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Mês: Novembro 2007

27 de Novembro, 2007 Helder Sanches

Reflectir o meu ateísmo – Parte 4

A desnecessidade de crer

Um dos argumentos mais utilizados pelos crentes é a felicidade que encontram ao descobrirem deus; tal descoberta enche-os de alegria, completa-os, enfim, adquirem um propósito para a vida. Não consigo deixar de sentir alguma angústia sempre que tento alcançar o significado de tais afirmações. Não consigo deixar de sentir alguma revolta quando insinuam que sem a tal descoberta de deus a vida de qualquer um é desprovida de propósito.

Encontrar um propósito para a vida numa fantasia milenar, isso sim, é doentio e, não fossem os convencionalismos culturais, digno de merecer um exame psiquiátrico urgente.

“Crer” e “ter fé” não passam de formalismos culturais para a aceitação do desconhecido e do medo da morte; não passam de máscaras obsoletas com um selo de garantia para a vida eterna, esse desejo simultaneamente tão humano e despropositado.

A mim, o que me enche de alegria, completa e dá propósito para a vida são circunstancias muito mais terrenas e realistas. Não preciso de vidas eternas nem de recompensas post-mortem. Estou muito mais perto de um macaco, de um cão ou de um lacrau do que de deus e essa constatação deixa-me seguro quanto à minha sanidade mental.

No entanto, a pergunta prevalece: mas, qual é o mal em “Crer”? Nenhum, se quem crê tiver noção de que se trata de uma fantasia e guardar essa paranóia para si próprio. Mas, tem todo o mal quando essa crença força que eu tenha que viver pelos padrões morais de quem crê ou quando a fé move montanhas de destruição no formato de guerras ditas santas.

(Publicação simultânea: Diário Ateísta / Penso, logo, sou ateu)

27 de Novembro, 2007 Hacked By ./Localc0de-07

Trindades e unicórnios

Existe um mistério enorme dentro das ideologias cristãs, algumas mentes mais elevadas defendem que é extremamente difícil de entender e compreender, algo que transcende a transcendência, uma metafísica da ultra-física quântica emaranhada com doses elevadas de conceitos abstractos e mais uns pós de fé a abafar a Razão que senão a paranoia passa lesta como uma lebre a fugir de uma pantera.

Santíssima Trindade é o nome do mistério fenomenal do cristianismo, um grande filho do pai que é a mesma coisa que o pai, pai que é o filho, pomba que é filho e pai, um que são três e três que são um, monoteísmo politeísta ou politeísmo monoteísta. Três coisas distintas que afinal são uma, uma que se divide em três, uma trindade estranha que chumba no teste da matemática, até no teste da Bíblia chumba, não existem trindades por lá.

Mas a compreensão e entendimento não será mais complexa que a compreensão e entendimento do fenómeno unicornino. Segundo esta doutrina existe um unicórnio com três cornos mas que não é um tricórnio. Conseguindo-se perceber esta doutrina tudo o resto parece excessivamente simples e fútil.

Também publicado em LiVerdades

27 de Novembro, 2007 Carlos Esperança

Apelo ao créus impertinentes

Andam por aqui uns crentes a ruminar ódio e espalhar lixo pelas caixas de comentários. Pela desenvoltura com que se exprimem não são solípedes que relincham ou asnos que zurram, são apenas lacaios do divino à cata de indulgências com a mesma sofreguidão com que os cavalos aguardam a ração de aveia.

Não se pode esperar muito de quem acredita em milagres e não se envergonha do Papa que beatifica carrascos, quiçá por engano, depois de o Espírito Santo se ter expatriado do Vaticano, farto de sotainas e escândalos.

Uma das mais interessantes decisões do ditador de serviço foi a extinção do Limbo, um destino das almas criado por um antecessor igualmente infalível e mais crente.

Já alguém pensou nos problemas logísticos de transferir as almas anteriores à criação da seita e as dos não baptizados nos últimos dois mil anos? E no trabalho da comissão liquidatária a quem cabe acertar as contas da água, da luz e do gás, depois de pagar à agência de transportes, por tantas almas, algumas em péssimo estado de conservação?

O Vaticano é um antro de surpresas com jagunços espalhados pelo mundo. Alguns vêm aqui ao Diário Ateísta, cuspir padres-nossos e babarem restos de hóstias que vazam pela comissura dos beiços como velhas azémolas que perdem os restos da ração.

Vão rezar novenas e, como são crentes, peçam ao vosso Deus pela sensatez do Papa. E não debitem lixo num local onde os ateus gostam de se encontrar.

26 de Novembro, 2007 Helder Sanches

The Golden Compass


Nas últimas semanas, a paranóia cristã tem andado altamente crispada para os lados da terra do Uncle Sam. Em causa está a aproximação da estreia do filme The Golden Compass” (“A Bússola Dourada” em português), realizado por Chris Weitz, baseado na primeira parte da trilogia “His Dark Materials”, de Phillip Pullman.

De facto, Pullman nunca negou que esta trilogia tinha surgido da necessidade que ele próprio sentiu de dar uma resposta à propaganda cristã na obra de C.S. Lewis, The Chronicles of Narnia. Agora que a obra de Pullman é adaptada ao cinema, um formato muito mais cativante para as crianças e adolescentes dos dias de hoje, eis que surgem todo o tipo de opiniões doentias, fundamentalistas e aberrantes que suportam a ideia de que permitir que as crianças vejam este filme é uma espécie de pecado mortal que lhes abrirá as portas ao mundo herege do ateísmo! Independentemente da qualidade do filme ou dos livros (Carnegie Medal, 1995), não deixa de ser bastante sintomática esta reacção dos conservadores cristãos. Uma escola no Canadá teve mesmo o desplante de remover a obra de Pullman da sua biblioteca por o autor ser um ateu confesso! A sugestão de PZ Meyers demonstra bem onde se chegaria se essa regra fosse levada a sério.

“The Golden Compass” é uma história de fantasia que se inicia em Oxford, mas num universo paralelo. O equivalente às almas chamam-se daemons e parece que foram traduzidos para português como génios. Ao contrário das fantasias do nosso universo, estas habitam fora dos corpos e são animais conhecidos de todos nós. Até já descobri o meu próprio génio. Agora, só me falta descobrir o filme assim que estrear. Eu e a restante família também, claro!

(Publicação simultânea: Diário Ateísta / Penso, logo, sou ateu)

25 de Novembro, 2007 Carlos Esperança

As religiões defendem a paz

Não há conflito de religiões, como se apregoa, há, sim, conflitos entre as religiões e a civilização, entre a fé e a modernidade, entre os dogmas e a razão.

As religiões do livro são plágios sucessivos a que mudaram os feriados e aumentaram a intolerância. Não é o espírito religioso que evita a crueldade ou impede o crime. Pelo contrário, é a obediência aos livros sagrados que transforma a fé em ódio, a piedade em raiva e a devoção em vontade de extermínio, enquanto os Estados modernos têm uma complacência para com os crimes religiosos ausente para outros de causas diferentes.

Um leitor ateu fica estarrecido quando lê o Deuteronómio ou o Levítico e vê aí prescrita a pena de morte para casos de adultério, para quem apanhe lenha durante o Sábado ou por refilar com os pais. É difícil imaginar um crápula mais detestável do que o Deus que os homens criaram nas páginas do Antigo Testamento – cruel, vingativo e violento.

Os cristãos não se cansam de louvar o bom Josué, da batalha de Jericó, que só descansou quando «passaram ao fio da espada quanto nela encontraram, homens e mulheres, crianças e velhos, e os bois, as ovelhas e os jumentos» (Josué 6:21). Nem a morte dos inocentes jumentos os indigna!

Os trogloditas do Islão e os cristãos evangélicos dos EUA aceitam que merecem a pena de morte os adúlteros, os que amaldiçoam os pais, os que têm relações com a madrasta ou com a nora, ou com animais (neste caso nem a vida dos animais deve ser poupada) ou que desposem uma mulher mais a filha (sempre o raio do sexo) e, pior ainda, os que trabalham ao 7.º dia. O Levítico é para ser levado a sério e não permite relaxações.

Esta gente é para ser levada a sério? Perguntem a clérigos de todas as religiões que castigo pensam que a apostasia merece e, depois, reflictam sobre a crueldade de que são capazes para impedir um direito inalienável.

24 de Novembro, 2007 Ricardo Alves

RTP 1, 21 horas

Hoje, o programa «A Voz do Cidadão» (organizado pelo Provedor dos telespectadores da RTP) será sobre religião. Às 21 horas no canal RTP 1, e às 19h44m no RTP Internacional, com repetição amanhã às 14h45m no RTP 2, e às 19h45m no RTP N. Vamos ver.

  • Linque RTP (agradeço ao kavkaz esta indicação).
24 de Novembro, 2007 Ricardo Alves

Angelina Vidal: «Conclusão Scientifica»

Se consulto os fenómenos geológicos,
Se contemplo no céu as nebulosas,
Se interrogo os segredos histológicos,
E os restos das esferas luminosas;

Vejo sempre matéria em traços lógicos,
No espaço, nas entranhas tenebrosas,
Com átomos subtis, embriológicos,
Tecendo maravilhas assombrosas

Transformação constante – a causa eterna
Eis a lei que preside e que governa,
O facto que destrói a escura fé.

É debalde que os crentes se consomem,
Se Deus veio primeiro do que o homem,
Deve ser, quando muito, um chimpanzé.

Este soneto claramente ateísta foi publicado, em 5/6/1910, no Jornal de Abrantes, pela republicana, feminista e socialista Angelina Vidal. Repare-se no deslumbramento perante um universo cujos mistérios só se resolvem pela ciência, e na coragem da blasfémia final.

24 de Novembro, 2007 Carlos Esperança

ICAR com 23 novos cardeais

O aviário do Freixial cria frangos, o Vaticano cria cardeais. Cada indústria cria os seus produtos a fim de satisfazer os gostos da clientela. Na Covilhã fabricam-se tecidos, em Gondomar artefactos de ouro e móveis em Paços de Ferreira, mas cardeais só o Papa os pode criar.

Já os santos são mais fáceis de fabricar. Das Caldas da Rainha ao Vaticano há muitas oficinas onde se esculpem com mais rigor e honestidade do que no bairro das sotainas. Dos santos das Caldas até eu gosto, pela saudável irreverência dos artesãos e pela boa disposição que os canonizados de barro transmitem aos fregueses das olarias.

Amanhã, todavia, é de cardeais a criação a que se dedica B16. O consistório deste fim-de-semana é destinado à criação de 23 cardeais. Podia criar mais um, pois sempre ouvi dizer que à dúzia é mais barato. Os bispos perdem facilmente a cabeça pelo barrete cardinalício e o Papa aproveita para escolher os apaniguados que perpetuem a forma de enganar o mundo.

Não se pense que é com a coluna vertebral direita que os novos purpurados recebem das mãos do Papa o respectivo barrete. É de joelhos, como soe acontecer com quem troca a honra pela crença. Aliás, nas Igrejas, é de joelhos ou de rastos que os homens perdem a dignidade e ganham as honrarias. Os próximos cardeais, que hoje recebem o barrete, têm amanhã, domingo, direito ao anel cardinalício.