17 de Fevereiro, 2005 Ricardo Alves
Fátima e o fascismo
Seria injustiça desconhecer a acção vigilante e patriótica dos nossos governantes, bem dignos da gratidão do país pela prudência e pelo zelo com que procuram manter-nos afastados da guerra; mas a situação é tão delicada, tão imprevistas as complicações, tão enevoado o horizonte diplomático, que sem um auxílio especial do céu baldados seriam todos os esforços. É grande de mais a procela para que forças humanas a possam debelar. Bendizendo pois as canseiras daqueles que devotamente zelam pelo bem público, temos que buscar mais alto o segredo da bênção misteriosa que as valoriza e lhes garante a eficácia.
Haverá algum português com fé que não reconheça na nossa situação privilegiada um revérbero daquela luz que a Santíssima Virgem veio trazer a Fátima, que fez incidir na alma dos pastorinhos e por eles sobre o mundo? Não é necessário ter fé; basta contemplar o que em tudo isto há de extraordinário para sentir e reconhecer que um poder mais alto se levanta e um coração terno e misericordioso vela amorosamente por Portugal.
(…)»(…)
Neste montão de escombros materiais e morais, a Concordata de 1940 deve ser considerada, no domínio religioso, como a reparação possível das espoliações passadas e a garantia da liberdade necessária à vida e à disciplina da Igreja, ao exercício do culto e à expansão da fé. Mantendo o princípio da Separação como mais consentâneo com a divisão dos espíritos e a tendência dos tempos, ela dá à Igreja a possibilidade de se reconstituir e mesmo de vir a recuperar por tempos o seu ascendente na formação da alma portuguesa. Sob o aspecto político, a Concordata pretende aproveitar o fenómeno religioso como elemento estabilizador da sociedade e reintegrar a Nação na linha histórica da sua unidade moral.»