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O execrável antissemitismo e o intolerável sionismo

Por

E-Pá

Exaltações migratórias sob o diáfano manto do patriotismo…

Os trágicos acontecimentos, de índole terrorista, que recentemente atingiram judeus no dramático ataque ao supermercado ‘kosher’, numa sinagoga da Dinamarca e mais recentemente na profanação de túmulos judaicos em França link, motivaram uma inusitada reacção do Governo de Israel que não deve ignorada ou desvalorizada.

Benjamin Netanyahu, chefe do governo israelita, a exemplo do que já tinha feito em Paris numa sinagoga, quando das imponentes manifestações públicas contra o terrorismo, volta a defender o regresso dos judeus europeus à ‘pátria’, ou seja, a Israel link. E, na passada, adverte que atentados como estes se repetirão.
Este último remoque mostra bem como começaram a surgir aproveitamentos políticos enviesados de um clima de suspeição, insegurança e medo a que a Europa sendo estranha é, no entanto, um dos alvos privilegiados.

Todavia, esta proposta de ‘novo Exodus’ não assenta em parâmetros realistas. Se existe local onde os judeus são vitimas de atentados é exactamente no Estado israelita onde perdura um arrastado conflito que continua sem solução à vista. Mais uma vez o presidente do Governo israelite agita espantalhos culturais históricos e religiosos em que misturam conceitos e actos como o judaísmo, o sionismo e o anti-semitismo. Existe aqui um velado regresso às teorias de Theodor Herlz onde a ‘pátria’ adquire a centralidade política e cultural. Este o âmago da doutrina sionista histórica que – como a realidade demonstra – não conduziu à Paz.

Já o anti-semitismo actual dificilmente se entronca na vergonhosa vaga europeia que atingiu o trágico auge durante o período nazi, com as abomináveis consequências ligadas ao holocausto. Hoje, o anti-semitismo cultivado essencialmente por diversificados sectores fundamentalistas islâmicos – é impossível ignorar esta realidade – tem outra génese e partilhou outros caminhos. Os mesmos que levaram – no pós II Guerra Mundial – a Europa a apoiar as reivindicações (sionistas) para obter a criação (artificial?) do Estado de Israel através da ocupação da Palestina o que originou um – aparentemente – insanável conflito.

As declarações de Benjamin Netanyahu não são um bom augúrio. Depois de alguma distanciação histórica elas vão de encontro aos desejos expressos por antigos dirigentes israelitas (p. exº: Ben Gurion e Golda Mier) no sentido de construir o denominado ‘Grande Israel’, que pressupunha o regresso da totalidade dos judeus à ‘terra prometida’ (por quem?).
Não é difícil adivinhar ao que conduziria, no contexto regional do Médio Oriente, o desenvolvimento de tal pretensão.

O pungente apelo de Netanyahu em favor de um novo “Exodus” dos judeus europeus em direcção a Israel, incitando a uma diáspora de sentido contrário, deve ser encarado como um acto incendiário em relação à perigosa e instável situação do Médio Oriente que, como tem sido repetidamente referido, será uma das causas remotas (não a única) do clima de insegurança que a Europa tem vindo a arcar.
E este será um momento em que os europeus – sejam judeus, cristãos ou muçulmanos – dispensam estes desbragados incendiários.

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