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Mês: Agosto 2006

28 de Agosto, 2006 Palmira Silva

Vaticano diz não às células estaminais

Monsenhor Elio Sgreccia, que preside à Academia Pontifícia para a Vida afirmou numa entrevista à Rádio Vaticano que o método para obter células estaminais desenvolvido por cientistas da Advanced Cell, em Alameda, Califórnia, «não resolve os problemas éticos» desta área de investigação.

Assim, o Vaticano contraria as expectivas dos mais ingénuos, nomeadamente de Rui Reis, presidente da Sociedade Portuguesa de Células Estaminais e Terapia Celular, que considerou que com esta técnica «caem assim por terra os argumentos contra a investigação em células estaminais embrionárias, porque mantém a integridade do embrião», a mesma opinião de Daniel Serrão, católico e membro do Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida.

O novo método – descrito quarta-feira na Nature – consiste em colher um embrião numa fase muito primitiva de desenvolvimento e retirar-lhe uma única célula, que pode dar origem a uma estirpe de células estaminais embrionárias. O embrião, excedentário de fertilização in vitro, não é destruído no processo e mantém todo o seu potencial de desenvolvimento, embora o seu destino mais provável seja o lixo. Contudo, notou Sgreccia, o novo método não tem em conta que mesmo aquela única célula removida, uma célula totipotente, pode evoluir para um ser humano totalmente desenvolvido.

Ou seja, segundo os iluminados do Vaticano esta técnica é ainda mais reprovável que a anterior porque… destrói pelo menos 2 embriões, possivelmente incontáveis embriões, tantos quantas as células produzidas. De facto, como apontei pouco depois da sua eleição, em que previ que a ciência seria o inimigo a abater durante o seu papado, Ratzinger considera que se uma célula estaminal adulta é alterada para se tornar totipotente então deve ser considerada um embrião. Ou seja, todas as células estaminais, qualquer que seja a sua origem, um embrião ou a ponta de uma unha, são consideradas embriões pelo Vaticano.

Ou seja ainda, é pecaminoso e proibido aos católicos qualquer tratamento que corresponda ao «assassínio» de incontáveis «embriões», isto é, célulais estaminais, quaisquer que sejam as suas origens. Claro que a esmagadora maioria dos católicos se está bem nas tintas para as muitas proibições impostas pelo Vaticano. Assim, como em relação ao resto das imbecilidades decretadas pelos ditadores papais, não é difícil prever que os católicos ignorarão as ululações de Roma e não se coibirão de utilizar tratamentos com células estaminais, se estes forem disponibilizados.

Por essa razão, é igualmente prevísivel que os fundamentalistas católicos tudo farão para impedir que a investigação nessa área prossiga. O primeiro passo já foi dado por Trujillo que pretende excomungar latae senentiae, isto é automaticamente, cientistas que trabalhem com células estaminais e os políticos que aprovem leis permitindo essa investigação.

Mais ofensivas contra a ciência são esperadas do seminário que Bento XVI conduzirá em Castel Gandolfo, devotado a examinar a teoria da evolução e o seu impacto no catolicismo…

28 de Agosto, 2006 Palmira Silva

A ciência nos Estados Unidos

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Continuando a sua tradição de homenagear em selo cientistas americanos, o serviço postal americano acrescentou uma nova série à lista que já incluia John von Neumann*, Barbara McClintock, Richard P. Feynman e Jonas Salk entre outros. Considerando que a ciência nos Estados Unidos está sob ataque cerrado do governo de G. W. Bush e dos seus devotos apoiantes, de que o post anterior é apenas mais um exemplo a Stay Free Magazine propõe no seu blog esta série dos American Scientists, muito mais em conformidade com a visão exegética da ciência do actual governo.

Para os menos familiares com a política norte-americana, William Jennings Bryan, um fundamentalista cristão assumido, muito envolvido no julgamento de Scopes (o famoso Monkey Trial), atribuia a Darwin todos os males do mundo; G.W. Bush não necessita apresentação; Rick Santorum, um católico fundamentalista, é um imbecil que introduziu o que ficou conhecido como Santorum Amendment, uma emenda à lei de financiamento da educação pública que promovia a IDiotia e questionava o ensino da ateia evolução, finalmente Deus é o mito que os fundamentalistas americanos consideram ter fundado o seu país!

*John von Neumann, um matemático húngaro de origem judaica que se naturalizou americano em 1937, considerado o mais brilhante matemático de sempre, contribuiu especialmente para o desenvolvimento da Mecânica Quântica, Teoria dos conjuntos, Ciência da Computação, Economia e Teoria dos Jogos mas deu contribuições preciosas praticamente em todas as áreas da Matemática. Foi um dos construtores do primeiro computador, o ENIAC (Eletronical Numerical Integrator And Computer).

A base matemática rigorosa da mecânica quântica só foi estabelecida após a publicação, em 1933, do livro de Neumann The Mathematical Foundations of Quantum Mechanics.

Neumann decidiu desenvolver a sua própria versão da mecânica quântica após ter assistido a uma conferência de Heisenberg sobre mecânica matricial. No seu livro, Neumann descreve a sua teoria de operadores (álgebra de Neumann) que criou para explicar determinados aspectos da mecânica quântica. Em grande parte devido ao seu trabalho, foi provada a equivalência matemática entre as formulações de Schrödinger e Heisenberg. A mecânica ondulatória de Schrödinger tornou-se o método mais popular por ser menos abstracta, menos hermética e consequentemente mais fácil de entender que a mecânica matricial de Heisenberg. Também em 1933 von Neumann resolveu o quinto problema de Hilbert.

David Hilbert, um dos mais importantes matemáticos da era moderna – que, na Universidade de Göttingen, foi professor de Born, Heisenberg, Jordon e do próprio von Neumann – apresentou os famosos 23 problemas com que desafiou os melhores matemáticos do século XX no International Congress of Mathematicians em Paris. O trabalho de Hilbert no espaço de infinitas dimensões, conhecido por espaço de Hilbert, foi igualmente imprescíndivel ao desenvolvimento da mecânica quântica.

27 de Agosto, 2006 Palmira Silva

A epístola sobre a morte da ciência

Jon Swift tem mais um post satírico fabuloso sobre as limitações mentais (e ortográficas) dos apoiantes incondicionais de G. W. Bush, devotos teocratas como o próprio presidente dos Estados Unidos.

Enfim, alguns teocratas, de acordo com uma sondagem recentemente publicada pelo Pew Forum, acham que há algumas maçãs podres no cesto republicano. De facto, com maioria no Senado o GOP ainda não conseguiu produzir legislação proibindo o execrado casamento homossexual e assistiu-se recentemente ao cúmulo do ateísmo republicano quando alguns senadores do GOP votaram a favor do alargamento do financiamento da investigação em células estaminais, obrigando Bush a usar o poder de veto pela primeira vez.

Mas o que proporcionou a prosa imperdível em questão é um post de um blog que dá pelo aliciante nome «Blogs for Bush», que tem feito as delícias da blogoesfera americana.

Mark Noonan, um devoto cristão a quem a centelha do pensamento crítico, aliás diria de qualquer pensamento, nunca lhe agraciou as sinapses e que está a leste do que seja ciência, considera como dado adquirido que a ciência morreu, nos Estados Unidos pelo menos. Tal feito deve-se não aos esforços envidados para tal pela administração Bush mas às «mentiras» dos ateus cientistas que se desviaram dos caminhos da «Verdade»!

Isto é, pouco versados em religião devido ao secularismo «esquerdista» que a excluiu das salas de aulas, os ateus cientistas rejeitam o «conhecimento da verdade genuína, da razão genuína e da relação do homem com a criação e com o seu Criador» e tal ditou o Fim da Era da Ciência.

Recomendo a leitura desta epístola contra a ciência, uma ilustração perfeita das ruminações acéfalas de um fundamentalista cristão. Como antídoto o post de Jon Swift, simplesmente delicioso, é indispensável!

27 de Agosto, 2006 Carlos Esperança

MINISTRA DO OPUS DEI DEFENDE ESCOLA RELIGIOSA

A ministra britânica para as Comunidades, Ruth Kelly, defendeu, em Londres, o papel das escolas religiosas, perante acusações de fomentarem a segregação entre pessoas de diferentes credos religiosos.

A Europa secularizada e democrática esquece as lutas que travou e o sangue que verteu na defesa da liberdade para ceder a pressões e capitular perante o proselitismo religioso, através de líderes que se vendem por um punhado de votos.

Na Inglaterra, a ministra Ruth Kelly, membro do Opus Dei, nomeada por Blair, que gosta de afirmar publicamente a sua religiosidade, e, quiçá, convertido ao catolicismo, defende as escolas religiosas face à escola pública, uma forma de entregar crianças ao proselitismo dos credos que se digladiam em busca da hegemonia no mundo globalizado.

Às escolas protestantes e católicas juntam-se agora as islâmicas, sikhs e hinduístas.

A fanatização de crianças fica ao alcance de clérigos que orientam ideologicamente a formação e substituem os professores que educam para a cidadania.

Neste retrocesso histórico e civilizacional, no atropelo à escola pública e no desprezo pela laicidade germina a semente do ódio e da competição religiosa.

Quando os líderes dos Estados laicos abdicam do papel de árbitros e se conluiam com os chefes religiosos lavram os campos onde semeiam ódio, cultivam rivalidades étnicas e colhem sentimentos comunitaristas em detrimento da cidadania.

A cobardia de alguns dirigentes políticos põe em perigo a liberdade, mina os alicerces da democracia e abre caminho para regimes teocráticos que fomentam a intolerância, o terror e a guerra.

26 de Agosto, 2006 Palmira Silva

Holocausto: o milagre da Rosa

Como já referi, o único argumento católico para justificar o silêncio ensurdecedor face às atrocidades nazis das cúpulas da Igreja Católica, especialmente de Pio XII, reside na ululação de que se Pio XII ou a Igreja tivessem falado abertamente contra os nazis o horror do Holocausto teria atingido dimensões ainda mais catastróficas.

Essa desculpa não colhe pelo facto de que essa contenção não foi seguida pelo Vaticano noutros conflitos da época, nomeadamente por Pio XI, que em 1936 despoleta a Guerra Civil de Espanha ao exortar os católicos espanhóis a lutarem contra o governo democraticamente eleito, dizendo ser seu dever como católicos auxiliar Franco na «difícil e perigosa tarefa de defender e restaurar os direitos e a honra de Deus e da Religião».

Mas não colhe especialmente porque a pretensão de que os cristãos alemães e especialmente a Igreja Católica eram impotentes face ao terror nazi é uma manobra propagandistica sem qualquer fundamento histórico, num estilo que Goebbels teria apreciado.

Como indica Sarah Gordon, «o facto de as igrejas alemãs não terem falado contra a perseguição racial é uma vergonha… porque os nazis temiam o poder político e o poder da propaganda das igrejas».

Na realidade, o poder de Hitler assentava na sua popularidade e na sua aprovação incondicional pelo povo alemão, não era um poder imposto pelo terror. Assim, seria contraproducente para um regime que se pretendia popular impor esse poder pela força, sendo a táctica adoptada a intoxicação da opinião pública por recurso a propaganda – muitas vezes através de jornais e revistas cristãs- educação (cristã, claro), persuasão e pressão social. Claro que os opositores políticos, ateus comunistas e socialistas em especial, eram perseguidos, mas a opressão da população em geral era inexistente até ao estertor do regime e mesmo nessa altura completamente ineficiente. A ideia de um regime estilo estalinista é uma fantasia cinematográfica sem apoio histórico. Aliás, são muito raros os casos de retaliação sobre soldados, membros do partido ou até membros das SS que se recusassem a cometer qualquer atrocidade. Tão raros que os nazis acusados de crimes de guerra não podiam invocar medo de retaliação para justificar esses crimes.

Há ainda inúmeros exemplos de que objecção popular determinada obrigou Hitler a retroceder em decisões alvo de constestação para não pôr em risco o precioso apoio popular. E há inúmeros exemplos de mobilização dos crentes pelas igrejas contra determinadas decisões, mobilização unicamente em defesa dos interesses das Igrejas, a defesa dos judeus nunca foi uma causa cristã.

Por exemplo, quando as igrejas protestantes recusaram a união na grande Igreja Cristã do Reich preconizada por Hitler, este abandonou a ideia. Ou quando alguns membros do partido nazi removeram crucifixos das escolas da Baviera, sem a autorização de Hitler, os protestos vigorosos dos bávaros resultaram na sua substituição muito rápida. E quando Hitler prendeu os bispos protestantes Hans Meiser e Theophil Wurm os protestos públicos que se seguiram, um deles reunindo 7 000 manifestantes, resultaram na sua libertação e na retoma das respectivas funções, o que aconteceu com muitos louvores da parte de Hitler.

Os protestos de Clemens August von Galen, bispo de Munster, em relação ao programa para eliminar os deficientes mentais levaram ao cancelamento deste programa. Embora alguns oficiais contemplassem a remoção do bispo católico, o regime nazi conhecia os seus limites e sabia que não podia afrontar a Igreja Católica. Goebbels avisou «perderemos toda a população de Muenster durante a guerra se algo for feito contra o bispo… na realidade perderemos toda a Westphalia».

Mas o incidente mais ilustrativo da vacuidade das pretensões católicas é o incidente de Rosenstrasse (Rua da Rosa). Na Alemanha nazi viviam abertamente cerca de 30 000 judeus com consortes cristãos, na sua maioria homens. Até 1943, os nazis, mui respeitadores dos valores cristãos em relação à família, deixaram-nos em paz uma vez que não sabiam o que fazer a esses judeus sem violar a «santidade» do matrimónio. No início de 1943, Goebbels, então comandando Berlim, decidiu ser tempo de «limpar» a capital, com o acordo de Hitler. E reuniu cerca de 2 000 judeus casados com arianas num edíficio na Rosenstrasse, de onde seriam deportados para campos de concentração.

Durante uma semana as suas esposas cristãs, desorganizadas e indefesas, suportaram o frio e as ameaças da Gestapo na Rua da Rosa gritando «Queremos os nossos maridos de volta» . E qual foi o resultado da única demonstração na Alemanha nazi em prol dos judeus? Os maridos judeus foram libertados com a aprovação de Hitler, inclusive 25 que já tinham sido enviados para Auschwitz. Não houve qualquer tipo de represálias sobre as manifestantes ou sobre as suas famílias. No fim da guerra, a maioria dos sobreviventes judeus na Alemanha, pelo menos 98%, eram membros de casais mistos, que foram protegidos pela determinação e coragem de uns milhares de esposas dedicadas.

Podemos apenas imaginar o que teria acontecido se a Igreja Católica, com uma estrutura bem montada e organizada em todo o país, com o apoio de uma máquina de progaganda comparável à do III Reich, tivesse optado por protestar as atrocidades que sabia estarem a acontecer. Optou pelo silêncio «diplomático» por razões que a História confirma não incluirem medo de represálias…

26 de Agosto, 2006 Carlos Esperança

16ª Conferência Internacional da Sida

Regresso ao tema já tratado, e bem, pela Palmira.

No dia 18 do corrente mês terminou em Toronto a 16.ª Conferência Internacional da SIDA, uma pandemia que, só em 2005, matou 2,8 milhões de pessoas e provocou mais 4,1 milhões de novos contágios.

A Conferência da SIDA terminou com um apelo ao mundo para que seja garantido acesso universal à prevenção e tratamento do vírus.

Há actualmente 39 milhões de portadores do vírus da Sida, tendo a epidemia já causado a morte a 25 milhões de pessoas desde os primeiros casos diagnosticados em 1981.

Apesar da tragédia que se abate sobre a humanidade há um minúsculo Estado totalitário que insiste na castidade e na fidelidade como únicos meios de prevenção – o Vaticano.

A teologia do látex continua a ser a única perfilhada por aquelas criaturas, cujo celibato é indissolúvel, e que consideram o preservativo uma abominação.

Não sei se Deus preveniu Moisés contra o preservativo, se a bíblia, esse manual de ódio, intolerância e racismo, diz alguma coisa sobre a camisa-de-vénus, mas sabe-se do ódio que o Papa, bispos e padres nutrem pelo meio mais eficaz de prevenção do contágio.

O Papa e outros parasitas da fé que o amam, como as pulgas adoram cães, têm prestado à humanidade um péssimo serviço e são responsáveis, com as suas posições, por maior número de mortes do que as que infligiram, pelo fogo, durante a Inquisição.

O Vaticano ainda não aceitou que o preservativo é o meio mais eficaz para prevenir a SIDA e as doenças sexualmente transmissíveis, porque o negócio das almas é mais importante do que a felicidade dos homens e mulheres que habitam o Planeta.