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3 de Março, 2005 Palmira Silva

Atentado de Bali

Um tribunal indonésio considerou o líder religioso radical Abu Bakar Ba’asyir culpado de conspiração no atentado de Bali, em 2002, que causou a morte a 202 pessoas.

Ba’asyir, condenado a dois anos e meio de prisão, negou todas as acusações e vai apelar da sentença.

O grupo radical islâmico Jemaah Islamiah, com presumíveis ligações à Al-Qaeda, é considerado pelas autoridades indonésias como responsável não apenas do atentado de Bali mas também de outros atentados como o de 2003 no hotel JW Marriot em Jacarta. Ba’asyir é considerado o líder espiritual deste grupo terrorista.

Em 2002 Abu Bakar Ba’ayir tentou processar a revista Time por esta ter publicado vários artigos que apontavam a ligação entre o clérigo e não só o Jemaah Islamiah mas também com Omar al-Faruq, da al-Qaeda.

Ba’ayir dirigia a escola islâmica Solo em Java e integrava o Conselho Mujahideen que pretende transformar a Indonésia num país islâmico, estritamente sujeito à Sharia. O clérigo fez vários apelos neste sentido assim como declarou o seu apoio a Osama Bin Laden, mas nega qualquer relação pessoal com este último e com o terrorismo em geral.

2 de Março, 2005 jvasco

Blasfémia na Blogosfera

Ontem e hoje alguns artigos do Barnabé foram muito comentados: um artigo sobre a forma como a Igreja Católica tem explorado a condição débil do Papa, e outros sobre os comentários a este artigo, um do autor do mesmo (Nuno Sousa), outro do Rui Tavares e outro do João MacDonald.

Verifica-se o mesmo que cá no Diário Ateísta já conhecemos: existem muitos crentes intolerantes para quem admitir a existência de ateus e agnósticos já é cedência suficiente: desde que eles se mantenham bem silenciosos. Qualquer argumentação por parte de não-crentes é considerada proselitismo (mesmo que feita em espaços próprios como o nosso blogue, onde só vai quem quer); qualquer texto humorístico é considerado falta de respeito.
Até no blogue de nome Blasfémias vários leitores e autores se indignaram quando um dos autores se limitou a colocar uma carta do cardeal Cerejeira na qual este escrevia que a irmã Lúcia tinha dito que Salazar havia sido escolhido por Deus para guiar os destinos de Portugal.

Mas, felizmente, a Blogosfera Portuguesa não é a Grécia. O nosso blogue continua a aumentar o número de visitas, e, de vez em quando, ainda vamos sendo agraciados por diferentes textos interessantes que, de uma perspectiva céptica, falam sobre religião. O artigo «Um estado totalitário» do Blogo logo existo é um excelente exemplo. Este blogue também comentou aquilo que se passou no Barnabé.

2 de Março, 2005 Carlos Esperança

Da parte de «Nosso Senhor JC»

PARTICIPAÇÃO AOS INTERESSADOS

Na impossibilidade de contactar pessoalmente as pessoas envolvidas o padre Nuno Serras Pereira, sacerdote católico, vem por este meio dar público conhecimento que, em virtude do que estabelece o cânone 915 do Código de Direito Canónico,

está impedido de dar a sagrada comunhão eucarística a todos aqueles católicos que manifestamente têm perseverado em advogar, contribuir para, ou promover a morte de seres humanos inocentes

quer através de diversas pílulas, do DIU, da pílula do dia seguinte – ou outras substâncias que para além do efeito contraceptivo possam ter também um efeito letal no recém concebido; quer por meio das técnicas de fecundação extra-corpórea, da selecção embrionária, da crio perseveração (sic), da experimentação em embriões, da investigação em células estaminais embrionárias, da redução fetal, da clonagem…; quer através da legalização do aborto (votar ou participar em campanhas a seu favor), o que inclui a aceitação ou concordância com a actual «lei» em vigor (6/84 e seus acrescentos); quer ainda pela eutanásia.

O respeito pelo culto e pela reverência devida a Deus e a Seu Filho sacramentado, o cuidado pelo bem espiritual dos próprios, a necessidade de evitar escândalo, e a preocupação pelos sinais educativos e pedagógicos para com o povo cristão e para com todos são razões ponderosas que, seguramente, ajudarão a compreender a razão de ser deste grave dever que o cânone 915, vinculando a consciência, exige dos ministros da Eucaristia.

Da parte de Nosso Senhor Jesus Cristo convida todos ao arrependimento e à retractação pública, para que refeita a comunhão com Deus e a Sua Igreja possam receber digna e frutuosamente o Corpo do Senhor.

a)_________________________
Pe Nuno Serras Pereira

Nota: Anúncio do «Público», de hoje, pg. 16

1 de Março, 2005 Ricardo Alves

Ensinar o ateísmo?

O padre António Rego defende (na Agência Ecclesia) que a religião continue a ser ensinada na escola pública, e justifica-o afirmando que «o religioso não é um elemento recôndito ou clandestino do ser humano». O editorialista da Ecclesia destaca, aparentemente como exemplares, as declarações de um ministro dinamarquês que afirmou «[preferir] uma escola multi-confessional que aceite, no mesmo grau, os símbolos muçulmanos, a uma escola que interdite as religiões» (do último caso serão exemplos, horrendamente jacobinos, as escolas da França e da Turquia). António Rego não resiste sequer a classificar como coisa de «regimes totalitários e repressivos» a ausência de ensino da religião nas escolas públicas.
Situemo-nos. Na ocidental República portuguesa, o ensino da religião católica a expensas do Estado está garantido, e mesmo salvaguardado por um tratado internacional (a Concordata) que só poderá ser alterado com o consentimento de ambas as partes. A lei dita «da liberdade religiosa» regulamenta as condições em que algumas igrejas, escolhidas a dedo, podem ensinar a sua religião na escola pública. Se alguma opção filosófica não está contemplada com uma disciplina própria no ensino que todos pagamos, é o ateísmo.
Em boa lógica, António Rego deverá concordar comigo quando acrescento que o ateísmo também não é um «elemento recôndito do ser humano». É uma opção tão legítima como a crença, católica ou outra. Defenderá portanto António Rego que o ateísmo e os seus símbolos estejam presentes nas escolas públicas portuguesas, retirando assim esta opção historicamente tão reprimida da situação em que actualmente se encontra, e que António Rego classificará sem dúvida de «clandestina»? Considerará o actual regime «totalitário» por não permitir o ensino do ateísmo?
Pessoalmente, dispenso favores do Estado para a difusão da minha opção filosófica. Prefiro uma escola laica em que a crença, ou a sua ausência, fique com o íntimo de cada um. Talvez isto seja jacobinismo, mas justamente por não vivermos num Estado totalitário é que cada um é livre de se organizar para difundir as suas ideias. Mas estas organizações deveriam ficar à porta da escola de todos.
28 de Fevereiro, 2005 Carlos Esperança

«Memória e Identidade»

As preocupações do Diário Ateísta com a ofensiva reaccionária e antidemocrática dos meios religiosos começam a ser partilhadas por diversos cidadãos que já se deram conta do perigo do proselitismo exacerbado, da defesa de valores anacrónicos e da exaltação dos próceres eclesiásticos. Está em curso uma escalada clerical de forma metódica e concertada.

Surpreendentemente, até hoje, não houve da parte do Vaticano uma condenação do fascismo islâmico (não há outro nome para definir as teocracias árabes) pela pena de morte contra Salman Rushdie ou pela criminosa aplicação da charia. No entanto, grasna e crocita contra o laicismo e as decisões democráticas dos países livres.

O livro «Memória e Identidade», atribuído a JP2, é um vómito contra a liberdade expelido pela Cúria romana, um labéu contra o laicismo e um convite à revolta dos crentes contra as democracias laicas e liberais.

O Editorial do «Público» de hoje, assinado por Manuel Carvalho, com o título «O Papa e a Democracia» é um libelo acusatório contra o fundamentalismo católico e uma denúncia implacável das posições ideológicas do livro papal e do desejo manifesto de provocar um retrocesso civilizacional na sociedade.

O mundo confundiu o anticomunismo de João Paulo II com espírito democrático e o seu sorriso com bondade. Hoje, a popularidade do déspota é uma arma contra a liberdade. A beatificação de Pio IX e outros algozes que nos remetem para o passado negro da ICAR devia ter-nos alertado para as alfurjas do mal que medram no Vaticano.

28 de Fevereiro, 2005 Ricardo Alves

A Comissão Europeia prefere a Cientologia aos Humanistas

No dia 16 de Novembro, a Comissão Europeia reuniu com representantes de várias igrejas, desde a Igreja Católica Apostólica Romana até à Igreja da Cientologia. Não foi convidado qualquer representante das organizações laicas, humanistas ou ateístas. Respondendo a perguntas de deputados ao Parlamento Europeu, José Barroso afirmou há poucos dias que este tipo de reunião pode ser encarada efectivamente como um prenúncio do «diálogo aberto, transparente e regular» previsto no artigo I-52 do projecto de Tratado da União Europeia, e não foi claro quanto à inclusão futura de organizações não confessionais neste tipo de diálogo.
(Informações da Federação Humanista Europeia).
28 de Fevereiro, 2005 Ricardo Alves

Lei da blasfémia em debate no Reino Unido

É possível que venha a ser aprovada no Reino Unido uma lei contra o «incitamento ao ódio religioso», especificamente concebida para proteger da crítica o Islão. Existem razões fundadas para temer esta limitação à liberdade de expressão, como argumentam Salman Rushdie (que ainda sofre na pele as consequências de criticar a religião) e Timothy Garton Ash. Actualmente, ainda está em vigor no RU uma lei que protege o cristianismo contra a blasfémia. Uma proposta para revogar esta última lei foi derrotada.
28 de Fevereiro, 2005 Ricardo Alves

«Deus» não é necessário para ter ética

Segundo uma sondagem em catorze países da Europa, 71% dos europeus acreditam em «Deus», embora apenas 53% acreditem na «vida depois da morte». Os números variam desde 37% de crentes na Chéquia até 97% na Polónia. No entanto, menos de metade dos europeus (43%) acreditam que a religião é necessária para «distinguir o bem do mal». A sondagem foi encomendada pelas «Selecções do Reader´s Digest» através de institutos nacionais na Alemanha, Áustria, Bélgica, Chéquia, Espanha, Finlândia, França, Hungria, Países Baixos, Polónia, Portugal, Reino Unido, Rússia e Suíça.
Fonte: Laic.info.
27 de Fevereiro, 2005 Carlos Esperança

A Cúria não tem cura

A Cúria romana merece a credibilidade dos milagres que autentica e o respeito que ela própria nutre pelas instituições democráticas dos países onde a ICAR desfruta de poder. Não tenho, pois, a mais leve consideração ou respeito pela corte papal, responsável por decisões anacrónicas, quiçá criminosas, no que diz respeito ao controlo da natalidade, à prevenção da SIDA, à prática da sexualidade ou à investigação científica.

Podia, pelo menos, esperar-se dos gerontes que acolitam o Papa alguma humanidade e um mínimo de respeito pela lenta e penosa agonia de um doente terminal. Nada disso. Ontem fizeram constar à comunicação social que JP2 tinha sido proibido pelos médicos de chegar à janela, para hoje o exibirem e explorarem perante uma pequena multidão de devotos, postos em delírio por técnicas de manipulação psicológica através dos órgãos de comunicação social. Sem pudor e sem piedade, exploram a dor e o sofrimento de um inválido, posto a render no mercado da emoção.

Prisioneiro da sua invalidez, incapaz de falar ou de ter vida autónoma, JP2 – segundo a Cúria – escreve mensagens. É através delas que governa a ICAR enquanto a morte não chega ou não lha chegam. Neste jogo de mentiras não se sabe se os médicos proibiram, de facto, que o Papa fosse à janela – como afirma a Cúria – ou se o levaram, contra a indicação clínica, para o aliviarem do sofrimento.

Na mensagem que lhe atribuem, lida aos fiéis pelo arcebispo Leonardo Sandri, na Praça de S. Pedro, em Roma, JP2 pede que rezem por ele o que leva a crer que, tendo perdido a fé em Deus, implora aos crentes para que intercedam, redobrando o fervor e multiplicando as orações.

Um cardeal espanhol, especialista em questões jurídicas do Vaticano afirmou hoje à agência France Press que João Paulo II não vai renunciar ao cargo porque a Igreja Católica «não é a Coca-Cola ou a General Motors» – diz a SIC Online. Pelos vistos, não está nos projectos da ICAR dedicar-se ao fabrico de refrigerantes ou automóveis.

26 de Fevereiro, 2005 Palmira Silva

Luto Internacional

Morreu o homem que «trouxe luz para a escuridão das prisões, o horror das câmaras de tortura e campos de morte ou tragédia em todo o mundo», um homem «cuja consciência brilhou num mundo cruel e aterrador, que acreditava no poder das pessoas comuns para promover uma mudança extraordinária e, criando a Amnistia International, deu a cada um de nós a oportunidade de fazer a diferença».

O Diário Ateísta junta a sua às muitas vozes que hoje recordam o humanista que marcou a segunda metade do século XX, Peter Benenson, o fundador da Amnistia Internacional.

Movimento cuja génese está ligada a Portugal. De facto, no auge das lutas estudantis contra o Estado Novo, a polícia prende dois jovens por gritarem na via pública: «Viva a liberdade». Uma prisão que teria passado despercebida não fora ter sido noticiada no jornal inglês «The Observer» e lida pelo advogado britânico que ficou tão indignado com a notícia que resolveu lançar um apelo para organizar ajuda a todos os presos por convicções políticas, religiosas ou raciais.

Morreu o homem mas a obra perdurará para sempre, como um raio de esperança contra a intolerância, o despotismo e a desumanidade!