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Mês: Abril 2018

14 de Abril, 2018 Carlos Esperança

Crer e saber

Por

ONOFRE VARELA (Gazeta Ateísta)

O Homem é um animal dotado de inteligência, o que o torna superior aos restantes animais seus companheiros da vida na Terra. Por isso mesmo é, também, um ser religioso por excelência, cuja característica de animal inteligente o levou à criação dos conceitos do belo, do sagrado e dos deuses, e à consequente prática de cultos religiosos. A Igreja pretende ser proprietária do conceito de Deus – sobre o qual se erigiram civilizações – mas, na verdade, do mesmo modo como a Língua que falamos é propriedade nossa, também o conceito de Deus a todos pertence, independentemente de seguirmos, ou não, uma religião, porque o conceito dos deuses é uma invenção da espécie Homo sapiens sapiens. Nessa pretensão de posse, a Igreja Católica já perseguiu e puniu com tortura e morte quem se atreveu a abordar a divindade fora do âmbito da sua fé, e o Islamismo extremista ainda hoje mata em atentados terroristas praticados em nome de Deus com os assassinos a gritarem “Allahu akbar” (Alá é grande). No século XXI voltamos à barbárie, desta vez refinada, que os mais bem intencionados de nós já tinham arrumado nas prateleiras da História mais macabra e longínqua.

Crer em Deus não é o mesmo que saber sobre Deus. O saber precisa de conhecimento, obrigando à constante renovação das ideias, sem o que, o verdadeiro saber não existe. A par disto há a considerar que o saber é lento, frio e racional. A crença, não! A crença é emotiva, ferve em pouca água e, por vezes, provoca danos irreversíveis. Na crença afirma-se sem se saber, com a mente aquecida pela emoção cega. O crente não sabe, de saber certo, aquilo que afirma saber, porque crer não é saber. Por muito que o leitor creia que o comboio parte ao meio-dia, vai perdê-lo se não souber que ele parte às dez horas da manhã! A crença rejeita a dúvida e afirma a certeza na fé.

O saber obriga à constante investigação e abertura ao que é duvidoso, novo e contraditório. Sem esta atitude de curiosidade e humildade, podemos ser crentes… mas nunca seremos sabedores. Em tudo, na vida, por uma questão de honestidade para connosco e com os outros, e até para que cada um sinta segurança no seu próprio raciocínio, é indubitavelmente preferível que se saiba, do que se creia.

Há que dizer que as religiões também são “modos de saber”, no sentido emocional da crença. Isto é: quando “eu sei que Deus existe porque o sinto”, adquiro um “saber” que ninguém destruirá, pois o meu sentimento mais profundo me diz estar a verdade do meu lado. É este “saber” que faz a “razão” dos crentes… embora não seja saber, nem razão, na verdadeira acepção dos termos, porque não pode ser aferido pelo saber das ciências, nem pela razão filosófica enquanto forma de chegar a conclusões reais, porque estas são contrárias àqueles saberes que não passam da imaginação que a fé alimenta. É este “saber religioso” que constrói fundamentalistas. E alguns deles… até são criminosos!

(O autor não obedece ao último Acordo Ortográfico)

13 de Abril, 2018 Luís Grave Rodrigues

Amen!

12 de Abril, 2018 Carlos Esperança

Todos somos ateus

Não há a mais leve suspeita ou o menor indício de que Deus exista, nem qualquer sinal de vida da parte dele. No entanto, o ónus da prova cabe a quem afirma a sua existência e, sobretudo, a quem vive disso.

Cada religião considera falsas todas as outras e o deus de cada uma delas, afirmação em que certamente todas têm razão. Os ateus só consideram falsa uma religião mais e mais um deus, o que, no fundo, faz de todos ateus. E não é no sentido grego, em que ateu era o que acreditava nos deuses de uma cidade diferente, é no sentido comum da negação de Deus [com maiúscula para o deus abraâmico] ou de qualquer outro.

Todos somos hoje ateus em relação a Zeus, Osíris ou ao Boi Ápis, como amanhã outros serão em relação a Vishnu, Shiva e Brahma ou ao Pai, Filho e Espírito Santo da trindade cristã. Os deuses de hoje serão os mitos do futuro. Outros serão criados, por necessidade psicológica, para servirem de explicação, por defeito, a todas as dúvidas, e de lenitivo a todos os medos.

A morte, a angústia que desperta, o fim biológico de todos os seres vivos, é o maior dos medos. Deus é o mito bebido no berço, a esperança de outra vida para além da morte, a boia dos náufragos que se habituaram a acreditar desde crianças e se conformaram com a pueril explicação da catequese e se intimidaram com a dúvida. Os constrangimentos sociais ou/e a repressão violenta ao livre-pensamento tem perpetuado mitos milenares.

A crença, em si, não é um perigo nem ameaça, perigoso é o proselitismo, essa demência de quem não se contenta em ter um deus para si e exige que os outros também o adotem e o adorem. A vontade evangelizadora transforma as religiões em detonadoras do ódio e a competição entre elas em rastilho da violência.

A fé, vivida por cada um, é inócua; transformada em veículo coletivo de conquista ou aglutinação de povos, torna-se um instrumento de violência. É por isso que os Estados devem ser neutros, em matéria religiosa, para poderem garantir a liberdade de todos.

11 de Abril, 2018 Carlos Esperança

Macron traiu a laicidade

União das Famílias Laicas (que publicou estes desenhos), o Grande Oriente Francês (GOF) e a Associação Internacional do Livre Pensamento (AILP), de cujo Conselho Internacional tenho a honra de ser membro, repudiaram a participação do PR francês na reunião da Conferência Episcopal Francesa e a sua insólita declaração de querer, ao arrepio da Constituição, estabelecer ligações com as Igrejas.

Quando se trai a laicidade, abre-se a porta à sacristia e quebra-se a neutralidade do Estado.

«L’État chez lui, l’Église chez elle»

(Victor Hugo, 14 de janeiro der 1850, no Parlamento)

10 de Abril, 2018 Carlos Esperança

França – O ataque à laicidade está em curso

Macron é, depois de 1905 o primeiro traidor à separação da Igreja e do Estado.

Pode julgar que salva a alma (seja isso o que for), mas compromete a laicidade que é um paradigma da democracia e de que a lei francesa é o mais eloquente exemplo.

Vale a pena ver como se trai a República.

9 de Abril, 2018 Carlos Esperança

HUMOR

Na Escola

            – Artur, do que tens mais medo?

            – Do Mala-men.

            – Quem é o Mala-men?

            – Não sei, mas quando a minha mãe reza acaba sempre com “Não nos deixais cair em tentação e livrai-nos do Mala-men.”

 

In Caderno das Piadas Secas)

7 de Abril, 2018 Carlos Esperança

Igreja católica – E pur si muove

Só no início da década de sessenta do séc. XX, durante o Concílio Vaticano II, com João XXIII, a Igreja católica admitiu pela primeira vez o direito à liberdade religiosa. Desde então, pode ter perdido em coesão o que ganhou em humanidade.

A polissemia do catolicismo é um dos aspetos mais fascinantes da crença que se esforça por ser tolerante e procura a modernidade, numa saudável tentativa de conciliar a fé, que respeita apenas aos crentes, com a cidadania e os direitos humanos, que são de todos.

É certamente nesta diversidade que vai desde o trogloditismo da República das Filipinas ou de Salvador, até ao arejamento do atual pontificado, contra a Cúria, sem cura, que o catolicismo se torna a mais tolerante das crenças e uma aliada da paz.

A diocese de Viseu é um bom exemplo. Depois do 25 de Abril, foi a mais firme reserva do salazarismo, destacando-se de 1988 a 2004 o bispo António Ramos Monteiro, sólido primata paramentado, que rugia contra os políticos e demonizava a democracia.

Desde 2006, é titular o bispo Ilídio Pinto Leandro, democrata e humanista. Em janeiro de 2007, declarou que votaria SIM se o que estivesse em causa no referendo de 11 de fevereiro fosse a despenalização da mulher que pratica o aborto; em março de 2009 defendeu o divórcio nos casamentos em que um dos cônjuges é vítima de violência doméstica, num debate sobre o tema, realizado em Viseu. Foi também um defensor do preservativo para casais em que um cônjuge tivesse sida.

Ontem, 6 de abril, li no DN: «Bispo autoriza padre que assumiu paternidade a continuar a exercer». É o mesmo bispo, em relação ao pároco de Santa Cruz da Trapa, que foi pai há três semanas e que os paroquianos aceitam com a normalidade de que são feitos os afetos e a procriação.

Entre o honesto e corajoso bispo de Viseu, Ilídio Pinto Leandro, e o bispo de Lisboa, vai a distância que percorre o catolicismo romano e o torna numa religião capaz do melhor e do pior, mas seria ingénuo não estar atento a vozes que anunciam a liberdade e, por preconceito ateu, ostracizar quem pode promover uma sociedade tolerante e inclusiva.

6 de Abril, 2018 Carlos Esperança

Espanha – A amnésia do passado e a incerteza do futuro

A Espanha entrou no comboio da democracia à boleia do 25 de Abril português, quando Franco era já um cadáver adiado e o país uma sádica ditadura, sem futuro, que apenas o clero e as Forças Armadas mantinham.

Adolfo Suárez conseguiu, contra os mais empedernidos franquistas, fazer uma transição democrática consensual, graças à aprovação da atual Constituição, monárquica, liberal e pluripartidária, apesar da as sondagens à população darem preferência à República.

O medo assimilado na perversa ditadura franquista e o risco de novo golpe fascista, que, aliás, viria a ser tentado, levou os partidos e o próprio povo a consentirem a monarquia. O regime ambicionado pelo genocida Franco, que educou no fascismo o futuro rei, Juan Carlos, acabou por se impor, mas a amnistia dos crimes franquistas é a ferida aberta que permanece, e abre caminho ao retrocesso democrático em curso.

Enquanto o problema catalão prossegue sem solução e o nacional-catolicismo regressa a Espanha, surgem movimentos que pesquisam, descobrem e assinalam numerosas valas comuns para onde os franquistas atiraram os adversários assassinados. O país divide-se entre os nostálgicos do passado e os que esperam um módico de justiça para as décadas de tortura, execuções, fuzilamentos sumários e despotismo.

Só a Junta da Andaluzia encontrou 88 novas valas de vítimas do franquismo. O Mapa das Valas Comuns não para de atualizar-se. Sevilha, Huelva e Cádis têm respetivamente 136, 124 e 118 valas localizadas. Depois, vêm Granada com 108, Málaga (99), Córdoba (79), Jaén (27) e Almería (11). Na Andaluzia estimam-se desaparecidas 48.349 pessoas, durante a ditadura, muitas dispersas por outras províncias: 367 (Almería), 1.555 (Cádis), 5.139 (Córdoba), 11.563 (Granada), 10.382 (Huelva), 2.039 (Jaén), 7.241 (Málaga) e 10.063 (Sevilha). *

A violência adormecida durante quatro décadas acorda com inusitada violência e desejo de justiça num país dilacerado pela corrupção, desorientação do Governo, descrédito da monarquia e avidez da Igreja católica, ansiosa por recuperar e ampliar privilégios, numa luta despudorada contra a separação da Igreja e do Estado.

Mais do que o anacronismo das instituições e a desadequação da Constituição às novas realidades, é a sobrevivência e a impunidade do velho franquismo que ameaça a paz e a convivência entre os espanhóis.

Entretanto, a Igreja católica continua a dominar o País e a parasitar o Estado.

5 de Abril, 2018 Carlos Esperança

Gazeta ateísta

Por

ONOFRE VARELA

Estórias de Jesus.

Em Novembro de 2012 foi lançado no mercado um livro biografando Jesus Cristo (o terceiro de uma colecção de três), da autoria de Ratzinger, então Papa Bento XVI. Convenhamos que Jesus Cristo, enquanto personagem histórica, é dono de uma biografia difícil, se não mesmo impossível, de escrever. Já na versão de Homem-Deus, as coisas estão facilitadas… por aí podemos dizer dele os maiores dislates que, se não ofenderem os crentes e roçarem as estórias contadas pelos evangelistas e propagadas pela Igreja durante dois milénios, não as contrariando, essas narrativas ficcionadas serão tomadas como a mais alva pureza das realidades.

Uma biografia tem de partir de um ponto de vista histórico. Não há outro modo de a fazer que não seja relatar os episódios que fizeram a vida real de uma pessoa concreta. Se a obra ultrapassa esta baliza, deixa de se denominar biografia, para passar a ser ficção, romance, ensaio, romance histórico, biografia ficcionada ou… expressão de fé… que é aquilo que a obra de Ratzinger é: a expressão subjectiva da sua fé em Jesus Cristo. E só assim deve ser entendida.

Enaltecer a subjectividade é o que faz o partidarismo, seja político ou religioso. Tomar partido por algo ou por alguém, é colocar-se ao lado de uma corrente de pensamento, por muito que a racionalidade e a História possam garantir o erro dessa corrente. As visões contrárias à natureza das coisas nunca são avalizadas pelas disciplinas científicas que as estudam… por isso a História não garante que seja verdadeiro o teor da maioria dos livros biografando Jesus, os quais não contêm História, mas sim estória (conto popular ficcional… como é a Estória da Carochinha!).

A afirmação de que Deus existe tem por base a crença, não passando de uma convicção. A ideia de Deus permite várias interpretações e discussões, desde logo a sua estranha natureza, até à necessidade que dele muitos sentem e dependem, em consequência dos banhos de religiosidade de que foram vítimas na infância.

Todos nós temos direito às nossas convicções, e a defesa de uma convicção só pode ser rotulada de acto desonesto se o seu defensor tiver consciência da “inverdade” que apregoa; e só é vigarice se, conscientemente, ele quiser comprar a concordância do outro, sabendo que lhe está a vender gato por lebre. Quando o defensor de uma ideia está convicto daquilo que defende, presumindo estar com a verdade, ele é honesto nas suas afirmações e deve ser respeitado na “sua verdade”.

Por isso aceito a subjectividade de Ratzinger, embora não concorde com ela. E todos nós sabemos, pela História, que através dos tempos o Ser Humano conseguiu a audácia de criar fundamentos intelectuais que lhe permitiram direccionar o seu entendimento para a interpretação naturalista, distanciando-se dos mitos que as religiões defendem como verdade e dos quais se alimentam.

(O autor não obedece ao último Acordo Ortográfico)

4 de Abril, 2018 Luís Grave Rodrigues

Exorcismo