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O que fazer aos outros?


“Não faças aos outros aquilo que não gostarias que te fizessem a ti”.

Esta é uma máxima que parece ser basilar, pelos menos em teoria, para grande parte dos seguidores da doutrina cristã. Parece-me que este princípio, por mais justo e saudável que pareça, encerra em si próprio todo o potencial para o desenvolvimento de uma cultura egoísta e intolerante. Não fazermos aos outros o que não gostaríamos que nos fizessem é uma forma de querermos impor os nossos critérios morais a terceiros.

Parece-me muito mais justo, correcto, saudável, tolerante e democrático o seguinte raciocínio: “Não faças aos outros aquilo que eles não quiserem que lhes façam”.

Tudo isto a propósito deste artigo, onde o comentador António se acha no direito de avaliar o que é ou deixa de ser moralmente aceitável para terceiros. Porque o António se choca com determinada matéria, não só entende que os outros também se devem chocar como, indo mais longe, se questiona, inclusivamente, sobre a legalidade do produto e da sua exposição (pelo menos entendi assim, o António que me corrija se eu estiver equivocado).

Não vejo como poderei contribuir para a felicidade alheia limitando terceiros aos meus valores morais. O limite será sempre a lei em vigor e, nos casos em que esta já não se adequar à realidade e ao evoluir dos tempos, há que fazer tudo para a mudar. Claro está que não estou a falar da lei de qualquer deus; quem se quiser limitar por essa é livre para o fazer sem a tentar impor aos outros.

(Publicação simultânea: Diário Ateísta / Penso, logo, sou ateu)