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José Moreira

18 de Outubro, 2013 José Moreira

Valha-nos a santa religião

Quando tudo parecia estar de acordo, eis que um cientista vem dizer que essa coisa de ter havido várias espécies de “Homo” talvez não seja bem assim. Para confirmar a sua teoria, apresenta-nos o “crânio 5”, que diz ter a linda idade de cerca de 1,8 milhões de anos.

Ora bem, nós sabemos como é a Ciência: hoje dizem uma coisa, amanhã dizem outra, nunca têm a certeza de nada, estes cientistas. Por isso é que nunca mais saímos do sítio. Ainda andam à procura da data do aparecimento do Homem.

Deixem-me, pois, dar uma ajuda: o Homem apareceu há cerca de 6013 anos, mais centímetro menos quilómetro, umas gerações antes da Idade do Ferro. E não é preciso consultar a Wikipédia, basta ler a Bíblia, mais exactamente Génesis 4.22: E Zilá também deu à luz Tubalcaim, mestre de toda a obra de de cobre e ferro. É só fazer as contas.

O problema é que os cientistas não lêem a Bíblia, e ficam-se ali a estudar, a estudar, quando está tudo explicado.

A religião é uma coisa boa, não é?

30 de Setembro, 2013 José Moreira

Falta de visão…

Qualquer papa que se preze, logo que passa para as mãos do defunteiro só tem uma preocupação: tratar de obrar o maior número possível de milagres, para ser promovido a santo ou, será preferível dizer, a ressanto, uma vez que santo já ele é enquanto respira. Trata-se, pois, de uma redundância.

Compreende-se. Por via de regra, agarram-se ao poder com tal gana, que quando deixam a profissão é para se entregarem nas defunteiras mãos.

A confirmar o que escrevo o papa F1, o Chico para os amigos, acaba de anunciar não um, mas dois futuros santos: o ex-papa JP2 e o também ex-papa J23. Ambos ex-vivos, como não podia deixar de ser.

Felizmente, a História legou-nos uma excepção àquilo que tem sido a regra. Joseph Ratzinger ainda está vivo e são. Por isso, não se compreende a falta de sentido de oportunidade que o mesmo manifesta, em oposição à clarividência exibida durante o exercício papal. Então, não seria de aproveitar a oportunidade e desatar já a miracular tudo quanto disso fosse passível? Logo agora, que não tem mais nada que fazer e está a gozar uma merecida reforma? Por que raio está a roubar, urbi  et orbi, a suprema felicidade de ser canonizado ainda em vida? Além do mais, seria um estonteante golpe publicitário, que guindaria a ICAR para os lugares cimeiros do ranking das empresas religiosas. Está à espera de quê? De morrer? Mas isso deixa de ser original, não tem piada nenhuma: depois de morto, qualquer papa é canonizado. Em vida é que nunca aconteceu.

Julgo eu…

29 de Setembro, 2013 José Moreira

Será mais uma inspiração?

Numa freguesia da Covilhã, as urnas de voto foram destruídas. Segundo a notícia, a destruição deu-se “depois da missa”.

Querem lá ver que foi o Espírito Santo a fazer mais uma das suas? É sabido que o rapaz tem feito umas asneirolas, tipo engravidar virgens e inspirar papas altamente desaconselháveis a uma estrutura mental estável. Mas não se lhe conheciam intromissões na política… Será que o Pedro Coelho também já conseguiu mandá-lo para a “requalificação”?

12 de Setembro, 2013 José Moreira

“Era um biquini, pequenino…”

Decididamente, as opções religiosas são para respeitar.E para impor, acrescento. Assim, por exemplo, se um cristão decide residir num qualquer país islâmico, tem todo o direito a exigir costeletas de porco, no talho. E caso o talho não tenha costeletas de porco, o cristão tem todo o direito a dirimir, em tribunal, o seu suíno direito. Perdão: o direito ao suíno. E estou convicto de que o tribunal, por mais islâmico-fascista que seja, não deixará de fazer a vontade ao simpático cristão, já que as suas opções religiosas não o proíbem de saborear o suíno artiodáctilo do qual a única parte inaproveitável é o grunhido.

Por isso, e por uma questão de reciprocidade, os islâmicos que residam em países ditos de cultura cristianizada, têm todo o direito a fazer as suas exigências. Foi o caso desta jovem,  que, não suficientemente contente por o tribunal a autorizar a ir às aulas de natação em “burquini”, provavelmente vai exigir que todas/os as/os colegas passem a envergar a atraente indumentária, já que o Alcorão proíbe as mulheres não só de exibirem qualquer pedaço de pele que vá além da cara, das mãos e dos pés, como também as proíbe de ver. Ora, a pudibunda jovem recata-se, como manda Maomé, mas a verdade é que vive em pecado, ao visualizar os seus colegas masculinos que, naquela idade, transpiram hormonas por tudo quanto é poro. E a apudorada rapariga, que até passou os oito anos de idade sem ter sido obrigada a casar-se, não pode ser constrangida a ver as insinuadas pendurezas masculinas. Não que, provavelmente, lhe falte vontade; mas o Maomé…

Parece que o tribunal não deu razão à jovem. Lá que se vista de “burquini” para ir nadar, ainda vá que não vá; mas se não quer ver os outros em roupas reduzidas… que feche os olhos.  Por seu lado, a jovem já terá uma justificação para, sem deixar de cumprir o islão, conviver alegremente com os púberes companheiros masculinos.

Ele sempre há coisas que nos ajudam a limpar a consciência. E vale a pena contar um caso que se passou comigo, há uns anos. Num congresso internacional, chegou a hora da refeição. Como o dinheiro não abundava, o cardápio consistia em corriqueira costeleta de porco frita com batata e arroz. À minha frente, na mesa corrida, um paquistanês, quando viu o prato aterrar na sua frente, perguntou-me o que era “aquilo”. Porco, respondi. No seu inglês macarrónico, fez-me saber que a sua religião o proibia de comer aquele petisco. Fiz sinal ao empregado que, perante a minha tradução, solicitamente se prontificou a trocar o prato. Regressou, passados poucos minutos, com o que parecia ser outro prato. O paquistanês repetiu a pergunta anteriormente feita, ao que eu respondi: “Vitela”.

Eis, pois, como um simpático islamista comeu uma saborosa e proibida costeleta de porco, sem sombra de pecado.

Moral da história: todo o burro come palha, é preciso é sabê-la dar. Não se poderia aplicar o ditado à rapariguinha?

 

3 de Setembro, 2013 José Moreira

Toca a aproveitar…!

De acordo com o insuspeito Jornal de Notícias, o Chico vai conceder “indulgência Plenária” a quem participar na peregrinação à Penha (Guimarães) no próximo Domingo. Ainda de acordo com o pio diário, os peregrinos “ficarão sem pecados”.

Não sei porquê, de repente lembrei-me do imperador Constantino, que se fez baptizar à hora da morte para que lhe fossem perdoadas as patifarias que até então tinha cometido, quase a transformar, por comparação, o bando dos Bórgia num coro celestial. E pergunto se os cristãos católicos não terão, agora, a oportunidade para aproveitar estes dias para desbundar, sabido como é que basta, depois, uma passeata até à Penha para que tudo fique em águas de bacalhau.

É fartar, vilanagem!

Só ainda não percebi como é que o Chico vai fazer para saber quem, na verdade, foi à peregrinação. Vai haver controlo de peregrinos? Ou aplica-se a velha tática do “tudo ao monte (da Penha) e fé em Deus”?

 

 

 

 

25 de Agosto, 2013 José Moreira

Humor de Verão – O segredo de Fátima

“Nelo Careca” afastou a farta melena que lha caía por sobre os olhos, e sorveu mais um gole de cerveja, e é a altura de dizer que só aparentemente é que há contradição entre a alcunha de “Nelo Careca” e a sua exuberantemente rebelde cabeleira. Não há contradição nenhuma, ponto final. “Nelo Careca” era detentor de um invejável ornamento capilar, e a sua alcunha, ou antes, as razões que presidiram à atribuição de tão paradoxal como absurda antonomásia seriam um profundo mistério, que permaneceria, pelo menos, até ao Juízo Final, se outro não houver depois. Seriam, disse eu, e muito bem, mas deixaram de o ser quando começou, tempos antes, a haver estrilho[1] com a sua agá[2], Fátima, agora transmutada em ex-agá.

Ultimamente a vida não lhe tinha corrido bem, e refiro-me a “Nelo Careca”. Aliás, nem ultimamente nem remotamente, valha a verdade. Primeiro, foi a agá a reclamar que o dinheiro do Rendimento Mínimo que, mais tarde, veio a chamar-se Social de Inserção, era insuficiente para ir tomar o pequeno-almoço e o lanche ao café, todos os dias e, ainda por cima, para pagar ao merceeiro, porque era preciso comer, não é verdade?

lá se arranjas qualquer coisa para ganhar dinheiro, que eu num faço milagres – garantia Fátima, no seu característico sotaque nortenho, do qual nunca se separava nem para dormir.

— Mas tu não vês como isto anda? — tentava argumentar “Nelo Careca”. — Está mau para todos, até para nós.

— Está mau porque tu passas a bida na taberna e num queres bergar a mola. Se há crise nos cabedais, bai pró o conto do bigário, que nunca failha.

Foi numa dessas ocasiões que “Nelo Careca” que, nesse dia, tinha acordado mal disposto, lhe atirou um deixa de te armar em fina e  passa a tomar o pequeno-almoço e a lanchar em casa, só que  Fátima não estava pelos ajustes mas oube lá, o que é que tu queres? Queres que todos pensem que sou uma pelintra? Estás bêbedo, ou quê? Há duas semanas que num compro roupa noba, e ainda ontem a D. Serafina, a cabeleireira, me mandou a boca que eu já não ia arranjar o cabelo há dois dias! Estou farta de passar bergonhas por tua causa, e quem num tem dinheiro num tem bícios.

— O que é que queres dizer com isso?

— É simples. Se num tens dinheiro para me sustentar, bou procurar outra bida.

Fátima sabia que a melhor forma de dominar um homem é ameaçá-lo com o abandono. Não há nada mais carente e, consequentemente mais dócil, do que um homem que se sente abandonado, sem ter quem lhe passe as camisas a ferro e sem ter quem, acima de tudo, lhe aqueça os pés nas longas e frias noites de inverno.

— Quer dizer: sua excelência não pode passar sem tomar o café  e mamar o “croissant” todos os dias de manhã, no café, armada em gente fina; não pode deixar de lanchar chá e bolinhos todos os dias, para estar no serrote com as amigas; não pode deixar de ir à cabeleireira todos os dias; não pode deixar de comprar roupas todas as semanas; e eu é que tenho os vícios. É preciso ter lata como um penico! Minha linda, vai à merda, e é já! Pega nas trouxas, e RUA! Quando chegar a casa já não te quero ver.

Porra! Saiu o tiro pela culatra. Mas Fátima tinha poderes. Outros poderes. E o plano B fez a sua aparição:

— Ó home! Tu como falas comigo. Olha que eu num posso enerbar-me, qu’índa posso ter um ABC.

–… Um quê??

— Um ABC, home! Num sabes o que é um ABC?

— Sei perfeitamente, e estou-me cagando. Por mim, até podes ter o abecedário completo.

“Nelo Careca” voltou as costas e saiu. Fátima tratou de carregar os haveres no carro, que isto de andar a pé é para os tesos, e zarpou para casa da mãe. “Nelo Careca” não era para brincadeiras, e se a encontrasse em casa quando regressasse, o mais certo era ir fazer uma visita à “urgência” do hospital. Nem Nossa Senhora seria capaz de valer a Fátima. Consigo, para além dos trapos, chamemos assim às quantidades industriais de roupas de marca, Fátima levava um segredo. E o segredo de Fátima era o que iria ditar, dias depois, a alcunha de “Nelo Careca” que, até então, era conhecido por “Nelo”, simplesmente. É que “Nelo” era completamente imberbe, passe o termo, na zona onde, normalmente, homens e mulheres são detentores de abundante e encarapinhada pilosidade. Segredo que, naturalmente, “Nelo” partilhava com Fátima e que se manteve como segredo de alcova até ao dia em que Fátima foi despedida. Mulher despeitada é capaz de fazer mais estragos do que as armas de destruição maciça do falecido Saddam, e Fátima não quis deixar os pergaminhos por mãos alheias. Logo no dia seguinte, o segredo de Fátima era revelado aos quatro ventos e, minutos depois da revelação, “Nelo”, o carteirista, passava a ser, oficialmente, “Nelo Careca”.


[1] Estrilho: barulho, confusão, zanga.

[2] Agá: amante, companheira, esposa.

 

In “O Alfa das 10 e 10”

Papiro Editora

23 de Agosto, 2013 José Moreira

Humor de Verão – a Bíblia revisitada

Por determinação divina, o Versículo 16 do Capítulo 3 da Bíblia, passa a ter a seguinte redacção:

16 -E à mulher, disse: Multiplicarei grandemente a tua dor, e a tua conceição; com dor darás à luz filhos; e o teu desejo será para o teu marido, e ele te dominará.

16/A – Além disso, pagarás com teu sangue a afronta que Me fizeste.

16/B – E eis que Eva tomou consciência da gravidade do pecado cometido, e implorou: Senhor, para tão grande pecado, não terei sangue que chegue.

16/C – Então o Senhor Deus disse à mulher: Grande é a Minha misericórdia. Autorizo-te o pagamento em prestações mensais.

 

Palavras de salvação.

21 de Agosto, 2013 José Moreira

Misticismos…

O ex-papa Bento 16 afirmou que a sua resignação se deveu a uma “experiência mística” que teve com Deus. Por outras palavras, o patrão propôs-lhe uma rescisão amigável.

Claro que as pessoas são livres de acreditar no que entenderem. Mas seria interessante, e até desejável, uma vez que o próprio ex-papa confirma não ter tido qualquer visão, ou seja, não esteve cara-a-cara com o interlocutor, dizia eu que seria interessante saber como chegou à conclusão de que foi Deus, e não o Demónio, quem o aconselhou a abandonar o barco que, ao que consta, estava prestes a afundar-se. E esta minha dúvida resulta de uma afirmação da própria Igreja, que garante que Satanás é o “pai da mentira”.

Ora, sendo assim, quem me garante que o Satanás não inspirou, também, por exemplo, a Bíblia?