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Talibãs aflitos sem necessidade

Os talibãs portugueses decidiram divulgar a sua orientação de voto através de um manifesto ideológico que no seu primeiro parágrafo aproveita a porta aberta por um comunicado da Conferência Episcopal (que exortara, em termos ambíguos, à «participação responsável» dos católicos) para de seguida transcrever um longo excerto da famosa «Nota Doutrinal sobre algumas questões relativas à participação e comportamento dos católicos na vida política», da autoria do talibã-mor Ratzinger (o líder da instituição anteriormente conhecida como «Santo Ofício», vulgo Inquisição). As ideias deste manifesto foram difundidas nos últimos dias numa homilia de um padre de Lisboa (transmitida pela Antena 1) e num artigo do porta-voz do talibanismo à portuguesa (já referido pela Palmira).

Não é, evidentemente, inaudito que a ICAR tome posição em eleições, mas é extravagante que o seu sector ultra-conservador esteja tão preocupado com «[as] leis civis em matéria de aborto e da eutanásia, (…) o dever de respeitar e proteger os direitos do embrião humano, (…) a tutela e promoção da família, fundada no matrimónio monogâmico entre pessoas de sexo diferente (…) perante as leis modernas em matéria de divórcio, (…) a liberdade de educação, (…) a tutela social dos menores, (…) a liberdade religiosa». Efectivamente, toda esta aflição parece despropositada. Se é verdade que o regresso da «esquerda» ao poder não tem as garantias clericais de 1995, quando o PS era liderado por António Guterres (no mínimo, próximo do Opus Dei), em boa verdade a existência de uma «ala católica» na bancada do PS está garantida, quer através do Movimento Humanismo e Democracia, quer através de numerosos independentes católicos como Luís Braga da Cruz (Porto) ou Matilde Sousa Franco (Coimbra). Não há, portanto, matéria para alarme nos sectores talibãs. A maioria de «esquerda» na próxima Assembleia da República (se existir…) será volatilizável quando questões como o aborto ou os casamentos de homossexuais forem votadas (se forem votadas!).

Católicos, tende calma!

Adenda: não é impossível que o objectivo dos assinantes do manifesto (vale a pena ler a lista… e talvez assinar a petição) não seja tentar provocar um «sobressalto conservador» semelhante ao que poderá ter ocorrido nos EUA aquando da eleição presidencial. Os próximos dias serão interessantes.