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Grande Cisma do Ocidente, Cisma Papal ou Grande Cisma – III

Parte III

3 PAPAS, DOIS EM ROMA, UM EM AVINHÃO

Gregório XII, papa de Roma de 1406 a 1415. Prometeu acabar com o cisma, mas não o fez.
Em 21 de Setembro de 1407 o papa Bento XIII e o futuro Gregório XII marcaram um encontro em Savona, mas só o primeiro compareceu. O segundo fê-lo esperar muito pretextando a ocupação de Roma e os seus assuntos internos.

Então, nove cardeais de Gregório desertaram e negociaram com os de Avinhão em total desobediência aos dois papas. Realizaram um concílio geral com alguns cardeais de Avinhão em Pisa, em 25 de Março de 1409. O Concílio Pisano, visava a extinção do Grande Cisma do Ocidente. Participaram o arcebispo de Lisboa, João, o bispo de Lamego e mais dois teólogos portugueses.
Eram cerca de 500 clérigos, bispos, seus delegados, abades, capítulos de catedrais e universitários reuniram uma assembleia na cidade de Pisa que condenou os papas, os destituiu por serem hereges e elegeram Alexandre V como papa legítimo que faleceria um ano depois.

Decidiram depor os dois papas em 5 de Junho de 1409. Condenaram o papa Benedito XIII de Avinhão e Gregório VII de Roma e elegeram Alexandre VI que reinou de 1406 a 1410. Foi papa com outros dois, um de Avinhão, um de Roma, tendo estes dois últimos recusado demitir-se.

Papa Alexandre VI de Roma de 1406 a 1410. Eleito no concílio de Pisa, em substituição dos dois existentes, que se recusaram a acatar e decisão. Coexistiu com mais dois papas, um de Avinhão, um de Roma!
Passeava em Pisa num burro branco, vestido de papa.
Famoso glutão. Passava o tempo a comer, servido por quatrocentas mulheres (?).
Excomungou os outros dois papas e estes excomungaram-no.
Reconvocou o concílio de Constança e em seguida abdicou.

Os papas tentaram subornar-se, espiar-se, enganar-se e matar-se uns aos outros, com auxílio de espiões, assassinos e mercenários.

Bento XIII ficou como único papa e foi ordenado cardeal, bispo do Porto, em Portugal.

João XXIII, antipapa de 1410 a 1415. Por morte de Alexandre V de Pisa, foi eleito Baltazar Cossa, nobre empobrecido, pirata napolitano e praticante de ”luxúrias antinaturais”, com o nome de João XXIII, antipapa de Pisa (não confundir com João XXIII dos tempos recentes, de Roma).
Estudou direito. Bom para os negócios. Vigarista. Descarado e libertino. Guloso e devasso, tinha relações sexuais mesmo com duas irmãs.
Pouco depois da entronização entrou em guerra com o rei de Nápoles, foi derrotado. Refugiou-se em Florença, onde instalou a cúria.
Contava com o enérgico apoio do imperador alemão Segismundo da Hungria que detestava os franceses e os romanos
Tornou-se, depois de ser papa, tesoureiro papal do papa romano Bonifácio IX.
Usou o suborno e prostitutas controladas por si para dominar as pessoas. Sedutor de mulheres às centenas, cobrava imposto às prostitutas, condenava facilmente pessoas à morte. Perseguiu e bateu nos judeus. Mutilava os cardeais. Era jogador.
Matou numerosas pessoas em Bolonha.
Destituído pelo Concílio de Constância, por ateísmo, corrupção, incesto, adultério, corrupção e homicídio.
etc., foi preso na Baviera, mas comprou a sua liberdade, regressou a Itália onde viveu sumptuosamente em Florença, por cortesia do seu amigo banqueiro Cosimo de Médici.
Morreu em 1419 sem ser papa, mas era bispo na altura. Donatello concebeu-lhe o túmulo no baptistério octogonal da Catedral de Florença.
No século XX houve outro papa como mesmo nome para disfarçar os actos deste.

O cisma terminou no Concílio de Constança em 1414, com o papado estabelecido definitivamente em Roma.

O rei Segismundo da Hungria, imperador germânico, culto, inteligente e dado a mulheres, decidiu intervir antes de 1414.
Um (qual?) aliado de Gregório XII ocupou Roma e João XXIII fugiu, a pedir protecção a Segismundo, que impôs condições, como a reunião de um concílio em Constança, cidade imperial, marcando-lhe a data de 1 de Novembro de 1414.

De 1414 11 5 a 1418 realizou-se o Concílio de Constança, naturalmente convocado pelo antipapa João XXIII e que conseguiu o fim do Cisma.
Foi o rei Segismundo que reuniu 18.000 prelados, padres e teólogos: 29 cardeais, 38 arcebispos, 150 bispos, 124 abades, 578 doutores em teologia, muitos outros eclesiásticos, representantes de dez reis, além do imperador Sigesmundo, mais de 100 condes e príncipes e 2,100 cavaleiros (82.300 nobres e leigos).
Faziam-se acompanhar de servidores, cozinheiros, barbeiros, concubinas, músicos, só flautistas eram 1400, escoltas militares.
Ao todo mais de 100.000 pessoas.
Constança era uma pequena cidade que viu a sua vida completamente subvertida durante vários anos.
Concentraram-se lá, pelo menos, 1.500 prostitutas de rua, mais 700 de casa fixa.
Houve um residente que vendeu a mulher pelo preço de uma casa.
Morreram 263 pessoas em rixas.
Eclodiu uma epidemia de noli me tangera, uma ulceração contagiosa do rosto que ataca especialmente o nariz.

João XXIII contava ser eleito papa ao convocar o concílio, mas tal não aconteceu.
Os temas de discussão eram a unificação da igreja, as reformas que clarificariam quem mandaria e os problemas que João Huss tinha criado com as suas ideias.
Os papas de Avinhão e Roma não compareceram, numa tentativa de impedir a realização do concílio.
João XXIII foi acusado dos crimes de pirataria, assassínio, violação, sodomia e incesto, envenenamento, bestialidade, sodomia, relações com freiras, violação de três irmãs.
Abdicou, na condição dos outros dois papas também o fazerem.
Os ingleses e alemães foram muito hostis ao papa de Pisa.

Já todos se preparavam para abandonar o concílio quando Sigesmundo toma a palavra e convence os presentes a acabarem o concílio, mesmo sem o papa presente.
Decidiram que o concílio era obra do Espírito Santo, recebendo o poder directamente de deus e consideraram assim o concílio soberano.
João XXIII teceu sórdidas intrigas para espalhar a confusão e provocar a dissolução do concílio, mas não o conseguiu.
João XXIII, ao verificar que o seu passado estava a impedir a sua eleição, fugiu disfarçado de Constança na esperança que a confusão reinante levasse à dissolução do concílio.

Os monarcas germânicos perderam a paciência com os papas. Quanto a João XXIII, julgam-no e prendem-no, colocado sob vigilância, em 1415 5 29. Foi deposto sob a acusação de simonia, má administração e indignidade humana e. Manteve-se bispo.

Dias depois o papa romano Gregório XII, de noventa anos resolveu reconvocar o concílio de Constança, abdicando de seguida. A 4 de Julho de 1415 foi publicada a sua abdicação e a sua nomeação como bispo e núncio do Porto.

Segismundo encontrou-se com o papa de Avinhão, Bento VIII, em Perpignan, sem resultado. O papa de Avinhão Bento XIII foi abandonado pelos seus adeptos que compareceram no concílio, com receio do imperador alemão e sem o apoio do rei francês que tinha enlouquecido há muito.

Em 1415, Dezembro, em Narbona, Segismundo negociou com os estados ibéricos, que aceitaram retirar o apoio a Bento XIII.
Bento retirou-se para a fortaleza de Peñiscola, em Espanha, onde morreu em 1423, afirmando sempre ser o verdadeiro chefe da cristandade.

Jians Hus divulgou as suas ideias na Boémia. Beneficiou da Reforma. Lutava contra a indiferença religiosa e o vício, o mau comportamento do papado. Foi excomungado no ano de 1410.
Jians Hus foi convocado ao concílio de Constança, onde chegou em Novembro de 1414 com um salvo-conduto do imperador Segismundo, mas foi preso alguns dias depois. Condenaram depois as suas ideias. Em 1415 7 foi queimado na fogueira.

Seguiu-se um forte debate entre conciliaristas (ingleses e alemães), a defender a eleição do papa de 10 em dez anos, e papistas que desejavam ser o papa e decidir quando entendesse.
Com o decorrer das discussões a periodicidade dos concílios começou em 5 anos, depois sete e a seguir de dez em dez anos.
Dois anos depois de discussão foi aceite que os concílios seriam de dez em dez anos, convocados pelo papa elegendo um novo papa ou reelegendo o em exercício.

O colégio eleitoral era formado por 26 cardeais e seis representantes de cinco nações, Alemanha, França, Inglaterra, Espanha, Itália, formando um corpo de 56 eleitores. O cisma terminou no Concílio de Constança em 1414, com o papado estabelecido definitivamente em Roma. O conclave de cardeais reuniram depois em 11 11 1417, mas este só foi encerrado em 22 de Abril de 1418, com a eleição dum novo papa de Roma, Martinho V, um membro da família Colonna, patrícia romana, muito antiga. Conhecido pelo elevado número de sobrinhos que tinha, um antigo apoiante de João XXIII.

Toda a actividade de Segismundo durante o Concílio levou à eliminação dos três papas e à sua substituição por um único, Martinho V, romano, mostrando mais uma vez ser sempre o poder político a dominar a igreja católica.

O concílio de Constança definiu também que a comunhão do povo deve ser somente a hóstia, sendo o cálice reservado para o padre.

Os concílios de Pisa, Constança e Basileia acabaram por decidir também que a autoridade do concílio era superior ao do papa.

Após este concílio e como sua consequência, no século XV, a crise do papado é suplantada, os papas começaram a comportar-se como reis, concentraram imensas riquezas e obras de arte e continuaram a praticar frequentes actos de iniquidade e corrupção.