Abade saído das cascas
O abade Pierre, fundador da comunidade Emmaüs, publicou ontem um livro intitulado «Mon Dieu… pourquoi?», em que aborda questões como o celibato dos padres, o sacerdócio das mulheres e onde confessa ter tido relações sexuais com mulheres de «maneira passageira».
De acordo com este padre, Roma autoriza desde há muito os «padres casados» ordenados nos ritos católicos do Oriente, como os coptas ou maronitas, acrescentando «Não vejo por que razão João Paulo II pôde afirmar recentemente que estava fora de questão abrir [a questão do] celibato para o resto da Igreja Católica». O fim do celibato «permitiria resolver, parcialmente, a crise das vocações e da penúria de padres».
No plano da teologia, o abade Pierre não vê «nenhum argumento de monta que proibiria a Jesus, o Verbo personificado, de conhecer uma experiência sexual», especialmente com Maria Madalena, «a mulher que foi mais chegada, à excepção da mãe». Se tal aconteceu ou não «não muda nada ao essencial da fé cristã».
Quanto à questão da ordenação das mulheres, o fundador da comunidade Emmaüs não vê quaisquer problemas. «Sejam quais forem as eminentes funções que ocupam, aqueles que tomam tais posições nunca avançaram um único argumento teológico decisivo que demonstre que o acesso das mulheres ao sacerdócio seria contrário à fé».
No que diz respeito aos direitos dos casais homossexuais, o abade reconhece-lhes o direito de adoptarem crianças e de «provarem o seu amor à sociedade», mas prefere que usem o termo «aliança», em vez de «casamento» para qualificarem a sua união uma vez que tal criaria «um traumatismo e uma desestabilização social forte».
É pena que estas posições mais tolerantes e equilibradas não constituam a maioria na hierarquia da ICAR. Se assim fosse, talvez não tivessemos tanto a apontar à Igreja Católica.