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Mês: Março 2007

29 de Março, 2007 Carlos Esperança

Paquistão – Rapto da dona de um bordel

Alunas da madrassa raptaram a dona de um bordel em Islamabad.

Que as boas almas de Islamabad queiram fugir da prostituição é um direito, quiçá uma obrigação, que faz as delícias de Alá e o regozijo dos mullahs.

A origem da prostituição confunde-se com a história da própria humanidade e não deixa de ser humilhante a venda do corpo, mas há infâmias maiores e crimes mais hediondos, a começar pelo rapto de pessoas e o exercício de cárcere privado.

O constrangimento social e o estímulo do clero levaram as tresloucadas alunas de uma madrassa, em puro zelo beato, à prática de vários crimes: invasão do domicílio, rapto, encarceramento e coacção física e psíquica da dona de um bordel e de duas familiares, estribadas na legitimidade do Corão e no incentivo dos próceres islâmicos.

A prisão das devotas provocou manifestações das colegas, encorajadas pelo director da escola corânica, enquanto os vizinhos, com maior terror dos talibãs do que de Maomé, ficaram «felizes e cantaram em glória de Alá».

Regressa o fundamentalismo que, como sempre, não se limita a condicionar a vida dos crentes mas a exigir, a todos, o comportamento que julgam inspirado por Deus.

No Paquistão, os talibãs estão na origem de incêndios em clubes de vídeo e na proibição de música e televisão. Os barbeiros foram proibidos de cortar barbas e as mulheres são obrigadas a usar burka, sob a ameaça de morte.

No Ocidente, que julgávamos civilizado, uma onda fundamentalista procura reconduzir a sociedade à Idade Média. O criacionismo é a arma com que, dos EUA à Europa, os prosélitos pretendem opor-se ao progresso e à investigação científica.

Há muito dinheiro investido na estratégia beata. A distribuição de um Atlas criacionista é a prova disso. É preciso estar atento.

29 de Março, 2007 Carlos Esperança

Sobre a laicidade

A laicidade é um factor apaziguador das diferenças culturais que o clero se esforça por converter em divergências.

Não é legítimo agredir crentes. Devem, sim, ser protegidos deles próprios e defendidos em nome da liberdade religiosa, mas a defesa e a protecção exigem que o proselitismo seja contido em margens que não degenere em conflito.

A ICAR, como religião monoteísta, não deseja a liberdade religiosa mas a imposição da catequese obrigatória. Já não é apenas a demência islâmica que põe em risco os direitos, liberdades e garantias que as democracias defendem. As Igrejas cristãs estão a assimilar o desvario islâmico e querem regressar às origens perdidas com a Revolução Francesa.

Não é a moral religiosa que perturba, o que não se tolera é a imposição clerical aos que rejeitam a fé.

A apostasia é um dos mais sagrados direitos humanos. É preciso proclamar o direito de defender hoje o contrário daquilo em que se acreditava ontem e, eventualmente, voltar a acreditar amanhã, sob pena de destruir a liberdade religiosa.

Os padres querem que o pecado seja crime e a apostasia punível com pena máxima, mas desiludam-se os parasitas da fé. Enquanto houver cidadãos que renunciem à humilhação de andar de joelhos, Deus é a nódoa que não mancha todas as consciências, um estorvo que não elimina a liberdade, a excrescência que não corrompe toda a humanidade.

Basta que a semente da descrença alimente a independência do pensamento e a coragem da resistência se sobreponha à violência da repressão, para que os homens permaneçam livres e dignos.

A opressão precisa de carrascos. Quando a democracia avança, a fé recua e os algozes ficam frágeis. Também por isso a defesa da civilização exige o combate pela liberdade.

28 de Março, 2007 Carlos Esperança

Carta aberta a Bento 16

SANTIDADE:

O Diário Ateísta vem expor e pedir a Vossa Santidade* o seguinte:

Sabendo que Vossa Santidade (V/S) ficou muito envergonhado com a revelação do 3.º segredo de Fátima que o seu supersticioso antecessor levou a sério e julgou ser para ele;

Sabendo que, por isso, V/S relativizou a importância dada por JP2, disfarçou a vergonha e considerou as aparições de Fátima como revelação privada;

Sabendo que no final de 2006 não aceitou o convite do bispo de Leiria, que foi seu aluno, para se deslocar ao Santuário e inaugurar a Igreja da Santíssima Trindade (um excelente e lucrativo estabelecimento comercial) e beatificar os outros dois videntes (que nada viram);

Sabendo que não foi uma questão de seriedade, virtude a que os Papas são alheios, mas o medo do ridículo e a vergonha de que o considerassem estúpido, sentimentos a que os homens são sensíveis;

Sabendo tudo isso, sabemos também que os negócios religiosos não se compadecem com essas idiossincrasias de um Papa inteligente e sem fé, autoritário e frio.

Em Fátima jazem já 55 quilos de milagres enviados por infelizes a quem se salvaram da moléstia as galinhas, o filho arribou do sarampo ou o marido perdeu uma única perna no acidente (teria perdido as duas se a Ir. Lúcia não pedisse à Senhora de Fátima que pediu ao filho para pedir ao pai, graças a duas novenas) e muitos outros prodígios de grande sabor rústico e elevado efeito supersticioso.

Assim, sendo as coisas o que são, sabe-se que Lúcia vai ser canonizada e render grossos cabedais ao Vaticano e à ICAR portuguesa.

Atrasar a canonização só prejudica a fé e os negócios.

Em face do exposto, o Diário Ateísta vem pedir-lhe que dispense a bem-aventurada, no dia do centenário do seu nascimento, do interstício de beata e a eleve logo a santa.

Ficam felizes os beatos, ganha a fé e, depois de dois milénios de grandes mentiras, esta é uma pequena nódoa no lodaçal da História da ICAR.

Sr. Bento 16, o Diário Ateísta, espécie de Osservatore Romano dos ateus portugueses, pede deferimento,

Aos 28 dias do mês de Março do Ano da Graça de 2007, centenário da Ir. Lúcia
a) Diário Ateísta

* Santidade = profissão e estado civil.

28 de Março, 2007 Carlos Esperança

A beatificação da Irmã Lúcia

ultrapassaram as três arrobas e meia os milagres da mais antiga reclusa do mundo que hoje faria 100 anos.

Os milagres são como os cogumelos, que crescem numa noite e podem ser tóxicos. A Ir. Lúcia, enclausurada em vida, logo que morreu abriu a época dos milagres ao ritmo a que tinha visões. Os crentes esperam milagres melhores que os dos primos. Curaram a D. Emília dos Santos que ficou a andar mal e logo se finou, cheia de saúde, enquanto o processo médico desapareceu da Psiquiatria dos Hospitais da Universidade de Coimbra, onde esteve internada.

A Ir. Lúcia está para a Igreja Católica como a electricidade para a EDP. É uma fonte de negócio altamente lucrativa e com assinantes certos. Em vida, falava com a Senhora de Fátima acerca da política e da moral, recebeu a visita de Cristo na cela, em Tuy, e foi ao Inferno visitar o Administrador do Concelho de Ourém, que não ia à missa.

Na cela, coçava-se, sobretudo quando a sarna a atormentou, e rezava pela conversão da Rússia. Comercialmente divulgou o terço e os horrores de que Deus é capaz quando anda com a mosca que é outra forma de dizer que não está no juízo perfeito.

Como se habituou a pedir favores divinos, pagos em orações, levou o vício para a cova. Enquanto não é canonizada, peçam-lhe milagres que ganha ela e os devotos. Ela precisa de subir aos altares para alimentar o negócio da fé e os crentes para se curarem dalguma moléstia em que a bem-aventurada esteja calhada ou que a senhora de Fátima saiba.

Orem e roguem milagres. O trabalho é pouco católico e cada vez pior remunerado.

27 de Março, 2007 Carlos Esperança

Brasil – ICAR com falta mão de obra especializada

Fiéis da deusa do mar Iemanjá competem com os católicos do Brasil. Aprendi a gostar de Iemanjá com o grande escritor Jorge Amado. «Mar Morto» – um grande romance.

27 de Março, 2007 Carlos Esperança

A Música de Ratzinger

O Cardeal Joseph Ratzinger, Prefeito da Sagrada Congregação para a Fé (ex-Santo Ofício) num ensaio consagrado à liturgia, em 11 de Fevereiro de 2001, criticou severamente a música rock e pop e manifestou reservas em relação à ópera que acusa de ter “corroído o sagrado” de tal modo que – cita – o papa Pio X «tentou afastar a música de ópera da liturgia», donde se deduz que ela é claramente desajustada à salvação da alma.

Eu já tinha desconfiado que certa música é a «expressão de paixões elementares» e que «o ritmo perturba os espíritos», estimula os sentidos e conduz à luxúria. Salvou-me de pecar a dureza de ouvido que tinha por defeito e, afinal, era bênção.

Mas nunca uma tão relevante autoridade eclesiástica tinha sido tão clara quanto aos malefícios da música, descontada a que se destina à glorificação do Senhor, à encomendação das almas ou a cerimónias litúrgicas, outrora com o piedoso sacrifício dos sopranistas.

Espero que o gregoriano, sobretudo se destinado à missa cantada, bem como o Requiem, apesar do valor melódico, possam ressarcir-nos a alma dos danos causados pelo frenesim da valsa, a volúpia do tango ou a euforia de certos concertos profanos.

Só agora, mercê das avisadas palavras de Sua Eminência, me interrogo sobre a acção deletéria do Rigoleto ou da Traviata, dos pensamentos pecaminosos que Aida ou Otelo poderão ter desencadeado em donzelas – para só falar de Verdi – ou dos instintos acordados pela Flauta Encantada, de Mozart, ou pelo Fidélio, de Beethoven! E não me venham com a desculpa de que há diferenças entre a ópera dramática e a cómica, ou entre esta e a ópera bufa.

A música, geralmente personificada na figura de uma mulher coroada de loiros, com uma lira ou outro qualquer instrumento musical na mão, já nos devia alertar para o pecado oculto na harmonia dos sons.

Sua Eminência fez bem na denúncia. Espera-se agora que, à semelhança das listas que publicou com os pecados veniais e mortais e respectivas informações complementares para os distinguir, meta ombros à tarefa ciclópica de catalogar as várias músicas e os numerosos instrumentos em função do seu potencial pecaminoso.

Penso que a música sacra é sempre de louvar (desde que dispensados os eunucos), enquanto a música de câmara, a ser executada em reuniões íntimas, é de pôr no índex. Na música instrumental, embora o adjectivo seja suspeito, talvez não haja grande mal, mas quanto à música cifrada não tenho dúvidas de que transporta uma potencial subversão.

Nos instrumentos há-os virtuosos, como o sino, o xilofone, as castanholas e quase todos os de percussão, deixando-me algumas dúvidas, mais por causa do nome, o berimbau.

Nos de corda, excepção para o contrabaixo e, eventualmente, o piano (excluídas perigosas execuções a quatro mãos) quase todos têm riscos a evitar. A lira, o banjo, a cítara, o bandolim e o violino produzem sons que conduzem à exacerbação dos sentidos.

Mas perigosos mesmo – a meu ver – são os instrumentos de sopro. Abro uma excepção para os órgãos de tubos que nas catedrais se destinam a glorificar o Altíssimo. Todos os outros me parecem pecaminosos. A flauta, o clarim, o fagote, o pífaro e a ocarina estimulam directamente os lábios e, desde o contacto eventualmente afrodisíaco aos sons facilmente lascivos, tudo se conjuga para amolecer a vigilância e deixar-nos escravizar pelos sentidos. Nem o acordeão, a corneta de pistões ou a gaita-de-foles me merecem confiança.

Apreciemos o toque das trindades dos sinos dos campanários e glorifiquemos o Senhor no doce chilrear dos passarinhos. Cuidado com a música e, sobretudo, com os efeitos luminosos associados. Estejamos atentos às palavras sábias do Cardeal Ratzinger.

Nota: Este texto já foi publicado no Diário Ateísta mas justifica-se a repetição com a recente proibição de música profana, nas igrejas da ICAR, por B16. Nisso, os talibãs estão mais avançados – proibiram qualquer tipo de música.