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Mês: Janeiro 2013

16 de Janeiro, 2013 Carlos Esperança

Associação Ateísta Portuguesa (AAP) – RTP-1

Convidado pela RTP – 1, estarei amanhã no programa «Portugal no Coração» , depois das 16H00, como presidente da Associação Ateísta Portuguesa (AAP).

O programa tem lugar entre as 15H00 e as 18H00.

Entre outros convidados, estará a Aura Miguel, crente fervorosa, e a não menos crente Alexandra Solnado, interlocutora habitual de Deus embora não haja a mais leve suspeita de que Deus fale com ela.

16 de Janeiro, 2013 Carlos Esperança

Jerónimo Felizardo, temente a Deus – Conto pio

Foram-se as indulgências…

Jerónimo Felizardo estava a aliviar do luto a que a perda da amantíssima esposa o obrigara. Não se pode dizer que lhe fora muito dedicado em vida nem tão pouco excessivamente fiel. Mas habituara-se a ela como um rafeiro ao dono que o acolhe.

Sentia-lhe agora a falta. Deolinda de Jesus dera-lhe tudo. Mesmo tudo. Até o que é obrigação e nela nunca foi devoção e, muito menos, entusiasmo. Deu-lhe independência económica, boa mesa, respeito e uma filha. Deixou-lhe uma pensão de professora, metade do ordenado do 10º. escalão, que acrescentava a outros proventos e o punham ao abrigo de sobressaltos.

Com a filha não podia contar. Fora para Lisboa frequentar a Católica a cujo curso e influência deve hoje o desafogo em que vive e o lugar importante no Ministério. Metera-se no Opus Dei e enjeitou a família. Mesmo a mãe a quem fora muito chegada só lhe merecera duas breves visitas nos três anos de doença prolongada com que Deus quis redimi-la do pecado original.

Era natural que substituísse as visitas por orações, que não exigiam deslocações nem hora certa, que haviam de prolongar a vida e o sofrimento, assim Deus a ouvisse. E ouvi-la-ia de certeza porque, além de omnipotente e omnisciente, vinham duma devota fiel à instituição que o Papa amava quase tanto como à bem-aventurada Virgem Maria.

A poucos meses de fazer meio século Jerónimo empanturrava-se de comida que Carolina, afilhada do crisma de D. Deolinda, se esmerava a cozinhar com um desvelo que a filha nunca revelara. Bem sabia que a gula era um pecado capital mas que a prática e o exemplo eclesiástico largamente tinham despenalizado. Nem mesmo o Prefeito para a Sagrada Congregação da Fé, tão cioso guardião da moral e dos bons costumes, o valorizava demasiado. A gula não é propriamente a luxúria que é das maiores ofensas feitas a Deus, pecado dos maiores e, de todos, o que mais contribui para a perdição da alma.

Em tudo o mais era Jerónimo um viúvo modelo. Dera-se à tristeza e à oração. Arrependia-se das vezes em que não cumpriu o dever da desobriga, da frequência escassa à eucaristia, das missas a que faltou, em suma, das obrigações de cristão que não cumpriu com a intensidade, duração e frequência que recomendava a Santa Madre Igreja. Mas, de tudo, o objeto maior de arrependimento era o adultério que cometera e em que, sempre confessado, reincidiu.

Mas isso terminara há muitos anos. A infeliz que seduzira casara e virara fiel ao marido a quem agradecia tê-la recebido canonicamente apesar de saber que já não ia como devia. Conformado, não se importando de ficar com mulher que já não ia inteira, nunca suspeitou de ornamentos de homem casado, sempre julgou que o autor era um antigo namorado que a morte por acidente impediu de reparar a desonra.

Desse pecado se redimira já, pela confissão, penitência e promessa de nunca mais pecar. Agora, à castidade que se impunha, ao cumprimento dos mandamentos a que se devotara, juntava uma vontade forte de conquistar indulgências nesse ano 2000 do Grande Jubileu.

Bem sabia que as indulgências requerem sempre a confissão sacramental, a comunhão eucarística e a oração pelas intenções do Papa, condições sine qua non para a sua obtenção . Quanto às disposições para a sua aquisição não era difícil cumpri-las. Bastava peregrinar a uma Basílica, Igreja ou Santuário designado para o efeito, e eram várias as opções na diocese, e rezar o Pai Nosso, recitar o Credo em profissão de fé e orar à bem-aventurada Virgem Maria, tarefas de que se desobrigava com prazer e entusiasmo. Mesmo a recomendável contribuição significativa para obras de carácter religioso ou social estava ao seu alcance e não deixaria de fazê-lo.

Embora gozando de excelente saúde e de razoáveis análises nunca é demasiado cedo para o sincero arrependimento e cuidar da alma. Veio a calhar o ano do Grande Jubileu que Sua Santidade avisadamente instituiu nesse Ano da Graça de 2000.

Jerónimo, tomou como bênção do Céu ter ficado Carolina a cuidar dele. Antes de recolher-se ao quarto rezavam os dois, todos os dias, por D. Deolinda, Esposa e Madrinha, respetivamente, para que a sua alma mais rápido entrasse no Paraíso, aliviada das penas do Purgatório.

Passava os meses dedicado à oração, à penitência e à agricultura, outra forma de penitência que alguns teólogos interpretam como a mensagem do anjo do 3º. ex – segredo de Fátima. Disse-me padre amigo, e não incréu militante, que a penitência que o anjo três vezes pediu era uma forma de exigir dedicação à agricultura, modo de empobrecer e salvar a alma, vacina contra os sectores secundário e terciário onde os homens perdem a fé e a Igreja os fiéis.

No primeiro dia de Maio, a seguir ao jantar, horas depois dos comunistas ateus se terem manifestado nas ruas de Lisboa e Porto, enquanto Carolina ficou a arrumar a cozinha, foi Jerónimo ao mês de Maria, ato litúrgico que na sua cidade de província sobreviveu à conversão da Rússia e à consagração do Mundo ao Imaculado Coração de Maria.

À saída da igreja entrou no carro, dirigiu-se à quinta que distava duas léguas da cidade, deu um bocado de conversa ao caseiro e uma olhadela às vitelas, distribuiu-lhes ele próprio um pouco de ração, mandou verificar a pedra que tapava o buraco das galinhas, para protegê-las da raposa, deu a bênção aos afilhados, filhos do caseiro, e regressou à cidade onde viveu em vida de D. Deolinda, por vontade dela que detestava a lavoura e o campo, e agora por hábito e fidelidade à memória da falecida.

Ao regressar a casa admirou-se de ver todas as luzes acesas, exceção para o seu quarto que a luz do corredor iluminava discretamente.

Ia entrar em busca da santa Bíblia quando, sobre uma colcha de seda, na cama, deparou com o corpo esbelto de Carolina, esplendorosa escultura de 20 anos à espera de ser percorrida, vestida apenas de penumbra e longos cabelos castanhos esparsos sobre o peito, donde brotavam túmidos mamilos à espera de afago.

O quarto parecia iluminar-se progressivamente. Já uns lábios carnudos se ofereciam sequiosos, já um corpo arfava em pulsações rápidas, num incontido furor de ser possuído, numa ânsia insuportável de ser saciado, primícias ávidas em busca de ser saboreadas.

Jerónimo sentiu sobrar-lhe roupa e minguar-lhe a resistência.

Foram-se as indulgências.

15 de Janeiro, 2013 Carlos Esperança

Associação Ateísta Portuguesa (AAP) – Convite da RTP – 1

Para conhecimento dos sócios da AAP, em particular, e dos leitores do Diário de uns Ateus, informo que fui convidado para participar no próximo programa «Portugal no Coração» da próxima 5.ª feira, dia 17.

 

Eis o teor do convite:

Conforme conversa telefónica aqui vai o meu pedido para estar no programa “Portugal no Coração” no dia 17 de Janeiro, quinta-feira, para nos falar sobre o Ateísmo. O tema do programa do “Portugal no Coração” será Portugal: Profano ou Sagrado?

Pedia-lhe que me enviasse uma pequena biografia sua assim como alguns tópicos a abordar no programa, tópicos que considere importantes e relevantes nós destacarmos.

Será contactado amanhã pela produção com o horário da sua participação para quinta- feira sabendo que o programa começa ás 15h ás 18h.

Qualquer dúvida que tenha não hesite em contactar-me.

Melhores Cumprimentos,

Andreia Castro Guimarães

15 de Janeiro, 2013 Carlos Esperança

Defendendo o laicismo

CITAÇÕES

«O Estado também não pode ser ateu, deísta, livre-pensador; e não pode ser, pelo mesmo motivo porque não tem o direito de ser católico, protestante, budista. O Estado tem de ser céptico, ou melhor dizendo indiferentista» Sampaio Bruno, in «A Questão religiosa» (1907).

«O Estado nada tem com o que cada um pensa acerca da religião. O Estado não pode ofender a liberdade de cada qual, violentando-o a pensar desta ou daquela maneira em matéria religiosa». Afonso Costa, in «A Igreja e a Questão Social» (1895) R & L

 

14 de Janeiro, 2013 Luís Grave Rodrigues

Imagine

13 de Janeiro, 2013 José Moreira

Deus e deuses (III)

Parece não haver dúvidas de que Deus foi criado pelo Homem, à sua, do Homem, claro, imagem e semelhança: rancoroso, misógino, homófobo, vingativo, assassino, impiedoso, pulha, trafulha, irascível, xenófobo,violento, carregado de ódio, basta abrir um jornal, ligar a televisão ou ouvir a rádio para concluir que, sim senhores, “Deus está em toda a parte”.

Acontece que o Homem, ao criar Deus, entendeu conceder-lhe alguns atributos que o tornassem “superior” ao criador, leia-se “Homem”. Aliás, só assim se justificaria a sua criação, porque para ser igual ao que já existia, já bastava o que bastava. Vai daí, decidiu, juntamente com o “sopro da vida”, atribuir-lhe toda uma parafernália de tudo quanto é omni: omnisciente, omnipotente, omnipresente, omnitudo o que queiramos imaginar. Duas cerejas em cima do bolo: “Justo” e “Misericordioso”. Ao pé desta trapalhada, até o governo do Passos parece competente.

Vejamos: como é que se pode ser, a um tempo, justo e misericordioso? Ou se aplica a lei e pune-se o infractor, ou se é misericordioso e perdoam-se todas as infracções. Podemos remeter-nos, em termos, comparativos, para a Justiça terrena, onde um juiz tem uma escala de valores que lhe permite graduar a pena de acordo com vários factores. Incluindo a misericórdia. Mas isso é no campo do Direito, e a Justiça não tem nada a ver com o Direito. Além disso, um juiz não é Deus. Felizmente, acrescento eu. Então quanto  a “justiça divina”, nem pensar: ou Céu, ou Inferno. Aliás, continuo a não entender as missas “por intenção de” Fulano ou Sicrano: se está no Céu, não precisa de missas para nada; se está no Inferno, não tem salvação possível, pelo que a missa só adiantará alguma coisa… para os cofres da Igreja.

Mas as contradições de construção, digamos assim, não se ficam por aí: Deus é, dizem eles, omnisciente e omnipotente. Como se os dois predicados tivessem conciliação possível… Se Deus sabe que vai acontecer algo, não pode evitar que esse algo aconteça. Porque se o evitar, esse acto vai entrar em contradição com o que ele sabe que vai acontecer. Omnisciência e omnipotência são irremediavelmente inconciliáveis.

Eu sei que os ateus não precisam de deuses para nada; mas, para os que precisam: não acham que está na hora de fazer um “upgrade”?

13 de Janeiro, 2013 Carlos Esperança

O Mali, as crenças e a guerra

O Antigo Testamento, elaborado na Idade do Bronze, está na origem das três religiões do livro. Não podemos surpreender-nos com a violência, crueldade, espírito vingativo e misoginia divinas se refletirmos sobre a época e os homens que criaram Deus à imagem e semelhança deles próprios. A xenofobia, a homofobia e o espírito patriarcal eram as marcas tribais da época.

Os judeus responderam aos seus medos e inquietudes com a criação de um hipotético ser que explicava, por defeito, todas as dúvidas e era a esperança dos seus anseios.

Paulo de Tarso provocou uma cisão do judaísmo, bem sucedida, com a ideia luminosa de que o Deus de Israel era afinal para todos os homens, com a perigosa fantasia de que era a verdade única e de que todos deviam submeter-se à vontade do deus cristão. Foi útil para a consolidação do Império Romano e trágico para as outras crenças, sabendo-se como é difícil renunciar à crença incutida na infância. O proselitismo foi e é uma prática de que não abdicam os sacerdotes cristãos e muçulmanos.

Mais tarde havia de nascer o mais implacável dos monoteísmos, graças a um guerreiro analfabeto a quem o arcanjo Gabriel, de avançada idade, havia de ditar um livro que é a cópia grosseira do cristianismo, exonerada da cultura grega e do direito romano, este de natureza civilista e aquela de vocação humanista.

É fácil encontrar no terrorismo suicida e assassino do belicismo muçulmano a mesma sanha boçal dos católicos espanhóis que evangelizaram a América do Sul. As páginas do Corão apelam constantemente à destruição dos infiéis, da sua cultura e civilização, bem como dos judeus e cristãos (por esta ordem) em nome do Deus misericordioso que alimenta a imensa legião de clérigos e as hordas de terroristas.

Hoje, o proselitismo islâmico, fascista, busca manter o espírito demencial das cruzadas, impor cinco orações diárias, submeter as leis ao espírito da sharia e dominar o mundo.

A tensão que ora se vive no Mali é fruto dessa demência pia, da intoxicação diária nas mesquitas e madraças, do manual terrorista – dito livro sagrado –, o Corão. É por isso que, apesar das duas faces que tem cada moeda e da cobardia de quem se conforma com o proselitismo, apoio sem reservas a ajuda militar da França ao Mali, contra o avanço islâmico.