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  • 9 de Outubro, 2014
  • Por Carlos Esperança
  • Ateísmo

“EM VERDADE VOS DIGO” (3/5)

Crónica Ateísta de Onofre Varela

A má fama dos ateus

Um dos meus amigos, sacerdote católico, afirma que eu não sou ateu. No seu entender os ateus são más pessoas porque serão destituídos de sentimentos fraternos e incapazes de atitudes altruístas. E como me conhece bem, sabe dos meus afectos, interesses culturais, atitudes cívicas e respeito pelo próximo, e por isso considera que eu não posso
ser ateu! É um preconceito que não é só seu. Há imensa gente a pensar assim. A desacreditação dos ateus pertence ao filósofo Platão (427 AC) que, retomando a velha questão de Protágoras “O homem é a medida de todas as coisas”, transformou-a e declarou “ser Deus a medida de todas as coisas”. E foi mais longe. Puniu os ateus decretando-lhes três penas: para os ateus “inofensivos”, cinco anos de internamento numa casa de correcção, onde os membros do Conselho Nocturno os visitavam,
reflectindo com eles acerca da incorrecção das suas condutas. Os ateus que praticassem heresias mais graves recebiam pena maior, e os reincidentes eram condenados à morte.

A palavra “ateu” é muitas vezes usada como sinónimo de “mal comportado”, na convicção de que todos os praticantes de credos religiosos são bondosas pessoas incapazes de uma ofensa ao próximo e que passam os dias da suas vidas distribuindo amor a torto e a direito! Relativamente a comportamento cívico, o ateu é tão bem (ou
tão mal) comportado quanto o crente. A diferença está em que o ateu se considera um mamífero primata, um ser gregário que vive em comunidade assumindo as suas acções perante a lei dos homens. Depois da morte o ateu fina-se como qualquer outro ser vivente. Para o ateu a palavra morte tem o significado de morte autêntica, que é o fim radical daquela vida, negando uma qualquer outra vida substituta. A “eternidade” apenas pertence à memória histórica, e mesmo essa não é perene.

O crente diz ter sido feito por Deus “à Sua imagem e semelhança” (e afirma-se humilde?!), que deve “respeitar e temer” Deus, antes do respeito devido ao próximo, e que depois de morrer viverá num doce céu (se tiver tido bom comportamento) ou num azedo Inferno (se merecer castigo)!…

(O autor escreve sem obedecer ao último Acordo Ortográfico)