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A Concordata está a ser revista em segredo

A cerimónia de despedida do núncio apostólico em Lisboa, em 2002, noticiada pelo jornalista Carlos Albino (DN de 24 de Outubro), foi um acto protocolar que o MNE, Martins da Cruz, transformou num gesto de subserviente genuflexão.

Não sei se foi o remorso pela conduta nos movimentos diplomáticos a que procedeu ou o gosto por aviões de luxo que o levou a procurar a absolvição dos pecados no acto de vassalagem que então prestou ao núncio.

Mesmo que fosse – e não é – “inegável que a maioria da população portuguesa professa a religião católica ou se acolhe à Igreja em momentos importantes da sua vida” não tinha o direito de prometer o reforço da sua influência, já excessiva, no domínio “do ensino, da assistência social, da cultura, nos múltiplos domínios em que nos habituámos a ver uma Igreja activa e empenhada em contribuir para a solução de problemas nacionais”.

“Como católico considero um privilégio ocupar a pasta dos Negócios Estrangeiros no momento desta importante negociação” – afirmou, na altura, com a mesma convicção do seu homólogo do tempo de Salazar. Foi um sacristão, com o “privilégio” de ser ministro, de joelhos, a imaginar o país de cócoras.

O ministro caiu, não pela indignidade das afirmações mas por uma cunha para fazer entrar a filha na faculdade de Medicina. Nada nos garante que o acto de indignidade cívica não possa contaminar a ministra que lhe sucedeu.

Fui hoje alertado para o sigilo concordatário pelo eminente jurista Vital Moreira, no blogue Causa Nossa.

A Constituição, que é laica, obriga a um mínimo de pudor republicano, mas não é certo que o Governo distinga os interesses de Portugal dos da Conferência Episcopal. A liberdade religiosa está em perigo e o País em risco de tornar-se um protectorado do Vaticano vergado ao peso de 44 hectares de sotainas.

Em 7 de Maio de 1940, em pleno apogeu do nazi/fascismo, nasceu a Concordata entre a ditadura salazarista e a do Vaticano, então liderada pelo papa de Hitler – Pio XII. Foi assinada «em nome da Santíssima Trindade…, para a Paz e maior bem da Igreja e do Estado».

A Santíssima Trindade goza hoje de menos prestígio mas a Santa Mafia continua a ter muita força.