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22 de Dezembro, 2006 jvasco

A tradição já não é o que era (mas anda lá perto)

Segundo a Agência Ecclesia, menos de metade das crianças britânicas entre os 7 e os 11 anos sabe que o Natal é a celebração do nascimento de Jesus. A culpa parece ser do carteiro:

«Os protestos viraram-se, em boa parte, contra o Royal Mail, serviço postal britânico que este ano eliminou qualquer referência cristã dos seus selos: só há renas, árvores de Natal, bonecos de neve e pais natais. Nenhuma imagem lembra, como em ocasiões anteriores, o Nascimento de Cristo.»

Qualquer dia até ensinam às crianças que já havia um festival Romano celebrado nesta semana muito antes do Cristianismo. Dedicado ao deus Saturno, incluía um período de férias escolares, troca de presentes, muita bebida, comida, alegria, e um mercado especial da época. Até o cariz comercial do Natal antecede o Cristianismo. Eventualmente os Cristãos aproveitaram o festival para os seus propósitos. Espetaram uma missa no fim, substituíram Saturno por Jesus, e acabaram com a tradição de ir tudo cantar nu para a rua. Esta última talvez a única melhoria; para cantar nu na rua é mesmo melhor esperar pelo tempo mais quente.

Mas agora voltamos às origens. Dezasseis séculos depois da usurpação Cristã o Natal é finalmente o que era: comer, beber, gastar rodos de dinheiro, e divertir-se à brava quer se queira quer não. Jesus nasceu? Boa! Junte-se à festa, que quantos mais, melhor.

——————————–[Ludwig Krippahl]

21 de Dezembro, 2006 Ricardo Alves

Feliz solstício a todos!

Caros ateus e ateias (e outras pessoas sem religião),

a noite de hoje será a mais longa do ano em todo o hemisfério norte do nosso planeta. A partir de amanhã, os períodos diários de luz aumentarão novamente.

O ponto de viragem que a noite de hoje constitui, e que se deve a factos elementares do nosso planeta, justifica que seja assinalada. E porque prezamos a liberdade, da forma que cada um quiser. Provavelmente será natural procurar os amigos ou a família, estar com quem se gosta e comer e beber bem. Porque a falta da luz do sol pode provocar uma certa angústia e gostamos de ser confortados.

Não é necessário iludirmo-nos com deuses. Nenhum sacrifício, jejum ou pensamento que façamos tornará o regresso da luz menos inelutável. A ciência garante-nos que teremos mais e mais luz a partir de amanhã.

Feliz solstício e boas festas a todos os leitores.
21 de Dezembro, 2006 Palmira Silva

O aborto em França e as práticas actuais

No passado dia 17 de Dezembro o Movimento Médicos pela Escolha realizou uma conferência dedicada ao tema «O aborto em França e as práticas actuais», em que participou a ginecologista/obstreta Elizabeth Aubény, membro fundador e presidente honorária da FIAPAC (Federacion Internacionale des Associations de Professionals de Avortement et de la Contracepcion).

O testemunho da médica sobre a realidade da prática do aborto num país onde este é legal há três décadas permite desfazer alguns dos mitos sobre o tema.

Nomeadamente, demonstra inequivocamente que a legalização/despenalização não conduz, como pretendem muitos, a um aumento do número de abortos realizados, como se pode confirmar nesta figura onde são indicados os valores médios de interrupções voluntárias da gravidez por mulher no período 1976-1997.


Por outro lado, considerando que muitos apontam os custos para o SNS que a despenalização da IVG acarretaria (presumindo à partida que o SNS a suportará, o que não é certo) é útil confirmar na experiência francesa que tal não é verdade.

De facto, a maioria das IVGs faz-se até às 6 semanas, como indicado no gráfico seguinte, com cerca de 56% das intervenções realizada com recurso a fármacos, nomeadamente mifepristone ou a pílula RU-486, o que, segundo Elizabeth Aubény, implica serem os custos da IVG para o Estado Francês bem menores do que os custos do tratamento das complicações derivadas do aborto clandestino. E claro, são eliminadas as consequências do aborto clandestino (infecções generalizadas, infertilidade e morte).


De realçar ainda que não obstante a IVG ser legal em França este país tem a 2ª maior taxa de fecundidade da União Europeia.

Como nota final, constata-se que há um número elevado de portuguesas que realizam em França o que é criminalizado em Portugal, embora o número tenha diminuido desde que é possível realizá-lo em Espanha.

(Publicado simultaneamente no EuVotoSim) tag

20 de Dezembro, 2006 Carlos Esperança

Quem tem medo de um cadáver?

«Ele está no meio de nós»
+ António, Bispo de Angra

Não há bispo nem padre que não nos ameace com o cadáver desaparecido, há cerca de vinte séculos, dizendo que está no meio de nós.

Os mortos e a morte foram sempre instrumento de promoção da fé, alimento dos medos colectivos e objecto de chantagem sobre supersticiosos e beatos. Vejam que os ociosos, que dedicaram a vida à oração e à contemplação mística – espécie de estado vegetativo – aproveitaram a morte para obrar milagres.

Vão-se esquecendo os crentes que da madeira da suposta cruz onde Cristo, depois de pregar, acabou pregado, foram vendidas toneladas, para relicários, quando o comércio de relíquias atingiu o auge em plena Idade Média. A ferradura, a figa e outros amuletos, de eficácia comprovada, pouco valiam perante uma apara de madeira com certificado de origem passado pelo Vaticano.

São cada vez mais exíguas as mercadorias que os pios devotos compram para protecção pessoal. Água do rio Jordão, saquinhos de terra de Jerusalém e ramos de azinheira, de Fátima, são dos raros artigos que ainda se vêem em casas de gente devota.

Cuecas de Santo Escrivá ou calcinhas de madre Teresa são tesouros que os museus das Ordens conservam mas que não estão disponíveis no mercado.

Com JP2 ainda se vendiam fotografias mas do actual Papa ninguém as compra a não ser para assustar crianças que recusam a sopa.

É por isso que o cadáver de Cristo, desaparecido em condições estranhas e exportado para o Céu depois do número da ressurreição, continua a ser anunciado como objecto de um jogo macabro para ver se alguém o encontra.

«Ele está no meio de nós». Cuidado, não o pisem.

Até agora ninguém tropeçou no cadáver de JC. Resta o cadáver da ICAR que não abdica de fazer retroceder a civilização e intimidar os crentes.

+ Carlos, colaborador do Diário Ateísta

20 de Dezembro, 2006 Palmira Silva

Organizações cristãs exigem direito à intolerância

A «causa» cristã mais glorificada no momento é o direito à intolerância. Assim, depois de nos Estados Unidos a Christian Legal Society, uma associação de juizes e advogados, ter formado um grupo nacional para revogar nos tribunais federais as políticas de tolerância actuais, a moda cristã de ulular serem «perseguição religiosa» as leis que pretendem acabar com a discriminação baseada na orientação sexual chegou ao Reino Unido, mais concretamente à Irlanda do Norte.

Sete grupos cristãos irlandeses iniciaram uma acção judicial pelo direito de serem intolerantes e poderem discriminar os execrados homossexuais, nomeadamente opondo-se a uma nova lei – Equality Act (Sexual Orientation) Regulations – que entra em vigor na Irlanda do Norte no dia 1 de Janeiro e que bane a discriminação de homossexuais na área de serviços, sendo vedado aos cristãos negarem-se a fornecer serviços e vender bens a homossexuais.

Em Inglaterra, a Sexual Orientation (Provision of Goods and Services) Regulations – uma lei que penaliza a homofobia, nomeadamente a recusa de prestação de serviços a homossexuais, tem sido empastelada pela Opus Dei Ruth Kelly que pretende que a nova lei não se aplique a organizações religiosas para que estas possam continuar a discriminar homossexuais.

Rupert Kaye, presidente da Associação de Professores Cristãos, explica porquê a nova lei é tão inaceitável aos cristãos do Reino Unido que consideram que a tolerância «interferirá com a liberdade de alguém manifestar a sua religião»: «As escolas religiosas não podem nem devem ser obrigadas legalmente a respeitar indíviduos ou organizações cujas crenças ou estilos de vida são anátema para os cristãos».

Isto é, confirmando que a intolerância é indissociável do cristianismo e a já habitual cristianovitimização, os cristãos consideram ser um direito cristão inalienável desrespeitar quem não segue os ditames da sua crença. E carpem-se perseguidos se forem obrigados a respeitar os que não seguem as suas crenças!

Como apontava uma das nossas leitoras no espaço de debate do post «O Público errou», parece plausível que a inventada (e inexistente) «Guerra ao Natal» faça parte das manobras de pressão cristã para evitar que esta lei anti-discriminação entre em vigor!

20 de Dezembro, 2006 jvasco

Carl Sagan

«Um Dragão na minha garagem

– Um dragão que cospe fogo vive na minha garagem.

Suponhamos que eu fazia, com toda a seriedade, esta afirmação. Com certeza o leitor iria querer verificá-la, ver por si mesmo. São inumeráveis as histórias de dragões no decorrer dos séculos, mas não há evidências reais. Que oportunidade!

– Mostre-me – diz o leitor.

Eu levo-o até à minha garagem. O leitor olha para dentro e vê uma escada de mão, latas de tinta vazias, um velho triciclo, mas nenhum dragão.

– Onde está o dragão? – pergunta

– Oh, está ali – respondo, acenando vagamente – Esqueci-me de lhe dizer que é um dragão invisível.

O leitor propõe espalhar farinha no chão da garagem para tornar visíveis as pegadas do dragão.

– Boa ideia – digo eu – mas este dragão flutua no ar.

Então, o leitor sugere o uso de um sensor infravermelho, para detectar o fogo invisível.

– Boa ideia, mas o fogo invisível é também desprovido de calor.

O leitor sugere borrifar o dragão com tinta para torná-lo visível.

– Boa ideia, só que é um dragão incorpóreo e a tinta não vai aderir.

E assim por diante. Eu vou-me oponho a qualquer teste físico que o leitor propõe justificando sempre porque é que não vai funcionar.

Qual a diferença entre um dragão invisível, incorpóreo, flutuante, que cospe fogo atérmico, e um dragão inexistente? Se não há como refutar a minha afirmação, se nenhum experimento concebível vale contra ela, o que significa dizer que o meu dragão existe? A sua incapacidade de invalidar a minha hipótese não é absolutamente a mesma coisa que provar a veracidade dela. Alegações que não podem ser testadas, afirmações imunes a refutações não possuem caráter verídico, seja qual for o valor que possam ter por nos inspirar ou estimular nosso sentimento de admiração. O que eu peço ao leitor é tão somente que, em face à ausência de evidências, acredite na minha palavra. »

—————-Carl Sagan em «Um mundo Infestado de Demónios»

Foi a série Cosmos que comecei a despertar para o ateísmo, enquanto alimentava o meu deslumbramento pela ciência.

Desenvolvi raciocínios, argumentos e reflexões com outros livros de Carl Sagan. Adorei todos os que li.

Hoje é o décimo aniversário da sua morte.
Que a sua obra continue bem viva.

20 de Dezembro, 2006 Carlos Esperança

Notícias do Vaticano

1- Vaticano altera tradução litúrgica da fórmula de consagração do Vinho:
[Sangue de Cristo derramado «por muitos» e não «por todos»]

Comentário: Há quem não goste que lhe sujem o fatinho.

2- Bento XVI: paz na Terra Santa, compromisso de cristãos, judeus e muçulmanos

Comentário: Cuidado, quando esta gente se une é contra alguém.

3- Vaticano afirma que vender ou comprar relíquias é “sacrilégio“, depois que foi descoberto que alguns objectos, que pertenceriam ao Papa João Paulo II, estavam a ser vendidos.

Comentário: Um golpe de génio no negócio paralelo

4 – Vaticano reconhece 2º milagre e frei Galvão deve ser canonizado

Comentário: A bolsa dos milagres abriu em alta esta semana.

5- Vaticano nega que planeie criar clube de futebol

Comentário: Um jogo de cardeais contra arcebispos podia acabar em discussões teológicas e com os paramentos rasgados.

19 de Dezembro, 2006 Palmira Silva

O Público errou

Dada a relevância do mesmo reproduzo integralmente um texto da Associação República e Laicidade a propósito da invenção de mais uma guerra ao Natal. Apenas mais um exemplo da cristianovitimização omnipresente desde os primórdios do cristianismo e de que assistimos um regresso em força a propósito de tudo e mais umas botas:

O texto de ontem do Público, assinado por António Marujo, parece deliberadamente concebido para criar a ilusão de que existe uma campanha internacional para «proibir» alguns festejos desta época. Esta ilusão é construída através de erros factuais e distorções. Apontamos alguns de seguida.

  1. Alega-se que «um inquérito feito em Novembro revelou que três empresários britânicos em cada quatro proibiram decorações alusivas ao Natal». É falso. A pergunta colocada no inquérito (e que teve 74% de respostas positivas) foi: «admite banir decorações de Natal por se preocupar que possa ofender outras fés?» (?Do you admit to banning Christmas decorations because you are worried about offending other faiths??). Portanto, António Marujo omite (deliberadamente?) a diferença entre ter proibido, e admitir fazê-lo em determinadas circunstâncias, transformando uma hipótese num facto. António Marujo também parece ignorar que o mesmo inquérito alude a uma «obrigação legal de celebrar todas as fés» que não existe, o que levanta a suspeita de que seja um inquérito deliberadamente capcioso, formatado para provar a tese da «perseguição anti-cristã».
  2. António Marujo alega também que «a escola Hilarion Gimeno, de Saragoça (…) decidiu que este ano não haveria festas natalícias, para não incomodar as crianças de outras religiões». É verdade que não haverá festa, mas é falso que tenha sido «proibida», e a razão apontada por António Marujo não é citada pelo director da escola, que assume como principal motivação a falta de espaço físico na escola e a falta de tempo para cumprir o programa curricular.
  3. António Marujo cita ainda dois casos que (assumidamente) estiveram-para-acontecer-mas-não-aconteceram: um peru que não foi trocado por um frango (numa escola), e um rabino de Seattle que pediu que fosse colocado um candelabro ao lado das árvores de natal (num aeroporto), o que não lhe terá sido concedido.
  4. Finalmente, o artigo termina citando a despropósito uma nota da Associação República e Laicidade em que se criticava principalmente a demissão do Ministério da Educação de fomentar actividades na escola pública, ligadas a esta quadra e isentas de carácter catequístico. António Marujo parece implicar que a peça teatral em questão, ao retratar o «anjo Gabriel» e o «nascimento de Jesus», está a referir-se a «factos históricos que estão na origem do Natal». Ignoramos qual a base factual que sustenta estas últimas alegações, muito arriscadas num contexto que se pretende noticioso.

A propósito do mesmo artigo no Público recomendo vivamente a leitura do post «Quando o jornalismo sério parece ser proibido» no Renas e Veados.

19 de Dezembro, 2006 lrodrigues

Entregue à Bicharada

Quase quatro anos e muitas centenas de milhar de mortos depois da invasão, a pergunta mantém-se:
Se George W. Bush e a sua administração sempre souberam que o Iraque não tinha armas de destruição maciça e que Saddam Hussein nada teve a ver com o 11 de Setembro, argumentos que justificaram a invasão, por que carga de água e com que objectivo Bush invadiu afinal o Iraque?

Mas talvez a invasão do Iraque tenha, afinal, um objectivo claro, preciso e bem determinado.
De facto, a explicação para esta aparentemente insólita política de defesa norte-americana é, pelos vistos, extremamente simples.

E tem até um nome: chama-se «Christian Embassy».

(Publicado simultaneamente no «Random Precision»)