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Autor: Carlos Esperança

1 de Março, 2004 Carlos Esperança

A ICAR na Argentina. Um clero acabado de sair do Concílio de Trento



A ferocidade beata de Bin Laden, um troglodita do islão, tem ofuscado o arcaico João Paulo II; a boçalidade do mullah Omar eclipsa o guardião das virtudes católicas, cardeal Joseph Ratzinger, prefeito da Sagrada Congregação da Fé; a brutalidade dos ayatollas e mullahs islâmicos faz empalidecer o brilho dos bispos e padres católicos.

Mas, na América Latina, o clero procura rivalizar com os próceres do Islão.

O estado argentino aprovou a lei de saúde reprodutiva que promove a divulgação de informação sobre contracepção e o episcopado criticou que se dê «informação nos centros de saúde sobre métodos para impedir a contracepção».

Também a exortação de JP2 a Carlos Custer, «defenda o valor da vida humana», na apresentação de credenciais como embaixador no Vaticano, foi entendida como crítica velada à nomeação, para o Supremo Tribunal de Justiça da Argentina, de Carmen Argibay, ateia e defensora da despenalização do aborto.

Às religiões não se conhece utilidade, mas não lhes falta malignidade.

29 de Fevereiro, 2004 Carlos Esperança

Assinalando 4 anos sobre o baptizado de um filho do Sr. Duarte Pio

Injustamente ignorado das primeiras páginas dos jornais, afastado da abertura dos noticiários televisivos e, perante a imperdoável distracção da comissão organizadora do Porto – 2001, teve lugar no dia 19 de Fevereiro de 2000 o baptizado do menino Dinis de Santa Maria Miguel Gabriel Rafael Francisco João de Bragança.

A princípio julguei tratar-se de uma lista donde os padrinhos escolhessem o nome mais bonito. Só quando percebi que todos os nomes passavam a ser propriedade do novo cristão, me dei conta da relevância do evento, abrilhantado, aliás, pelo Senhor Bispo do Porto, numerosos membros do cabido, proeminentes plebeus e piedosas senhoras da melhor sociedade.

Foi com alguma emoção (que agora recordo, quatro anos depois) que soube libertado dos riscos do limbo o pequeno Dinis, através da água do rio Jordão, embora eu tivesse preferido por razões bacteriológicas a dos Serviços Municipalizados do Porto depois de convenientemente benzida.

Escreveu Augusto Abelaira que o homem é o único animal que distingue a água benta da outra, mas nada referiu sobre a diferença da água captada no rio Jordão ou na bacia hidrográfica do Douro.

Certo, certo, é que o menino ficou mais puro, liberto que foi do pecado original que carregava desde o dia 25 de Novembro do ano anterior.

Felicitei então os patrocinadores e as piedosas pessoas que contribuíram com mais 6 mil contos para tão auspiciosa festa. Continuo a temer, por se tratar de uma virtude, que ao preço elevado a que ascendeu o primeiro sacramento possam tornar-se incomportáveis os primeiros vícios.

No entanto, continuo convicto de que as excelsas senhoras que então acompanharam piedosamente o neófito no caminho da virtude o não abandonarão com a sua solicitude no primeiro pecado.

29 de Fevereiro, 2004 Carlos Esperança

As longas noites de JC



JC – Tomai, comei… bebei…

Judas – Não aguenta dois copos…

28 de Fevereiro, 2004 Carlos Esperança

A Concordata está a ser revista em segredo

A cerimónia de despedida do núncio apostólico em Lisboa, em 2002, noticiada pelo jornalista Carlos Albino (DN de 24 de Outubro), foi um acto protocolar que o MNE, Martins da Cruz, transformou num gesto de subserviente genuflexão.

Não sei se foi o remorso pela conduta nos movimentos diplomáticos a que procedeu ou o gosto por aviões de luxo que o levou a procurar a absolvição dos pecados no acto de vassalagem que então prestou ao núncio.

Mesmo que fosse – e não é – “inegável que a maioria da população portuguesa professa a religião católica ou se acolhe à Igreja em momentos importantes da sua vida” não tinha o direito de prometer o reforço da sua influência, já excessiva, no domínio “do ensino, da assistência social, da cultura, nos múltiplos domínios em que nos habituámos a ver uma Igreja activa e empenhada em contribuir para a solução de problemas nacionais”.

“Como católico considero um privilégio ocupar a pasta dos Negócios Estrangeiros no momento desta importante negociação” – afirmou, na altura, com a mesma convicção do seu homólogo do tempo de Salazar. Foi um sacristão, com o “privilégio” de ser ministro, de joelhos, a imaginar o país de cócoras.

O ministro caiu, não pela indignidade das afirmações mas por uma cunha para fazer entrar a filha na faculdade de Medicina. Nada nos garante que o acto de indignidade cívica não possa contaminar a ministra que lhe sucedeu.

Fui hoje alertado para o sigilo concordatário pelo eminente jurista Vital Moreira, no blogue Causa Nossa.

A Constituição, que é laica, obriga a um mínimo de pudor republicano, mas não é certo que o Governo distinga os interesses de Portugal dos da Conferência Episcopal. A liberdade religiosa está em perigo e o País em risco de tornar-se um protectorado do Vaticano vergado ao peso de 44 hectares de sotainas.

Em 7 de Maio de 1940, em pleno apogeu do nazi/fascismo, nasceu a Concordata entre a ditadura salazarista e a do Vaticano, então liderada pelo papa de Hitler – Pio XII. Foi assinada «em nome da Santíssima Trindade…, para a Paz e maior bem da Igreja e do Estado».

A Santíssima Trindade goza hoje de menos prestígio mas a Santa Mafia continua a ter muita força.

27 de Fevereiro, 2004 Carlos Esperança

Separação entre religião e Estado

Vale a pena reflectir sobre este texto de um leitor, hoje publicado no Diário de Notícias:

Sr. ministro da Educação, quanto ao Projecto Bíblia Manuscrita Jovem, a ideia de fazer as crianças copiar a Bíblia nas escolas públicas, fora das aulas de Religião e Moral, é má por três razões fundamentais. A primeira e a mais séria é a mais óbvia: esta iniciativa é ilegal e um Estado que não faz cumprir a lei não merece o respeito de ninguém. A segunda razão diz respeito à democracia e à justiça. A partir de agora, o Estado deve autorizar todas as organizações religiosas que queiram fazer as criancinhas copiar o Alcorão, etc. Mas a terceira razão, a que eu não vejo nunca discutida em profundidade, é relativa à ideia generalizada de que a religião é uma coisa objectivamente boa. Será? Eu acho que não. Se pensarmos bem, a religião pode ser uma coisa boa, mas também pode ser uma coisa má. Com uma longa história de brutalidades, perseguições e autos-de-fé, a Igreja Católica não é uma organização com credenciais acima das nossas suspeitas. Durante o século XX, a Igreja Católica apoiou e aplaudiu ditadores e regimes hediondos: Mussolini, Salazar, Franco, Fulgêncio Baptista, Pinochet, Videla, e tantos outros. O papel do Papa Pio XII em relação aos crimes de Hitler está muito mais perto do de um homem de Estado do que do de um homem fé. E há uma semana os jornais americanos anunciavam que nos EUA cerca de 4450 padres estão acusados de abusos sexuais a menores desde 1950. Há cerca de 11 mil queixas a serem investigadas.(…) Bertrand Russel escreveu que as controvérsias mais selvagens são sempre sobre ideias que não se podem provar de forma irrefutável. A perseguição é usada em teologia, não em aritmética. Por que é que não investimos então na promoção da aritmética nas nossas escolas? – Filipe Vieira de Castro – Texas, EUA

25 de Fevereiro, 2004 Carlos Esperança

A resposta de Bernardo da Motta

Eis o que pensa um crente. Assinaladas com (>), em itálico, encontram-se as minhas afirmações, seguidas das respectivas respostas. Para se perceber o grau de tolerância de que um crente é capaz.

……………………….

Obrigado pela sua resposta.

>Depois, tenho a dizer-lhe que, não sendo o véu uma imposição do Corão, não deixa de ser uma arma que os fundamentalistas islâmicos usam para desafiar o carácter laico do Estado francês.

O Corão impõe decência e pudor no vestuário. De facto, não faz qualquer referência específica ao tipo de vestuário.

E é um facto que o fanatismo islâmico (prefiro esta palavra a “fundamentalismo”, uma vez que “fundamentalismo” deve significar “aderência a fundamentos”, o que é algo que eu aprovo) usa vezes sem conta o Corão como arma de terror.

O meu ponto de vista é o do espectador que assiste à derrocada das verdadeiras tradições.

O Islão, a par com tantos outros sistemas tradicionais, está a colapsar. O trabalho dos fanáticos dá uma grande ajuda é certo.

> Pode argumentar, caro leitor, que o Islão já foi tolerante.

Mesmo hoje em dia, há várias facetas do Islão!!

Conhece o sheik Munir, da comunidade islâmica aqui de Lisboa?

Conhece homem mais prudente, sensato, culto e tolerante?

> Mas prove-me que é capaz de:

>- Renunciar à sharia;

A sharia é parte integrante da tradição islâmica.

faz parte do terno “haquikah, tarikah e sharia”

“haquikah” é o conhecimento interior, o lado interior da doutrina, se quiser, o seu lado “esotérico”. O sufismo versa sobre a “haquikah”.

“tarikah” é a via, é o caminho.

“sharia” é o conhecimento exterior, o lado exterior ou “exotérico” da doutrina. Numa sociedade plenamente tradicional (já quase não as há), não faz sentido a separação entre religião e Estado. Essa é outra das confusões do mundo moderno.

> Permitir aos crentes que o abandonem;

Concordo consigo. Qualquer pessoa deveria poder abandonar o Islão se o quisesse fazer. Contudo, nesse caso, eu concordo que tal pessoa deveria também abandonar fisicamente o local e a cultura onde o Islão fosse tradição.

>- Defender a liberdade de ter qualquer religião e a de não ter;

Concordo!

>- Pedir perdão pela fatwa contra Salman Rushdie;

Concordo! Este é também mais um gesto fanático.

>- Enfim, se é capaz de renunciar à pena de morte, poligamia, discriminação da mulher e outros anacronismos e consentir, nas suas escolas, símbolos cristãos, judaicos ou ateus.

Aqui é que eu já acho que o Carlos está a misturar várias coisas. A mulher não é discriminada no Corão. Os homens, contudo, facilmente encontram formas de ler a seu bel-prazer o Corão. A poligamia é uma característica intrínseca ao Islão, e vem referida e legislada no Corão. é uma característica da cultura islâmica, e é óbvio que nos é estranha, a nós, ocidentais, que temos outra cultura.

Chamar de “anacronismo” algo que não se conhece não me parece correcto.

Repito, a genuína tradição islâmica, por muito que esteja em vias de extinção como as restantes tradições espalhadas por esse mundo fora, nada tem de anacrónico, visto que é uma via de Verdade, uma Verdade revelada.

A decisão do Estado Francês, cujas consequências nefastas ainda são imprevisíveis, só demonstra como aqueles que detêm o poder em França têm a sua intelectualidade e cultura reduzida a um mínimo. É um claro sinal de intolerância, e de verdadeiro terrorismo “jacobino”.

O que irá suceder é que as comunidades islâmicas em França irão regressar a escolas fechadas, tirando as suas crianças do convívio salutar com os restantes alunos. Estaremos a regressar aos bairros étnicos?

>Não basta haver crentes tolerantes, é preciso que o carácter fascista das religiões seja erradicado.

Repare, Carlos, a verdadeira religião nada tem a ver com “fascismo” nem com qualquer outra posição política. A religião tem uma natureza tanto transcendente como social, é certo, mas é social na medida em que serve como elo de coesão da sociedade e como ponte para a divindade.

Não seria correcto apelidar uma religião de “fascista”. Aliás porque o próprio fascismo é uma forma anti-tradicional e por isso mesmo, fortemente anti-religiosa.

>Cumprimentos.

>Carlos Esperança

Cumprimentos,

Bernardo

24 de Fevereiro, 2004 Carlos Esperança

Não há religiões tolerantes. Há crentes que, apesar da religião, conseguem ser

Bernardo Sanchez da Motta escreveu: Desculpe-me, Carlos Esperança, mas a sua forma de ver o Islão é extremamente redutora. Se você não consegue sequer vislumbrar a tela complexa do Islão actual, então não me parece que o seu comentário ao véu tenha muito fundamento ou credibilidade.

Por acaso sabe em que termos o Corão menciona o uso do véu pelas mulheres? Terá o Carlos perdido um pouco do seu tempo para ver EXACTAMENTE como o Corão define essa questão? A sua ideia de Islão vem dos “taliban”?

Ou está apenas a deixar a sua mente ser levada pela “pseudo-intelectualidade” dos preconceitos que os mass media impoem à mente “massificada” dos nossos contemporâneos?

A minha resposta:

Não sendo o véu uma imposição do Corão, não deixa de ser uma arma que os fundamentalistas islâmicos usam para desafiar o carácter laico do Estado francês.

Pode argumentar, caro leitor, que o Islão já foi tolerante. Mas prove-me que o Islão é capaz de:

– Renunciar à sharia;

– Permitir aos crentes que o abandonem;

– Defender a liberdade de ter qualquer religião e a de não ter;

– Pedir perdão pela fatwa contra Salman Rushdie;

– Enfim, se é capaz de renunciar à pena de morte, poligamia, discriminação da mulher e outros anacronismos e consentir, nas suas escolas, símbolos cristãos, judaicos ou ateus.

Não basta haver crentes tolerantes, é preciso que o carácter fascista das religiões seja erradicado.

22 de Fevereiro, 2004 Carlos Esperança

Um cronista do EXPRESSO disserta sobre Deus e o repolho

No Expresso de 22 de Fevereiro de 2004 o pio colunista João Pereira Coutinho insurge-se contra o projecto educacional inglês e faz alguns saborosos comentários.

Vale a pena transcrever (site inacessível) o que diz o devoto plumitivo, sob o título “Deus e o repolho”:

«A ideia (…) é mostrar aos petizes britânicos que, para lá das religiões “tradicionais” (leia-se “cristã”, “judaica” e “islâmica”) existe todo um mundo de crenças e não crenças que merece igual estatuto e igual reverência», para concluir que «se a escola elege como educação religiosa formas de descrença na divindade, seria de incluir outros tipos de adoração pessoal… como o masoquismo, o bestialismo e mesmo o filistinismo». E continua dizendo que «para sermos realmente tolerantes… o aluno deveria ser convidado a adorar um texugo – ou um repolho – com igual respeito e devoção», para terminar, profetizando, que «No espaço de algumas gerações, teríamos um sistema politeísta que, abrangendo Deus e o repolho, produziria uma sociedade mais humana, mais culta e incomparavelmente mais tolerante».

Sem me deter na falta de consideração para com o repolho (escreve Deus com letra maiúscula) merece alguns comentários o devoto:

1 – Não é função da escola transmitir um sistema de crenças, até porque teria de optar por um entre muitos, e o laicismo é uma condição para a democracia;

2 – Comparar Deus a um texugo ainda se aceita (embora não haja provas de que o primeiro existe), pertencem ambos ao reino Animal; mas comparar Deus a um repolho é fazê-lo migrar para o reino da Botânica (inaceitável num devoto);

3 – Na ironia em relação ao politeísmo (se acaso sabe o que seja) parece transparecer muita fé na humanidade, cultura e tolerância que exorna as religiões «tradicionais», que tem por boas.

Todos sabemos como as 3 religiões do livro praticam a humanidade, defendem a cultura e garantem a tolerância. Os bispos católicos e os ayatollahs são o paradigma. As teocracias são um modelo a que devemos regressar.

O piedoso plumitivo parece uma besta perfeita, mas não o designarei assim, por três razões: em primeiro lugar porque sou educado, depois porque não o conheço e, finalmente, ninguém é perfeito.

22 de Fevereiro, 2004 Carlos Esperança

Ecossistema religioso ameaçado – frades e freiras em vias de extinção

O Expresso de ontem, sob o título «Religiosos à procura da vocação» traz um artigo de Mário Robalo com excelentes notícias.

Ficamos a saber que «As congregações religiosas portuguesas estão a perder membros (padres, freiras e monges) a um ritmo vertiginoso». O rejuvenescimento das 146 instituições de “vida consagrada” é desanimador – segundo palavras do jornalista –, porque mais de metade não tem nenhum candidato em formação.

Nos últimos 5 anos o número de «consagrados» passou de 10.000 para 8.600, tendo 50% mais de 60 anos.

Actualmente 6660 mulheres e 1953 homens encontram-se enclausurados nas 146 congregações. Esta foi a libertação a que a ICAR os condenou.

Congregação religiosa é uma associação de mulheres ou homens que, depois de fazerem votos de pobreza, castidade e obediência, vive em comunidade – diz o jornalista.

Todos sabemos que é feroz a obediência, moderada a pobreza e relativa a castidade mas o perigo reside nos 114 estabelecimentos de ensino que possuem e nos 39.169 alunos que os frequentam.

Os religiosos gostam de se flagelar e de orar mas dessas actividades lúdicas não vem qualquer mal ao mundo.