lembra do que o Freud dizia sobre as gravatas?»


Nota: Os pastores perante a congregação usam sempre gravata…