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Autor: José Moreira

27 de Abril, 2014 José Moreira

O Sudário

 

De vez em quando, os comentários neste portal acabam por derivar para a verdade ou mentira do chamado “santo sudário”.  Assim, enquanto a Igreja berra que o pano cobriu Jesus dito Cristo, a Ciência vai afirmando que tudo aquilo não passa de fraude. Pela parte que me diz respeito, estou mais inclinado a acreditar na versão “icariana”, e isto por uma razão muito simples: é consabido que tem sido a ICAR a presentear-nos com as mais famosas verdades absolutas quais sejam, por exemplo, uma mulher que engravida de uma pomba e que, mesmo assim, consegue o famoso cromossoma Y, só existente nos homens, para além de continuar virgem mesmo depois de uma catrefada de filhos, pega em três pessoas distintas e transforma-as numa só, transverte as células da farinha em células humanas, e muitas, muitas outras maravilhas de que só uma religião é capaz. Uma religião decente, entenda-se.

Por isso, tenho mesmo de partir do princípio de que o tal sudário é verdadeiro e que, contrariamente ao que alguns ramos da Ciência vão garantindo, aquilo tem, mesmo, 2019 anos de existência. Só uma dúvida me fica: quem, e como, garante que o pano cobriu Jesus dito Cristo? Fizeram pesquisas de ADN, ou baseiam-se, apenas, nos incontestáveis e uniformes Evangelhos?

25 de Abril, 2014 José Moreira

Novo milagre

O insuspeito “Jornal de Notícias” publica, na sua última página de hoje, um evento, segundo o qual um jovem foi mortalmente atingido pela queda de uma cruz de Cristo. A cena ocorreu em Brescia, Itália,  e a provavelmente pesada cruz havia sido erguida em 1998, para comemorar a visita do papa João Paulo II.

Sabe-se que João Paulo II vai ser canonizado por ter efectuado duas curas da doença de Parkinson, da qual também padecia: primeiro, curou-se a ele, já que não consta que, actualmente, sofra da dita doença; depois, curou uma mulher, isto quando já se encontrava em estado de defuncionário. Faltava, ao que parece, um terceiro “milagre”, mas este não se fez esperar, embora custando a vida de um jovem, o que se lamenta.

São ínvios, os caminhos do senhor…

30 de Março, 2014 José Moreira

A Metáfora

Confesso que não li a Bíblia. Ou antes, ainda não ti a Bíblia toda. Pela singela razão de que não gosto de prosseguir a leitura de um livro ser ter compreendido devidamente a leitura anterior. Ora, na Bíblia empanquei naquela parte que diz que Caim, depois de ter matado Abel e de Javé se ter chateado com ele quando descobriu, o que

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quer dizer que aquela cena do “Deus sabe tudo” é uma brande treta, dizia eu que Caim foi, segundo a Bíblia, ter à terra de Node. Aí conheceu sua mulher, mas em lado nenhum  diz donde veio essa mulher, o que é estranho se considerarmos que até ao episódio em questão só havia três pessoas à face da Terra, ou seja, Eva, Adão e Caim, já que Abel tinha entrado em defunção. Ora, não compreendendo isto, acho que é meu dever ético não prosseguir a leitura, não vá a compreensão do episódio fazer falta para compreender os episódios que, fatalmente, hão-de seguir-se.

Compadecido com as minhas dúvidas, e ansioso por que eu voltasse às sagradas leituras, o meu amigo Libório, católico confesso a compulsivo, elucidou-me: “Não tens de te preocupar. Até ao episódio de Abrão, a Bíblia é uma metáfora, nada daquilo é verdade. Só a partir de Abraão, ele incluído, é que passa a ter  foros de verdade, ou seja, tudo aquilo aconteceu mesmo!”

Acabei por me tranquilizar, mas logo outra dúvida me surgiu:

– Olha lá, Josué é antes ou depois de Abraão?

– É depois, naturalmente! Abrão é referido no Génesis, ao passo que Josué só surge no Êxodo.

– Então – prossegui eu – se tudo o que acontece após Abraão é verdade, parece não haver dúvidas de que o Sol anda à volta da Terra, e não o contrário.

E sem lhe dar tempo:

– Porque em Josué 10:12 refere-se que “Então Josué falou ao Senhor, no dia em que o Senhor deu os amorreus nas mãos dos filhos de Israel, e disse na presença dos israelitas: Sol, detém-te em Gibeom, e tu, lua, no vale de Ajalom.” Ora, a Lua toda a gente sabe que gira à volta da Terra; quanto ao Sol, se Josué também o mandou parar é porque ele é que anda.

O meu amigo ficou de me dar uma resposta mais tarde.

11 de Março, 2014 José Moreira

Confissões…

Para descontrair…

 

Um padre recebeu um pedido urgente para ministrar a extrema-unção e como não podia deixar o confessionário vazio, pediu ao rabino vizinho, seu amigo, que ficasse no seu lugar.
— Você também é um sacerdote do mesmo Deus e acredito que não haverá problemas. Ouça umas confissões comigo e você vê como é que se faz.
O rabino sentou-se ao seu lado e observou cuidadosamente enquanto o padre recebia as confissões.
— Padre, eu cometi adultério.
— Quantas vezes?
— Três vezes.
— Reze duas avé-marias, ponha cinco euros na caixa das esmolas e não peque mais.
Mais tarde, outra mulher confessa ter cometido adultério.
— Quantas vezes? — pergunta o padre.
— Três vezes.
— Reze duas avé-marias, ponha cinco euros na caixa das esmolas e não peque mais.
Mais algumas confissões e o rabino declara-se capaz de substituir o padre e, momentos mais tarde, recebe a primeira senhora no confessionário.
— Padre, eu cometi adultério — confessa ela ao rabino.
— Quantas vezes?
— Ora, uma vez!
— Então vá lá e faça mais duas vezes, que estamos com uma promoção especial esta semana: três por cinco euros!

10 de Março, 2014 José Moreira

Serão castigados?

Impotente para conter os ladrões que lhe assaltam as caixas de esmolas, o padre António Albino Marques decidiu-se pela radicalização: amaldiçoar os ladrões. As folhas do diário de inspiração católica  retratam a impotência dos santos a quem

getimageas esmolas são ofertadas. Eu digo impotência, mas bem pode ser uma questão de ética: santo que é santo, fica-se pelos milagres, não tem nada a ver com punições; e quanto a tomar conta das caixas de esmolas, por alguma razão os padres se dizem representantes de Deus na Terra. Ora, então é a eles que incumbe não só tomar conta dos óbolos oferecidos à santalhada, mas também apresentar as devidas contas.

Claro que nestas circunstâncias, o padre sempre pode alegar irresponsabilidade por incapacidade para conter os ladrões, e quem fica a perder é o santo contemplado, que vê a sua tença mitigada. Quer dizer, podia alegar, até agora. Porque sendo amaldiçoados, não sei muito bem o que vai acontecer aos ímpios prevaricadores, mas o mais certo é que mudem de profissão e enveredem pela política. Claro que deviam ser divinamente castigados, dado o teor sacro da actividade delituosa, mas, pelos vistos, Deus só tem andado a castigar quem tem comportamento sexual inadequado, ou quem se atira de um 100º andar. Mas tenho fé.  Tenho fé em que os  malandros vão ser severamente punidos, já que são conhecidos os poderes de uma maldição, mais a mais proferida por um padre. São, certamente, tão poderosos como as bênçãos, só que em sentido contrário.

8 de Março, 2014 José Moreira

Dia da Mulher

imagesEu acho giro o “dia da mulher”. Assim como o “dia da criança”, o “dia do avô” e, de um modo geral, todos os “dias do”, seja do que for. Estou a lembrar-me de uma luminária que até queria criar o “dia do cão”, certamente para o pôr em paralelo com outro “dia do”, ou “da”, qualquer. Mas o “dia da mulher” é diferente, no fim de contas, um dia passa depressa e temos os outros 365 para pôr a mulher onde se deve: na cozinha, e nas quotas partidárias. E no hospital, quiçá na morgue. Ou seja, podemos continuar, alegremente, com a nossa hipocrisia social. Estou convencido, aliás, de que hoje, “dia da mulher”, nenhuma vai ser assassinada pelo companheiro, ou ex-companheiro. “Dia da mulher “é para se respeitar, e no ano passado, 2013, mais de três mulheres por mês foram assassinadas, mas, se a memória não me atraiçoa, nenhuma delas o foi no “dia da mulher”. O que já é um sinal positivo, como diria um dos nossos inefáveis políticos de pacotilha.

Há pouco, num canal de TV, e não me perguntem qual porque eu já tenho calo no dedo polegar por causa do “zapping”, um anúncio publicitário proclamava que “Março é o mês da mulher”, o que representa um progresso inquestionável, suponho que uma conquista irreversível, já que de um mísero “dia da mulher” se passa para o “mês da mulher”. Com jeitinho, ainda chegaremos ao “trimestre da mulher”, daí saltaremos para o “semestre da mulher”, e não tarda nada estaremos no “ano da mulher”, nada de confusões, singular é singular, plural é plural e escreve-se sempre com “o” e sem acento circunflexo no “a”.

Estou à espera que alguém se lembre, também, de instituir o “dia da hipocrisia”. Apenas para o tornar diferente dos outros dias.

7 de Março, 2014 José Moreira

Do destino

Há quem acredite que uma pessoa só morre quando chega a sua hora, do mesmo modo que há quem acredite no destino.

Tudo bem.

Por mim, até podem acreditar nas promessas eleitorais. Eu é que não acredito – nem no destino, nem na hora pré-determinada para morrer. Nem, naturalmente, nas promessas eleito­rais. Nem em muitas outras coisas que agora não vêm ao caso.

Na verdade, as coisas não são assim tão simples; e o mero facto de acreditar nisto ou na­quilo, tem muito que se lhe diga, torna-se muito complicado, por muito simples que pareça.

Vejamos, por exemplo: eu dou um tiro num freguês qualquer, e mato-o. A minha pergunta é: tinha, ou não, chegado a hora da morte do cidadão? A pergunta parece cavilosa, mas não é. Por­que duas questões se nos deparam imediatamente: se ainda não era chegada a hora de o ca­ramelo morrer então prova-se, sem que reste a menor margem para qualquer resquício de dúvi­da, que a hora da morte pode ser quando um homem quiser, como o Natal. O que põe logo em causa a legiti­midade da crença acima referida; por outro lado, se já era a hora de o ex-cidadão, ora transformad­o, para poder servir de exemplificação, em respeitável defunto, deixar este vale de lágri­mas, eu pergunto por que carga de água há-de a polícia andar atrás de mim, se eu me li­mitei a cumprir os desígnios do altíssimo, seja lá isso o que for? Sim, porque não é de desprezar a hipóte­se de o ho­nesto cidadão se ter esquecido de que era chegada a sua hora ou, mais grave ainda, de se tratar de um cidadão relapso que, mesmo sabendo que era chegada a sua hora, se tenha positivamente borri­fado para o assunto, sem o menor respeito pelo cumprimento dos altos desígnios. Ora, assim sendo, a polícia apenas teria que se limitar a ouvir as minhas explicações e a mandar-me em paz, com dis­pensa absoluta de entrada nos calabouços.

Mas não é isso que acontece; por isso, não me venham lá com as histórias da chegada da hora, e mais não-sei-quê.

 

In “Enquanto As Armas Falavam”  Editora Lugar da Palavra.

23 de Fevereiro, 2014 José Moreira

Os Crimes do Ateísmo

Quando, neste espaço, se escreve acerca de enormidades cometidas pelas igrejas, nomeadamente a Igreja Católica, logo aparece uma catrefada de comentários a berrar “aqui d’el rei” que os ateus também… E apontam, como exemplos supremos, os mesmos: Enver Hoxa, Paul Pot, eventualmente falam na Coreia do Norte e/ou na China, etc.

E bom que se saiba que há ateus sacripantas, como há religiosos honestos; são as excepções que confirmam a regra. Mas é intelectualmente desonesto misturar ateus com ateísmo, tal como não se deve misturar cristãos com cristianismo ou católicos com catolicismo.. Hitler era católico, toda a gente o sabe, menos os que não querem saber, mas seria uma enormidade culpar o catolicismo pelo Holocausto – embora a ICAR não esteja completamente inocente.

A semântica nunca foi o meu forte, pelo que não sei se há ateus pulhas, ou se há pulhas que, por acaso, são ateus; o que sei é que há pulhas que nunca o seriam se não fossem religiosos. E tenho todas as razões para duvidar que uma pessoa decente se tornou pulha só porque é ateu. Aliás, alguns comentários que aparecem neste portal dão-me razão, mas não é por aí que quero ir. Todavia, uma coisa é praticar atrocidades em nome de um qualquer deus, e outra é praticar as mesmas atrocidades em nome do ateísmo. E a segunda hipótese não me consta. Não me consta, mas não nego a existência; simplesmente, não me consta. Já quanto à primeira, consta e de que maneira: basta consultar os anais da Santa (?) Inquisição.

Pelo que não me parece intelectualmente honesto falar em “crimes do ateísmo”;  já o mesmo não poderei dizer dos crimes do catolicismo.

21 de Fevereiro, 2014 José Moreira

Bispo em xeque…

Afinal, eles também têm direito. Aliás, quando convém até dizem que “são homens como os outros”. E são, claro! Mas só quando convém.

bispoboris