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  • 21 de Outubro, 2009
  • Por Carlos Esperança
  • Religiões

Mário David – Bem-aventurado analfabeto

Eurodeputado exorta Saramago a renunciar à cidadania

Mário David não é um solípede à solta ou um inimputável analfabeto, é eurodeputado do PSD e vice-presidente do Partido Popular Europeu. Por isso as suas palavras podem ter eco, ser tomadas como boas e levadas a sério como se fossem de um homem culto e sensível.

Bem sei que Mário David, de que nunca tinha ouvido falar, é o Sousa Lara que entra na quota de todas as lideranças do PSD, o censor que honra o Santo Ofício, o analfabeto que, à semelhança do Sr. Duarte Pio, nunca leu Saramago e não gosta.

Mário David, sei-o agora, é o bem-aventurado primata que deseja a glória celeste na convicção de que há reino dos céus reservado aos pobres de espírito.

Pedir a Saramago, o Nobel do nosso contentamento, o mais admirável ficcionista do último século, não é de quem usa a cabeça mas de quem se serve dos pés. Todos.

Mário David afirma, referindo-se a Saramago: “Tenho vergonha de o ter como compatriota! Ou julga que, a coberto da liberdade de expressão, se lhe aceitam todas as imbecilidades e impropérios?”

Que quererá fazer este Sousa Lara, digo, Mário David? Quererá queimar o escritor? Retirar-lhe a nacionalidade? Ter a glória de Nero por incendiar Roma ou o nome nos jornais pela indigência intelectual?

Outra pérola deste analfabeto literário:  “Se a outorga do Prémio Nobel o deslumbrou, não lhe confere a autoridade para vilipendiar povos e confissões religiosas, valores que certamente desconhece mas que definem as pessoas de bom carácter”.

Foi o bom carácter de pessoas como Mário David que alimentou as fogueiras da Inquisição.