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Carlos Esperança

19 de Julho, 2004 Carlos Esperança

Santana Lopes (PSL) rezou na televisão

Acompanhado de uma câmara, para filmar a persignação e as rezas, o primeiro-ministro deslocou-se hoje à campa de Sá Carneiro. Deus podia estar ausente e, assim, ficou documentada a fé, para memória futura.

Não se sabe se PSL foi agradecer o milagre que o guindou ao poder, sufragar a alma do extinto ou cumprir penitência por pecados próprios, mas mostrou aos padres e ao País que é homem que sabe pôr-se de joelhos.

Se PSL for tão competente a governar como hábil a rezar, a Pátria está salva.

Vem aí a prosperidade em troca de ave-marias e padre-nossos.

Está assegurada a retoma por intercessão celestial.

E, se por desatenção divina, persistirem as desgraças que nos bateram à porta, o destino das almas fica melhor acautelado.

Se o Presidente da República não fosse ateu, a tomada de posse do XV Governo teria direito a bênção – a maior bênção de pastas de sempre.

19 de Julho, 2004 Carlos Esperança

É tempo de Deus entrar de baixa

Os clérigos dizem que os ateus não foram «tocados pela fé». E, sempre que podem, não deixam de tocá-los, como quem toca uma alimária que recusa estugar o passo ou um boi que pretende esquivar-se ao açougue.

Não se detêm a reflectir como é possível que, havendo um único Deus verdadeiro – como alegam -, o dito Deus seja, conforme a latitude, mais cruel, estúpido ou prepotente; de acordo com o regime político, capaz de punir os homens com a pena de morte ou ter de aguardar, cinicamente, para os condenar depois às perpétuas penas; consoante o período histórico, fomentar guerras santas ou resignar-se à liberdade e ao desprezo que lhe votam as criaturas cuja criação lhe atribuem.

Se Deus não fosse o pretexto para a intolerância, a prática de crimes e a crueldade, mereceria aos ateus a mesma simpatia dos deuses gregos ou romanos, das lendas e das fantasias que se perpetuaram de geração em geração.

Quem será capaz de explicar as idiossincrasias que levam Deus a babar-se de gozo com as penitências, as genuflexões, as orações, os jejuns, as flagelações ou as peregrinações? Que mania o leva a reprimir a sexualidade, a ofender a dignidade da mulher ou a ditar a moda no vestuário? Deus consegue ter todas as taras dos homens e nenhuma das suas virtudes.

Na coutada da Igreja Católica (ICAR) Deus era um entusiasta de churrascos para hereges, bruxas e judeus e revelou aos empregados imaginativos instrumentos de tortura com que se deliciava a observar os esgares de dor enquanto um padre os confortava com a exibição da cruz; no Médio Oriente pela-se por decapitações e amputações e atinge o divino gozo com as vergastadas públicas ou as lapidações de adúlteras; na Índia o senhor Deus lá do sítio ainda hoje não compreende que uma viúva recuse acompanhar o defunto à pira funerária.

Há quem leve Deus a sério e lhe agradeça o mal que faz.

18 de Julho, 2004 Carlos Esperança

A vida está difícil. A fé é que salva… alguns



A Igreja católica (ICAR) tem vindo a perder clientela, que muitos atribuem ao anacronismo das suas propostas e ao carácter autoritário do seu clero. É uma explicação insuficiente, quiçá errada, e perigosa. O islão é ainda mais retrógrado e não lhe faltam prosélitos, mártires e conversos. Numa análise empírica dir-se-ia que, quanto mais reaccionária é uma igreja maior é o seu poder de sedução, quanto mais violento e cruel é o seu Deus, mais dóceis e piedosos se tornam os crentes. As aparências escondem o carácter decisivo que o controlo do aparelho de Estado e dos meios de produção exercem sobre a fé.

Pode ver-se como, no Islão, os aparelhos militares, políticos e administrativos se encontram nas mãos do clero, sem prescindirem do aparelho repressivo que estimula a fé, quando esta vacila.

 Qualquer religião que perca o domínio económico e o aparelho de Estado, agora que o conhecimento deixou de ser monopólio eclesiástico, perde influência e tende a exercer um papel residual na sociedade.

Claro que as superstições e alguma apetência pelo fantástico serão sempre aproveitadas para conduzir as ovelhas ao redil da salvação. A ignorância e o desespero fazem o resto. 

 

Isto é válido para as religiões com alvará e para as que se estabelecem nas esquinas dos bairros pobres. Os métodos não variam muito, apenas a sofisticação.

16 de Julho, 2004 Carlos Esperança

Incêndios devastam Portugal

As sucessivas consagrações de Portugal ao Imaculado Coração de Maria, à Virgem Santíssima, à Senhora de Fátima, ao Divino Espírito Santo e a outros heterónimos da fauna celeste, têm-se revelado inúteis. Depois dos devastadores incêndios de 2003, com duas dezenas de pessoas carbonizadas e a maior área ardida de que há registo num só verão, já arderam este ano 20 mil hectares de floresta.

Ou o prazo de validade das consagrações é curto ou a utilidade nula.

Não sei se é a maldade de Deus ou a incúria dos homens que vai reduzindo o País sistematicamente a cinzas.

16 de Julho, 2004 Carlos Esperança

Maus, porcos e santos

Se um presidente condecora um patife é insensato, se um papa canoniza um facínora é piedoso.

 

João Paulo II levou longe de mais a glorificação aos corsários da fé. Desde a beatificação do cardeal fascista Stepinac e do papa anti-semita Pio IX, até ao tenebroso S. Josemaria Escrivá de Balaguer, são incontáveis os biltres que escaparam à justiça dos homens e foram arremessados aos altares pelo fanatismo de JP2.

 

Pelo carácter perigoso e prosélito da seita Opus Dei, cujos gerentes estão a ser sucessivamente canonizados, convém não deixar esquecer o fundador.

 

A respeito desse cúmplice da mais sinistra ditadura da Europa Ocidental, do século que passou, deixo aqui a carta piedosa que escreveu ao ditador Franco, um dos mais pusilânimes e frios assassinos dos tempos modernos, admirador e cúmplice de Hitler.

 

A carta do santo da ICAR ao santo do fascismo fui buscá-la ao «Oeste Bravio»

   

Carta de São Escrivá de Balaguer ao Generalíssimo Franco em 23 de Maio de 1958. (Publicada en la revista Razón Española – N° enero-febrero 2001)

 

Al Excmo. Sr. D. Francisco Franco Bahamonde, Jefe del Estado Español.

Excelencia,

No quiero dejar de unir a las muchas felicitaciones que habría recibido, con motivo de la promulgación de los Principios Fundamentales, la mía personal más sincera.La obligada ausencia de la Patria en servicio de Dios y de las almas, lejos de debilitar mi amor a España, ha venido, si cabe, a acrecentarlo. Con la perspectiva que se adquiere en esta Roma Eterna he podido ver mejor que nunca la hermosura de esa hija predilecta de la Iglesia que es mi Patria, de la que el Señor se ha servido en tantas ocasiones como instrumento para la defensa y propagación de la Santa Fe Católica en el mundo.Aunque apartado de toda actividad política, no he podido por menos de alegrarme, como sacerdote y como español, de que la voz autorizada del Jefe del Estado proclame que “la Nación española considera como timbre de honor el acatamiento a la Ley de Dios, según la doctrina de la Santa Iglesia Católica, Apostólica y Romana, única y verdadera y Fe inseparable de la conciencia nacional que inspirará su legislación”. En la fidelidad a la tradición católica de nuestro pueblo se encontrará siempre, junto con la bendición divina para las personas constituídas en autoridad, la mejor garantía de acierto en los actos de gobierno, y en la seguridad de una justa y duradera paz en el seno de la comunidad nacional.Pido a Dios Nuestro Señor que colme a Vuestra Excelencia de toda suerte de venturas y le depare gracia abundante en el desempeño de la alta misión que tiene confiada.Reciba, Excelencia, el testimonio de mi consideración personal más distinguida con la seguridad de mis oraciones para toda su familia.De Vuestra Excelencia affmo. in DominoJosemaría Escrivá de BalaguerRoma, 23 de mayo de 1958.

Nota de la revista: El original de esta carta lo posee la hija del Generalísimo, Duquesa de Franco.

 

Mais estulto do que acreditar em milagres é confiar em quem os aprova.

14 de Julho, 2004 Carlos Esperança

Escândalo sexual piedoso



A diocese de Viena de Áustria tem sido um sólido apoio da política ultraconservadora de João Paulo II e uma fonte de preocupações para o Vaticano. Há poucos anos, o então cardeal, pilar da moralidade, guardião dos bons costumes, defensor da família, adversário do divórcio e promotor da castidade, viu-se obrigado a resignar à diocese por envolvimento em numerosos actos de pedofilia.

Sua Santidade (SS) aceitou a resignação «com profunda mágoa», sem ter esclarecido se a mágoa se devia aos motivos ou à perda de um influente apoio.

Agora a capital do pacífico e encantador país volta a protagonizar um sério escândalo sexual, com a ICAR no centro do furacão.

Mas onde está o escândalo? Não é na homossexualidade, orientação que as democracias aceitam com o respeito que é devido às minorias.

O escândalo reside essencialmente em 4 aspectos:

1 – No exibicionismo do reitor do seminário, com a mão direita nos órgãos genitais de um seminarista enquanto olha de frente a objectiva da câmara fotográfica, com a mesma satisfação com que cantou a primeira missa ou ministrou pela primeira vez a comunhão;

2 – Na contradição entre o que prega e o que faz a ICAR;

3 – No uso de fotos de pornografia infantil e orgias sexuais pelo reitor e vice-reitor do seminário, nas relações com outros padres e seminaristas, quando se sabe que há pais que ingenuamente lhes enviam filhos menores à confissão ;

4 – Na campanha de intolerância que a ICAR desenvolve contra a homossexualidade, nas perseguições que lhes moveu no passado e na covardia que os impede de denunciarem a bíblia como fonte de violência e iniquidade: “Os actos homossexuais são uma abominação aos olhos do Senhor” Leviticus 18:22, “Os homossexuais devem ser executados” Leviticus 20:13.

Enfim, os mullahs islâmicos têm com frequência rapazinhos ao seu serviço sexual, os pastores protestantes e os rabis exibem as mesmas condutas e, tirando os aspectos do foro criminal, resta-me usar de alguma benevolência para com os algozes, vítimas de um celibato imposto pelo último ditador da Europa – o papa JP2.

12 de Julho, 2004 Carlos Esperança

Notas piedosas

Anadia – Na paróquia de Paredes de Bairro, a população e o padre desentenderam-se sobre o percurso da procissão e dividiram-se em dois grupos: um, mais numeroso, fez o périplo sem padre, sem que os santos notassem a falta; o outro, bastante reduzido, só o padre e o sacristão, abandonaram a piedosa viagem sem que Deus ou os paroquianos os acompanhassem.

O padre e os paroquianos estão desavindos. Deus alheou-se da contenda.

Coimbra – Depois de ter pernoitado durante três dias na Igreja da Graça, na Rua da Sofia, regressou Domingo ao seu domicílio habitual, no Convento de Santa Clara-a-Nova, a Rainha Santa Isabel conhecida pelos seus hábitos sedentários.

De dois em dois anos os mordomos, acompanhados por devotos e milhares de curiosos, levam a Santa a arejar e a passar três dias fora. Este ano a passeata foi adiada uma semana para evitar que os crentes preferissem o Euro 2004 à procissão. A fé já não é o que era.

Vizela – O santuário de S. Bento de Pêras, sempre bastante concorrido, teve este ano lotação esgotada. A missa campal atraiu uma multidão de pessoas e o Sr. Jorge de Sousa, que costuma vender sempre para cima de 300 frangos, declarou ao JN que este ano ainda veio mais gente na peregrinação.

O pároco prometeu “transformar este monte sagrado num espaço de lazer e bem-estar para todos”, referindo-se ao sítio onde se localiza o santuário. Aludiu certamente ao bem-estar físico pois o bem-estar espiritual é atestado por numerosos crentes que têm beneficiado das graças de S. Bentinho.

A intervenção contará com o apoio da Câmara Municipal de Vizela que, numa recente reunião, aprovou a atribuição de uma verba de 750 mil euros, a pagar durante três anos.

Vila Real – Não há dinheiro que pare na caixa de esmolas da Capela Nova, nem toalhas de linho que se mantenham no altar. As próprias jarras de flores vão à vida.

O padre Caetano Lúcio, responsável pelo templo, está preocupado com a onda de assaltos e sente-se impotente para distinguir entre verdadeiros devotos e «alguns jovens com ar muito piedoso, mas duvidoso, que se colocam estrategicamente junto da máquina das velas”.

Quando as esmolas não seguem o circuito normal, isto é, não chegam às mãos do padre, são considerados assaltos.

Há, porém, a hipótese, que a Igreja rejeita, de serem os próprios santos, num ataque de bondade, a solicitarem aos necessitados que levem o dinheiro para comerem e se vestirem.

Seriam lindos milagres, mais credíveis do que os que João Paulo II certifica, mas não há precedentes para milagres que envolvam dinheiro e prejudiquem a Igreja.

11 de Julho, 2004 Carlos Esperança

Tolerância e intolerância



É interessante observar a facilidade com que os prosélitos de qualquer religião acusam de intolerância quem se opõe aos seus desmandos e a dificuldade que sentem em reconhecer os abusos próprios.

Ninguém, que respeite a convivência cívica e manifeste os mais elementares princípios de tolerância, se oporá às manifestações religiosas individuais ou colectivas. Pelo contrário, é obrigação democrática defender esse direito.

Mas os crentes não devem estranhar a hilaridade que pode provocar uma procissão, a piedade que suscite a posição de joelhos, a vergonha que inspire a confissão ao padre, a confusão que faz ver rastejar pessoas no recinto de um santuário. Querem alguma forma maior de alienação do que as peregrinações aos santuários, as cinco orações muçulmanas com os rabos no ar em sentido contrário a Meca, as procissões em honra dos numerosos heterónimos da Virgem Maria ou as novenas a pedir chuva?

Não vejo mal em que os crentes abanem o crucifixo, dependurado na haste do retrovisor dos seus automóveis, encham a casa de virgens e Cristos ou passem os serões a rezar o terço pela conversão dos pecadores, mas não aceito que plantem cruzes nos largos das localidades, erijam ermidas nos cumes dos montes, multipliquem nichos de santos nas esquinas dos caminhos, e imponham santos para nome de ruas, hospitais, pontes, freguesias e até cidades.

Com que direito confiscam os cemitérios para os transformar numa exposição de símbolos religiosos? Como se atrevem a utilizar as escolas públicas para doutrinação? Que direito lhes assiste para impedirem o culto de outras religiões ou lhe dificultarem a edificação dos seus templos?

Deus pode merecer a fé dos seus crentes, mas os homens têm direito a defender a sua razão sem serem vítimas de perseguições religiosas.

10 de Julho, 2004 Carlos Esperança

A Igreja católica e a sexualidade

Onan, filho de Judá, segundo o livro de Génesis, foi morto por Deus por causa do crime de derramar a sua semente no solo e não dentro da mulher.

Vá lá que Deus é cego, surdo e mudo, ao que se deve a condescendência com todos aqueles que. através dos tempos, têm feito preces em honra de Onan e que, contrariamente às ameaças dos padres, foram poupados à cegueira, à tuberculose e a outras moléstias que diziam causar.

O papa julga que o orgasmo é um genocídio. Comporta-se como um merceeiro que tem uma enorme quantidade de almas armazenadas e teme que ultrapassem o prazo de validade antes de as conseguir escoar.

8 de Julho, 2004 Carlos Esperança

Uma diocese sem a graça de Deus

Os abusos sexuais de padres da arquidiocese de Portland, nos EUA, levaram-na à falência. O cio de um ex-reverendo tê-lo-á levado a molestar 50 rapazes, enquanto outros, menos abusadores, se contentaram com um número menor.

Depois de pagar 53 milhões de euros às suas vítimas, a Igreja corre o risco de pagar mais 160 milhões aos queixosos. O arcebispo John Vlazny já admitiu a bancarrota como única solução.

Como a lei norte-americana exonera de pagamento aos credores as sociedades que decretem falência, esta parece ser a única alternativa para a arquidiocese de Portland, sem arqui-remorsos da conduta dos seus padres.

Esta é a primeira sucursal do Vaticano a ser encerrada com prejuízos de exploração, enquanto a sede vive em grande desafogo financeiro.

A notícia, amplamente divulgada pela comunicação social estrangeira, só a encontrei referida em Portugal no canal de televisão – SIC.

Sabendo-se que Jesus ama as criancinhas e que se sente muito feliz em vê-las na sua casa (os templos) é melhor avisar os pais dos perigos que correm os seus filhos.

E não será má ideia que as portas das igrejas ostentem um letreiro:

«Proibida a permanência de menores de 18 anos».