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  • 7 de Outubro, 2011
  • Por Carlos Esperança
  • Religiões

A crise e a virulência dos monoteísmos

O regresso identitário religioso e o fanatismo que daí resulta estão na origem do forte aumento do ateísmo, contrariando a tendência de refúgio que, em períodos de crise, as religiões representam.

A rejeição dos monoteísmos não se deve apenas à fragilidade dos seus argumentos e aos milagres pueris com que pretendem convencer e converter os crentes da concorrência e os incréus, mas, sobretudo, ao fanatismo e ao ódio que semeiam.

Não é por acaso que, em França, os ateus duplicaram na última década e que são hoje maioritários os franceses que se assumem como ateus ou agnósticos, segundo afirma, em editorial, o último número da revista «Le Monde des Religions»* (Set./Out).

Os crentes abraâmicos não renunciam facilmente à violência divina da lei moisaica e do património comum do Levítico e do Deuteronómio que não são apenas partes do livro que Saramago chamou manual dos maus costumes, mas fascículos terroristas com que os clérigos envenenam os missionados e os prosélitos congeminam vinganças.

As três religiões do livro odeiam-se mutuamente. Os judeus não aceitam Cristo como Messias e os muçulmanos negam que seja filho de Deus. Estas divergências pueris, que deviam ser apenas diferenças de opinião, ainda que nenhuma seja falsa, levam dois mil anos de guerras e de ódios insanáveis. Os cristãos, nascidos de uma cisão do judaísmo, mataram judeus e, mais tarde, muçulmanos; estes, criados por uma cópia grosseira do cristianismo, matam cristãos e judeus; estes últimos, responsáveis pela criação do deus abraâmico, matam muçulmanos e roubam-lhes as terras. Enfim, ninguém faz o mal com tanto entusiasmo como os crentes.

* 34% declaram-se ateus, 30% agnósticos e 36% crentes.