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Autor: José Moreira

13 de Julho, 2014 José Moreira

Bom vento?

Diz-se que “De Espanha, nem bom vento nem bom casamento”. Quanto a “bom casamento” não me pronuncio, já que nunca casei com uma espanhola; mas quanto a “bom vento”, parece que os factos começam a falar por si. Espanha entrou na democracia tempos depois de Portugal, e já vai bastante mais adiantada; entrou na crise depois de Portugal, e já está a sair dela bem mais depressa do que Portugal. Basta ver os números do emprego, que crescem em Espanha, enquanto que em Portugal o desemprego baixa graças à emigração. Espanha vai entrando, firmemente, na verdadeira laicização, enquanto que em Portugal não se inaugura um mísero fontanário que seja, sem a benzedura da praxe, como se a água do fontanário não fosse suficiente.

Bom vento, pois claro.

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22 de Junho, 2014 José Moreira

Será um sinal?

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O novo rei de Espanha, Filipe VI prometeu, entre outras coisas, uma “monarquia moderna”. Embora isso me cheire a paradoxo, assim uma espécie de gigante pequenino ou preto claro, há sempre a esperança de que um rei jovem traga alguns sinais de modernidade quando se inicia uma nova etapa, assim uma espécie de “evolução na continuidade”, onde foi que já ouvi isto?

Afinal, parece que não se trata, apenas, de simples promessa de circunstância. O insuspeito “Jornal de Notícias” dá conta de que a cerimónia de proclamação não teve qualquer cerimónia religiosa o que, no entanto, não impediu os bispos de pedir aos espanhóis  que rezassem pelo novo rei, numa espécie de postura em bicos de pés sem que, no entanto, se vislumbre qualquer utilidade nas orações.

Ou seja, Filipe VI absteve-se de benzeduras o que, queiramos ou não, é de bom augúrio, relativamente ao  caminho que parece querer seguir quanto à questão de galhos e macacos.  Mas será que os macacos alguma vez saberão quais são os respectivos galhos?

14 de Junho, 2014 José Moreira

Ah! Valente.

Em declarações ao jornal “Vanguardia”, o papa Francisco garantiu que se sentia, dentro do “papamóvel”, como “numa lata de sardinhasimages“, o que desde logo nos dá a real dimensão dos lugares por onde Francisco andou. Colocado perante a circunstância de, muitas vezes, se desproteger para saudar os fiéis, admitiu que, na verdade, alguma coisa lhe poderia acontecer. “Está nas mãos de Deus”, rematou.

Muito bem. Ficámos a saber que, se alguém lhe der um tiro ou uma facada, foi a “mão de Deus”. Só espero que a polícia não incomode o infeliz.

13 de Junho, 2014 José Moreira

Arte e religião

Lá porque sou ateu, não significa que não aprecie arte. Mesmo que seja arte religiosa.1613797_241588386041489_3566580363120239505_n

2 de Junho, 2014 José Moreira

Demência religiosa

Que Deus existe, parece não restarem grandes dúvidas. Isto a julgar pelas quase quotidianas manifestações de demência religiosa, passe o pleonasmo. Claro que Deus não será o culpado de todas as manifestações demenciais, mas que ajuda bastante parece não restar a menor dúvida. Do mesmo modo que não duvido de que sem Deus haveria menos, muito menos, dementes.

Nos inefáveis Estados Unidos da América, uma mulher, como se não bastasse a aproximação da crise da meia-idade ainda deixou que Deus lhe invadisse o que lhe restava de inteligência. Vai daí, para agradar ao “senhor”, e num plágio foleiro da estória  de Abraão, matou a própria filha, de dois anos de idade.

Presume-se que o anjo que ordenou a Abraão que suspendesse a execução de seu filho Isaque estivesse ausente em merecidas férias, ou se tenha distraído; o que é certo é que, contrariamente ao que aconteceu com Abraão, não apareceu ninguém a ordenar a Kimberly que suspendesse a execução. Isso mesmo, aliás, escreveu a devota senhora no seu computador.

Quanto à mãe, parece que tentou o suicídio mas, pelos vistos, Deus não quis.

Mas vale a pena ler o final da notícia: “Em uma nota que a igreja publicou na internet, Brown pediu orações à família de Elliana e disse que a menina “agora é o anjinho mais doce de uma grande nuvem” onde de lá conforta a todos aqui da Terra.

Dizendo assim, até parece que, ao menos para a pastora, valeu a pena a menina ter sido assassinada, para que se tornasse um anjinho.” Fim de citação.

1 de Junho, 2014 José Moreira

Mais um milagre

Quando acontece algo de maravilhoso e sem explicação lógica e/ou científica, o mais natural é os crentes berrarem por “milagre!”. Os ateus contrapõem que milagres não existem, e que tudo há-de ter uma explicação, o problema é encontrá-la. Ora, já aqui foi dito, não por mim, evidentemente, que a obra de Deus não é, não pode ser, verificável cientificamente, já que a própria existência de Deus não é verificável.

Hoje, finalmente, rendi-me à evidência: os milagres divinos não são, não podem ser explicáveis. Aliás, e no caso concreto, o próprio miraculado não logrou explicar o milagre; e a própria justiça rendeu-se à evidência, mandando arquivar o processo que, ignominiosamente, foi levantado.

E ainda bem que houve arquivamento. Ninguém tem o direito de sondar os desígnios divinos. Infelizmente, porém, e ao que parece, o Ministério Público, certamente constituído por ateus, vai recorrer.

De qualquer modo, já sabemos quem vai herdar não só os milhões, mas também os imóveis…

21 de Maio, 2014 José Moreira

Sem espinhas…

Concorde-se ou não com ele, Joaquim Carreira das Neves é um padre prestigiado.  Mostra ser um estudioso da Bíblia e saber do que fala embora, em minha opinião, não diga tudo o que sabe, por uma questão deontológica.

Nesta entrevista que, embora datada, se mantém actual, Joaquim Carreira das Neves assume com clareza e conhecimento de causa o paganismo da Igreja Católica. Naturalmente, não está a dar nenhuma novidade a quem estude, ainda que só um pouco, e/ou ou tenha clareza de vistas. Não me recordo, aliás, de o ter ouvido dizer que Jesus, dito Cristo, era filho de Deus. Só lhe faltou dizer que também Jesus era um deus pagão mas, como acima disse, há a questão deontológica que não deve ser ignorada.

11 de Maio, 2014 José Moreira

A idade não perdoa…

Oa anos vão passando, e Deus sente-se sem forças. Segundo os especialistas da Bíblia, leia-se Testemunhas de Jeová, Deus terá sido inventado há cerca de  dez mil anos, mais coisa menos quilómetro. Criou o mundo e tudo o que ele contém, achou que tudo era bom, excepto ao dia segundo, e descansou ao sétimo dia. Deus propôs-se, naturalmente, a proteger os Seus filhos, o que só lhe ficou bem. aliás é nesse sentido que eles, os filhos,  rezam, é para isso que se fartam de encher as igrejas, “pace nobis Domine”, “miserere nobis”,  porque “laudamus te, beneticimus te”, e a coisa ia correndo, mais tropeção menos canelada, embora ultimamente com alguns acidentes de percurso, certamente a denunciar fragilidades próprias da inevitável senilidade, ou perda de capacidade de gestão. Até que Deus decidiu, e eu aplaudo a decisão, que se Passos está a escavacar o Estado Social ele, Deus, por maioria de razão, também tem o direito de escavacar o Religioso Social. Porque isto da protecção divina é uma coisa complicada, é só preocupações e despesas, os óbolos minguam ao ritmo do aumento da crise,  o que se deposita na bandeja do sacristão é insuficiente, o buraco financeiro aumenta assustadoramente, e Deus, na sua infinita sabedoria, não pode desconhecer as consequências de um eventual resgate, já que o Exemplo de Portugal ecoou pelo espaço celeste. Por isso, apercebendo-se das inegáveis vantagens das privatizações, eis que, num gesto sem precedentes e correndo, embora, o risco de ser apodado de ultra-liberal pela Oposição, leia-se Satanás,   também Ele decide privatizar a Divina Providência.

Não posso deixar, no entanto, de manifestar uma dúvida: essa coisa de os fiéis terem seguro, é alguma forma encapotada de orientar o sentido de voto?

1 de Maio, 2014 José Moreira

O milagre do Simplício*

 

 

 

Simplício é bom rapaz. Crente furioso e católico compulsivo, acredita no poder imenso de tudo quanto é deidade ou santidade. Mas a sua fé não conseguiu, apesar de tudo, livrá-lo de um cancro na garganta. “Faça-se em mim segundo a Sua vontade”, resignou-se mas, no fundo, sabia que o Senhor não queria que ele, Simplício, morresse de cancro, tanto mais que é consabido que raras são as pessoas que falecem dessa patologia, sendo muito mais vulgar que se morra de doença prolongada. Ora, o Senhor, na Sua infinita misericórdia, tinha presenteado Simplício com um corriqueiro cancro, e não com uma mortífera doença prolongada, o que Simplício entendeu como um sinal de esperança. Sendo assim, entendeu não ser ofensivo para com o Senhor o recurso à Ciência, porém, sempre se foi prevenindo com toda uma parafernália de rezas, benzeduras, promessas, terços, novenas e outras actividades religiosas, que isto da Ciência não é muito de fiar, hoje dizem uma coisa e amanhã o seu contrário. O que é certo é que, após dezenas de avé-marias, outros tantos padre-nossos, genuflexões e quilos de cera, devidamente acolitados por doses cavalares de quimioterapia e radioterapia apontada à garganta, eis que Simplício recebe, do médico, a notícia de que o cancro estava devidamente controlado. “Graças a Deus!”, exclamou Simplício, desde logo desatando a planear o cumprimento das promessas feitas, logo que o estado físico lhe permitisse as preditas 157 voltas no joelhómetro de Fátima.

Mas nem tudo são rosas, e eis que, após uma TAC de vigilância, um médico regista uma qualquer anomalia na parte superior dos pulmões. Com uma diplomacia própria de um sargento instrutor, o pneumologista decretou: “Meu caro, isto ou é cancro ou tuberculose” sem aventar, sequer, uma terceira hipótese. Simplício entrou em compreensível pânico, já prevendo a transformação do ridículo cancro na temível doença prolongada. “Desta vez, já estou”, resignou-se. “Nem Deus me pode valer”. Mas a verdade é que Deus escreve direito por linhas tortas, como adiante se verá.

Simplício, embora resignado, tornou-se meditabundo e cabisbaixo. Deixou-se arrastar penosamente pelo caminho do que, no seu entender pouco, lhe restava de vida. E foi nesse estado patético de depressão quase a tornar-se crónica, que se apresentou na consulta de vigilância de Oncologia não sem que, previamente, tivesse prometido mais todo um rol de velinhas, missas, esmolas, genuflexões e, cereja em cima do bolo, uma peregrinação ao Vaticano, que Fátima lhe parecia preço pouco a pagar por tamanha graça, caso ela se concretizasse.

– Então, Sr. Simplício, como se sente?

– Mal, doutor. Muito mal. A última TAC revelou uma qualquer coisa nos pulmões, e desta já não me safo. Ou cancro, ou tuberculose. Ora, aplicando a Lei de Murphy, é cancro.

Franzindo o sobrolho com divertida estranheza, o esculápio retirou do envelope os documentos clínicos, que examinou atentamente. Depois, deixou que um sorriso se lhe abrisse, de orelha a orelha:

– Nada disso, Sr. Simplício. Ainda não é desta. O que o senhor tem é a parte superior dos pulmões queimada pela radioterapia. Nada de grave.

– Então… não é doença prolongada?

– Nem prolongada, nem doença, meu caro.

“Milagre!” exclamou silenciosamente Simplício. Embora sem certezas quanto à autoria do milagre, decidiu atribuí-lo ao São João Paulo II que, ao que parece, também estava no ramo da oncologia, para além da neurologia, o que se compreende já que, liberto, finalmente das preocupações pontifícias, tinha todo o tempo do outro mundo para estudar e se especializar em vários ramos da ciência médica.

*Baseado em factos verídicos.