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  • 21 de Julho, 2008
  • Por Carlos Esperança
  • Imprensa

Momento zen de segunda

João César das Neves (JCN) na sua habitual homilia aproxima-se cada vez mais dos padres rurais da minha infância, beatos, fundamentalistas, com horror à modernidade.

JCN, perante a bomba demográfica que ameaça o mundo, face ao avanço da ciência que tornou possível o planeamento familiar e uma maternidade consciente, investe ainda contra a pílula e os contraceptivos e vocifera contra a liberdade sexual… da mulher.

Na sua homilia de hoje JCN fala da clarividência do Papa Paulo VI. Para o devoto todos são clarividentes, digam o que disserem, mas o que o leva a louvar o pontífice é o facto de, face a um «memorando final, de Junho de 1966, que mostrava a Comissão dividida sobre a permissão do uso da pílula pelos casais católicos, com a maioria a favor, o Papa, após dois anos de reflexão, determinou na encíclica a posição da Igreja», ou seja ao contrário do que a maioria considerou razoável e os casais já faziam.

É esta submissão acrítica ao papa de serviço que faz de JCN um cruzado obsoleto e sem o mais leve remorso pelas ideias que defende.

Que lhe interessa que a explosão demográfica de Timor seja um fenómeno incontrolável e que a Igreja católica se oponha à entrada de contraceptivos? Que importa que morram milhares de pessoas à fome ou matando para sobreviver? Quando a fé embota a razão não há argumentos que valham.

Não sei donde vem a certeza de JCN de que «um acto de amor recíproco, que prejudique a disponibilidade para transmitir a vida que Deus Criador de todas as coisas nele inseriu segundo leis particulares, está em contradição com o desígnio constitutivo do casamento e com a vontade do Autor da vida humana». O horror à sexualidade talvez seja um velho trauma seu e, no fundo, talvez a razão para que o casamento seja cada vez mais precário e desrespeitado.

O que mais repugna em JCN é o desrespeito pela mulher, o seu espírito misógino, o seu desprezo pelo direito feminino à sexualidade.

O planeamento familiar é para JCN «o caminho amplo e fácil que tais métodos abririam à infidelidade conjugal e à degradação da moralidade (…) perder o respeito pela mulher e, sem se preocupar mais com o equilíbrio físico e psicológico dela, chegue a considerá-la como simples instrumento de prazer egoísta».

Na sua longa homilia de hoje, JCN nunca admite a autodeterminação sexual da mulher e, jamais admite que ela tenha direito ao prazer.

São assim os cruzados serôdios do nosso tempo.