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  • 4 de Junho, 2015
  • Por Carlos Esperança
  • Ateísmo

Nós já ganhamos muitas vezes o Euromilhões

Por
Paulo Franco

Para que nós pudéssemos ter uma noção da incrível sorte que temos em simplesmente existir, talvez fosse conveniente recorrermos àquela área da matemática que analisa o grau de probabilidade de uma determinada coisa poder vir a acontecer. Por exemplo: para ganhar o euromilhões, um apostador tem uma probabilidade de acertar contra 116 531 800 de errar. Para utilizarmos o mesmo método de calculo para encontrar um número aproximado das probabilidades de existir vida no planeta Terra, teríamos que recuar no tempo até ao momento que se deu o big-bang há 14/15 biliões de anos e, aí, fazermos o cálculo de quais as probabilidades de, do caos completo que foi essa gigantesca explosão, 10 biliões de anos depois surgir um planeta com condições favoráveis ao aparecimento de vida.

Depois de chegarmos a um número, certamente astronómico, que possa ser representativo das probabilidades aproximadas de o universo poder criar um planeta
com possibilidades de criar vida, e esse planeta ser precisamente o nosso, poderíamos depois tentar especular sobre as probabilidades de, existindo vida no planeta Terra, como poderia sobreviver a mais de 3 mil milhões de anos de terramotos; erupções vulcânicas; ar poluído por gases venenosos expelidos pelos vulcões; movimento das placas tectónicas; movimento dos continentes; raios solares ultravioletas; tempestades solares; tempestades magnéticas; tempestades ciclónicas; inversão magnética dos polos; bombardeamento consecutivo de meteoros, cometas e asteroides; inundações gigantescas; maremotos; tsunamis; incêndios globais; erosão dos solos; raios cósmicos e eras glaciares consecutivas.

Depois teríamos ainda de calcular as probabilidades de, tendo o processo evolutivo da vida na Terra caminhado sempre no sentido de criar seres cada vez mais complexos,
quais seriam as probabilidades de virem a surgir seres inteligentes. Imaginem a quantidade incomensurável de variáveis que teremos de ter em conta! Todas as variáveis que foram, de alguma forma, responsáveis pela extinção de alguma espécie, terão inevitavelmente de constar desta nossa complicadíssima equação. Não podemos esquecer que já se extinguiram mais de 90 % das espécies que alguma vez existiram na Terra.

Quase todos os seres humanos são fruto de uma relação sexual, e consequentemente, de uma ejaculação. Talvez não gostemos muito da imagem mental que isso nos
proporciona, mas a verdade é que cada um de nós é o resultado de uma ejaculação. Um homem saudável normal, em média, expele entre 20 milhões a 100 milhões de espermatozoides em cada ejaculação; cada um de nós é o resultado que derivou do espermatozoide vencedor. Imaginem a probabilidade inacreditavelmente pequena de sermos nós a estar aqui tendo em conta que todos os nossos antepassados são resultado de um espermatozoide vencedor e se, por mera casualidade, apenas um desses antepassados (que são vários milhões) não tivesse sido ele, mas sim um outro no lugar dele, a ser o “vencedor”, simplesmente não seriamos nós a estarmos aqui mas sim alguém em nosso lugar.

Imaginem a quantidade astronómica de variáveis que se tiveram de conjugar na perfeição para que sejamos nós a estarmos vivos e não uma outra pessoa no nosso lugar.

Nós, para sermos dignos da existência, temos a obrigação de reconhecermos o incrível privilégio que nos foi proporcionado por todos os eventos aleatórios e caóticos do passado de cuja conjugação resultou na nossa existência.

Infelizmente não detenho o talento de exprimir com a clareza necessária todos os argumentos que possam demonstrar o quanto nós somos sortudos por existirmos.

Sempre que oiço dizer que uma pessoa se suicidou, sem menosprezar o sofrimento envolvido no terrível evento, interrogo-me com tristeza se essa pessoa terá verdadeiramente medido o valor que tinha a sua vida, e se terá tido noção do quanto improvável era ela alguma vez ter existido.

E quando uma pessoa religiosa defende que a vida só tem sentido se existir vida eterna, eu estabeleço de imediato um paralelismo com o cúmulo da ingratidão e da
incompreensão que pode ser simbolizada na seguinte metáfora: “Eu já ganhei 10 vezes o Euromilhões, mas só serei feliz se o ganhar 1000 vezes.”

A religião é, talvez, a maior prova de que Nós ainda não compreendemos bem a sorte que temos em existir.

“Quanto menos inteligente um Homem é, menos misteriosa lhe parece a existência”. (Arthur Schopenhauer)