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  • 13 de Março, 2010
  • Por Carlos Esperança
  • Religiões

A loucura da fé

O que terá levado o Vaticano, o arcebispo de Cantuária e o rabino supremo de Israel a tomarem uma posição favorável ao aiatola Khomeini quando, na sua pia demência, condenou à morte Salman Rushdie pelo abominável crime de…ter escrito um livro?

Para as horrendas criaturas estava em causa um crime hediondo – a blasfémia –, um crime de sabor medieval que é um direito cívico de liberdade de expressão e o dever de abandonar uma religião – apostasia –, religião que no seu implacável proselitismo ameaça vergar o mundo, pela guerra, à vontade de Maomé. Os dignitários admitiram os assassinatos cometidos para cumprir a fatwa, e a vida dos tradutores, editores, livreiros e do próprio autor foram irrelevantes perante a fúria demente de quem julga ter rios de mel e dezenas de virgens, a título perpétuo, pela prática de um crime.

Não podemos deixar-nos iludir pelo aparente carácter benigno do cristianismo actual, confiantes de que a luta contra a tirania eclesiástica e os seus interditos foi ganha pelo Iluminismo, pela Revolução Francesa e pela secularização em curso na Europa. Não há vitórias definitivas. O Deuteronómio, que inspirou os inquisidores e não foi revogado, ordena explicitamente aos fiéis que matem qualquer pessoa que professe simpatia por deuses estrangeiros e exige ainda que as pessoas demasiado susceptíveis para tomar parte nas chacinas religiosas devem, também elas, ser mortas. (Ob. Citada 17:12-13).

A raiva e frustração árabe contra o Ocidente, que está na origem do terrorismo suicida e assassino, bem como do seu atraso económico, social e político, é consequência dos versículos do Corão que intoxicam e enlouquecem os crentes. Ler esse plágio grosseiro dos versículos bíblicos, imune à influência da cultura grega e do direito romano, mostra  a escassez da compaixão em detrimento da violência, a submissão humana à vontade do deus – o clemente – que um profeta analfabeto imaginou.