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Autor: jvasco

28 de Maio, 2007 jvasco

Ateísmo na Blogosfera

  1. «Pode ler-se nesta notícia (PUBLICO.PT) que

    A Eritreia proibiu a mutilação genital feminina (MGF), uma prática que consiste na remoção do clítoris e que atinge 89 por cento das mulheres, islamizadas e cristianizadas, deste país africano. […] a decisão do Governo da Eritreia prende-se com o facto de que a MGF “põe em perigo a saúde das mulheres, causa-lhes um enorme sofrimento e ameaça as suas vidas”.

    […] a razão que se encontra por detrás destes atentados à “saúde das mulheres”, a saber, o fanatismo religioso e a obediência cega a preceitos sócio-culturais.»Excisão a desaparecer», no Neo-Illuminati)

  2. «O que é curioso em todos os misticismos é o modo como se agarram a futilidades materiais (intersecções de astros – porque não calhaus?; o ídolo a que se dirige as orações – porque não a um fragmento de louça sanitária?; trocar o sofrimento e o castigo pela redenção – por que razão teria um ser transcendente tanto interesse nas minhas afecções cutâneas?, etc) ao mesmo tempo que usam a palavra “materialismo” como um pejorativo – na verdade, o materialismo é uma filosofia que, pelos seus próprios pressupostos, será a menos agarrada a futilidades materiais – que não deixa de ser uma expressão curiosa, tendo em conta que tudo aquilo que é alguma coisa (que não existe só na nossa cabeça) é “material”.» («Instantâneas», no Arqueologia do Corpo)
  3. «Bento XVI está no Brasil com o fito de dotar o maior país católico do mundo do seu próprio santo. A comitiva do ex-líder da “mais papista que o Papa” Congregação para a Doutrina da Fé gastou, até agora, mais de 20 Milhões de Reais em gastos variados. Semelhante pia e evangelizadora epopeia inclui 60 novas TVs de plasma colocadas na Basílica de Aparecida, o cálice em ouro, prata e bronze de 3.500 Reais da missa no Campo de Marte, as toalhas e os lençóis de marca bordados para Bento, a garrafa de vinho de 140 euros no almoço papal, a cozinha do mosteiro que funcionará durante as 24 horas do dia para a comitiva do Vaticano, e as mais de 400 peças de porcelana francesa feitas exclusivamente para Ratzinger. [via] Os custos totais ultrapassam, neste momento, os 7,35 Milhões de Euros.»(«O que une os católicos», no Devaneios Desintéricos)
26 de Maio, 2007 jvasco

Se são eleitores brasileiros…

…Talvez queiram assinar esta petição:

«O Senado está a um passo de aprovar um projeto de lei, de autoria do senador Marcelo Crivella (PRB-RJ), sobrinho de Edir Macedo, fundador da Igreja Universal do Reino de Deus) que incluiria as igrejas entre as beneficiárias do Programa Nacional de Apoio à Cultura (Pronac). Mais conhecida como “Lei Rouanet”, aprovada em 1991 pelo Congresso Nacional, o Pronac permite que empresas invistam em projetos culturais até 4% do equivalente ao Imposto de Renda devido. O projeto chegou a ser aprovado em caráter terminativo na Comissão de Educação, mas um recurso para que fosse apreciado pelo plenário impediu que seguisse para a Câmara. Uma emenda apresentada pelo senador Sibá Machado (PT-AC) obrigou a volta do texto para a comissão. Ainda precisará ser votado no plenário do Senado e depois ir à Câmara. Como o projeto original fazia referência apenas a “templos”, sem especificar sua natureza, ao estender a eles os benefícios da Lei Rouanet, o senador Sibá considerou necessário acrescentar um adendo. A emenda, que teve o parecer favorável do senador Paulo Paim (PT-RS), foi aprovada pela Comissão de Educação e deixa mais claro que o Pronac poderá ser usado para contemplar não só museus, bibliotecas, arquivos e entidades culturais, como também “templos de qualquer natureza ou credo religioso”. A proposta agora segue novamente para o plenário, onde alguns senadores prometem reagir contra a idéia. Está mais do que na hora de as pessoas envolvidas e/ou preocupadas com a verdadeira cultura em nosso País, reagirem e tomarem uma providência.»

Podem fazê-lo aqui.

25 de Maio, 2007 jvasco

Ateísmo na Blogosfera

  1. «Moldar a realidade às crenças dá para pouca coisa. Dá para inventar rituais, fazer estátuas e chamar-lhes deuses, ou desperdiçar tinta a escrever tratados teológicos, mas não faz com que exista um ser omnisciente e omnipotente. Impor a crença à realidade só cria deuses a fingir. Deuses de verdade, e tudo o que não conseguimos simplesmente inventar, podemos apenas tentar conhecer. E no saber é a realidade que manda na crença.

    O caminho para o conhecimento é tortuoso e cheio de obstáculos. Quem vai a direito movido pela fé entala-se no primeiro buraco que encontrar. Para compreender a realidade temos que usar a dúvida em vez da crença. Como o cajado do caminhante, testando se o solo é firme, se o charco é fundo, se a pedra está solta. E sem medo que a descrença estrague a realidade. Pelo contrário. Quanto mais real, mais resiste à nossa dúvida. […]

    A melhor forma de compreender a realidade é mesmo fazendo perguntas. O agnóstico, convicto que não há respostas, não sai do ponto de partida. O crente, fiel à primeira ideia que lhe ocorre, lá fica no seu buraco a imaginar que a realidade dele é diferente da dos outros. E o céptico usa a dúvida como método para abrir caminho, questionando o que pensava ser verdade, descobrindo coisas novas, compreendendo cada vez melhor onde está e o que está a fazer.

    É este método da dúvida que nos dá as vacinas, a agricultura moderna, os computadores, e toda a sociedade onde agnósticos e crentes podem insistir em conforto que não sabemos nada ou que temos certezas absolutas.»A dúvida como método.», no Que Treta!)

  2. «O conceito de uma divindade volitiva, ou seja, dotada de uma vontade pessoal, projectos e desejos, é incoerente em todos os sentidos por que a pensemos. O apelo último deste conceito esgota-se no “mistério”, precisamente porque a única forma de o traduzir de modo explicito em linguagem compreensível, é tentar conciliar o inconciliável (como alguns tentam conciliar a omnisciência e a omnipotência com a hipótese do livre-arbítrio).» («Conceitos», no Arqueologia do Corpo)
  3. «Às 12:55, sintomizei na RTP1 para ouvir (estava na cozinha, a preparar o almoço) as notícias da tarde. Estava a terminar um programa chamado Praça da Alegria. Falava, na altura, um dos seus habituais apresentadores, um tal Borga (que descobri, entretanto, que passa por padre católico). Apelava, solenemente, aos… portugueses. Hoje, às 22:00 horas, dizia ele, vamos todos parar e… rezar por Maddie. Uma vez mais, considerei-me insultado. Trata-se de uma estação pública que os meus impostos sustentam e o Estado português, que eu saiba, ainda é… laico. Onde pára o ministro da tutela, que não é capaz de obrigar a RTP a respeitar a Constituição da República? Este país é uma indecência, uma pulhice…»(«Este país é, todo ele, um… Borga…», no Abnóxio)
25 de Maio, 2007 jvasco

O meu ateísmo

You scored as Scientific Atheist, These guys rule. I’m not one of them myself, although I play one online. They know the rules of debate, the Laws of Thermodynamics, and can explain evolution in fifty words or less. More concerned with how things ARE than how they should be, these are the people who will bring us into the future.

Scientific Atheist

100%

Spiritual Atheist

75%

Militant Atheist

67%

Agnostic

42%

Theist

25%

Apathetic Atheist

17%

Angry Atheist

8%

What kind of atheist are you?
created with QuizFarm.com

22 de Maio, 2007 jvasco

Ateísmo na Blogosfera

  1. «Objectivamente, acho que o tal ser todo poderoso não existe. Não me parece provável que tenha vindo á Terra morrer e ressuscitar para perdoar os nossos pecados. Tudo isso me parece uma grande treta. Mas tudo isso é circunstancial. Calhou o universo ser assim, ter surgido por si próprio e não conter seres divinos, mortos que ressuscitam, e coisas dessas. Mas pouca diferença fazia se fosse de outra forma.

    O fundamento do meu ateísmo é que eu não tenho deuses. Não há nada que eu venere. Mesmo que esse ser existisse não era por ser todo poderoso ou criador do universo que me ia pôr de joelhos a pedir-lhe favores, perdão, ou a louvar o seu nome. Quem vive a minha vida sou eu. Quem é responsável pelos meus actos sou eu. Quem tem que corrigir as asneiras que eu faço sou eu. .»(«É racional ser agnóstico?», no Que Treta!)

  2. «Mal ouviram falar em tudo isto, principalmente do elevado montante que o fundo de auxílio já tinha atingido, os famosos “psíquicos” ingleses Amanda Hart (de St. Albans) e Ben Murphy (de Watford) apanharam imediatamente um avião para o Algarve.

    Ali chegados, não cessam de rondar os pais e as pessoas mais chegadas à família da pequena Madeleine, fazendo-lhes crer que graças aos seus poderes psíquicos e às pistas que têm recebido do “além” estão na posse de preciosas e vitais informações sobre o destino e o paradeiro da criança.».» («Os Abutres», no Random Precision)

  3. «Nesses programas, em directo, atendem telefonemas de pessoas, fragilizadas, com problemas, de saúde, económicos, desemprego, etc. e, convencem-nas de que foram alvos de, mau-olhado, invejas, bruxaria e todo o tipo de maldições.
    Assim atemorizadas, essas pessoas, são aconselhadas a dirigirem-se aos – “Centros de Ajuda Espiritual” «locais de culto, que invadem todo o País, e principais cidades de vários Países», onde outros colaboradores da seita, auto-designados “Homens de Deus”, treinados, «conforme se pode observar, nos vídeos seguintes», usam todos os estratagemas para extorquir dinheiro aos crentes.
    »(«IURD – Embuste e Exploração Universal (Capítulo 1)», no O Calhamaço dos Embustes)
21 de Maio, 2007 jvasco

Agnóstico forte e Ateu explícito

Sou agnóstico forte.
Não creio que é possível saber ao certo se Deus existe. Não creio que nunca será possível.
Também não creio que é possível saber ao certo se o Super-Homem existe. Ou os Elfos e Sereias. Também não creio que possa ser possível um dia.
Qualquer conhecimento a respeito do mundo que nos rodeia deve estar sempre sujeito a revisão, caso os indícios e evidências o justifiquem.

Sou ateu explícito.
Acredito na inexistência de Deus, tal como acredito na inexistência de uma lata de refrigerante em órbita de Júpiter. Há boas razões para duvidar de ambas.
Se escolhermos uma definição razoável para a palavra «Deus», creio que uma avaliação racional e reflectida dos indícios a que temos acesso levará à conclusão de que Deus não existe.

O ateísmo implícito (a posição daqueles que se descrevem como agnósticos) parece-me menos sustentável que a do ateísmo explícito.
Todos nós acreditamos em proposições para as quais não existe certeza absoluta.
«Fumar faz mal à saúde» é uma crença generalizada na nossa sociedade.
Será pouco razoável acreditar que fumar faz mal? Não podemos saber ao certo se faz…
Em última análise não podemos saber, mas os indícios apontam nesse sentido. Apontam de tal forma que damos essa afirmação como certa.
Se alguém viesse dizer que «sabe» que o tabaco não faz mal à saúde, seria pouco razoável acreditar sem que esta pessoa nos desse indícios convincentes: e mais convincentes que os fortíssimos indícios que levaram a comunidade científica a alertar para os malefícios do fumo.
Sem tais indícios será razoável acreditar que o tabaco não faz mal à saúde?
Será razoável não acreditar explicitamente que faz?

Da mesma forma, nós sabemos que um corpo maciço não se pode deslocar a uma velocidade superior à velocidade da luz em circusntância alguma (deve notar-se que os indícios neste sentido são muito mais esmagadores e definitivos que aqueles que existem em relação aos malefícios do tabaco).
Grande parte dos crentes acredita que Deus pode fazer com que isto aconteça. E que indícios apresentam? Serão indícios suficientemente fortes?

Não me parece que o ateísmo implícito (ao qual chamam agnosticismo) seja mais racional que o ateísmo explícito. Perante os actuais indícios, bem pelo contrário.

21 de Maio, 2007 jvasco

A palavra «Deus»

A palavra «Deus» é dada a confusões. Não existe nenhuma definição que reúna consenso, e algumas definições são tão abrangentes que o conceito de «natureza» cabe lá – poucos duvidarão da existência da natureza!
Simplesmente creio que tais definições apenas criam confusão e prejudicam a comunicação.

Qualquer definição adequada da palavra «Deus» tem de se aproximar do conceito que as pessoas associam à palavra, ao que se referem quando a usam. Bem sei que uma minoria mais instruída, sem vontade de acreditar em superstições injustificadas, mas também sem vontade de quebrar o tabu da negação de Deus, tentou redefinir a palavra de uma forma que a esvaziaria de significado e utilidade.

Claro que eu poderia dizer que acredito em Deus, mas que Deus é a «força vital do Universo». Se interrogado responderia que a «força vital do Universo» é a «harmonia das leis naturais». Pronto: assim acreditando que existem leis naturais – regularidade na forma como o Universo funciona – e juntando uns temperos de palavras bonitas encadeadas num discurso opaco eu já me posso sentir mais integrado numa sociedade de crentes. E provavelmente nem darei conta da hipocrisia na minha posição.

E existem inúmeras formas de fazer isto. Também posso dizer que Deus é «o mágico, o desconhecido». Assim basta acreditar que o homem nunca conhecerá todas as leis da natureza (uma suposição bastante razoável…) para não me sentir tão distante do meu amigo que acredita que Jesus morreu por nós.

Se eu pegar numa frase do evangelho de S. João também posso manter a minha visão da realidade e acreditar em Deus. Eu acredito no amor – até me parece que é pouco razoável não acreditar nisso – e se «Deus é Amor», cá temos. Não acredito na vida eterna, em Jesus, na palavra de Maomé, de Moisés, no julgamento dos vivos e dos mortos. Não acredito em nada daquilo que caracteriza a crença em Deus, mas posso dizer que «acredito em Deus».

Há mais formas de disfarçar a minha discordância. Eu acredito que a mente existe, e posso chamar-lhe metaforicamente «alma». Depois, aludindo ao facto das consequências das nossas acções poderem ecoar pela eternidade (uma crença mais razoável que as das religiões em geral), abstenho-me de negar a imortalidade da alma.

Posso também recorrer à crença tão razoável de que existem coisas que me transcendem, para poder afirmar «há algo que me transcende». Depois chamo-lhe Deus, e posso sentir-me menos distante de todos aqueles que rezam em Fátima para que a menina seja encontrada.

Entre todas estas formas peculiares de se afirmar «crente» e o ateísmo existem poucas diferenças. A visão do universo, da realidade, do mundo que nos rodeia, é semelhante – mas o ateu prefere a clareza à hipocrisia.
É sofisticada e interessante a maioria das pessoas que profere este tipo de afirmações. Repito que geralmente não se apercebem da hipocrisia da sua posição, pelo que não são necessariamente pessoas hipócritas.

Quanto à palavra Deus, não vale a pena tentar torná-la vazia de sentido. A linguagem serve para comunicarmos e a clareza traz inúmeras vantagens. Dificilmente encontro uma definição verbal que abarque toda a diversidade de visões religiosas sobre «Deus» – e não deve ser fácil, visto que as definições que encontro nos dicionários são tão pobres a esse respeito… – mas sei que não faz sentido usarmos a palavra «Deus» para nos referirmos a um conceito que não tem nada a ver com aquele que está na mente de qualquer crente ou ateu quando pensa na palavra.

18 de Maio, 2007 jvasco

Ateísmo na Blogosfera

  1. «Não existe fundamentalismo ateu. Não existe nem se exige um fundamento para o ateísmo. Não há premissa que tenha que ser aceite incondicionalmente para fundamentar o ateísmo. O ateísmo é a posição de omissão, e até os crentes são ateus em relação à maioria dos deuses. Fazem excepção dos seus deuses favoritos, mas consideram o resto mera crendice ou superstição. Poucos católicos respeitam a crença num escaravelho gigante que rebola o Sol pelo céu ou num titã que segura a abóbada celeste. Nem vão dizer que estas crenças são uma Via para a Verdade. Vão dizer que são disparates. E com isso qualquer ateu concorda. O ateísmo não parte de um fundamento axiomático. É olhar para o céu, não ver escaravelho nenhum, e dizer «olha, mais um que é treta».

    Fanático é aquele que julga que só as suas crenças injustificadas são verdadeiras, ao contrário das crenças injustificadas dos outros. O ateísmo explícito incomoda o fanático porque põe todas as crenças injustificadas ao mesmo nível. Seja o escaravelho gigante seja a sarça ardente. Do Super-Homem ao espírito santo é tudo o mesmo à partida, e só evidências objectivas podem determinar se algum é real. E com a descoberta da kryptonite fica o Super-Homem em vantagem.»(«Achincalho, e achincalharei.», no Que Treta!)

  2. «No entanto, de acordo com Zias da Universidade de Jerusalém «O cemitério de Qumran é constituido pelo grupo menos saudável que já estudei em 30 anos». Menos de 6% dos homens (e esta era uma comunidade masculina, claro) chegavam aos 40 anos, enquanto os cemitérios de Jericó, a uns meros 12 km, indicam que na mesma altura quase metade dos homens viviam mais de 40 anos!

    Mas a religiosidade dos essénios, que seguiam estritamente os ditames da Torah, não só em relação a latrinas como em relação às purificações rituais que se seguiam à sua utilização, fazia com que proliferassem – em vez de morrerem ao sol – todos os parasitas intestinais cujos ovos foram abundantemente encontrados nos locais escavados. Parasitas que os rituais de «purificação» que envolviam imersão total (olhos, boca, etc.) em piscinas de água parada – um excelente caldo para ténias, lombrigas e restantes parasitas – garantiam infectar toda a comunidade!

    Como nota Zias, os essénios «mostram o que acontece quando se leva as coisas bíblicas demasiado fundamentalista ou literalmente, como fazem em muitas partes do mundo, e quais são as consequências últimas [desse fundamentalismo]».» («Manuscritos do Mar Morto», no De Rerum Natura)

  3. «Constantino incorporou ainda no cristianismo vários elementos do seu culto pessoal ao Deus-Sol Mitra. Nomeadamente, promoveu a alteração do dia de culto do sabbatt judaico, para Domingo, dia do Sol, o dies Domenicus ou dia do Senhor, através do édito de 3 de Julho de 321, Sicut indignissimum, que entre outras coisas rezava: «Que todos os juízes, e todos os habitantes da cidade, e todos os mercadores e artífices descansem no venerável dia do Sol». De referir ainda a liturgia mitraica, nomeadamente a cerimónia da missa ou antes a Myazda mitraica, uma partilha de carne e vinho sacrificiais conduzida pelo sacerdote mitraica, o Pater ou Papa. Tertuliano afirmava que esta religião utilizava indevidamente o baptismo e a consagração do pão e do vinho, mas de facto os ritos mitraicos são muito anteriores ao cristianismo.»(«Goa e aculturação», no De Rerum Natura)
17 de Maio, 2007 jvasco

Pensamento Veleitário IV – As instituições religiosas

Grande parte das culturas que – na ignorância do funcionamento do cérebro – desenvolveram uma crença na vida eterna, também desenvolveram a crença numa forma de julgamento após a morte.

Isto é fácil de entender à luz da tendência bem humana para o pensamento veleitário – encarando as injustiças do mundo real, e desejando um universo «justo», quem acreditasse na vida eterna teria uma maior propensão para acreditar num julgamento ao qual ninguém poderia escapar.

No entanto, algumas religiões professam crenças a este respeito muito diferentes daquilo que poderia ser justificado pelo pensamento veleitário. O Cristianismo e o Islão são dois bons exemplos: tanto num caso como noutro apenas um grupo relativamente restrito de pessoas será salvo. Esse grupo terá de ter um código de conduta bastante rígido e restrito. O castigo para quem não está à altura é descrito como aterrador e eterno.
As pessoas não tendem a achar desejável que exista um castigo tão severo para quem leva uma vida «normal». Como explicar que as religiões apregoem tais crenças, se o pensamento veleitário deveria aumentar a propensão para as rejeitar?

Imaginemos uma pequena aldeia com cerca de 200 pessoas, com um conhecimento científico-tecnológico de há cerca de dois, três milénios atrás. O Joel, o Abel, e o Patrício vão divulgar aquilo que acreditam ser a verdade.
O Joel alega que não existem deuses nem vida eterna.
O Abel defende que existe um deus chamado Trobelu, que julga os mortos. As pessoas em geral são recompensadas pelo comportamento virtuoso, e castigadas pelo comportamento considerado maligno. Depois gozam a vida eterna. Para uma pessoa que tenha mantido um comportamento social e ético normal, aquilo que ela espera depois de morrer é desejável.
O Patrício prega a existência de FraTul, que julga os mortos. Novamente as pessoas boas são recompensadas, e são castigadas as que apresentarem um comportamento maligno, antes de gozar a vida eterna. Mas aquelas que não pagarem X moedas para que Patrício divulgue a mensagem de FraTul também serão castigadas.

Qual destas crenças se vai divulgar com mais facilidade pela aldeia?
Depende.

Se X for muito alto, o pensamento veleitário vai previligiar significativamente a mensagem de Abel face às mensagens de Patrício e de Joel.
Mas se X for suficiente para sustentar Patrício, mas não for muito alto, as coisas podem não ser assim.. Enquanto Abel e Joel estiverem a trabalhar, Patrício estará a pregar. Mesmo que o pensamento veleitário previligie ligeiramente a mensagem de Abel face à mensagem de Patrício, a pregação muito mais intensa deste último vai encorajar uma muito mais rápida divulgação da sua crença.

As instituições religiosas que tendem a sobreviver e prosperar ao longo dos tempos são aquelas que conseguem estabelecer uma interacção com a sociedade envolvente que tende a maximizar a sua capacidade de sobrevivência e crescimento. Para isto é importante que as crenças difundidas sejam compatíveis com as crenças «naturais» dos indivíduos dessa sociedade, mas também que exista uma forte capacidade de alterar estas últimas.
Tal capacidade não se consegue apenas com a palavra e a pregação, mas também com a violência, a repressão e outros usos do poder político, económico e social.

Como exemplo prático temos o caso da Igreja Católica. Durante a Idade Média, a Igreja Católica era uma instituição muito poderosa na Europa. Com tanta influência nos valores e crenças, a Igreja chegou mesmo a exigir uma percentagem muito elevada dos rendimentos dos crentes católicos (a dízima). Nessa altura, muitos estavam conscientes que, de acordo com a Bíblia, apenas uma minoria dos crentes iria para o céu. A religião tinha um papel central na vida de muita gente, pois muitos acreditavam que, não se sendo obediente à Igreja Católica, o Inferno era certo.

Longe vão esses tempos de miséria cultural, económica, social, científica e intelectual em quase todo o território europeu, em que a Igreja Católica tinha um tão grande e indisputado poder. Com as diferentes conquistas de Liberdade, desde as grandes revoluções americana e francesa até ao nosso 25 de Abril, a Igreja foi perdendo poder. Hoje, não sendo capaz de exercer tanta influência nas crenças das pessoas, muito poucas acreditam em tudo aquilo que a Igreja Católica prega.

Grande parte dos católicos acredita que não existe nenhum mal em discordar do Papa, mesmo em matéria de Doutrina. Grande parte dos católicos acredita que os crentes de outras religiões e até os descrentes podem ser salvos. Grande parte dos católicos acredita que um indivíduo «normal» que não torne a religião uma parte central da sua vida pode ser salvo. Tudo isto contradiz não apenas a palavra da Igreja como o próprio Evangelho: a palavra de Jesus.
Mas, não tendo o poder de outrora, a Igreja Católica já não consegue evitar que as crenças das pessoas voltem a ser influenciadas pelos enviesamentos cognitivos mais simples – como o pensamento veleitário.

Não é fácil que um padre consiga convencer algum crente que, se ele não tornar Cristo parte central da sua vida, se continuar a lembrar-se de Jesus apenas na Páscoa e no Natal e a faltar às eucaristias semanais, então sofrerá eternamente no Inferno. O católico «moderado» dirá que não quer ser «fundamentalista».
Aqui o pensamento veleitário e o efeito de manada jogam contra o padre, mesmo que ele tenha uma fundamentação teológica sólida do seu lado.
É que se fosse para pôr tais enviesamentos cognitivos de lado, optando pela coerência, o crente teria melhor opção do que acreditar na palavra do padre: podia avaliar friamente os indícios que a ciência nos trouxe nos últimos anos, e deixar de acreditar na vida eterna.