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Mês: Abril 2011

21 de Abril, 2011 C. S. F.

Grande Cisma do Ocidente, Cisma Papal ou Grande Cisma – III

Parte III

3 PAPAS, DOIS EM ROMA, UM EM AVINHÃO

Gregório XII, papa de Roma de 1406 a 1415. Prometeu acabar com o cisma, mas não o fez.
Em 21 de Setembro de 1407 o papa Bento XIII e o futuro Gregório XII marcaram um encontro em Savona, mas só o primeiro compareceu. O segundo fê-lo esperar muito pretextando a ocupação de Roma e os seus assuntos internos.

Então, nove cardeais de Gregório desertaram e negociaram com os de Avinhão em total desobediência aos dois papas. Realizaram um concílio geral com alguns cardeais de Avinhão em Pisa, em 25 de Março de 1409. O Concílio Pisano, visava a extinção do Grande Cisma do Ocidente. Participaram o arcebispo de Lisboa, João, o bispo de Lamego e mais dois teólogos portugueses.
Eram cerca de 500 clérigos, bispos, seus delegados, abades, capítulos de catedrais e universitários reuniram uma assembleia na cidade de Pisa que condenou os papas, os destituiu por serem hereges e elegeram Alexandre V como papa legítimo que faleceria um ano depois.

Decidiram depor os dois papas em 5 de Junho de 1409. Condenaram o papa Benedito XIII de Avinhão e Gregório VII de Roma e elegeram Alexandre VI que reinou de 1406 a 1410. Foi papa com outros dois, um de Avinhão, um de Roma, tendo estes dois últimos recusado demitir-se.

Papa Alexandre VI de Roma de 1406 a 1410. Eleito no concílio de Pisa, em substituição dos dois existentes, que se recusaram a acatar e decisão. Coexistiu com mais dois papas, um de Avinhão, um de Roma!
Passeava em Pisa num burro branco, vestido de papa.
Famoso glutão. Passava o tempo a comer, servido por quatrocentas mulheres (?).
Excomungou os outros dois papas e estes excomungaram-no.
Reconvocou o concílio de Constança e em seguida abdicou.

Os papas tentaram subornar-se, espiar-se, enganar-se e matar-se uns aos outros, com auxílio de espiões, assassinos e mercenários.

Bento XIII ficou como único papa e foi ordenado cardeal, bispo do Porto, em Portugal.

João XXIII, antipapa de 1410 a 1415. Por morte de Alexandre V de Pisa, foi eleito Baltazar Cossa, nobre empobrecido, pirata napolitano e praticante de ”luxúrias antinaturais”, com o nome de João XXIII, antipapa de Pisa (não confundir com João XXIII dos tempos recentes, de Roma).
Estudou direito. Bom para os negócios. Vigarista. Descarado e libertino. Guloso e devasso, tinha relações sexuais mesmo com duas irmãs.
Pouco depois da entronização entrou em guerra com o rei de Nápoles, foi derrotado. Refugiou-se em Florença, onde instalou a cúria.
Contava com o enérgico apoio do imperador alemão Segismundo da Hungria que detestava os franceses e os romanos
Tornou-se, depois de ser papa, tesoureiro papal do papa romano Bonifácio IX.
Usou o suborno e prostitutas controladas por si para dominar as pessoas. Sedutor de mulheres às centenas, cobrava imposto às prostitutas, condenava facilmente pessoas à morte. Perseguiu e bateu nos judeus. Mutilava os cardeais. Era jogador.
Matou numerosas pessoas em Bolonha.
Destituído pelo Concílio de Constância, por ateísmo, corrupção, incesto, adultério, corrupção e homicídio.
etc., foi preso na Baviera, mas comprou a sua liberdade, regressou a Itália onde viveu sumptuosamente em Florença, por cortesia do seu amigo banqueiro Cosimo de Médici.
Morreu em 1419 sem ser papa, mas era bispo na altura. Donatello concebeu-lhe o túmulo no baptistério octogonal da Catedral de Florença.
No século XX houve outro papa como mesmo nome para disfarçar os actos deste.
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20 de Abril, 2011 Ricardo Alves

Viva Afonso Costa!

A Lei de Separação da Igreja do Estado completa hoje cem anos. Se ainda estivesse em vigor, não deveriam existir «empregos» de capelão no funcionalismo público, subsídios das autarquias à construção e manutenção de igrejas (muito menos a missas campais ou a peregrinações), lugares de professor na escola pública por nomeação da ICAR ou outras igrejas, crucifixos e outros símbolos religiosos em serviços públicos, uma Comissão de Liberdade Religiosa que hierarquiza as comunidades religiosas, uma Concordata que garante o reconhecimento civil das associações canónicas, devolução do IVA para a ICAR e outras e mais isenções fiscais para as igrejas, políticos a convidarem padres para benzer as «obras feitas» e «mensagens de natal» do Policarpo na televisão pública.
Faz-nos falta Afonso Costa. Leia-se a sua carta no site da Associação República e Laicidade, em que explica a Lei de Separação.

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20 de Abril, 2011 Luís Grave Rodrigues

Suicídio

19 de Abril, 2011 C. S. F.

Grande Cisma do Ocidente, Cisma Papal ou Grande Cisma – II

Parte II

CISMA
ENTRE OS PAPAS DE ROMA E DE AVINHÃO
DE 1378 A 1418

Os concílios passaram a sobrepor-se aos papas.
O Cisma é resolvido com o Concílio de Constança, só em 1418.

Quando morreu Gregório XI eclodiram tumultos em Roma, por temor de nova eleição de um papa estrangeiro. Exigiram um papa romano ou, pelo menos italiano. A Itália estava em grande desordem e descontente por a maioria dos cardeais serem franceses ou seus aliados. Exigiam um papa italiano, como antes era tradição.
Quando morreu o papa, o conclave dos cardeais reuniu-se de imediato, para impedir a vinda dos cardeais que permaneciam em Avinhão.
Os magistrados da cidade, para tornar possível a reunião, ameaçaram os habitantes que praticavam a violência, expulsaram da cidade os nobres influentes e reforçaram a guarnição da cidade. Mas avisaram os cardeais que tinham de eleger um papa italiano, romano de preferência.
O povo ameaçava violentamente os cardeais quando se dirigiam ao conclave. Os amotinados tocavam os sinos da cidade (mesmo os do Vaticano) a apelar à revolta e atacavam o conclave tentando atravessar o tecto da sala da reunião com lanças e ameaçando queimar o edifício.
Como não existia um cardeal italiano elegível, os cardeais decidiram escolher rapidamente Bartolomeu Prignano, um funcionário experiente do papado, que não pertencia ao Sacro Colégio e imediatamente o cardeal Orsini (família patrícia romana de origem etrusca) foi à janela anunciar a escolha.
Quando viram o cardeal na janela a multidão aumentou o barulho de tal modo que todos julgaram ter ouvido “Ide à basílica de São Pedro!”
Todos pensaram que o cardeal de São Pedro tinha sido eleito, um italiano muito velho e doente. Um prelado francês, ao perceber-se do engano, gritou: “Bari! Bari!”.
Os romanos perceberam erradamente que o escolhido era o cardeal francês limusino Jean Bar, ficaram furiosos e invadiram o Vaticano.
Os cardeais, com medo de morrerem, sentaram o cardeal de S. Pedro no trono e vestiram-no de papa.
O velho era inválido, estava muito cansado, aterrorizado e exaltado. Cercado pela multidão, amaldiçoava todos os que se ajoelhavam para receber a sua bênção.
Levou tempo até que o povo se apercebesse que tinha sido enganado.

Foi depois eleito Bartolomeu Prignano, arcebispo de Bari, por ser napolitano, para equilibrar o peso dos cardeais franceses regressados de Avinhão e os desejos dos romanos de terem um papa romano. Reinou de 1378 a 1389,
Prignano foi muito maltratado pelos cardeais e esperou muito para ser empossado.
Na festa de coroação insultou e quis agredir um cardeal francês. Tentaram destitui-lo.
Adoptou o nome de Urbano VI.
Era prepotente, violento, de palavras grosseiras. Bêbado com mau génio. Comportou-se de forma muito autoritária. Atacou com violência os cardeais, acusando-os de avidez, de serem muito ricos e de costumes duvidosos.
Reprimiu violentamente os cardeais que o tinham elegido.
Os cardeais franceses, um número considerável da alta hierarquia católica, fugiram para Agnani, a pretexto do calor, por serem odiados pelo novo papa, destituíram Urbano VI e elegeram um novo papa, novamente francês, Clemente VII, um cruel militar, em Fond, perto de Nápoles, com o apoio tácito dos cardeais italianos. Tentou impor-se em Itália, mas não o conseguiu. Refugiou-se em Avinhão.
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19 de Abril, 2011 Luís Grave Rodrigues

Piss Christ

 

No passado domingo um grupo de quatro fervorosos católicos disfarçados com óculos escuros entrou numa galeria de arte em Avignon.

Depois de imobilizarem um segurança sob a ameaça de um martelo, quebraram uma pequena caixa de acrílico e rasgaram e destruíram a fotografia que se encontrava em exposição no seu interior.

Tratava-se de uma fotografia já de 1987 do famoso fotógrafo americano Andres Serrano, com o título «Piss Christ», que mostra um pequeno crucifixo imerso num copo de urina do próprio artista e faz parte de uma série de fotos de objectos religiosos imersos em líquidos orgânicos, como sangue ou leite.

Logo após a sua primeira exposição, esta foto foi objecto de ataques, da Austrália à Suécia, por parte mais variado tipo de intolerantes, e foi alvo de reacções negativas por parte dos energúmenos do costume que não sabem sequer respeitar uma obra de arte, desde a hierarquia católica à Frente Nacional francesa, passando por grupos neo-nazis.

Em homenagem ao artista, aqui fica uma reprodução dessa famosa obra de arte.

18 de Abril, 2011 C. S. F.

Grande Cisma do Ocidente, Cisma Papal ou Grande Cisma – I

Parte I

8 PAPAS AO TODO de 1378 a 1417

O Grande Cisma do Ocidente, Cisma Papal ou simplesmente Grande Cisma, foi uma crise religiosa que ocorreu na Igreja Católica de 1378 a 1417.

Este Cisma teve origem no conflito entre as potências europeias. Começou com a imposição da residência do papa em Avinhão. Só depois se verificou a Cisma do Ocidente.
Clemente V, papa de 1305 a 1314, foi acusado de fornicador público. Tinha uma bela amante que exibia em público nos próprios actos religiosos.
Era frequentador de bordéis e patrono de prostitutas.
Era doente e de temperamento fraco.
As damas da casa do papa passaram a ter importância nos assuntos papais.
Nepotista empenhado, transformou 5 cardeais em membros da sua família.

O rei Filipe, o Belo, queria condenar Bonifácio VIII. Por isso juntou às acusações do seu conselheiro Nogaret a outras.
A família Colonna também acusou Bonifácio de obrigar Celestino V a demitir-se e mandá-lo matar. O papado recuou.
O rei Filipe mandou este papa exumar o cadáver de Bonifácio VIII e queimá-lo como herege.
O papa (Clemente V?) recusou-se a condenar o papa Bonifácio, como queria o rei Filipe.
Saiu de Roma e transferiu o papado para Avinhão, por ser um homem do rei de Filipe de França. Esta mudança foi muito valorizada por ele porque assim podia praticar melhor a sua perversidade.
Numerosos cargos do papado foram entregues aos franceses indicados pelo rei de França.
O património dos bispos falecidos deixou de ser saqueado pelo povo e passou a reverter para o papado.
O papa Clemente V lançava impostos ao clero para sustentar o papado.
O papado começou a ser visto como uma igreja nacional francesa.
Os papas de Avinhão apoiaram a França contra a Inglaterra.
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18 de Abril, 2011 Luís Grave Rodrigues

Páscoa

16 de Abril, 2011 Ludwig Krippahl

O problema não é a ironia…

Há dias o Miguel Panão escreveu um post sobre o “problema do mal”. Na apologética cristã, o problema do mal não é que as pessoas sofram. O problema é apenas compatibilizar doenças, terremotos e o sofrimento dos inocentes com a hipótese de haver um deus omnibonzinho que nos omniama a todos. A razão, sem fé, diria simplesmente para admitir o erro e deitar fora a hipótese. É o que se faz quando as hipóteses não encaixam nos dados. Mas a fé não admite tal coisa e exige o que na apologética cristã chama “reflexão”, “exegese” e “hermenêutica”, e que cá fora se chama “arranjar desculpas”. A virtude dos textos do Miguel Panão é que revelam bem como esta apologética só foge das questões em vez de as responder.

Acerca da dor, do sofrimento e da morte, o Miguel Panão pergunta se serão realmente males: «Se a dor nos torna sensíveis, [s]e o sofrimento nos torna maduros, [s]e a morte nos dá um novo olhar sobre a vida, o que é, efectivamente, um mal natural?»(1) Parece uma reflexão profunda mas, na verdade, é treta. Certamente que o Miguel não cria os seus filhos segundo estas premissas. Se queremos que as crianças desenvolvam compaixão, empatia e respeito pelos outros não lhes vamos causar sofrimento ou mostrar-lhes cenas de tortura e morte. Essa receita é para criar psicopatas. Nem é verdade que o sofrimento nos torne maduros. É o contrário. A maturidade permite-nos lidar com o sofrimento, mas o sofrimento destrói quem não consiga lidar com ele. E sofrer por sofrer não ensina nada a ninguém. Quanto à morte, deixa tristeza e saudade mas não dá nenhum “novo olhar” sobre a vida. As perguntas retóricas do Miguel ilustram bem como é inútil a resposta religiosa. A realidade é que uma criança a morrer de leucemia não aprende nada de valioso e só ensina que o universo se está a marimbar para nós. A teologia não dá resposta a isto. Apenas tenta disfarçar o problema.

Outro exemplo de fachada para esconder questões fundamentais é o “diálogo” inter-religioso. A questão mais saliente na multiplicidade inconsistente de religiões é quem tem razão. É este o problema fundamental. Mas o Miguel Panão finge que não e diz só que é «pela maior profundidade no conhecimento da experiência religiosa do outro que posso, também, aprofundar melhor a minha»(2). Ou seja, cada um ouve as descrições dos umbigos dos outros para melhor apreciar o seu, o que é muito bonito mas não esclarece nada. Por exemplo, continuamos sem saber se adorar a imagem de Jesus na cruz nos salva ou nos condena ao sofrimento eterno por idolatria. Dava jeito esclarecer estes detalhes.

Agora, a Igreja Católica está a organizar o Átrio dos Gentios para discutir com ateus «longe do ateísmo prático da banalização e da ironia»(3). Como se o problema fosse a banalização ou a ironia. Isto são desculpas para, novamente, ignorar os pontos importantes. Em vez de implicar com a forma dos argumentos ateístas ou com a natural banalização de fantasias e superstições, deviam era focar o conteúdo. Novamente, o Miguel Panão dá um bom exemplo.

«Um dos argumentos dos “novos ateus” é que acreditar em Deus é o mesmo que acreditar na Fada dos Dentes. Será? Alister McGrath […] afirmou […] que não há muita gente […] que na fase adulta da sua vida passe a acreditar na Fada dos Dentes […] enquanto que a conversão à existência de Deus não é assim»(4)

O ponto da analogia é precisamente que acreditar na Fada dos Dentes é ingénuo e incorrecto. É este fundamento consensual que mostra a necessidade de determinar porque é que é incorrecto acreditar nesse ser cuja inexistência ninguém pode provar e que faz parte da cultura humana há tanto tempo, mas ao mesmo tempo se deve acreditar num certo deus só porque ninguém pode provar a sua inexistência e muitos acreditam nele há tanto tempo. Ou o Alister McGrath não percebeu o argumento, o que é improvável, ou então finge que não o percebeu, o que é desonesto e frustrante.

O problema não é a ironia, nem o sarcasmo nem o gozo. O problema é fugirem sistematicamente às questões fundamentais. Vejam, por exemplo, o contraste entre as respostas do Sam Harris e do William Lane Craig. Ao Sam Harris um espectador pergunta como se pode explicar milagres como a hóstia na eucaristia se transformar mesmo em carne, com veias e sangue. Harris explica pacientemente que há muitas histórias assim em muitas religiões e não se pode confirmar nenhuma adequadamente. Ao William Lane Craig outro espectador diz que Deus falou com ele e lhe disse que o amor homossexual é tão belo e legítimo como qualquer outro, e pergunta como explicar isso aos crentes que não aceitam essa revelação divina. Vejam como um dos apologistas católicos mais reputados responde a uma questão sobre o problema fundamental de determinar se uma revelação divina é genuína (5).

1- Miguel Panão, O problema DSM…
2- Miguel Panão, Reciprocidade no Diálogo Inter-religioso: um exemplo a seguir
3- Zénite, Átrio dos Gentios: longe do ateísmo prático da banalização e da ironia
4- Miguel Panão, Acreditar em Deus ou na Fada dos Dentes …
5- Obrigado ao Pedro Amaral Couto pela ligação do vídeo.

Em simultâneo no Que Treta!