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  • 23 de Março, 2009
  • Por Carlos Esperança
  • Religiões

Ratzinger e o proselitismo

O porta-voz do Vaticano, Frederico Lombardi, disse que a morte por esmagamento dos dois jovens angolanos no Estádio dos Coqueiros, em Luanda, causou “dor e desconcerto” ao papa Bento 16 e à comitiva papal.

Não é legítimo pôr em causa o pio sofrimento do Papa, indiferente à sorte de 23 milhões de infectados pela sida, mas sensibilizado pela legião de fãs. Certamente que a forma exótica como se veste, os adereços que usa em palco e a coreografia da missa, destinada a centenas de milhares de curiosos, o convertem numa estrela Pop capaz de provocar a histeria colectiva que produziu os acidentes. Ainda assim, foram em menor número dos que habitualmente são atropelados a caminho de Fátima nos dias das peregrinações.

Uma só morte, em particular de um jovem, é motivo de compungimento mas não podemos exagerar na tristeza.

No dia em que, em Luanda, morreram dois jovens que desejavam ver um exótico artista a fazer sinais cabalísticos, faleceram em África centenas de jovens vítimas da fome, da sida e do paludismo, sem missa, incenso ou água benta.

O Papa, depois de solicitar aos africanos para que deixassem a bruxaria e se tornassem católicos, transformou, à sua frente, no Estádio dos Coqueiros, água de Luanda em benta e rodelas de pão ázimo em corpo e sangue de um deus que foi homem há dois mil anos e era filho biológico de uma pomba e de uma mulher virgem.

Não há pessoas normais que seja capazes de descobrir a diferença. A aldrabice dos outros é um excelente pretexto para incitar à mudança de fornecedor.