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  • 15 de Maio, 2009
  • Por Carlos Esperança
  • Política

A primeira dama é um anacronismo

Não, não me refiro à amantíssima esposa do nosso PR cuja cultura deixa a do marido a grande distância e apenas rivaliza com ele na devoção à Virgem Maria, na sedução pelo Papa e na fé recente em S. Nuno.

Refiro-me a essa grotesca herança das monarquias, a esse enxovalho cívico à mulher, ao pendericalho que, dos EUA à França, assiste presidentes e chefes de Governo como a insulina aos diabéticos.

Não encontro na política e nos valores simbólicos da República algo de mais obsoleto do que a figura da primeira-dama. Trata-se, em primeiro lugar, da subalternização de um sexo perante outro, como se a primeira figura de Estado devesse ser homem, como se fosse apanágio do poder uma figura decorativa, como se o casamento fosse um dever e a homossexualidade ou o celibato proibidos.

Toda a gente conhece a mulher de Obama e a de Sarkozy, mulheres cuja inteligência não precisa da luz dos maridos para se imporem e terem vida própria, dispensando o papel inútil que as revistas cor-de-rosa lhes exigem. Não era conhecida a mulher de Berlusconi, por mérito da própria, e demérito do exótico e decrépito macho latino.

Tão intolerável como os monarcas islâmicos, que viajam com o harém, é a exibição das mulheres de dirigentes civilizados, espécies de gueixas que soltam à voragem das revistas do coração enquanto tratam de assuntos de estado.

Não conheço o marido da senhora Angela Merkel. Ainda bem. Não obriguem os países a exibir um adereço aos seus representantes máximos. Já é tempo de haver equilíbrio de géneros na suprema magistratura das nações e de deixar cair os deprimentes atributos da realeza, inevitáveis nos tempos em que o poder tinha a origem divina que desacreditou os deuses.

É tempo de a opinião pública, por questões de respeito pela igualdade de sexos, execrar estes hábitos trogloditas. É uma questão de dignidade e de ética republicana.