Loading

Mês: Março 2007

22 de Março, 2007 Carlos Esperança

O segundo casamento é uma praga?

Bento 16 considera o segundo casamento uma praga. Mas que autoridade assiste a quem não teve um primeiro casamento, para condenar o segundo? Celibatário há 79 anos, o último teocrata europeu não é um líder religioso, é um inquisidor violento.

Sabe-se que nasceu em tempos de cólera, que a educação da infância o há-de ter persuadido de que é herdeiro de uma raça superior, mas escusava de ser de tão má raça.

Que negue a hóstia aos casados pela segunda vez, como se faz nas tascas com o vinho a quem bebeu demais, é um direito de quem administra a mercadoria e impõe as regras de distribuição. Agora que se meta na vida dos casais e que queira escoar a água benta nas cerimónias, é uma ingerência inaceitável.

B16 é um talibã romano, um veículo litúrgico em rota de colisão com a modernidade.

22 de Março, 2007 Carlos Esperança

A democracia e o véu

Depois da inaceitável indulgência com os pregadores do ódio nas mesquitas, situação que, por exemplo, não seria permitida – e bem – a dirigentes políticos, a Inglaterra já autoriza as escolas a proibir o uso do véu islâmico dentro dos estabelecimentos de ensino.

Há quem se oponha a esta decisão, em nome da democracia e da liberdade individual, acusando os opositores de intolerância. Esquecem-se de que a Europa tem vivido em paz graças à laicidade do Estado que jovens muçulmanas desafiam, estimuladas pela família e pelos pregadores religiosos. Os constrangimentos sociais e o domínio sobre as mulheres são de molde a impor-lhes o símbolo da sua própria escravidão.

Só a França (até quando?) sobrepõe os direitos de cidadania aos desejos dos clérigos das diversas religiões. No exercício de funções públicas ou frequência de escolas do Estado não são permitidos os hábitos das freiras, as sotainas ou o véu islâmico. Alguém, de boa fé, nega a liberdade religiosa francesa?

Ninguém duvida do proselitismo que devora as diversas confissões, todas desejosas de convencer os ímpios da bondade do seu Deus e da única forma de salvação eterna – a sua -, impondo-a, se puderem, mesmo a quem a dispensa.

Sendo o Estado incompetente para se pronunciar sobre as convicções pessoais, só lhe resta manter a neutralidade que permita a efectiva liberdade religiosa e impedir que qualquer religião se aproprie de forma definitiva e permanente do espaço público.

Londres só agora começa a sentir o perigo do proselitismo e a reagir às provocações que faz uma multinacional do ódio que se serve de jovens com forte dependência da família, do clero e da tradição.

Desacreditar da superioridade moral da democracia em relação à teocracia e dos Estados laicos face aos confessionais, é renunciar à defesa dos direitos humanos sob o pretexto de cumprir a vontade de Deus.

DA/Ponte Europa

21 de Março, 2007 jvasco

Portanto, deixa cá ver…

Deus criou-nos à Sua imagem e semelhança. Bem, tirando pequenos pormenores como a omnisciência, a omnipresença, omnipotência, trindade (ou seja: espécie de simbiose metafísica com outros dois seres que também somos nós), e perfeição, mais a diferença de desconhecermos o Bem e o Mal e sermos mortais.

Também criou a serpente que foi tentar a sua criação humana. Apesar das Suas capacidades de presciência, ficou revoltado após verificar que a sua criação escolheu desobedecer (não Lhe terá ocorrido que os seres humanos nem sequer poderiam supor que a desobedeciência ao Criador era má antes de conhecerem o Bem e o Mal).

O resto já se sabe: na sua Infinita Justiça castigou os seres humanos que Lhe desobedeceram e todos os seus descendentes.

Mais tarde, talvez por achar que uma eternidade de sofrimento atroz era um pouco excessivo para nos castigar pela desobediência dos nossos ascendentes, e porque é um Deus de Amor Infinito, decidiu enviar o seu filho para ser torturado. A ideia era que com o sofrimento deste inocente Deus pudesse perdoar as faltas dos culpados – o que podermos julgar injusto, mas isso apenas mostra que não compreendemos a Sua Justiça, o que mostra que é Infinita, pois nós não compreendemos o Infinito.

Claro que a palavra de Jesus só terá chegado a uma parcela reduzida da humanidade, mas os missionários vão fazendo com que chegue mais longe, pois não se pode ser feliz sem Cristo (por isso é que não existe felicidade a não ser nos países cristãos: os hindús, budistas, confucionistas, taoístas, ateus e agnósticos em geral são uns infelizes; por isso é que as igrejas são os lugares mais felizes das cidades).

Enquanto os missionários não chegam não é certo se as pessoas vão parando ao Inferno quando morrem (azar o delas!), ou se apenas correm esse risco depois dos missionários lhes anunciarem Cristo e elas O rejeitarem (o que devia fazer os missionários pensar duas vezes antes de oferecer a alguém o risco de uma eterninidade de sofrimento atroz).

Enquanto isso fica por esclarecer em que medida é que os terramotos, tsunamis e vulcões, criação de Deus como tudo o resto, se encaixam no seu plano de Amor Infinito para nós. Mas o importante é não questionar, pois é uma arrogância pensar que a nossa compreensão limitada pode sequer vislumbrar as intenções do Deus de Amor e Justiça Infinitas. O importante é não questionar. Acreditar. Sem pensar.

E há sempre o conforto de verificar que os Mormones e os Cientologistas acreditam em coisas ainda mais absurdas.

20 de Março, 2007 Carlos Esperança

Deus, fé e poder

Deus é um mito que se alimenta da morte ou, melhor, do medo que inspira. A fome, a doença, a miséria, o analfabetismo e o subdesenvolvimento são instrumentos que lhe garantem a existência e restauram a vitalidade.

A juntar às desgraças humanas vêm os interesses de uma casta de parasitas que, como necrófagos, se alimentam do cadáver de Deus. E, como se isso não bastasse, interesses instalados e a máquina de poder erguida em torno do mito, apavoram e perseguem para que a fábula perdure e se fanatizem fiéis que a aceitem, promovam e morreram por ela.

Nunca uma ideia tão ingénua se tornou numa realidade tão perniciosa. Não faltariam dementes que, após uma lavagem ao cérebro, avançassem para a morte, na defesa de D. Afonso Henriques, capazes de matar o suposto assassino. Não podemos, pois, admirar-nos da quantidade de devotos capazes de percorrer de joelhos os santuários e viver de mãos postas perante a autoridade eclesiástica. Catequizam-nos desde a infância.

Claro que a liberdade exige tanto empenho na defesa da liberdade religiosa como no combate às mentiras das religiões.

Os crentes têm o direito de viajar de joelhos e rastejar aos pés dos padres, fazerem sinais cabalísticos para afastarem os maus-olhados, debitar orações para seduzirem o Deus em que os treinaram, mas não têm o direito de impor a fé, perseguir apóstatas ou formarem uma sociedade de acordo com os seus preconceitos.

Sempre que o poder do clero avança, a liberdade e a democracia recuam.

19 de Março, 2007 Carlos Esperança

A homilia de segunda-feira de João César das Neves

Diário Ateísta/Pitecos – Zédalmeida

João César das Neves (JCN) acha que a Europa gasta o tempo na promoção do «aborto, homossexualidade, eutanásia, pedofilia, divórcio».

JCN deve ter a consciência pesada. Por penitência do confessor ou remorso dos pecados que precisa de exorcizar, todas as segundas-feiras é o paladino da virtude e dos bons costumes, a lembrar os sermões de um padre rural, com ameaças apocalípticas e horrores perpétuos no azeite fervente do Inferno.

JCN obceca-se pelo sexo. Aborto, homossexualidade, divórcio e sexualidade que não tenha em vista a prossecução da espécie, são pecados que execra com o vigor de um beato e a raiva de um inquisidor. O adultério e o deboche são temas recorrentes, que não faltam na homilia de hoje.

Para dar colorido à obsessão, junta-lhe a eutanásia e a pedofilia, sendo a primeira um assunto sério a discutir e a segunda um crime a punir, sem se dar conta da desonestidade intelectual de confundir as duas.

JCN, quando fala sobre economia, parece civilizado e urbano, mas quando lhe dá para o proselitismo torna-se um talibã que a extinção da Inquisição deixou sem emprego.

Quererá o devoto criminalizar o aborto, a homossexualidade e o divórcio e condenar a prisão o adultério? A homofobia era uma obsessão salazarista e o divórcio, que tanto apoquenta JCN, era interdito aos casamentos católicos, de acordo com a Concordata.

Mas será legítimo impedir o divórcio e condenar um casal cujos cônjuges se detestam à manutenção do vínculo contratual que o une, sem possibilidade de tentarem de novo a felicidade? Quanto à homossexualidade, teme JCN a sua insegurança ou a impensável obrigatoriedade?

Quanto ao aborto deve estar feliz com a decisão de Daniel Ortega, um velho comunista que conseguiu o apoio da Igreja católica graças à proibição do aborto terapêutico, mas é lícito tornar obrigatória uma gravidez que mate a mulher ou traga um filho deficiente?

Essa é a vontade de JCN, mas quem tem alguma clemência deixa a opção à grávida.

DA/Ponte Europa

19 de Março, 2007 Ricardo Alves

A ofensiva clerical e obscurantista na Comissão de Liberdade Religiosa

«A mesa redonda «Religião e Educação», integrada no 2º colóquio «A religião fora dos templos», organizado pela Comissão de Liberdade Religiosa, foi marcada por um documento de Esther Mucznick intitulado «A religião nos manuais escolares».

A generalidade das intervenções, tanto da mesa como do público, foram no sentido de apoiar a linha de actuação proposta por Mucznick, e que passa por, numa primeira fase, reivindicar a criação de uma comissão junto do Ministério da Educação dominada por religiosos e que zele pela correcção religiosa dos manuais escolares; numa segunda fase, pela inserção no currículo escolar de uma disciplina multi-religiosa obrigatória.

Desde o início da existência da Comissão de Liberdade Religiosa, criada pela Lei da Liberdade Religiosa (Lei 16/2001), que a Associação República e Laicidade exprimiu a sua apreensão pela composição deste organismo estatal e pelo papel que poderia vir a desempenhar. Essa apreensão revela-se, infelizmente, cada vez mais justificada.

Se a actual Comissão de Liberdade Religiosa levasse avante as propostas apresentadas por Esther Mucznick, os estragos feitos à laicidade da escola pública e à difusão da ciência em Portugal seriam tremendos e duradouros.

1. Sob os pretextos, assumidos por Esther Mucznick, de combater o carácter que ela entende «excessivamente laicista» dos manuais escolares, e de garantir que os manuais escolares não ofendem a religião judaica por acção ou omissão, a comissão atribuiria a grupos confessionais a possibilidade efectiva de rever os programas escolares e de decidir sobre o que pode ou não ser ensinado em matéria religiosa (e não só) na escola pública, ferindo decisivamente a liberdade de ensino e a não confessionalidade da escola pública.

2. Mais grave ainda seria a «inserção no currículo escolar do estudo obrigatório das grandes religiões e doutrinas religiosas», que atingiria a liberdade de consciência dos alunos, e o direito dos pais a educarem os filhos segundo as suas convicções em matéria religiosa.

3. Finalmente, é preocupante que o deputado Vera Jardim tenha manifestado a sua abertura à correcção religiosamente orientada dos currículos, e é gravíssimo que esteja disponível para aceitá-la mesmo no caso, levantado por um elemento do público, do ensino da teoria religiosa da «criação cristã do mundo e da vida» a par da teoria científica da evolução. A escola pública não pode ser, de forma alguma, o local para a transmissão de teorias obscurantistas.

A Associação República e Laicidade reafirma que a própria existência da Comissão de Liberdade Religiosa, com a orientação actual, é um perigo para a laicidade do Estado e para a difusão do conhecimento científico em Portugal, e lamenta a complacência que a postura anti-laicista e a propaganda anti-ciência encontram no referido elemento do partido no governo.»

[Publicado originalmente no blogue da Associação República e Laicidade.]

18 de Março, 2007 Carlos Esperança

A religião e a liberdade

Tal como os histéricos islamitas reagiram em relação às caricaturas de Maomé, também os católicos espanhóis execraram as fotografias de Montoya publicadas em dois livros, um de 2000, outro de 2003.

Há uma grande polémica em Espanha, particularmente na Estremadura, onde decorre a campanha eleitoral para os órgãos locais e provinciais.

O PP recorreu ao golpe baixo de incendiar as paixões religiosas, imitando os imans e os ulemas a propósito das caricaturas do Profeta.

As fotografias de Montoya devem ser divulgadas na defesa da liberdade de expressão.

Encontram-se no abnoxio:

A eterna negação da quaresma…

Pietá…

Santa Teresa de Ávila, numa versão BDSM…

Eros crucificado (adenda)…

Em nome do pai, do filho e das mulheres que o desejam…